Sua Verdade - Ernesto e Ema escrita por Anne Liack


Capítulo 1
A Verdade


Notas iniciais do capítulo

Ema está pronta para o seu casamento...(?)



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Devidamente arrumada, sentada em frente ao toucador do quarto que ocupava na casa do Coronel Brandão, apenas esperava seu pai lhe dar o sinal para irem. Todos por certo já estavam na igreja, o que sobrara de sua família, suas amigas, por certo mais da metade do Vale. Todos esperando-a. E ela ali esperando apenas uma pessoa. Não queria pensar nele, tornava tudo tão mais difícil, mas era inevitável. O coração doía em apreensão. Ela só queria fugir ou morrer. Morrer, e  de preferência nos braços dele. Mas, estava ali, pronta para o seu casamento. Pronta para dizer adeus a ele para sempre. Não. Ela sabia que para isso ela não estava pronta, quando tentava naqueles poucos minutos inquietantes que faltava, lembrar-se de até cada mínima sarda que já vira no corpo dele. 

 

— Ema, não faça isso!  

 

Estava tão distraída que só se deu conta que não estava mais sozinha quando ouviu seu nome.

 Ela olhou e pelo reflexo do espelho viu seus pensamentos materializando-se. Encarou por um tempo, estudando-o, depois fechou os olhos querendo guardar em sua mente a imagem dos cabelos negros e olhos brilhantes, das vestes malamanhadas. Queria guardar o cheiro, o cheiro meio amadeirado meio almíscar que a entorpecia como estava fazendo agora. Queria guardar a voz, o tom rouco e intenso que se misturava entre grave e melodioso quando a chamava pelo nome como fizera ainda pouco. Ema queria guardar como um todo aquela figura que lhe trouxera tanta felicidade que despertara nela algo tão profundo quanto a paixão, não, mais que isso, ele despertara mais que isso...

 

— Baronesinha, olhe para mim! 

 

Ela assustou-se, abriu os olhos e pôs-se de pé no segundo seguinte, realmente o encarando frente a frente. Não era uma visão, lá estava Ernesto. - Está linda! - ele comentou de repente, depois pareceu perder a fala, simplesmente a mirava. Os olhos brilhavam, tantos os dele quanto os dela. 

 

— Ernesto?! O-o que faz aqui?

 

Ele pareceu voltar a si à menção de seu nome, então suspirou, desviando os olhos dela, como se realmente quisesse se situar. 

 

— Eu? - pareceu confuso por um momento, porém quando voltou a encara-lá seu olhar era decidido. - Vim pedir-lhe para desistir dessa loucura. Não pode fazer isso, simplesmente não pode!

 

— É meu dever! - ela engoliu seco a frustração. 

 

— Não! Não é! - ele aproximou-se, ao mesmo tempo em que ela deu um passo para trás, não podia deixá-lo chegar perto, sabia que não podia. - Ema, acorde! Será infeliz! 

 

Ela tapou o rosto com as mãos.

 

— Pare! Não me diga isso!

 

— Não dizer-lhe o que, baronesinha? A verdade? É isso? - a voz dele era mansa, suplicante, chegava a ser piedosa, como a de alguém que explica algo para uma criança, e Ema só conseguia pensar que preferia que ele estivesse gritando com ela.-  Está me pedindo para mentir para você?  Não posso fazer isso, baronesinha! Nunca faria!

 

Aproximou-se dela e tirou suas mãos do rosto. Ela sentiu o choque com o contato de suas peles. Era aquilo que ela temia, por mais que também quisesse guardar o toque de Ernesto, aquele era o sentido mais perigoso. Com uma das mãos ele segurou as duas dela, com a outra enxugou-lhe as lágrimas que lhe escapavam pelo rosto corado. Ela fechou novamente os olhos, deleitando-se do carinho que aquele consolo se tornara. 

 

E Ernesto não resistiu, os lábios dela estavam mais vermelhos que o normal, e chamara por ele, beijou-a. Sentiu o corpo de Ema estremecer e ela pender para o chão, segurou-a junto a si  com força, mas em nenhum momento ousou parar o beijo, que ela já começava a corresponder. Foi saudoso, terno, cheio de amor, tão delicado quanto acariciar as pétalas de uma rosa, ele só solvia o doce néctar que emanava de sua boca macia, até que o ar se fez necessário. Encostou a testa na dela, enquanto via mais lágrimas escorrer-lhe dos olhos.

 

— Não faça isso! - pediu mais uma vez.

 

— Me perdoa, por favor, me perdoe! - o peito dela ardia como brasa, sua cabeça latejava forte, enquanto ela lutava para se manter firme na decisão de honrar sua família. 

 

— Eu a amo! - ele a sentiu estremecer novamente, mas continuou -  Vim aqui, engolindo o meu orgulho, porque eu realmente sei que sua decisão nos fará muito mal, Ema. Principalmente a você. - ele sussurrava praticamente rente a sua boca.

 

— Eu não posso, simplesmente não posso.- dizia ela, implorando para que ele desistisse logo dela, mas não tinha coragem de lhe pedir para ir-se. Seu coração a fazia confundir-se enquanto gritava algo que ela não queria ouvir. Soluçou. - Entenda!

 

— Entender? - ele a soltou. - É a única coisa que não pode me pedir. É impossível para mim. - os olhos dele marejaram. - Eu estou vendo o quanto está doendo em você, e você me pede para entender? Me explica então, Ema. - ele lhe segurou as mãos novamente, exasperado. - Me explica!

 

Ela caiu em choro.

 

— Não posso fugir da minha promessa...

 

— Isso não é motivo! Existe outros meios de ajudar sua família, maneira até mais dignas. E tenho certeza que e se sua mãe estivesse viva jamais aprovaria sua decisão. 

 

"Ele não entendia, não entendia!" ela repetia para si mesma, enquanto seu coração ainda gritava, a enlouquecendo.

 

— Você está fugindo, Ema! - ele continuou, a voz áspera dessa vez. - Está fugindo do que sente! Não quer me amar, mas me ama. Não quer sentir por mim o que sente, mas não pode evitar, nem esse maldito casamento adiantará. A baronesinha do café continuará amando o italiano pobre e rude, sem educação ou refinadas culturas. Porque não se manda no coração, baronesinha. Não se pode com ele. Se casar-se viverá o resto de seus dias amargurando isso. Descobrirá tarde demais que não vai conseguir!

 

— Chega Ernesto, pare! Pare! - ela gritou afastando-se dele. - Não me rogue praga!

 

— Não é praga, é simplesmente a verdade. A verdade que a senhorita sempre tanto cobrou dos outros, mas nunca de si mesma, não é? Algum dia foi sincera consigo mesma? Alguma fez já olhou para dentro de si de verdade?

 

Eles se encararam por um longo tempo, minutos, talvez horas. Porém Ema não mais suportou aquele olhar, que como ele mesmo dissera, lhe falava tantas... malditas verdades. Respirou fundo tentando controlar seu tremor e cessar as lágrimas.

 

— Nada do que diga vai me convencer! - disse por fim. - Eu lamento, por nós dois...

 

— Não. Guarde o lamento só para si. Vai precisar mais dele mais do que eu. 

 

De súbito, ele adiantou-se até ela e a beijou. E novamente Ema sentiu uma nuvem varrer de seu cérebro qualquer pensamento coerente. Sentiu o coração arrematar mais forte no peito, sentiu o formigamento no ventre e o rubor em sua face. Sentiu-se morrer e ressuscitar nos lábios famintos dele, que a beijava sem pudor, como nunca havia feito antes, explorando sua boca com língua atrevida e tão ferina. E quando estava prestes a ceder aos joelhos fracos ele a largou, lhe deu uma última olhada e saiu do quarto, deixando-a ali, com seu cheiro, seu gosto, seu toque e com suas verdades. 

 ...


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Notas finais do capítulo

Doloroso? Sim, é o que o orgulho faz conosco!

Olha eu aqui de novo! kkkkk
Mas, uma vez peço as opiniões de vocês e espero que tenham gostado do capítulo.

Bjo, e até... ♥



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