Chicago - Ilinóis, USA 

2004 

O menino pulava para tentar alcançar sua pipa, mas era inútil. Ele era baixinho demais e não iria conseguir aquilo sem um banquinho ou até uma escada. Suspirou e seu pequeno rosto se franziu numa careta. Ele estava cansado de ser baixinho, afinal, ele já tinha 8 anos! 

Foi quando uma mão surgiu por cima da sua e alcançou a linha de sua pipa. O garotinho olhou para frente e ali havia uma garota e para sua surpresa -e até desgosto- ela era bem mais alta que ele. Mas ele não ficou bravo, afinal, ela conseguiu pegar sua pipa e devolve-la. 

Ele, com a pipa vermelha em mãos, olhou para o rosto da garota e sorriu. Ela tinha olhos que lembravam poças de chocolate, e cara, ele amava chocolate! Era uma pena que o cabelo dela, de um estranho tom de marrom com vermelho caíssem por seu rosto e quase tampassem seus olhos. 

—-Obrigada! -- O menino agradeceu pela pipa. Então ele se lembrou da presilha de cabelo que havia roubado de sua irmã mais cedo e teve uma ideia. Na sua frente, a menina o olhava sem entender o que ele estava fazendo, mas logo ele achou o que queria em seu bolso e levou as mãos até os cabelos dela. -- Você tem olhos muito bonitos... Não esconda eles. 

Ela corou. A menina não deixou de notar que ele também tinha lindas orbes cor de esmeralda e o cabelo todo espetado no mais vivo ruivo. Ela achou graça nas sardinhas que ele tinha por todo o rosto e sua mão formigou para tocar, porém ela fez algo diferente. 

Mais cedo sua melhor amiga havia brigado com ela, e lhe devolveu o bracelete de amizade. Ela o pegou no bolso do casaco. 

—-Aqui, me deixa por em você... - Pediu. O garoto estendeu o pulso e ela deslizou o circulo de borracha por sua mão.  

O garoto abriu a boca pra responder, mas o chamar de sua mãe o interrompeu. A menina sorriu e acenou, lhe dando as costas e então indo embora.  

Universidade Columbia 

NYC - New York, USA 

2018 

A mulher grunhiu em sua terceira tentativa de alcançar o livro que estava na prateleira superior. Ela precisava daquele livro, a prova era no dia seguinte e ele salvaria suas notas! Mas porque ela não tinha alguns centímetros a mais? Quando era criança era fácil ser maior que os garotos, ela daria um dedinho pra ser maior. 

Tentou mais uma vez, ficando na ponta dos pés e se esticando o quanto podia. O máximo que poderia acontecer seria ela derrubar a estante toda, mas pelo menos ela teria o livro.  

Foi quando uma mão maior surgiu por cima da sua e pegou um livro. Logo qual o que ela mais precisava! A garota se virou pronta para briga, mas os olhos que a encarou a pararam. Ela se lembrava daqueles olhos. O homem estendia para ela o livro vermelho e ela o pegou com as pernas fracas. 

Ele sorriu, lhe deu as costas e se afastou. Mas ela havia visto o bracelete! 

—-Hey, obrigada! 

Ele apenas acenou. Ela avançou alguns passos. 

—-Não nos conhecemos? 

Ele parou e se virou, uma mão indo aos cabelos ruivos e bagunçados, seu rosto contorcido numa careta de pensamento. 

—-Hmm... Eu acho que não... 

Ela murchou. Ele riu e se aproximou. 

—-É claro que me lembro. Ainda uso o bracelete! -  Ele indicou o círculo de borracha vermelha gasto em seu pulso. Ela sorriu. 

—-É, e eu tenho a presilha. -- Mostrou o adereço preso em seu cabelo. 

Ele olhou nos olhos cor chocolate dela e sentiu seu coração aquecer. 

—-Quer tomar um chocolate quente?  

—-Achei que nunca iria perguntar. Aliás, qual o seu nome? 

Ele sorriu e ela corou.