n a p u r a m a n h ã b r a n c a — IV

Kaede não sabe o que acontece do lado de fora do quarto até o momento em que se levanta da cama e abre a porta para verificar.

E, para sua surpresa, Tenko aparece por detrás dela com um sorriso no rosto. Próximo dela, estão Aoi, Sakura, Akane e uma desconfortável e relutante Maki. Kaede pisca os olhos diante de tudo aquilo.

“Gente, o que estão fazendo aqui?”

“Kaede, vamos correr!” Tenko pergunta com determinação, fazendo uma de suas típicas posições de aikido. “Nós vamos começar a fazer um programa de exercícios apenas para garotas! Você não gostaria de se juntar também?”

“Será divertido, eu prometo, Kaede,” Aoi complementa, entusiasmada.

Detrás dela, Sakura afirma com os braços cruzados e um sorriso simples no rosto. “Seria uma grande honra tê-la com a gente.”

“E é uma ótima oportunidade para você ganhar alguns músculos!” Akane finaliza.

Tudo o que é dito por elas deixa Kaede confusa por um momento, mas também agradecida por todas terem se dado o trabalho de ir até seu quarto para chamá-la.

Logo, ela percebe que se encontra em um impasse. Não por causa do fato que exercícios não são algo que ela faz regularmente — ela poderia tentar, afinal — mas porque tinha planejado com Rantarou de irem a um encontro naquele dia e Kaede não gostaria de se atrasar.

“Bom, onde posso encontrá-las?” Kaede finalmente diz após aqueles longos segundos perdida em pensamentos. “É que eu preciso fazer uma coisa antes, mas vocês podem contar comigo!”

“Em frente à escola,” informa Tenko. “Nos vemos lá, então!”

Dessa forma, as garotas deixam o local e Kaede fecha a porta. Ela se senta numa cadeira em frente à uma escrivaninha e pega uma folha de papel de seu caderno, que anteriormente repousava sobre a superfície amadeirada. Assim, suas mãos se movem de maneira rápida para escrever uma nota.

Eu vou sair com Tenko e as garotas de outras turmas, mas não estou desistindo do nosso encontro.

Kaede se levanta depois de escrever, com a intenção de pôr o papel embaixo da porta do quarto de Rantarou. Ela sabe que ele o encontrará assim que deixasse seu quarto, por isso, ela não se preocupa sobre aquilo.

Se tudo desse certo, seria possível chegar ao café em tempo.

❄ ❄ ❄

Passou algum tempo desde que as garotas começaram a correr pelos blocos do distrito ao qual a Academia Topo da Esperança está localizada. Aquelas que a chamaram antes, por terem um porte físico mais preparado, estão distantes de pessoas como ela, que são muito lentas para aquele tipo de atividade.

Pelo menos Kaede não está sozinha ali. Chiaki, Himiko, Tsumugi e Sonia, para citar algumas, também não são do tipo atlético, então se torna mais fácil lidar com aquilo tudo com elas ao seu lado.

Entretanto, uma vez que nota que está levando muito tempo naquilo, Kaede procura correr mais rápido. E, depois de algum tempo, ela inacreditavelmente consegue chegar ao final do percurso.

“Tudo bem? Se você estiver se sentindo mal, por favor, me avise,” Mikan a chama, tão cansada quanto Pianista de Super Nível Colegial.

“Obrigada, eu lembrarei disso.”

Depois, Kaede procura por Tenko e a explica que tem outras coisas para fazer naquele dia e que por isso não ficaria mais por ali — ocultando o fato de que se trata de um garoto, é claro, senão corria o risco de nunca ser perdoada por sua traição.

Uma vez que avisa, ela caminha sozinha para a academia, o cansaço no corpo muito claro. Kaede espera que isso não comprometa o encontro, mas mais ainda que ela ainda estivesse dentro do horário marcado. É em momentos como aquele que um relógio de pulso faria toda a diferença.

A neve está caindo do céu enquanto ela dá um passo atrás do outro. E, antes que ela possa perceber, há alguém que está caminhando em sua direção.

Quando se aproxima mais, Kaede pisca e deixa escapar uma exclamação de seus lábios. “Rantarou? O que está fazendo aqui?”

“Bom, eu tinha pensado em ir direto ao café, mas achei melhor verificar se você não estaria muito cansada para ir,” ele explica calmamente. “Eu posso supor que era só para garotas? Me desculpe por isso.”

“Está tudo bem. Eu ainda quero ir. Mas antes gostaria de tomar um banho, se você não se importa.”

“Claro, sem problemas.” Ele ri, supondo a roupa que ela escolheria vestir para aquele momento. A única coisa que tem certeza é que ela o impressionaria de qualquer forma.

E Rantarou está certo. Porque quando Kaede volta a aparecer em seu campo de visão, a única coisa que ele consegue fazer é abrir a boca de forma boba. Nenhuma palavra poderia descrever o que ele presencia no momento, afinal.

Uma simplicidade que é essencial.

Depois que Kaede balança seus ombros para trazê-lo de volta à realidade, eles caminham sobre a neve em direção ao café.