Bye - 6259 escrita por Mauschen


Capítulo 8
Restaurante




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O céu estava cinza, uma brisa sutil passava por entre os prédios. Nada muito peculiar acontecia, exceto talvez pelas ratazanas que devoravam a carcaça de algum animal naquela esquina... Até que isso é bem comum na verdade.

Ah, não importa, eu deveria seguir o exemplo delas e conseguir algo pra comer. Não pude comer nada ao sair de casa por estar atrasado. Mas isso é uma tarefa um tanto complicada, nem mesmo em posto de gasolina de quinta categoria tem algo comestível. Não que eu possa julgar quem come em posto de gasolina, eu já consideraria comer num desses um grande luxo. Pus-me a caminhar pelas ruas, vai que eu dou sorte hoje, Gorda poderia me dar um aumento ou pelo menos me deixar comer os restos das panelas.

 Esse lugar sujo era razoavelmente agradável com o som de jazz que saia dos meus fones. Simplesmente ignorar as pessoas estranhas e caminhar em busca de comida, oh, isso renderia um belo filme, com muitos efeitos especiais e com sorte um óscar de melhor maquiagem. Eu teria pena do responsável pela maquiagem. Vi um homem e sua filha, aparentemente, sair de uma lanchonete com sanduíches, daqueles cheios de bacon e queijo. Olhei para o chão ignorando, aquilo era caro demais para alguém como eu pagar.

Desviei da avenida e entrei num beco, acenei para uma velha que batia um tapete na varanda, ela me respondeu com uma frase que não sei se é correto repetir, então vou apenas dizer que ela mostrou o dedo. No final da rua sem saída, no ultimo edifício avistei uma placa de neon vermelho e verde que mostrava uma mulher tomando champanhe escrito ''Le Dragon Aveugle'' e em baixo 'entrada dos funcionários'.

Abri a porta e fui recebido com um belo xingamento da Gorda, uma mulher de meia idade que comandava a cozinha do restaurante chamada Adile, mas Gorda combinava mais. Ela me ameaçou dizendo que se eu atrasasse de novo iria me por no olho da rua, não que ela tivesse esse poder. Fui até o vestiário colocar minha roupa de garçom, mal terminei de me arrumar e já tinha trabalho a fazer. O ritmo da cozinha era frenético.

Um preparava uma sopa que faz meu estomago roncar. Outro fazia um daqueles bolinhos pequenos cheios de chocolate. Eu mal entendia como eu conseguia trabalhar naquele lugar sem pular dentro de alguma panela, seria bem a minha cara. Pequei meu bloquinho de notas e minha caneta atravessando a porta.

O restaurante destoava completamente da aparência das ruas que ficavam às suas costas. As paredes perfeitamente pintadas de vermelho com vários arranjos passavam facilmente dos 10 metros de altura, embora minha noção de altura noção de altura fosse pouco confiável. O lustre bem limpo pendia magnifico no teto. Mesas espalhadas numa ordem caótica, com toalhas perfeitamente brancas e belos vasinhos de flores coloridas. As cadeiras tão impecáveis quanto, douradas com estofamento vermelho. A iluminação que dava prioridade à entrada onde Estevão cumprimentava os clientes que iam chegando e ao palco onde se preparavam para começar o show. Adam já estava lá afinando seu violoncelo junto de Allan e Scott, que se sentavam na bateria e no piano, respectivamente. Soube que esta noite Vonie Smith estaria se apresentando, eu estava ansioso para vê-lo cantando ao vivo.

Sai de meus devaneios quando vi alguém se sentando numa mesa, e fui até lá anotar os seus pedidos. Era um homem de cabelo branco escovado, havia rugas em sua testa e perto do nariz, a pele flácida deixava as orelhas grandes, vestia um belo terno bem passado que com certeza era de um tecido nobre, sapatos bem engraxados, se sentava com elegância mesmo estando sendo agarrado por uma mulher, ela tinha a pele bronzeada, de cabelos tingidos de loiro, vestia um vestido preto um tanto decotado cheio de brilho, unhas bem feitas, batom vermelho, cintura fina, olhar alto e peito estufado. Duvidei que fosse sua esposa. Ele pediu champanhe e aizomê, este ultimo sendo um dos pratos mais caros que temos. Anotei o pedido e me virei para volta à cozinha.

Aos poucos mais clientes foram chegando, em sua maioria de classe media alta, ora ou outra um verdadeiramente ricos ou até milionários, acompanhados ou solitários, a atmosfera elegante do restaurante atraia todo tipo de pessoa, contanto que pudesse pagar. Minha atenção se voltou pra o homem e as duas mulheres que subiam no palco. O cabelo loiro perfeitamente escovado pra trás, o terno de algodão e o sorriso maroto estampado na face eram as principais características de Vonie, além da voz espetacular que lhe rendera uma boa fama. Continuei anotando e entregando pedidos e levando comida enquanto o observava de canto de olho.

―Boa noite senhoras e senhores! ― Ele disse ao parar em frente o microfone numa reverencia exagerada, a 'plateia' o aplaudiu ― Espero que estejam tendo uma boa noite e espero torna-la ainda melhor.

A voz aveludada tirou suspiros do grupo de mulheres que eu atendia. Não importa o quão convencido ele seja, sua voz era realmente espetacular. Ele cantou varias musicas acompanhado do vocal magnífico de Robyn e Jen, para meu próprio contentamento algumas de jazz. Aquele som nos meus ouvidos fez meus ombros relaxarem de uma tensão que eu nem havia percebido que tinha. Tive que segurar a vontade de gritar bis ao final da noite, quando os clientes já iam saindo e ele se despedia do publico. Ele desceu do palco e se sentou numa mesa reservada, próxima da cozinha onde ninguém gostava de sentar pela entrada e saída frequente de funcionários. Fui até ele disposto a atendê-lo da melhor maneira possível.

―Poço anotar seu pedido? ― Ele me olhou surpreso, como se tentando lembrar de algo, mas logo se recuperou.

―Sim. Vou querer arroz, feijão, bife e... Uma salada ― Anotei e fui até a cozinha. O clima já estava mais tranquilo lá, sem toda aquela algazarra frenética. Gorda me olhou, provavelmente me julgando por algo que eu não tinha conhecimento. Ela pegou o papelzinho e foi preparar o pedido. Entregando-o para mim alguns em poucos minutos.

Vonie foi o ultimo a sair naquela noite. Quando fui recolher a louça da mesa, havia uma gorjeta bem generosa e um papelzinho com um autografo e um pequeno agradecimento.


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