Logo cedo ao nascer do sol o cantar alto das nhagaliri ecoavam por muito longe na capital, um animal de estrutura média, penas coloridas e que com sua rotina induzia uma para todos considerados cidadãos de Aurora. Todos os dias após o primeiro canto, é hora de levantar. Aya espreguiçou-se e se direcionou em frente ao espelho, olhando para sua própria imagem.

— Talvez eu deva aparar o cabelo... — Sua mão esquerda foi de encontro a uma mecha de seu cabelo branco platinado. Seus fios estavam um pouco longos, picotados até a altura de sua orelha. Aya, permaneceu parado observando a si mesmo, seus olhos agora estavam atraídos numa característica de sua espécie. Ele possui escamas nas maçãs de seu rosto. Como camélias brancas sua pele é pálida destacando suas escamas que recebiam a luz do sol mostrando um efeito sem igual como ao de um papel celofane que refletia todas as cores como um arco-íris.

 Apesar dos seres mágicos possuírem suas verdadeiras formas, todos possuem sua versão humana, que é uma lei criada para que haja o convívio entre espécies de forma pacífica e sem injustiças. Caso contrário, seria impossível o funcionamento da sociedade, voltariam ao passado onde eram divididos em seus grupos, habitats e a única lei era a sobrevivência. A fisionomia humana foi escolhida devido a consideração da raça humana como pré-históricos, assim sendo, seres mágicos deveriam ser o mais humanos possíveis, porém é completamente tolerável as características singulares, seja das espécies como dos indivíduos. Não necessariamente pessoas do mesmo grupo terão as mesmas características, são diversos os fatores que influenciam para detalhes próprios, mas que devem estar de acordo com sua espécie. Dois seres da espécie de cães comuns podem apresentar características idênticas como orelhas e cauda, como tão quanto haver diferenças, um tem orelhas, e outro apenas a cauda. Além disso é considerado sua família e seu grupo, supondo que destes dois seres caninos, ambos possuem como característica do grupo a coloração branca, normalmente ambos apresentarão esta característica, seja na cauda ou nas orelhas. Seres caninos de famílias/grupos diferentes onde um possui a coloração negra e outro branca, possuirão características comuns, mas específicas. Dentro dos grupos não há uma regra estabelecida em que deve seguir com vigor a continuação dos detalhes de cada grupo e família, porém este fator acabou se tornando cultural, sendo passado pelas gerações e havendo um grande tradicionalismo.

Aya possui uma aparência idêntica à de um humano além de suas escamas. Não é alto, nem baixo, estatura média e o aparentar de um adolescente de 19 anos. Mora sozinho num apartamento em um bairro de alta classe e calmo em Arbórea, capital de Aurora. Todos os dias acordava cedo mesmo que não houvesse compromisso agendado, ficava durante o dia fazendo nada com nada, lia um livro, dormia, preparava comida, pesquisava por receitas, subia até a sacada de seu apartamento para sentir o vento e observar o movimento. Uma rotina tranquila.

Após arrumar-se, ele se direcionou à cozinha para realizar seu café da manhã mas enquanto segurava em suas mãos o pote de açúcar foi surpreendido pelo som da campainha em sua porta. Imediatamente ele foi de encontro atender quem estava a chama-lo. Ao abrir a porta uma jovem pôs sua mão até a cabeça, ficando em postura de sentido para então apresentar-se.

— Bom dia! Serviço recados! Eu sou Chichin e venho em ordem de Ellian. — Apesar da pouca altura, sua voz era alta e determinada. Chichin possui orelhas grandes e arredondadas, além de uma cauda fina, comprida e pelada. Características dos ratos.

— Ellian? O elfo? — Ellian é um elfo velho e muito popular. Responsável pelos estudos e de diversos outros trabalhos da colmeia ou núcleo, local em que decisões são tomadas, leis formadas e a busca da ordem estabelecida. Aqueles que trabalham para tal, possui sua importância e sua representatividade. Apenas os mais aptos tem tal acesso. Para Ellian contatar Aya logo pela manhã de fato deve ser uma emergência.

— Sim. O próprio. — Chichin olhou-o nos olhos mas logo sua atenção foi chamada para suas escamas. Seu corpo ficou tenso, mas para não demonstrar nenhum resquício de expressão ela fortaleceu sua posição de sentido e voltou a olhá-lo nos olhos.

— Ele disse o motivo? — Indagou-a. Enquanto em sua mente diversas possibilidades e assuntos que Ellian poderia querer tratar pessoalmente passavam, trazendo a curiosidade e um pouco de preocupação ao garoto.

— Não. Ele apenas pediu para que se dirija até a colmeia com urgência.

— Imaginei... Espere um segundo que irei trocar de roupa e colocar um sapato. Enquanto isto pode entrar e sentar-se. Não se preocupe não irei te fazer mau. — Aya sorriu e riu baixinho entrando para o apartamento novamente. As orelhas de Chichin deram um pequeno estalo. Um pouco envergonhada, ela decidiu entrar e sentou-se no sofá para o esperar.

Normalmente os recados são entregues através de cartas, mas quando é necessário uma entrega rápida, imediata, convocações e etc, o serviço de recados possui a opção de enviar alguém que dará o recado. Dependendo do tipo de recado aquele que o recebe assina um papel ou é acompanhado até o destino final para a conclusão do serviço. Chichin foi contratada para dar o recado de que Aya deve se direcionar até a colmeia, assim sendo deve acompanha-lo para ter certeza de que o serviço foi realizado ou caso haja a negação, retornar ao remetente.

 Após arrumar-se com roupas próprias e colocar um sapato adequado, ambos foram para a colmeia. Aya observou as ruas e observou detalhes desnecessários em sua viagem afim de encontrar alguma anomalia. Tudo parecia comum, sem algum problema evidente. Por qual motivo Ellian o chamaria?