Trevo de Quatro Folhas escrita por Dixon


Capítulo 4
Pequeno Incidente


Notas iniciais do capítulo

Hey, i'm back bitches! HAHAH Eu tirei um tempinho de férias porque minha cabeça precisava descansar, mas estou de volta! Eu estava mais ansiosa do que vocês para postar esse capítulo, está muito especial! ♥
Espero que gostem do capítulo e aproveitem esse mimo, pois a tempestade está chegando para movimentar essa fanfic!

Por favor, deixem comentários (me falam o que acharam e quais são as teorias do que vai acontecer), isso me estimula e muito! Também podem me chamar no twitter (@dixonfanfic) ou deixar perguntinhas anônimas (ou não) no curious sobre a fanfic ou sobre qualquer outra coisa que quiserem, quero estar o mais próximo possível de vocês! ♥ (https://curiouscat.me/dixonfanfic).

OBS: Desculpem qualquer erro ortográfico.



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Fazia cinco semanas que Aurélio estava trabalhando para Julieta. O homem era um bom funcionário, muito dedicado e extremamente compromissado com todos os deveres que lhe eram passados, muito vezes fazendo coisas que nem ao menos eram de sua responsabilidade, como por exemplo, cuidar do cavalo favorito dela que havia ficado doente. O filho do Barão era ainda mais inteligente do que poderia imaginar. Após receber os cuidados dele, Soberano já estava muito melhor, apenas mais alguns dias e estaria completamente recuperado.

Sorriu ao vê-lo falar animadamente sobre algum livro que estava lendo no momento. O sorriso dele em contraste com a natureza que os cercavam ficava ainda mais bonito, mais vivo, mais atraente. Mesmo Aurélio sendo o seu funcionário atualmente, os dois continuaram a se encontrar todas as quartas-feiras na cachoeira, a Rainha do Café pensou que isso atrapalharia o trabalho e a amizade, mas longe disso, agora eles estavam ainda mais ligado, o vínculo era mais forte e mais estável.

Hoje era quarta-feira e ambos estavam sentados em frente ao rio, rindo e conversando. Os assuntos agora viam com mais facilidade e os risos se faziam sempre presente, mas no momento Julieta não escutava uma palavra do que lhe dizia, estava ocupada demais o admirando. Era um sentimento estranho, querer estar na companhia dele, querer ouvir o que ele tem para falar, querer tocá-lo, querer beijá-lo. Nunca havia sentido isso antes, por homem nenhum e não sabia como lidar com tais emoções. Tinha medo, muito medo. Não estava preparada para isso, mas era só o ver, era só sentir a compreensão e o carinho que ele demonstrava por ela, que todos os medos e preocupações eram jogadas no fundo da sua mente.  

Ao contrário do que pensou quando conheceu aquele homem, ele não era um inútil, e agora realmente sabia que não deveria julgar um livro pela capa, pois, um livro esconde muito mais nas suas entre linhas, você só precisa se dar a oportunidade de lê-lo. É isso o que faria, se daria a oportunidade de ler Aurélio Cavalcante.

— E eu acho que é isso que acontecerá no final do livro. O que você acha? — A pergunta do botânico a retirou dos pensamentos. Ele estava fazendo uma pergunta e ela sequer sabia responder, visto que, ocupou-se em observar a sua boca, os seus olhos e não ouviu uma palavra do que lhe era dito.

— Eu concordo com você. — A Rainha do Café declarou mesmo sem saber nada do havia sido falado, não queria ter que se justificar do porque não prestou atenção em nada, seria vergonhoso.

— Sério? — Aurélio perguntou incrédulo e ela acenou positivamente, mais forte do que deveria. Um sorriso aberto surgiu nos lábios do loiro, era nítido a alegria e o orgulho em que sentiu quando a ouviu declarar tal coisa. Ela sorriu também e desejou que não fosse algo muito sério com o qual havia acabado de concordar. — Ema achou a minha teoria uma sandice! Mas eu não posso ver outra maneira de que esse livro terminaria.

Julieta suspirou aliviada, é óbvio que ele falava sobre o livro que ele e Ema estavam lendo. Pai e filha combinaram de ler o mesmo livro e conversarem sobre ele, era uma obra de suspense e Aurélio contou que no inicio a menina ficou decepcionada, já que esperava ser um título de romance, mas que agora a jovem estava completamente animada e praticamente devorava o livro. A morena admirava a cumplicidade dos dois, sempre tão unidos, tão amorosos, tão diferente dela e do seu filho. Também admirava o bom pai que ele era, sempre compreensivo e preocupado com a sua menina.

Aurélio agora mastigava um pedaço de fruta, e a Rainha do Café passou a observar a cachoeira em sua frente. Já fazia algum tempo que vinha ali e nunca tinha sequer sentido a água da cachoeira. Olhou para o rio e percebeu que tinha um pequeno caminho de pedras e no final uma enorme rocha, na qual as águas do rio passavam por cima. Sem dizer uma palavra Julieta retirou as botas e as meias, levantando-se e caminhou em direção ao local, tal atitude chamou a atenção de Aurélio que a olhava com a testa franzida.

— Julieta? — Ele a questionou. Não entendia o que ela iria fazer, não havia dito nada, apenas retirados os calçados e caminhado em direção ao rio. De repente uma luz se acendeu na mente e o filho do Barão não conseguiu acreditar. Julieta entraria no rio? A viu parar um pouco antes da trilha de pedras começar e virou o olhar em direção a ele.

— Está convidado a se juntar a mim, caso queira. — A Rainha do Café exibiu um sorriso entreaberto enquanto o fitava.

Rapidamente Aurélio retirou os calçados e as meias e correu até ela, fazendo-a soltar um riso baixo, pois parecia uma criança que havia sido convidada para brincar. Assim que ele estava ao lado dela, Julieta segurou a barra do vestido para que eles não molhassem e começou a trilhar cuidadosamente o pequeno caminho de pedras.

— Julieta, por favor, tenha cuidado, essas pedras são escorregadias. — Aurélio advertiu enquanto a seguia, ela sorriu pela preocupação dele. Não precisava ser protegida, ambos sabiam disso, mas mesmo assim ele queria cuidar dela da maneira em que conseguia e apesar de não confessar, a mulher gostava disso, da sensação de ter alguém a zelando.

— Não se preocupe, Aurélio. Quando eu era criança costumava fazer muito disso. — A Rainha do Café declarou e o botânico sorriu esperançoso, amava saber qualquer detalhe sobre a vida dela, por menor que fosse, como esse por exemplo.

Julieta lembrou-se de quando era criança, adorava ir até um riacho que tinha perto da fazenda dos seus pais. Assim como este, aquele possuía um caminho de pedras, no qual trilhava pulando e saltitando enquanto cantava uma canção qualquer. Alguma vez ou outra caiu dentro do rio e levou um sermão de sua mãe quando chegou em casa, mas isso não importava, ela amava aquele lugar e amava a paz que trazia.

Finalmente chegou à rocha e sentiu as águas do rio passarem sobre os pés. Era gelada e trazia consigo a força da correnteza, bem como, trazia refresco e conforto. Ela podia sentir algumas gotas caírem sob o seu vestido e face, isso acontecia por conta do choque do encontro das águas da cachoeira com as águas do rio. Ao lado estava Aurélio, ambos haviam parado bem na beirada da rocha, faltando apenas meio passo para entrarem definitivamente no rio, que nitidamente era fundo.

Novamente os olhos dela estavam sobre ele, o observando, decorando cada traço do seu rosto. Da mesma maneira ele a olhava. Os olhos castanhos encontraram os azuis e Julieta sentiu engolir seco. Não poderia mais resistir àquela boca, aquele olhos, aquele homem, e mesmo que pudesse, ela não queria, não mais. Virou-se para ele e de um pequeno passo, esperando que o loiro fizesse o mesmo, e certamente ele fez. As faces ficaram a centímetros de distância, os lábios estavam sedentos um pelo o outro, prontos para se saciarem. O botânico deu mais um pequeno passo, preparado para selar a distância da boca de ambos. Entretanto, quando Aurélio se movimentou, ele escorregou e já era tarde de mais para evitar, o corpo caiu dentro do rio, imergindo nas águas.

— Aurélio! — Julieta gritou, ao ver o corpo do homem afundar dentro das águas profundas. — Aurélio! — O desespero era nítido na voz da Rainha do Café.

Julieta largou a barra do vestido e se ajoelhou na rocha, fazendo com que o vestido ficasse enchardo. Gritava pelo nome do homem, enquanto procurava desesperadamente com os olhos para ver se via algum sinal dele. A expressão e a voz demonstravam toda a preocupação e desespero da morena.

O que parecia ser uma eternidade na verdade eram apenas alguns segundos. Ela estava pronta para se jogar dentro do rio e procurar incansavelmente por ele, mas então, viu Aurélio surgindo das águas. Imediatamente suspirou aliviada.

— Aurélio, você está bem?! — A mulher perguntou enquanto tentava averiguar de longe o homem, para ver se ele havia se machucado ou se afogado. Por mais que a aparência dele dizia que estava tudo bem ela só acreditaria quando ouvisse da boca dele.

— Está tudo bem Julieta, não se aflija! — O filho do botânico exclamou e nadou até perto da rocha, ficando ainda dentro do rio, mas de frente para ela. — Eu demorei um pouco para surgiu novamente porque o mergulho foi maravilhoso! — Ele soltou um riso divertido e em resposta recebeu um olhar de desaprovação.

— Isso não é engraçado, Aurélio! — A Rainha do Café pronunciou tais palavras com indignação e irritação, como se estivesse repreendendo o filho de alguma travessura que tivesse feito. — Eu fiquei realmente preocupada.

O olhar de reprovação se transformou em um de preocupação e Aurélio pode notar em todas as linhas do rosto da empresária que ela tinha ficado com medo. Levou as mãos sobre as dela que estavam ainda apoiadas sobre a rocha e as apertou.

— Desculpe. — O pedido era sincero, jamais teve a intenção de deixá-la preocupada ou assustada. — Está tudo bem. Eu apenas escorreguei sem querer, mas não me machuquei e nem me afoguei, não há com o que se preocupar.

 Julieta exibiu um sorriso nervoso e balançou a cabeça positivamente, tentando afastar o susto que ainda reagia em seu corpo. Aurélio, por sua vez, pensava o quão inoportuno tinha sido aquele tombo. Ele não acreditava que isso tivesse acontecido, não naquele momento, quando os dois estavam prestes a se beijar. Mas parece que mais uma vez o universo pregou uma peça nele e o fez perder aquela oportunidade que parecia ser única. Ficaram alguns minutos em silêncio, de mãos dadas e um olhando nos olhos do outro.

— Então, eu deveria tomar cuidado porque as pedras eram escorregadias, não é mesmo? — Julieta ergueu a sobrancelha lembrando-se da advertência dada por ele anteriormente. Aurélio revirou os olhos e isso fez com que a mulher soltasse uma gargalhada que chegaram como música até os ouvidos do botânico.

— Em minha defesa, eu somente caí porque estava distraído admirando-a. — O filho do Barão arriscou-se em dizer e o riso da amada diminuiu vagarosamente e gradualmente, mas um sorriso entreaberto ainda permaneceu nos lábios. — Agora antes que a senhora me caçoe mais, por favor, me ajude a sair daqui.

Logo após ouvir o pedido a Rainha do Café levantou-se e rapidamente olhou para o vestido que estava completamente molhado da cintura para baixo. Percebeu que Aurélio tentava se erguer na rocha para sair do rio e não conseguia, já que escorregava em todas as tentativas. Estendeu a mão silenciosamente, para o ajudar a sair dali e quando mão dele segurou na sua firmemente ela percebeu o erro que havia cometido, mas já era tarde demais. Sentiu ele a puxar rapidamente, fazendo com que o seu corpo também caísse nas águas do rio. Mesmo embaixo da correnteza ela sentiu a irritação invadir todo o seu corpo e surgiu das profundezas o mais rápido que conseguiu. A irritação só aumentou quando o encontrou rindo.

— Qual é o seu problema?! — Julieta gritou expressando toda a fúria que a atitude do funcionário a fez sentir, ele continuava a olhar com uma face brincalhona. — Como o senhor ousa?!

— A senhora achou mesmo que eu seria o único a sair molhado daqui hoje? — Aurélio disse entre o riso e recebeu um olhar incrédulo em troca. O homem havia provocado à fúria da Rainha do Café, mas isso não era um problema mais hoje em dia, sabia como lidar isso. — O que foi? Não é como se o vestido da senhora já não estivesse todo enchardo.

— Petulante! — Julieta declarou furiosa. Não poderia acreditar que o filho do Barão havia mesmo a puxado para dentro do rio e sequer pediu desculpas, muito pelo contrário, ficou fazendo piadinhas sobre a situação. Desde que o conhecera o chamou de petulante, mas agora ela tinha acabado de ter a confirmação de que aquela palavra era perfeita para defini-lo.

— Julieta, agora que você já está dentro do rio e toda molhada resta apenas aproveitar! — O loiro nadou até ficar de frente pra ela, a expressão séria que a empresária mantinha no rosto já não o assustava mais, já não era capaz mais de afastá-lo. — Vamos lá, a água está uma delicia!

— A água está uma delicia?! — Julieta exclamou revoltada. — Não está uma delícia! Está muito gelada e sinto que a qualquer momento irei congelar!

Aurélio soltou uma gargalhada com o drama que a Rainha do Café estava fazendo, jamais pensou que ela fosse uma pessoa dramática. Por um momento ele pode ver Ema em sua frente, sua filha com certeza reagiria da mesma maneira trágica se fosse ela no lugar de Julieta. Em resposta a sua reação viu a mulher jogando com as mãos a água do rio em seu rosto, fazendo com que o mesmo parasse instantaneamente o riso e fechasse os olhos para que o líquido não entrasse neles.

O filho do Barão obviamente não deixaria passar em branco, por isso, repetiu o mesmo ato da morena, atingindo-a com um forte espirro de água. O olhar de fúria dela apenas aumentou, Julieta estava prestes a matá-lo neste momento, mas optou por mais uma vez jogar água no botânico e sem ao menos se dar conta, uma guerra divertida se iniciou, onde a única arma em que tinham era a água. Quem conseguisse jogar um no outro com mais força e rapidez seria o vencedor.

Mas, Aurélio desistiu de jogar água e nadou até ela, estava determinado a segurá-la para que a morena não conseguisse mais espirrar o líquido nele e enfim, ele decretaria o final da guerra e consequentemente a sua vitória. Entretanto, quando chegou perto de Julieta, a mesma soltou um pequeno grito engraçado acompanhado de uma risada e se pôs a nadar também, escapando dos braços dele.

Ambos nadaram e mergulharam, logo esqueceram-se da luta que haviam travado anteriormente. Aurélio e Julieta riam enquanto brincavam no rio, um mostrava ao outro os truques que sabia fazer ou as diferentes maneiras de nadar que conheciam. Desafiaram quem conseguia ficar mais tempo debaixo d'água e mergulharam explorando as profundezas do rio. A Rainha do Café já não sentia mais frio como antes, pelo contrário, a temperatura estava ótima e ela do mesmo se sentia, estava feliz como a muito tempo não era.

Julieta e Aurélio agora estavam sentados na rocha, enquanto o botânico lhe explicava uma manobra que sabia fazer quando era menino e brincava na cachoeira com os amigos. E mais uma vez naquele dia, ela se perdeu em meio aquele sorriso e aqueles olhos azuis. Quando o assunto acabou, percebeu que o filho do Barão estava com corpo próximo ao seu corpo e que de repente parou de falar, assim como o sorriso se desfez dos lábios. Ele a olhava sério e de maneira profunda, como se pudesse a decifrar. Ela engoliu seco e a respiração se fez pesada.

— Eu sei que não estou na sua estima ainda. — Declarou o loiro com os olhos tristes. — Mas eu tenho a minha a própria, e só a tenho porque a senhora me inspirou a ser um homem melhor.

— Não, não é verdade. — Julieta rapidamente aproximou mais o corpo do dele e pegou as mãos de Aurélio, depositando beijos demorados e necessitados, em seguida as levando para o próprio rosto. A expressão dela denunciava a leve tristeza que a invadiu, por saber que ele tinha tal pensamento. Soltou as mãos e envergonhadamente arrastou as próprias até o rosto do botânico e o acariciou, com suavidade e delicadeza. Por alguns segundos dedicou-se apenas em traçar os detalhes da pele dele. — Eu o estimo.

Ao pronunciar tais palavras Julieta olhava diretamente nos olhos azuis do filho do Barão. Queria que o homem fosse capaz de saber todos os sentimentos que nutria por ele, mesmo que não fosse capaz de colocá-los em palavras, de dizê-los em voz alta. Notou um sorriso bobo nascer nos lábios dele e o brilho esperançoso que traziam, fazendo com que ela própria também sorrisse.

Levou as mãos os lados do rosto do botânico. A cabeça dela caiu em direção aos lábios dele e as bocas se encontraram. Os lábios de Aurélio estavam frios, por conta da água gelada do rio, mas uma sensação muito melhor a tomou. Sentiu arrepios percorrerem por todo o seu corpo apenas com o roçar dos lábios do homem nos seus.

Os braços do loiro a seguraram pela cintura e o corpo dele inclinou-se ainda mais para ela, até que ambos os lábios se abriram. Aurélio sentiu a língua de Julieta atravessar as fronteiras de sua boca e começar a explorar os sues lábios, procurando por mais. Imediatamente correspondeu e os dois iniciaram uma guerra pacifica com as línguas.

Era um beijo delicioso, não era um simples encostar de bocas, mas sim uma troca. Era como se Julieta precisasse dele da mesma forma que ele precisava dela. Era um toque leve e forte ao mesmo tempo, quente e molhado, doce e necessitado. Aurélio percebeu que aquele beijo, mesmo sem querer, confessou o quanto ela o desejava.

Essa troca de toques e beijos encheu Julieta de vida. Era mais que um beijo. Era como se um calor acolhedor a abraçasse e a libertasse do inverno eterno em que vivia. Ele não sabia, mas aquele toque a fez entender o quanta precisava dele. Entrelaçou os braços ao redor do pescoço do loiro e o segurou para que ele não fugisse, como se algum dia Aurélio fosse capaz de fugir dela. Entretanto, um lapso de realidade a atingiu, a Rainha do Café percebeu o que estava fazendo e afastou-se repentinamente. Julieta o soltou, como sempre, deixando aquela sensação de abandono.

— Desculpe. — A morena distanciou o corpo do dele novamente. Ao contrário da palavra que disse, a voz não demonstrava arrependimento.

— Você nunca me pediu desculpas por todo o resto. — Tal fala fez com que Julieta o olhasse com melancolia, pois ela sabia as terríveis palavras que já havia dito a ele. — Não faça isso na melhor parte.

A voz de Aurélio era suave e o sorriso esperançoso que possuía no rosto fez que Julieta pensasse por um momento que o seu coração iria sair pela boca. Afastou o olhar e respirou tristemente, apesar de ansiar beijar e estar junto do amado ela não conseguia, ainda não estava preparada.

— Eu ainda não estou pronta para ter um relacionamento. Não estou pronta para viver tudo o que o amor envolve. — As palavras saíram firmes, mas os olhos denunciavam a sua tristeza. Ela ainda tinha os traumas e medos que a impediam de se sentir confortável com um relacionamento, com o fato de amar e ser amada.

— Eu espero. Esperarei o tempo que for. — A voz de Aurélio estava decidida, firme. Isso chamou a atenção da empresária, que voltou a olhá-lo com admiração. — Mas aqui, neste lugar, nós podemos ser o que quisermos ser. Aqui não precisamos de rótulos, não precisamos definir nada, podemos apenas aproveitar. E se a senhora quiser me beijar, me tocar ou sentir vontade dos meus beijos, dos meus toques, nós podemos desfrutar deles sem precisar nos preocupar com o futuro, mas apenas usufruir o presente.

O filho do Barão deixou as palavras fluírem tranquilamente de sua boca, desejava arduamente que não estivesse ultrapassando os limites, que sua fala não a assustasse e não a afastasse novamente. Não deixava transparecer, mas estava nervoso, sentia o coração bater forte e a respiração ficar presa na garganta, pois não sabia qual seria a reação da morena. Apenas se tranquilizou quando recebeu um sorriso entreaberto de Julieta.

Ele não precisava de respostas, não agora. A mulher pelo qual estava perdidamente apaixonado estava feliz e isso era tudo o que lhe bastava. Vagarosamente se aproximou e depositou um beijo na bochecha dela, demonstrando que ela não precisava lhe dizer nada e comprovante que seria devoto a promessa de espera. Julieta fechou os olhos e apreciou o toque e o carinho que lhe era dado.

— Vamos! — Aurélio pegou na mão da Rainha do Café, a conduzindo novamente para dentro do rio. — Preciso mostrar a manobra da qual eu lhe contava.

Julieta soltou um riso divertido e entrou nas águas novamente, junto de Aurélio. Ele a mostrou a manobra de qual tanto falava e até mesmo tentou ensiná-la, mas a mesma não conseguiu, pois continuava a rir. Novamente brincaram e nadaram por longos minutos, sem se preocupar com a vida lá fora ou com o futuro, apenas desfrutando do presente igual o filho do Barão havia dito anteriormente.

Os dois mais uma vez haviam mergulhado e surgiam das águas, com os corpos próximos, tentavam recuperar o fôlego enquanto trocavam sorrisos. Sem ao menos perceberem como, eles já estava a centímetros de distância um do outro, é como se os corpos se atraíssem involuntariamente. Aurélio a observou, notou que o cabelos continuavam presos por poucos grampos e por isso estavam bagunçados, ele soltou uma pequena risada, se Julieta se visse nesse estado com certeza ficaria louca. A morena franziu a testa questionando silenciosamente, queria saber qual era o motivo do riso.

— O seu cabelo... — O filho do Barão disse, em seguida tocando lentamente a face dela e a acariciando. Não precisou continuar a frase, ela entendeu imediatamente que as madeixas estavam uma catástrofe, mas não deu tempo de dizer nada. — Eu posso?

Aurélio pediu permissão para que pudesse soltar definitivamente os cabelos da amada. Julieta sentiu-se emocionada com tal atitude, isso demonstrava o quanto ele a respeitava, o zelo que tinha para não fazer nada que fosse contra a sua vontade. Em um ato singelo ela balançou a cabeça positivamente, concedendo o pedido. Ela sentiu a mão esquerda dele chegar até os seus cabelos e com um ato delicado retirar os grampos e soltá-los definitivamente.

— Julieta... — A voz do botânico saiu em um sussurro. Sentia-se hipnotizado em vê-la de cabelos soltos, mesmo que estivessem molhados. — Estás tão linda, se me permite dizer.

A Rainha do Café sorriu com o elogio, podia ver em cada detalhe da expressão dele que era verdade o que disse, ele estava completamente absorto em admirá-la. O coração se iluminou e aqueceu, ninguém jamais a tinha olhado daquela maneira, com amor, com carinho e admiração. Ambos os rostos se aproximaram ao mesmo tempo, em um desejo comum, e quando perceberam, os lábios se tocavam novamente.

Aurélio passou a mão direita pela nuca de Julieta, a fazendo arrepiar, puxando-a de leve para mais perto dele. Julieta com a ponta da língua pediu entrada na boca do loiro, que concedeu no mesmo momento. As línguas se moviam em perfeita sincronia, um explorando lentamente a boca do outro.

A Rainha do Café circulou os braços envolta do pescoço do loiro, trazendo o corpo ainda mais próximo do dele, se é que era possível. Nas outras vezes em que se beijaram ela jamais havia o tocado de volta, apesar de corresponder o beijo, mas hoje era diferente, ela queria tocá-lo, senti-lo, acariciá-lo, e por isso, escorregou as mãos até o cabelos do filho do Barão e os permitiu passear pelos fios lisos e molhados.

Os braços de Aurélio passaram pela cintura da morena, segurando-a delicadamente contra ele. Saboreava o doce sabor da boca dela, sentindo a sua forma. O beijo era terno, mas ainda quente, ainda molhado. As bocas se desvencilharam vagarosamente, e eles permaneceram de olhos fechados. Quando Julieta os abriu lentamente, o filho do Barão notou o quão castanhos e vivos eles se tornaram.  

— Apenas usufruir o presente. — A morena repetiu as palavras ditas pelo botânico anteriormente, como uma forma de concordância com o que ele havia dito.

Nesse momento Aurélio sabia que enquanto os dois estivessem ali, neste lugar secreto, ele teria Julieta em seu braços, sentiria os beijos dela. Um sorriso de orelha a orelha estava fixado em seu rosto, não podia acreditar que finalmente poderia a amar e a cuidar sem ser represado, mesmo que fosse apenas uma vez por semana e por apenas algumas horas, já era o suficiente para fazer com que ele se sentisse nas alturas.

Ambos sabiam que não precisariam se preocupar com rótulos, rituais ou definições, seriam apenas eles, aproveitariam da companhia e das carícias um do outro sem se preocupar. Um novo beijo se iniciou e a Rainha do Café se sentiu estranhamente animada, jamais pensou que se entregaria a tantos beijos, mas a verdade é que ela queria incontrolavelmente sentir a boca dele na dela todos os minutos, aproveitar cada instante ali.

Assim as horas se passaram, com brincadeiras e beijos, como se dois adolescentes fossem, sem preocupações, sem problemas, apenas a paixão e a leveza. Mas já estava começando a anoitecer, e eles haviam ficado ali muito mais tempo do que sempre ficavam ou do que deveriam ficar, já era hora de voltarem para as suas residências, para os seus problemas, para a vida real. Estavam de pé em meio ao gramado, preparando-se para irem embora quando Aurélio percebeu que Julieta tremia de frio.

— Julieta, você está tremendo de frio. Aqui, deixe-me ajudá-la. — O filho do Barão retirou educadamente a manta das mãos da empresária e enrolou sobre ela, de uma maneira confortável e quente. — É melhor que vá assim, para que não pegue um resfriado.

O botânico levou as mãos até os braços da mulher cobertos pela manta e os esfregou, em uma tentativa de ajudar a esquentá-la de maneira mais rápida. Ela exibiu um sorriso terno pelo cuidado que ele demonstrava para com ela, apesar de não precisar ser cuidada ela se permitiu ser, pelo menos hoje e isso trouxe uma sensação ótima.

— Está ficando tarde, eu realmente preciso ir. — A expressão na face da morena denunciava a decepção que sentia, lamentava que a tarde tivesse acabado tão depressa. — Obrigada... Por essa tarde. Eu me diverti muito. — Julieta disse com sinceridade, exibindo um sorriso agradecido.

— Eu também me diverti muito. — Aurélio exibiu um sorriso terno e a olhou. A Rainha do Café estava com o rosto limpo, sem qualquer maquiagem, os cabelos estavam começando a secar e por isso ficaram bagunçados, embaraçados. Era uma linda visão e com certeza ele pensaria nela assim antes de dormir e, quando finalmente adormecesse teria certeza de que ela o visitaria em seus sonhos.

Julieta virou as costas e desapareceu em meio à trilha que a levavam até a estrada, deixando o filho do Barão e aquela tarde inesquecível para trás. Não houve nenhum abraço, nenhum toque e nenhum beijo de despedida, porque ela não queria se despedir, não queria que aquele momento acabasse e também, porque temia que se sentisse as carícias dele novamente não teria forças para ir embora.

Ao chegar no carro encontrou Tião dormindo, já estava começando a anoitecer e ele sem nada para fazer obviamente adormeceria. Bateu na janela do veículo, fazendo com o motorista levasse um susto e acordasse imediatamente, se desculpando por ter pegado no sono. A Rainha do Café garantiu que estava tudo bem, mas segurou o riso da melhor maneira que conseguiu quando viu o olhar espanto de Tião ao olhá-la e a ver molhada e desarrumada.

Atônito o fiel funcionário perguntou se estava tudo bem, ele parecia estar alarmado com a possibilidade de que algo de ruim tivesse acontecido à patroa. Tião há muito tempo trabalhava para Julieta, era um bom empregado, sempre dedicado. Julieta garantiu que não precisava se preocupar, que apenas um pequeno incidente no rio havia acontecido, mas que estava tudo bem. Ela não deu maiores explicações, mas logo viu o motorista relaxar ao perceber que nada de ruim havia acontecido.

Adentrou no veículo e Tião começou a dirigir para a fazenda. Ele percebeu pelo retrovisor do carro que a patroa olhava a paisagem com um sorriso nos lábios, mas não era apenas isso, o olhar dela também estava diferente, jamais a tinha visto daquela maneira. Não sabia dizer o que acontecia naquela cachoeira ou o que a fazia tão feliz naquele lugar, mas não lhe interessava, apenas ficava contente em saber que aquele ambiente fazia bem a sua chefa, sempre tão distante e profissional. Desde que começou a trabalhar para ela, o homem torcia para que a mulher fosse feliz, porque apesar do semblante frio e calculista, ele sabia que a Rainha do Café era mais que tudo isso, que era uma boa pessoa e merecia que a felicidade a encontrasse, e aparentemente, a felicidade acabara de lhe encontrar.

Enquanto ia para a fazenda, Julieta revivia todos os momentos que havia experimentado naquela tarde, principalmente os beijos e o carinho de Aurélio. O sorriso continuava estampado em sua face, sem que ao menos pudesse perceber ou sequer evitar. Logo, chegaram na propriedade e ela respirou de maneira pesada e profunda. Era o momento de voltar para a realidade, de voltar para a sua triste e solitária vida.

Tião a ajudou a descer do veículo e ainda com a manta enrolada em seu corpo, ela adentrou na residência. Encontrou Susana, Olegário, Darcy e Brandão sentados na sala, com expressões preocupadas e perturbados.

Olegário andava de um lado para o outro, Darcy sentado, tinha as mãos na cabeça, Susana mexia o pé sem parar e segurava os lábios entre os dentes, enquanto Brandão tentava manter a calma, mas mesmo assim possuía uma expressão temerosa. A Rainha do Café franziu a testa estranhando a situação. Qual problema será que tinha acontecido dessa vez?

Antes que pudesse dizer qualquer coisa os olhos das pessoas naquela sala a encontraram e todos exclamaram o seu nome como se fosse um coral, com um grande alívio, bem como, correram ao encontro dela, deixando-a ainda mais confusa.

— Julieta, está tudo bem? O que aconteceu? — Darcy foi o primeiro a chegar até ela. Verificou da maneira que pode, para ver se ela estava ferida ou algo do tipo.

Todos observavam estupefatos os trajes da Rainha do Café. Ela segurava uma manta ao redor do corpo, mas era evidente que estava molhada, pois o vestido pingava gotas de água. O cabelo estava solto, metade seco e metade molhado, também pingavam e molhavam o chão abaixo dela. E o rosto completamente natural, sem nenhum traço ou resquício de maquiagem, mas ao mesmo tempo pareciam carregar uma leveza. Nunca, nenhum deles naquela sala haviam a visto daquela maneira.

— Sim, está tudo bem. — A morena respondeu confusa. — Mas sou eu quem pergunta Darcy, o que está acontecendo aqui? — A empresária questionou enquanto era direcionada quase forçada até o sofá, onde a fizeram sentar.

— Julieta, minha amiga, você saiu no início da tarde, não disse para onde foi. — Susana começou a falar, sem permitir que o Williamson explicasse. — Começou a escurecer e você não voltou. Nós tememos o pior, que Xavier tivesse feito algo a você! — A funcionária exclamou, um tanto quanto dramática demais na opinião de Julieta.

— Diga, Dona Julieta, aquele crápula lhe fez alguma coisa? Machucou a senhora? — Olegário perguntou e ela podia ver a raiva ferver nos olhos do funcionário. — Se ele encostou um dedo na senhora, eu juro que lhe darei uma boa lição! — Olegário exclamou furioso e imediatamente o Coronel Brandão tentou o acalmar.

— Não, não! Xavier não me fez nada, se acalme homem! — A Rainha do Café rapidamente disse se direcionando a Olegário, mas ao mesmo tempo tentando tranquilizar todos naquela sala. — Eu apenas estava em um compromisso.

Todos na sala respiraram calmamente, sentiram-se aliviados ao saberem que o concorrente não havia feito nada contra a empresária, entretanto, continuaram a olhá-la com uma expressão confusa. Isso porque não entendiam como um compromisso havia a deixado daquela maneira, molhada e desarrumada. Ela, por sua vez, também os olhava confusa. Demorou alguns segundos para entender porque a fitavam daquela forma.

— Oh! Isso? — Ela perguntou apontando com o dedo indicador para cima e para baixo, em direção ao próprio corpo. — Ocorreu... Um... Pequeno acidente. — Disse com algumas pausas estranhas, chamando a atenção de todos. — Mas está tudo bem, nada com o que se preocupar.

— Que pequeno incidente seria esse? — Susana questionou desconfiada aquilo que todos os outros queriam perguntar, mas não tinham coragem. A mulher estava a dias desconfiada dessas saídas da patroa. Todas as quartas-feiras a empresária saia, alegando ter um compromisso, mas nunca dizia o que era. Agora, depois de vê-la assim, Susana estava determinada, descobriria o que a mulher escondia.

— Nada que seja da sua conta, Susana. — Julieta respondeu fria e distante. Não gostava da mania que a funcionária tinha de se intrometer em sua vida, de querer saber cada passo que dava, por isso, fazia questão colocá-la no lugar devido em toda a oportunidade que tinha. Talvez, algum dia Susana aprenderia e deixaria de se meter onde não foi chamada. — Agradeço a preocupação de todos, mas agora terei que me retirar por motivos óbvios. — Julieta levantou-se pronta para sair daquela sala.

— Dona Julieta, Ema pediu para que lhe desse um recado. — Brandão anunciou, atraindo imediatamente a atenção da mulher.

— Ema? Está tudo bem com ela? — Julieta perguntou com uma pitada de preocupação que todos puderam notar, mais uma vez, fazendo com que Susana desconfiasse de tal atitude.

— Sim, Ema está bem. — Brandão soltou um riso nervoso, não tinha tido a intenção de preocupar a Rainha do Café. — Apenas pediu para que eu te dissesse que ela gostaria que a senhora fosse amanhã visitá-la e tomar um chá com ela... — O homem disse constrangido enquanto todos o observavam, era cada situação que a filha do amigo o colocava. — E também pediu desculpas por não fazer o convite pessoalmente.

— Diga a Ema que irei. — Julieta disse com um sorriso estampado no rosto, o convite a surpreendeu, mas de uma maneira boa. — E obrigada por entregar o recado.

 A Rainha do Café retirou-se e subiu as escadas, deixando todos confusos para trás e um rastro de água por onde passava. Tomou banho, jantou e logo foi se deitar. O corpo estava cansado, por conta das brincadeiras na água, mas a alma estava feliz como há muitos anos não era. O sono não demorou a chegar e ela adormeceu pensando no sorriso e nos beijos de um certo futuro Barão.

O dia amanheceu e junto dele a Rainha do Café acordou. O tempo passou rapidamente, ela se arrumou, se alimentou e trabalhou por horas a fio no escritório. A mente não estava completamente concentrada, ainda se pegava pensando nos momentos que passara no dia anterior. Rapidamente a tarde chegou e Julieta foi até a casa de Brandão tomar um chá com Ema, como havia sido combinado.

Ao chegar lá a jovem a recebeu com um sorriso nos lábios e um brilho no olhar. A abraçou e fez questão de servi-la o tempo todo, mesmo Julieta afirmando não ser necessário. As duas sentaram-se na sala e conversaram por longos minutos. Ema agradeceu a mulher pelos conselhos que recebeu, contou que estava correndo atrás dos seus sonhos em São Paulo e que apenas tinha voltado para visitar o pai e o avô por alguns dias.

A conversa se fez leve e elas percorreram por diversos assuntos, puderam notar que compartilhavam mais coisas em comum do que qualquer uma delas pudesse imaginar. As duas estavam rindo, quando Julieta notou uma foto em cima de uma espécie de caderno, ambas repousavam sobre a mesa de centro. De longe pode notar que era Ema, quando era ainda uma criança.

— Ema, é você? — A Rainha do Café apontou em direção a imagem com um sorriso nos lábios. Não queria de jeito nenhum ser intrusa, mas por algum motivo se sentiu curiosa em conhecer mais a filha de Aurélio.

— Oh, sim! Eu estava vendo um álbum de fotos e acabei me esquecendo de guardá-lo. — A menina pegou a foto em suas delicadas mãos e aproximou-se ainda mais de Julieta, lhe mostrando a imagem.

— Papai disse que eu tinha cinco anos e que eu estava feliz porque naquela tarde uma borboleta havia pousado em meu dedo. Sendo assim, chamaram um fotografo para registrar o meu momento de alegria, já que eu não gostava de tirar fotos quando criança e naquele dia eu permiti. — A jovem explicou entre pequenos risos a história que aquela fotografia representava.

— Você realmente parece muito feliz. — Julieta disse com sorriso encantador, enquanto a menina lhe entregava a foto. — E pelo jeito, a beleza lhe acompanha desde de quando era bebê.

Tal fala fez com que Ema soltasse um riso e agradecesse pelo elogio. A Rainha do Café observava cada detalhe da foto. Era uma foto tradicional, ensaiada, mas mesmo assim a filha de Aurélio estava sorridente, radiante. Não conseguia definir a cor que era o vestido, já que as imagens não eram capazes de mostrá-las, mas via que era um belo modelo, era rodado e tinha belas mangas. A criança também possuía sapatinhos delicados e um laço na cabeça. Pode constatar que o bom gosto para vestidos e enfeites foi herdado da sua genitora. A foto fez com que se emocionasse, pois imaginou o quanto na sua vida pudesse ter sido diferente se o monstro de Osório não a tivesse tirado tudo o que tinha.

— Deixe eu te mostrar outras fotos. — Ema já estava com o álbum de fotos aberto em suas mãos, sentada ao lado de Julieta, com os braços praticamente colocados de tão próximas que estavam. Depositou a foto novamente em cima da mesa e direcionou toda a sua atenção para as novas imagens que veria.

Ema fazia questão de explicar a história de cada foto. O álbum começou com fotos do Barão e sua esposa já idosos, a mãe de Aurélio parecia ser uma mulher inteligente e amorosa, bastava olhar para as afeições dela para saber disso. O Barão de Ouro Verde, por sua vez, continuava o mesmo carrancudo, até mesmo nas fotografias.

Algumas fotos deles passaram e chegaram às imagens de Aurélio e Ema. A menina já não era criança ali, estava na adolescência e o olhar dela estava mais triste, distante, mesmo que estivesse sorrindo. Julieta concluiu que provavelmente tais fotos foram tiradas tempos depois da mãe da jovem falecer. Aurélio era mais novo, não tinha o cavanhaque que usava agora e isso causou uma sensação de estranheza nela, já estava tão acostumada a vê-lo de cavanhaque e a verdade é que ela realmente gostava, achava charmoso. Ele era bonito, como continuava a ser, mas assim como a filha, possuía um olhar triste.

Mais fotos se passaram, o olhar de pai e filha voltaram a ter vida, a serem alegres. Ela sorria em ver aquela família tão unida e Aurélio sempre um pai tão dedicado, com os braços ao redor da filha, a protegendo até mesmo em imagens. Viu muitas fotografias de todos juntos, de cada um separado, com todas as combinações possíveis. Mas por algum motivo, as fotos da mãe de Ema tinham sido colocadas ao fim do álbum. E então, assim que a menina virou a página, a empresária se deparou com uma foto dos três juntos, como uma família perfeita.

Aurélio sorria com um dos braços envolto da mulher, segurando firmemente a esposa. A mulher tinha os cabelos longos, enrolados e assim como o marido, um riso estava estampado em suas feições, os olhos brilhavam e era possível ver até mesmo na fotografia, a felicidade era abundante ali. No colo dela estava um bebê, estava Ema, com poucos meses de vida e uma manta com algumas flores estampadas cobrindo-a, não era possível ver o seu rosto direito, apenas o pequeno corpo envolto nos braços daquela mulher. A Rainha do Café engoliu seco.

— Essa era a minha mãe. — Ema passou o dedo no lugar onde estava a mulher, como uma forma de carícia. O rosto expressava toda a saudade que sentia.

— Como era o nome dela? — A voz da mais velha saiu em tom de sussurro, rouca, quase inaudível e evidentemente abalada.

— Helena. Helena Cavalcante. — A jovem disse sorrindo, sem sequer perceber a situação que se encontrava a mulher ao lado. Amava o nome de sua genitora e desejava que um dia tivesse uma filha para colocar o mesmo nome e homenagea-la. — Ela era linda, não é mesmo? — A menina disse orgulhosa e não percebeu que não chegou a receber uma resposta.

Julieta estava com a respiração pesada e os olhos cheios de lágrimas, sentiu as mãos tremerem e todos os nervos do seu corpo se contraírem, tensos, em um grande esforço para que não permitissem que as lágrimas escorressem pelo seu rosto. Ela conhecia exatamente a cor dos olhos da esposa de Aurélio, a cor dos cabelos e a forma que eram ondulados, a cor da pele, a voz e a maneira de falar, conhecia tudo isso mesmo que a fotografia não fosse capaz de mostrar. A verdade é que Julieta Sampaio conhecia exatamente quem era Helena Cavalcante, ou melhor, Helena Ribeiro.


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Notas finais do capítulo

Algum palpite sobre o que deixou Julieta nesse estado? Ou quem foi Helena Cavalcante na vida dela? Deixem suas teorias, quero ler todas!

Beijokas e até a próxima! ;*



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