O fim de "Os heróicos". escrita por Carenzinha


Capítulo 1
Era apenas uma equipe de heróis... (único)




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Em 17 de janeiro de 2012 a equipe foi criada, “Os Heróicos.”. Eu concordo se você achar o nome incrivelmente bizarro, mas o que mais você esperaria de um adolescente de 12 anos? Achava mesmo que um pré adolescente que completaria 13 em 4 meses e 24 dias pensaria em um nome descolado e legal para uma equipe de super heróis?

Os Heróicos foram muito vaiados no começo, ninguém apostava um centavo na gente, achavam que a equipe fosse ser uma grande piada, aqueles que não conseguem derrotar um vilão se quer, impedir um acidente e salvar pessoas.

Como eu já disse, eu tinha só 12 anos na época, e fui um dos primeiros membros a entrar na equipe. Eu estava na escola cursando o oitavo ano quando um menino loiro me barrou na saída da escola. O garoto estava no terceiro colegial. O menino usava calças mais largas do que o normal e sapatos um tanto estranhos, sapatos pontudos, eu estranhei na hora.

O garoto olhou para todos os lados, com uma cara um tanto preocupada, na hora não entendi muito bem, mas depois descobri que era para checar que ninguém estava ouvindo.

“Olha eu estou planejando uma coisa grande e preciso da sua ajuda.” Ele sussurrou e logo depois foi embora. Consigo me lembrar de não ter entendido nada, mas ter ficado imensamente curioso, nos dias que se passaram percebi o mesmo garoto me observando na escola, o que me deixou bem desconfortável e até um tanto irritado, tomei coragem e fui falar com ele.

“O que você quer comigo?” Eu arqueei as sobrancelhas.

“Eu sei sobre você, e sei que você tem poderes especiais.”

O garoto disse aquilo em uma voz calma, mas um frio percorreu minha espinha e senti minhas mãos ficarem tremulas e incrivelmente suadas.

“Eu não tenho poderes especiais.” Eu disse aquilo com uma confiança que não sentia, as palavras saiam firmes mas por dentro eu tremia.

O garoto deu uma leve risada e concordou com a cabeça, embora eu tenha visto a desconfiança nos olhos dele, ele me encarava como se eu fosse uma piada, o que me deixou bastante fora da minha zona de conforto.

Mas eu me controlei, eu não queria estragar tudo, eu sabia que eu podia estragar tudo, e preferia não fazer isso.

“Me diz logo o que quer e vaza.”

“Certo.” Ele sorriu.

Eu estava de braços cruzados, não era todo o dia que alguém me questionava sobre meus poderes, e ter alguém questionando mexeu com meu intimo, eu não queria ser questionado, por ninguém.

O sorriso um tanto penoso que o garoto tinha me dado no começo tinha desaparecido e virado um sorriso amigável, provavelmente o garoto percebeu que eu não era tão sonso quanto aparentava ser, que eu podia ser uma ameaça, e passou a conversar comigo sem considerar o fato que eu estava apenas com 12 anos. Sem considerar o fato de que ele tinha 17 anos e estava no ensino médio, enquanto eu estava no fundamental.

“Eu estou querendo fazer uma equipe de super heróis, e você poderá ser útil.”

A ideia de criar a equipe foi de Jack, o garoto do terceiro colegial, e eu entrei para o time com o quarto membro do nosso septeto, a nossa equipe com sete membros.

Convencer meus pais a me deixarem ser um super herói não foi complicado, eu meio que dei meu jeito. E eles nunca reclamaram de eu ter entrado para a equipe.

Depois descobri que Jack tinha tentáculos roxos nos pés, por isso as calças largas e os sapatos pontudos, era dessa forma que ele escondia quem ele realmente era.

Um mutante, assim como todos os membros da equipe.

Meus outros colegas eram Carolline, Ester, Felício, Amadeu e Renata. Comigo e Jack éramos sete. Todos nós mutantes.

Entrei para o grupo com um certo receio, embora tentava não aparentar. Era finalmente minha chance de mostrar meus poderes, então eu tinha que estar confiante.

No meu primeiro dia Renata me recebeu com bolinhos de amora, Jack e Amadeu comemoraram, foi uma grande festa a equipe ter um novo membro, eu ter uma nova casa e novos colegas.

Eu tive que fazer um treinamento para ver meus poderes e completei a prova em 35 segundos, o pior resultado de todos os membros, o que me frustrou completamente.

“Você vai melhorar, é comum não ser tão bom, já que você é mais novo.” Todos falavam.

Eu odiava ser o mais novo.

Eu odiava não ser o melhor, odiava “ficar por baixo” então sempre que possível eu ficava indiferente, apenas observando os membros, captando as fraquezas e forças deles, notando tudo para supera-los. Eu não queria ser apenas um membro, queria ser o membro, o melhor de todos, o que seria respeitado pelo líder da equipe e por todos os outros membros. Eu não queria ser o mais fraco, eu não queria ser controlado por ninguém por não ter tantas habilidades na luta.

E quando foi a vez de escolher um nome eu fui o primeiro a me manifestar, Os Heróicos foi aprovado por todos, o que reforçou ainda mais o meu ego.

Eu era o mais novo da equipe, enquanto os membros tinham de 15 a 18 anos eu estava com 12, mas isso não me abalava, pelo contrário, era mais um motivo para eu mostrar que tinha mais experiência do que os demais.

Assim como eu disse, nos tratavam como uma mera piada, no começo riam de nós, mas os participantes da equipe pareciam não se importarem.

“É só uma questão de tempo e vão se acostumar com a gente.” Jack falava, sempre sorrindo.

Todos os demais integrantes concordavam, mas eu sempre torcia levemente o nariz.

Tempo? Nós éramos incríveis, tínhamos tudo para sermos os melhores.

Não precisávamos de tempo, por que não provávamos para todos que éramos os maiorais?

“Nós poderíamos agir agora, deve ter uns vilões soltos por aqui, vamos ataca-los.”

“Calma, logo vamos ter a nossa chance.” Jack falava, tentando me desanimar, tentando me convencer que a ideia de esperar era a certa, que um dia a zombaria passaria e que teríamos o nosso lugar. Mas eu não queria esperar esse dia.

Dois anos depois e a equipe começou ganhar um pequeno espaço, nós éramos chamados para pequenos servicinhos e as vezes aparecíamos para salvar uma galera, mas éramos mais vaiados do que agradecidos.

“Uma equipe com aberrações com poderes, eles precisam ser controlados.” As pessoas diziam.

“Se decidirem se rebelar não vão sobrar ninguém no mundo, vamos ser escravizados por eles.” Outras falavam com medo.

Mas todos os outros membros não se importavam com comentários negativos , ou pelo menos pareciam não se importar. Eu por outro lado me sentia atingido e com raiva, mas me controlava, meus poderes eram poderosos demais então não queria fazer um estrago.

Mais dois anos se passaram e começamos a ficar mais famosos, estávamos em todas as manchetes de jornais e tínhamos o apoio da metade da população, a outra metade ficava apreensiva, não confiava em nós e nos nossos salvamentos, nos viam como monstros.

Mas mesmo assim não era a glória que eu queria, eu queria mais.

As autoridades começavam a se preocupar com nossa equipe, assim como a população ela estava dividida. Uma parte achava que os “serviços de ajuda comum” já eram incrivelmente competentes, que era dispensável a ajuda de “pessoas como nós”. Essa mesma parte estava preocupada que nós fossemos virar futuramente uma ameaça e que precisávamos ser exterminados ou estudados o quanto antes. Mas a outra parte estava confiando em nós, acreditava que éramos boas pessoas, o que de fato, éramos.

E Os Heróicos, uma equipe que continha uma garota com super velocidade, Renata. Um garoto que sabia se teletransportar, Amadeu. Um garoto com tentáculos e ótima agilidade, Jack. Uma garota com visão de calor, Ester. Uma garota com poder de controlar o gelo, Caroline. Um garoto com super força, Felício. E eu, estava finalmente sendo reconhecida.

(...)

Nós fomos crescendo, eu com 17 anos, Jack com 21, Carolline com 20, Amadeu com 23, Renata com 25, Felício com 23, Ester com 24.

As nossas divergências foram chegando, Jack me tinha como um irmão mais novo, um protetor carinhoso e amigo para todas as horas, também acreditava muito no meu potencial mesmo quando eu duvidava de mim mesmo. Renata era um excelente amiga e uma cozinheira nata, tinha os melhores trocadilhos e piadas, Amadeu, um garoto que eu sempre ficava com “um pé atrás”, mas que nunca tinha me aborrecido. Já Felício e Ester, ah esses sim eram complicados.

Os dois sempre falavam que eu “sonhava muito alto” que “minha arrogância e sede por sempre vencer e me destacar um dia me mataria”, isso sim causava divergências no grupo.

Alguns membros, como Jack e Carolline falavam que eu era só mais sonhador do que os outros, e que minha “vontade de me aparecer” era porque eu era jovem, tinha mais energia e mais ambição por sucesso. Outros como Amadeu concordavam em partes com os dois. Renata preferia não se manifestar, era ela que sempre colocava um fim nas discussões com uma piada legal.

Eu até que aguentei bastante tudo isso, já que dificilmente discutia, muitas vezes eu apenas revirava os olhos ou concordava com a cabeça e falava que tentaria mudar. Eu deixava a sala toda “pegando fogo” e silenciosamente cainhava até meu quarto e esperava o clima abaixar. Eu podia facilmente fazer o clima abaixar se eu quisesse, mas muitas vezes não valia a pena já que muitas vezes a mesma discussão sobre minha personalidade voltava.

Até que um dia eu escutei que Ester e Felício estavam fazendo um novo plano de ataque e estavam indo pedir permissão para Jack se podiam me deixar de fora, eles achavam que meu temperamento astuto fosse atrapalhar.

Claro que foi uma arrasadora noticia quando Ester, três dias depois do dia em que soube sobre o plano, morreu em um acidente de carro. E foi uma noticia mais arrasadora ainda quando Felício, quatro meses depois de Ester morrer, foi encontrado morto no banheiro, sem nenhum sinal de cortes.

(...)

Um ano se passou e as coisas foram mudando, os treinamentos foram ficando mais intensos e eu como sempre, era elogiado por Jack. Eu, mesmo com a considerável diferença de idade era o melhor lutador, o mais ágil e o mutante com mais controle do próprio poder.

Carolline foi se tornando alguém especial na minha vida, meu grande amor. Nos intervalos do treino nós dois saiamos juntos, íamos a um cinema, tomávamos um sorvete. Fazíamos treinos extras, só nós dois.

Minha vida estaria perfeita se não fosse as pessoas que ainda não confiavam em nós, éramos ridicularizados e tratados como ameaça. Eu queria que aquelas pessoas aprendessem, que tivessem uma boa lição, que vissem toda a nossa capacidade máxima.

“Mas, Yago, se mostrássemos todos os nossos poderes, se atacássemos quem nos odeia seriamos os vilões...” Amadeu rebateu minha ideia.

Jack concordou com Amadeu, assim como Carolline e Renata, o que me fez ferver de raiva por dentro. “Aquelas pessoas nos odeiam, por que ainda as salvamos?” Eu pensava comigo.

Um mês se passou e tudo começou a ficar mais complicado, a cede da nossa equipe começou a ser atacada, nosso quinteto começou a ter os muros pixados com palavras de ódio... eu realmente odiava tudo aquilo.

Amadeu era o que parecia se importar menos com tudo aquilo, agia com indiferença perante aos insultos da população e as minhas bochechas vermelhas de raiva. Alguns meses depois a equipe descobriu que Amadeu era um agente duplo, ele era um mutante, mas tinha vergonha de ser um, por isso avisava para a população os nossos salvamentos fracassado e também pixava nos muros da própria equipe palavras de ódio contra os mutantes, contra as pessoas como ele.

A ordem dada por Jack era apenas expulsa-lo da equipe, mas foi um enorme choque quando perceberam que Amadeu tinha cometido suicídio.

A única coisa boa em toda essa desgraça era Carolline, meu único e verdadeiro amor, ela dava luz aos meus dias e me amava do jeito que eu era.

Três meses depois do acontecido com Amadeu fui percebendo que Renata foi ficando incrivelmente chata, praticamente insuportável, por algum motivo desconhecido ela começou a dar ordens e a responder todos com grosseria, ela tinha constantes surtos de raiva e fitava todos os membros com um olhar mortífero e ameaçador. Até que um dia, ela fez o que todos já esperavam, decidiu sair da equipe, e nós nunca mais ouvimos falar dela.

A população foi ficando pior, mais agressiva, por algum motivo, nossa transformação de um grupo de sete para um trio parecia incomodar Jack. Eu, pelo contrário, me sentia incrivelmente melhor em saber que o nosso grupo virou um trio, eu ficava mais confortável. Muito mais confortável.

Eu e Carolline estávamos muito mais próximos, vivíamos grudados e sempre lutando um ao lado do outro. Mas Jack estava cada vez pior, tinha insônia e constantes surtos de ansiedade, não aguentava a pressão de estar, de certa forma, perdendo aos poucos a equipe.

Um dia Jack chamou Carolline a sós, pois tinha uma notícia muito importante para dar para ela. Quando ela saiu da sala veio logo animada me contar a grande novidade.

Se o pior acontecesse ela seria a nova líder da equipe.

Eu achei aquilo completamente injusto, claro que fiquei feliz por Carolline, mas ainda assim era injusto. Eu treinava dia e noite, eu me superava a cada dia. Eu merecia o cargo.

Fui tirar satisfação com Jack.

“Me desculpe, eu não estou criticando a escolha de Carolline, quero dizer ela é incrível mas... eu merecia o cargo, eu sou o melhor mutante daqui, uso meus poderes como ninguém.” Eu falava um tanto indignado, mas Jack me interrompeu.

“Vou ser sincero com você, Yago. Você realmente é o mutante com poderes mais aprimorados, você foi o que mais evoluiu de todos os membros. Você é sem duvidas o mais dedicado da equipe e eu admiro muito isso mas...” Ele perdeu as palavras, provavelmente tentando transmiti-las para mim da melhor forma possível.

“Mas?” Eu arqueei minhas sobrancelhas.

“Mas tem algumas coisas no seu comportamento e personalidade que eu não concordo e não admiro. Por exemplo você está sempre querendo ser o melhor, é ambicioso, tem um grande ego, é muitas vezes nervoso e astuto... coisas não muito boas para um líder.”

Senti meu peito explodir de raiva e, alguns segundos depois que Jack me explicou os motivos para eu não ser o líder ele caiu duro feito pedra. Tinha morrido.

Fui contar a noticia perplexo para Carolline, eu estava tremendo. O nosso líder estava morto. A garota começou a chorar e acabou confessando que Jack sempre foi o verdadeiro amor dela e eu confessei que sempre a amei. Ela nunca quis me iludir ou me enganar, só aceitava meus convites para sair e para treinar por achar que era um convite de amizade, e o nosso amor nunca existiu, não passava de uma mera ilusão na minha cabeça.

Eu estava com os olhos cheios de lágrimas e o coração cheio de raiva, dei um grito enfurecido e pedi para Carolline ir embora da cede.

(...)

Passaram quatro meses desde o ocorrido com Carolline e eu ainda sentia no meu intimo a necessidade de ir procura-la, por isso dia 6/1/2018 eu decidi ir atrás dela. Ela ainda estava na cidade e não foi muito complicado encontra-la.

Eu a cerquei em um beco sem saída. Meus olhos foram tomados pela ira. Eu avançava para perto dela.

“Y-yago? O que está fazendo?!” Ela gaguejava enquanto tremia de medo.

“Eu te amei profundamente, Carolline.” Lágrimas de raiva escorriam pelo meu rosto.

“Eu também, Yago. Eu te amei da forma mais sincera possível, eu te amei como um irmão.”

Pude ver nos olhos de Carolline um imenso medo. Ela tentava atirar gelo em mim, mas seus movimentos estavam trêmulos.

“Parece que não treinou o suficiente, e Jack ainda achou que você seria a melhor líder?” Eu perguntei com um sorriso sínico, zombando dos olhos marrons arregalados dela.

“Yago, você não era assim...” Ela murmurou.

“Talvez eu não fosse.”

“Nós ainda podemos ser amigos, esqueça sobre o Jack, por favor.” Ela suplicava.

Mas agora era tarde demais.

Eu não seria controlado por mais ninguém, por nenhum líder. Muito menos pela pessoa que eu mais amei.

Eu tinha o poder de hipnose e de estrangulamento telecinetico.

Com a hipnose convenci meus pais que iria para um colégio interno avançado por ter um ótimo intelecto, fiz Ester bater o próprio carro, fiz Felício morrer envenenado, fiz Amadeu se suicidar, fiz Renata ir embora da equipe. E com o estrangulamento matei Jack.

Carolline ainda tentava jogar o gelo, mas errava sempre. Isso devia ao fato dela ter sido hipnotizada, a garota pensava que eu estava distante dela, por isso mirava fora de onde eu realmente estava, o que me fazia gargalhar.

Carolline estava com muito medo, era visível nos olhos dela.

“Agora você vai morrer da forma que quem você mais amou morreu.”

E Carolline ficou sem ar.

Agora eu finalmente era o melhor, o melhor de toda a equipe, já que eu era o único membro dela.

Era o fim de Os Heróicos.


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