A sensação era maravilhosa... E sempre parecia ser a primeira vez, meu coração saltava de alegria dentro de meu peito com a ideia de ter toda a adrenalina de sentir o vento bater em meu rosto e logo alcançar as penas de minhas asas totalmente brancas.

            Eu ainda me lembro do quão bom era, caminhar alguns passos tentando conter a alegria dentro do meu peito por poder voltar a aquele mundo mágico... Odissix. Minha casa.

            Gostava de seguir um ritual criado por mim antes de poder abrir minhas grandiosas e deslumbrantes asas para alçar o vôo por um céu tão lindo e encantando.

Depois dos passos para tentar conter a alegria, eu flexionaria meus joelhos, cobertos pela calça marrom e pelas botas de cano longo que protegiam as proximidades da articulação, e logo me lançaria para cima dando o impulso necessário para o bater das asas.

Eu sentiria a ponta de minhas asas arrastarem na grama antes de ir me afastando cada vez mais do chão e poder alcançar as nuvens. Eu iria erguer uma de minhas mãos para sentir a corrente de ar passando e contornando o obstáculo que minha mão faria. O ar frio me fazia sentir bem.

Logo, eu pararia no meio do caminho e olharia para baixo. Me veria à metros de distancia do solo, mas ao olhar para cima eu poderia ver milhares de metros de distancia para todos os lados, me esperando para explorar e poder sentir o vento.

Eu iria respirar fundo e parar de bater minhas asas, deixaria meu corpo cair de costas me permitindo ficar de cabeça para baixo. Aos poucos, abriria meus olhos e veria o chão se aproximar. Com um sorriso que não poderia expressar toda a minha felicidade, eu iria mudar de posição e dar um impulso tão forte que me faria voltar a voar por aquela imensidão azul e branca.

Eu voaria de encontro às nuvens, para poder passar no meio de todas. Em Odissix, as nuvens eram tão fresquinhas que me fariam tremer um pouco pela sensação de ter água molhando as longas mangas brancas de minha blusa.

Eu poderia voar por quilômetros e quilômetros sem me cansar. Eu poderia subir e ir acima das nuvens, onde eu olharia para cima e poderia ver as duas Luas de meu mundo mágico em plena manhã, junto há algumas grandes estrelas adoradas por alguns seres de Odissix.

Depois de algum tempo, eu poderia encontrar nuvens coloridas de cinza, onde eu desceria para sentir as gotas de chuva iniciais e, poderia ver após a tempestade, um lindo arco-íris de tamanha perfeição. Suas sete cores são muito mais nítidas e vivas do que no mundo terrestre.

Assim que eu retornasse a voar acima das nuvens, veria milhares desses arco-íris em meio há imensos jardins de nuvens brancas e de aparência fofinha. E é nessa hora, que eu gosto de colocar minhas mãos entre elas e ver como elas ultrapassam a fumaça branca com tanta facilidade.

Por muitas vezes durante minha viagem, eu poderia jurar ver lugares mágicos acima das nuvens, como castelos, porém eles logo tratavam de desaparecer de minha vista. Eu não saberia dizer se era tudo verdade ou não, pois Odissix tem muitos mistérios, e alguns deles foram feitos para serem deixados em paz.

Depois de algum tempo, eu poderia avistar várias vilas e cidades com castelo dos Seres Superiores de nosso mundo. Eu pararia e ficaria observando tudo em um agradável silencio, onde apenas o vento poderia sussurrar em meus ouvidos. As cidades e vilas pareciam tão pequenas vista dali, e era onde eu me sentia grande e útil. Era ali, onde toda a minha coragem de guerreira se renovava, pois eu me sentia responsável por proteger cada vida inocente contra invasores de outras dimensões, ou até de nosso próprio mundo.

Eu logo seguiria em frente, para poder ir ao vale que ficava perto do reino da pessoa mais importante de minha vida. Minha querida irmã de consideração. Naquele imenso vale, havia uma extensa lagoa, aonde eu iria me aproximar de suas águas e olharia meu reflexo. O cabelo meio embaraçado e bagunçado, as barras da manga da blusa úmida, assim como as botas que juntariam pequenas gotículas. Rindo de minha aparência, eu colocaria minhas mãos na água, riscando sua extensão.

            Sentir o vento correr entre as penas bem cuidadas de minhas asas era tão bom, era um calmante natural. A brisa entre meus cabelos era maravilhosa. E cada vez que eu me lembro sobre como era voar por aquele mundo, meus músculos ficam tensos e meu coração acelera de tantas saudades daquele mundo.

Assim, logo eu chegaria ao reino desejado. Ainda brincando com o vento, eu seguiria para o castelo mais belo dali, onde eu pousaria e encontraria minha irmã, que iria rir de minha situação e chamaria minha atenção por estar atrasada. E sempre me lembraria que seria muito mais fácil se eu pegasse o caminho convencional, e não o mais longo.

Ela me faria pentear os cabelos e me ajudaria a arrumá-los, logo seguindo comigo às pressas até o treino que eu teria com sua amiga deusa, ou a incrível aula de poções com seu amigo que era incrivelmente bonito e que fazia meu coração bater quase tanto como se eu estivesse voando; ou até mesmo ir falar com seu amigo feiticeiro que encontrou um dos nossos que está perdido, ou viu algo de meu tão curioso e confuso passado.

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            De repente, eu me veria num terrível cenário. Eu estaria ao lado de minha irmã, onde assistíamos nosso mundo se destruído por um ser nojento e odioso. Veríamos tudo queimar e nossos amigos morrerem, sem que pudéssemos salvá-los.

            Tudo o que eu pude fazer, era salvar minha irmã. Fazer-nos passar por um portal que nos trouxesse de volta ao mundo terrestre, destruindo para sempre a passagem para aquele mundo. Destruindo para sempre minha casa...

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            Hoje em dia, tudo o que eu posso fazer é olhar para os céus e ter vagas lembranças de como era voar e sentir a brisa em meu rosto e em minhas asas. Eu só posso ter vagas lembranças de como eu era. Vagas lembranças de como as minhas asas eram. Vagas lembranças de meu mundo. Ter vagas lembranças que parecem desaparecer mais a cada dia que se passa...

            Apesar disso, eu nunca esqueço a emoção de poder voar. E não esqueço a adrenalida, ou a tensão nos meus músculos, ou o coração saltando dentro do meu peito. Eu ainda posso sentir tudo isso, apenas não posso voar de novo...

            Infelizmente ou felizmente, eu ainda sonho com o dia em que vi Odissix ser destruído e com a morte de pessoas inocentes. Com a morte de amigos... De paixões... De amores... De família...

E só de pensar, que pode ter sido tudo culpa minha, me dói o peito. Dói saber que posso ser a culpada por destruir meu lar, dói saber que posso ser a culpada por ter destruído o único lugar em que eu realmente era feliz...

Mas eu nunca esquecerei Odissix totalmente...

FIM!