Foi uma jogada do destino. Ele acabara de encontrar-se com ela enquanto ela matava aquele diante dele. Lá, ele a viu pela primeira vez enquanto corria com aquela pobre e desafortunada garota fantasma, para longe daquela horrível besta devoradora de fantasmas. Lá ele viu a mulher estranha cortar a cabeça do monstro ameaçador que desapareceu em meio a um uivo de dor.

Tinha sido uma coincidência, que, mais tarde naquele dia, ela apareceu em seu quarto, completamente vestida em um manto negro com uma espada agarrada por suas mãos. Ichigo se lembra de olhar para ela, expressões completamente confusas varrendo seu rosto, enquanto ela olhava para frente, completamente inconsciente de seus olhares perplexos. Ela não tinha notado ele? Claro que não.

Um chute rápido nas costas, dado dolorosamente, mostrou a ela que ele era capaz de vê-la. E foi aí que os problemas começaram. Uma bizarra reviravolta aconteceu e ela voluntariamente se sacrificou para salvar ele e a sua família. Felizmente, ela ficou bem, mas, por outro lado, seus poderes de Shinigami foram drenados completamente, apenas para serem dados a Ichigo.

Na verdade, foi culpa dela, na verdade. Ela os ofereceu a ele; intencionalmente, apenas metade disso, mas sua forte energia espiritual fez com que ela perdesse tudo. O nome dela era Rukia e agora ela estava morando no armário dele. Quem sabe como diabos ela veio se alojar lá. Provavelmente porque, se ele dissesse à sua família que uma menina morta precisava morar com ele em casa para poder lutar constantemente contra monstros chamados Hollows todos os dias, ele acabaria internado afinal.

E ainda tinha seu pai. Aquele idiota basicamente tenta dar-lhe surras diárias! Que imbecil! Então até novo aviso, ela estaria confinada às profundezas de seu armário como seu espaço vital. Por um tempo, ela vem frequentando a escola com ele. Ela trataria os outros com cortesia e gentileza, e sempre teria um sorriso inocente no rosto enquanto interagia com os amigos de Ichigo. Que cadela mentirosa. Ela era completamente diferente do que ela parecia ser!

Rukia era corajosa, determinada, dura e mais teimosa do que qualquer um que Ichigo já tivesse conhecido em toda a sua vida. Talvez todos aqueles anos como um Shinigami experiente tenham mudado algo no seu cérebro. Mas, apesar de tudo isso, ela era ingênua como o inferno. Ela nem sabia como lidar com uma caixa de suco! E para superar tudo, ela adorava coelhinhos … Isso realmente o surpreendeu.

Como pode alguém tão pouco feminino como Kuchiki Rukia ser tão… feminino? Lá estava ela, esparramada no chão, com o uniforme da escola, fazendo - bem, pelo menos tentando - o dever de casa que lhe foi atribuído. Quando Ichigo se sentou em sua cama com seus livros equilibrados em seu colo, ele viu o olhar determinado em seu rosto enquanto ela tentava resolver algumas equações matemáticas. Seus olhos se estreitaram levemente e seu nariz enrugou como se ela estivesse imersa em pensamentos.

Ele sufocou uma risada que tentou escapar de sua boca quando ele notou o quão particularmente fofo ela parecia. Então, certamente, ela sempre foi. Mas ele nunca admitiria isso. Ele se divertiu muito discutindo com ela sobre as pequenas coisas mais estúpidas e observando-a revidar com seus costumeiros modos teimosos. Claro, ela só tinha que estar certo. Só de pensar nisso, Ichigo quis rir de novo.

"Do que você está sorrindo?" Rukia perguntou confusa e com um pouco de agitação.

Ops! Ele não tinha notado o sorriso que escapou enquanto pensava.

"Não é da sua conta, idiota." Ele revidou com calma.

"Continue concentrada no seu dever de casa."

"Pelo menos eu faço isso, no lugar de ficar sentada sem fazer nada sorrindo de um jeito, estúpido!" Ah, a briga constante. Ele sabia que ela se importava com o que ele estava sentindo. Mesmo que ela tentasse escondê-lo com suas expressões vazias e seu tom irritado, ele sabia que ela estava sempre preocupada, e vice-versa.

Com o modo estranho de mostrar que se importavam, tinham um laço tão inquebrável que se seguiriam sem hesitar por um momento. Do céu para o inferno, da vida para a morte. Um vínculo que era quente o suficiente para uni-los, apesar de suas naturezas opostas. De vez em quando, ele pensava nela voltando para a sociedade da alma. Ele sabia que isso aconteceria eventualmente. Ela ganharia seus poderes Shinigamis de volta e estaria a caminho novamente. Vivendo a vida dela como ela costumava.

O mesmo valeria para ele. Seria estranho viver sem ela. Não haveria mais ausências das aulas por causa dos Hollows. Não mais roncos suaves saindo de seu armário durante a noite. Não haveria mais discussões bobas. Não haveria mais argumentos. Isso não significava mais as maneiras 'únicas' que eles se importavam um com o outro. Não há mais preocupação. Agora, Ichigo não conseguia lidar com isso. Seu coração afundou com a percepção, embora ele não dissesse a ela, que ele sentiria falta dela.

Ele gostava da companhia dela. E, até então, ele só podia esperar que a hora em que ela tivesse que partir fosse daqui a muito, muito tempo. E talvez, um dia, ele pudesse dizer a ela o que realmente estava em sua mente. E talvez, apenas talvez, ela ficaria. Mais uma vez, Ichigo sorriu para si mesmo.

Rukia o encarou e mais uma vez não entendeu, o significado daquele sorriso. Um sorriso que pedia silenciosamente para que ela ficasse para sempre comigo.