Por quem os sinos tocam escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Por quem os sinos tocam


Notas iniciais do capítulo

Eu sempre quis escrever algo sobre quando o Naruto era bebê e alguns dias atrás eu escrevi esse conto ♥

Boa leitura



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Após o funeral, Kakashi afastou-se de todos pois sabia que iriam, de um a um, dar-lhe as devidas condolências pela morte do Sensei. Se fosse apenas isso, ele não se incomodaria em ficar ao lado do Sandaime Hokage. Contudo, as mensagens de condolências vinham carregadas também do olhar de pena, as falas emocionadas e lembranças de que ele havia perdido o pai de forma desastrosa, além de todos os membros de seu time, que para um shinobi é como se fosse a sua família.

Hatake Kakashi precisava ficar sozinho para refletir e assimilar tudo o que havia acontecido. Ainda estava na fase da negação, sem deixar que sua mente processasse que o sensei havia dado sua vida para derrotar a Kyuubi. E ainda havia Kushina e a criança que ela carregava, perdidas para sempre.

Ele subiu no monumento dos Hokage e rezou para os ancestrais. Não era muito ligado aos cerimonialismos da religião praticada no país, entretanto, estava sentindo um vazio imenso dentro de si, tal como fora quando perdeu Sakumo, Rin e Obito.

Era fim de tarde e uma fina chuva iniciou-se, o sol se punha por entre as montanhas, a luz se afastava e relâmpagos clareavam o início da noite.

Kakashi permaneceu ali, embaixo da chuva, os pensamentos em desordem sobre o que teria acontecido caso as coisas tivessem sido diferente. Caso Kushina não tivesse engravidado e se colocado naquela posição delicada que era a de enfraquecer o selo. Pois ele sabia os detalhes de que ela carregava a raposa de nove caudas em seu corpo, e o parto poderia ser fatal para todos, caso algo desse errado.

Sentiu-se terrível por tal pensamento, afinal, os dois estavam tão felizes por constituir uma família. E observá-los aos longe, Kakashi sentia um pouco aquela felicidade.

Infelizmente não permitiram que ele fosse o guardião de Kushina no dia do parto. Havia sido encarregado de manter a segurança dela durante a gravidez, mas o Sandaime delegou a função de seguranças naquele dia para outros ninjas mais velhos.

Ainda não sabia de todos os detalhes da luta que o sensei havia travado, mas Kakashi não estava racionalizando naquele instante. Ele apenas culpava a todos.

Já era tarde da noite, a chuva havia passado, quando Hiruzen Sarutobi aproximou-se do jovem. Ele sentou ao lado de Kakashi, contemplando a vila em silêncio.

Muitas perguntas estavam presas na garganta do rapaz, mas ele não precisou fazê-las, o Sandaime iniciou um monólogo, começando pela delicada situação de Kushina, confirmando o que Kakashi sabia sobre o selo da nove caudas.

Ao falar sobre sua esposa, Sarutobi Biwako, o velho vacilou levemente, com a voz embargada, por tê-la perdido naquela noite. Todos perderam muito naquela noite, afinal.

Ele continuou falando sobre o sacrifício de Minato, e como ele foi corajoso em salvar a vila, selando a nove caudas. Porém, a novidade estava nos detalhes, a criança gerada por Minato e Kushina não havia morrido, o bebê estava vivo e carregava uma besta dentro de si.

— Nós precisamos proteger a criança, e eu quero pedir para você que fique encarregado disso. — O Sandaime falou, virando-se para Kakashi, olhando-o pela primeira vez naquela noite. Seus olhos possuíam marcas profundas e uma tristeza incalculável.

— Eu... eu não sei se consigo. — Kakashi desabafou. — Eu não sei se conseguirei novamente.

— Você é muito jovem, e passou por fatalidades que muitas pessoas jamais irão conhecer, mas eu confio em você. — O sorriso do velho era consolador, contudo, a dor no peito do Hatake era mais forte.

Os olhos de Kakashi arderam, as lágrimas caíam desordenadas e um grito de desespero saiu de sua boca. Ele precisava despejar toda aquela angústia que o acometia.

Foi preciso alguns dias para ele reunir forças para conhecer a criança. Kakashi caminhou por entre as ruelas da vila, sem desviar das pessoas que passavam por ele, trombando com qualquer um. As mãos dentro do bolso, o olhar caído no chão, até chegar no edifício onde habitavam diversas famílias.

O Sandaime havia dito que a criança estava sendo cuidada por uma mulher que havia também tido recentemente um bebê.

Kakashi entrou no prédio, os apartamentos eram pequenos, caminhou por um corredor até as escadas, onde algumas crianças desceram correndo, com pedaços de madeira na mão, brincando de piratas.

Ao chegar no último andar, Kakashi parou diante da porta do apartamento e suspirou, segurando a maçaneta, recordando-se das últimas palavras que trocou com o sensei.

Estavam diante do túmulo de Rin. Kakashi havia levado um prato com taiyaki, os favoritos dela, além de acender um incenso de jasmim. Os dois sentaram na grama sobre as pernas, diante da lápide e juntaram as mãos, fazendo uma oração.

“Em breve sua missão de proteger Kushina chegará ao fim.” A voz de Minato parecia ainda fresca na memória de Kakashi. “Ela logo terá o bebê e Biwako-senpai fez questão de que seus guardas assumissem agora.” O olhar que Minato lançou era de confiança e felicidade. Ele possuía uma tranquilidade na voz, e não escondia tamanha felicidade que sentia. “Mas não se preocupe, pois em breve você terá uma nova missão.”

“Qual, sensei?”

“Bem, você será a figura mais próxima de um irmão mais velho que meu filho ou filha terá. Você faz parte da nossa família, afinal.”

A lembrança de Kakashi parecia ter pausado na imagem do sensei sorrindo e estendendo a mão para ajudá-lo a se levantar, mesmo que Kakashi não precisasse de ajuda para tal.

Diante da recordação, Kakashi abriu a porta com a energia renovada.

A mulher estava na cozinha, seu nome era Maying, ela estava preparando algum alimento. A presença de Kakashi já era esperada, então ela o convidou para entrar e visitar o bebê que estava dormindo no berço. O cheiro da comida era agradável e ele agradeceu por permitir que entrasse.

O apartamento possuía móveis simples e parecia ter sido pintado recentemente por causa do cheiro de tinta.

Kakashi entrou no quarto, a janela de vidro estava fechada e as cortinas as cobriam, devido a claridade do sol que entrava e o clima frio que fazia no outono. O quarto possuía um ar tranquilo e a luz era provinda de um abajur acesso ao lado do berço.

Ele se aproximou do berço a passos lentos, a ansiedade tomava conta de seu corpo. Assim que seus olhos pousaram sobre a criança, que dormia serenamente, Kakashi sentiu o coração ser preenchido de esperança. Não evitou que as lágrimas escorressem dos olhos, quando tocou na mão do bebê e sentiu os dedinhos pequenos segurar.

— É um menino lindo, não é? — A mulher falou, com um sorriso materno.

— É um menino?

— Oh! Sim, o nome dele é Naruto, vejamos, foi registrado como Uzumaki Naruto, pobrezinho, perdeu os pais no ataque da Kyuubi.

Então ela não sabe quem o bebê era, Kakashi avaliou o registro que ela pegou de dentro de uma cômoda de roupas.

— Uzumaki, hã. — Como o nome de Kushina. Então ele entendeu o que o Sandaime queria, ocultar a todos que o bebê tinha ligações com o Yondaime. E até onde Kakashi sabia, Kushina não usava seu sobrenome real, do Clã Uzumaki, desde que se mudou para Konoha.

— Meu bebê é só três meses mais velho, está dormindo na minha casa, aqui no andar de baixo, meu filho mais velho está cuidando dele. — Ela parou ao lado de Kakashi, pousando a mão sobre o ombro dele. — O Sandaime-sama me avisou que você vai me ajudar a cuidar do bebê.

— Sim, eu vou. — E com isso Kakashi sentiu o peso da responsabilidade.

— Preciso ir ver como os meninos estão, você se importa de ficar com o Naruto-kun?

Ele não se sentia pronto, na verdade, mas concordou. Assim que ela deixou o apartamento, Naruto acordou, chorando. Kakashi mexeu na barriga do bebê, sem saber exatamente o que estava fazendo. Ele não possuía nenhuma experiência com crianças, muito menos daquele tamanho.

Desajeitado, pegou Naruto no colo e com muito cuidado segurou a cabeça dele com uma mão, apoiando o corpo pequeno em seu braço e o protegendo com a outra mão.

Recordou de cenas esporádicas de pessoas com bebês no colo, não era muito comum ver tais acontecimentos, mas durante as missões da ANBU, ele observava a todos igualmente. E em uma dessas missões havia uma mulher com um bebê no colo. Ela caminhava pelo engawa, segurando o bebê e cantando uma canção, enquanto embalava a criança em seus braços.

Foi mais ou menos o que Kakashi fez. A única música que ele se recordava naquele momento era uma que Rin cantou certo dia, falava sobre os rios que cruzavam Konoha e os animais selvagens. Após cantar a música, Naruto acalmou-se.

Sentindo um alívio, Kakashi olhou para o bebê, ele ainda era muito pequeno e possuía cabelos loiros, era evidente que havia herdado traços característicos do sensei, enquanto algumas maquinhas na bochecha chamava a atenção.

Naruto bocejou e fez alguns grunhidos com a boca, depois ele voltou a dormir, aconchegado nos braços de Kakashi, que sentou numa cadeira perto da janela, ainda com o bebê no colo.

— Você é muito pequeno, mas um dia vai ouvir falar sobre o melhor ninja de Konoha, ele era conhecido como o relâmpago amarelo de Konoha...

Todos os dias, Kakashi deixava sua máscara Anbu para visitar Naruto. Aprendeu a preparar o leite na temperatura correta, trocar a fralda e dar banho no bebê, tudo com a ajuda de Maying. Ele narrava as histórias de suas missões para Naruto e lendas que seu pai havia lhe contado quando criança. Maying o elogiava pois Naruto ficava sempre tranquilo enquanto Kakashi contava essas histórias.

Aos poucos, a dor que ele sentia da perda do sensei foi sendo substituída pela saudade. Embora ainda sentisse o peso da morte nas suas costas, Kakashi via em Naruto a esperança de um futuro bom.

A vila retomou suas atividades com missões mais sérias e Kakashi começou a passar mais dias longe do país. Cada vez que retornava, encontrava Naruto maior e mais esperto. Maying o ensinou Kakashi a cozinhar, pois Naruto já podia se alimentar com coisas menos pastosas.

No aniversário de um ano, Kakashi, Maying e os filhos dela fizeram um bolo de morango, decorado de forma humilde, mas estava saboroso. Sarutobi apareceu também, ele pouco visitava o apartamento. Kakashi compreendia que, sendo o Hokage, seus passos eram milimetricamente observados por poderosos da vila.

Naruto aprendeu a andar, mas correr era o que ele mais fazia. Kakashi costumava invocar alguns de seus cachorros para acompanha-lo nas corridas e isso começou a chamar a atenção. Foi aí que o Sandaime Hokage tomou uma decisão que veio a partir o coração do rapaz.

Kakashi não sabia quão forte era seu laço com Naruto, até o Hokage pedir que ele se afastasse do menino. Nada que Sarutobi falasse, fazia sentido para Kakashi naquele momento. Ele disse que estavam ofendendo a lembrança de Minato, já que o sensei o havia encarregado de cuidar do bebê como um irmão mais velho.

Sarutobi e os conselheiros estavam irredutíveis, já que a ligação de Kakashi e Naruto poderia levantar suspeitas de todos na Vila, afinal, ele fora o aluno de Minato e a criança em algum momento cresceria e buscaria saber a verdade. Até que esse dia acontecesse, Kakashi poderia manter a discrição e cuidar da criança ao longe.

A despedida foi triste, e a partir de então Kakashi distanciou-se aos poucos de Naruto. O mesmo aconteceu com Maying, que foi substituída por outra mulher, uma senhora de idade que não possuía família.

Assistir Naruto crescer a certa distância, era o que lhe restou. As vezes, Kakashi aproximava-se dele, com a sua identidade protegida pela máscara da Anbu.

— Hey, Mascarado-san. — Naruto tinha cinco anos, correu na direção de Kakashi.

Oe, onde você está indo com essa pressa? — Ele se abaixou.

— Vou me registrar na academia ninja. — Naruto disse, com um sorriso animado.

— Você não é muito pequeno para isso?

Naruto balançou a cabeça, os cabelos loiros haviam crescido bastante.

— Eu já consigo arremessar shurikens. — Ele falou orgulhoso.

— Deixe-me ver então. — Kakashi observou Naruto jogar as shurikens na direção de uma árvore, havia uma certa habilidade, embora fosse ainda muito crua. — Oh! Foi bem longe.

As shurikens caíram no chão.

— Estou treinando nisso. — Naruto justificou, esfregando o dedo no nariz. — Um dia vou ser forte, como o Mascarado-san.

— Se treinar com vontade, vai ser mais forte do que eu um dia.

Kakashi sorriu por baixo da máscara Anbu, estendendo a mão para Naruto. Eles uniram os dedos, como sinal de promessa.

Quando Sarutobi o convocou para oferecer o time sete, Kakashi ficou preocupado sobre a formação que o Hokage havia criado. Colocar o menino Uchiha com Naruto talvez poderia ajudar no desenvolvimento dos dois, mas também poderia atrapalhar. E ainda havia a garota dos Haruno, ela era bastante inteligente, havia visto seu histórico na academia, um grupo bastante desequilibrado na verdade. O que fez lembrar de seu antigo time.

A casa de Naruto era desorganizada e a alimentação parecia precária. A senhora que cuidava dele havia morrido quando o garoto completou seis anos, desde então, Sarutobi continuou cuidando dele, mesmo que a distância.

— Então, o que me diz? — O Hokage fumava seu cachimbo como de costume.

— Parece que vai dar um trabalho. — Kakashi avaliou.

— Você é a pessoa mais indicada a fazer isso dar certo. Eles possuem muito potencial.

— O que me diz de Jiraya-sama? Ele seria a pessoa mais indicada a treinar o filho do Yondaime.

— Kakashi, por favor, não falamos sobre isso.

— Yare, yare. — Kakashi balançou a mão, depois pegou uma caixa de leite, observando a validade, estava vencido.

— Além disso, Jiraya não está disponível. — Sarutobi anuiu, evitando falar sobre o ex-aluno. — Eu confio esses três em suas mãos, sei que vai fazer o que deve ser feito.

Kakashi concordou, mas não esperava que o começo seria de fato muito difícil, mas havia algo em mente.

— Vocês precisam pegar esses sinos...

O tilintar dos sinos fizeram as três crianças focarem toda sua atenção no sensei. Kakashi vislumbrou por um momento a imagem de Rin, Obito e Minato. Os sinos tocavam para aqueles que Kakashi amou e não conseguiu proteger.

— Venham com a intenção de me matar...

Dessa vez seria diferente, contudo, não jurou ou fez promessas, pois aprendera que o futuro se escrevia a partir de nossas ações atuais. Mas ele se esforçaria mais, para que aqueles três não sofressem o que ele sofreu.


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Notas finais do capítulo

É isso ♥

Já dizia minha avó: se leu uma história, tem que comentar, é educação.

Beijos