Faded Hearts escrita por Yukime Harukaze


Capítulo 37
Fim do Silencio


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao ultimo capitulo desse arco o/



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A criatura visível no grande quadro que estava atrás da minha cadeira, era um Grifo Negro, aqueles olhos passaram como um vulto quando fui jogado naquela dimensão e avistei novamente atrás do misterioso encapuzado que me acusou de um criminoso apenas por estar vivo.

−Impossível!

−Então foi isso que você quis fazer comigo?

Com isso sei quem era a pessoa por trás daquela capa.

−O que? O que você quer dizer, irmão?

Quando me viro de volta para mesa, Celia fica apática, sem qualquer tipo de reação como se soubesse de algo e com certeza sabe.

−Vocês sabiam né?

Os quatro não reagem a minha pergunta e desviam seus olhares para longe de mim.

−Não acredito, que isso ficou escondido dessa forma.

−Eu devia ter imaginado, é uma conclusão óbvia.

−O único que conhecia as entradas da Igreja central para pôr cinco pessoas com facilidade era meu pai.

−E para piorar, mandou seu filho para o Chaos por um capricho e simular um golpe vindo de um ataque de Fogels.

Meu tom de voz fica frio e rude, sem nenhum filtro, sinto que posso ofende-los com facilidade. Se o Grifo é o guardião do cristal do equilíbrio da nossa família, só pode ser ele porque minha mãe estava morta e ele tomou a frente do reino.

−Espera, irmão.

−Si... si-sim.

−Descobrimos tudo, poucas semanas após a morte do papai.

Celia tenta se explicar, mantendo a postura firme diante a minha pessoa enfurecida, a Beth se mantem distante um pouco atrás de mim junto com o tio Jack e a Ada está congelada, mais surpresa que eu.

−E vocês ainda me perguntam para liderar a família, depois de saber disso sozinho?

−A resposta é não, não vou liderar uma família que aceitou o maior crime que foi causado contra milhares de pessoas e protegerem um Graveyard.

Assim que respondo, ela coloca a mão direita sobre o peito com um olhar chateado e desapontado com minha atitude. Posso ter ofendido ela com aquelas palavras.

−Mas ele é nosso pai, não podia fazer mal a ele.

−Você desapareceu todos esses 5 anos e ficamos sem saber o que fazer, também não tínhamos ideia das consequências que causaria, se a Arcadia soubesse disso.

Celia, você pode até defende-lo, mas não vou permitir que isso passe em branco, mesmo que você fique sem falar comigo o resto da vida, não vou me importar dessa vez. Fazer mal a mim é uma coisa, mas a aquela quantidade de pessoas inocentes é inaceitável.

−Não são apenas 5 anos, desde a morte da mamãe fui mandado para a antiga mansão da família próximo as montanhas.

−Isolado, não pude falar com ninguém, apenas estudar e estudar sem saber o motivo. Ficar longe de tudo e de todos quase 5 anos, ter apenas a minha própria companhia grande parte do tempo e a Beth cumprindo as ordens dele.

−Dizer que ele é inocente, só porque morreu.

−Mal sou capaz de expressar meu estado emocional na frente das pessoas, por nem se quer ter tido contado com as pessoas.

−Tudo fica aqui na minha cabeça e não consigo pôr em palavras cada coisa que sinto.

Com o dedo indicador sobre minha testa, reclamo do que tive que passar, daquele isolamento forçado, da falta de amor familiar e da minha incapacidade que resultou disso e também mudou minha forma de agir.

−E todas aquelas pessoas que passaram pelo terror de ver suas casas destruídas e suas famílias morrerem?

−As casas eles podem recuperar, mas os mortos não voltam a vida.

−Não é fácil esquecer disso e muito menos de um trauma como aquele, deixar de temer um ataque como esse é praticamente impossível para um cidadão.

Celia fica sem saber como reagir a cada argumento meu, seu olhar com pupilas dilatadas e o punho fechado, demonstram que ela nunca pensou em tais coisas dessa forma.

−Irmão, por favor.

−Não quero que você e a Celia briguem.

Ada tenta apartar os nervos naquela sala com sua voz baixa e quase imperceptível no meio da minha voz alterada, mas é tarde demais, já disse o que devia ser dito.

As mãos da Beth tocam meus ombros por um instante para tentar me acalmar, mas o mar de sentimentos confusos e da raiva que sinto por ser sempre o último a saber de tudo, estão um pouco fora de controle. Nunca tive uma vida boa e despreocupada, era apenas uma faixada para esconder o perigo dos meus olhos.

−Para mim chega!

−Humpf! Vou para o quarto.

Assim que me viro, passando pela Beth e meu tio e chego perto da porta da sala, uma Sombra com seus grandes olhos vermelhos tenta me impedir de sair.

−Saia da frente, Grifo Negro.

Um tremor se inicia quando ele e eu olhamos fixamente um para o outro. Com meu estado emocional, pode ser que minha magia seja a causa e assim que isso ocorre a criatura sai de frente da porta voltando para o quadro em que estava escondido.

Continuei meu caminho até meu quarto, lá fiquei sentado sobre a poltrona de frente para a lareira acesa com pouca lenha e alguns minutos depois, entrei em um leve sono enquanto estava lendo e com o livro da história Noxia no meu colo. Junto com pensamentos e arrependimentos do passado que me fizeram refletir muito.

Horas depois, acordo com um estranho som vindo da janela do quarto, algo batendo no vidro como uma pedra sendo jogada. Levanto para ver o que é e abrindo as cortinas que tapavam a luz da lua naquela noite fria, percebo uma coruja na janela com uma mensagem em sua perna.

−Ah! Siren.

−Você voltou rápido para casa.

−Venha vou por você para descansar um pouco.

Deixo o braço próximo a janela para vir até mim, então levo ela até seu poleiro e retiro a mensagem de sua perna, mas antes de ler o pedaço de papel esverdeado, entrego um pouco de comida a ela e com dedo indicador da mão direita, acaricio sua cabeça.

−Bom trabalho, você é muito inteligente e rápida.

Minutos depois de conseguir cuidar da Siren, sento sobre a poltrona de couro, arrumando o livro que estava comigo e deixando ele na mesinha ao lado dela. O papel grosso e difícil de desdobrar, lembra o papel vegetal usado pelos reis quando trocam mensagens entre si. Escrita em tinta verde escuro com um pincel bem fino para uma boa escrita e caligrafia.

“ Caro, Hector! Encontrei o local onde Fogels vai estar, vou aproveitar tal informação para tentar algum tipo de negociação com ele, mas vou precisar de sua presença comigo nessa viagem e se tudo for por agua a abaixo, enfrentamos ele juntos. Mandei uma carruagem ir te buscar e traze-lo até Yaska, ele deve chegar na casa de sua família as 5 horas e não esqueça de fazer uma pequena mala. Atenciosamente, Valhara Braska”

Isso são boas notícias, tenho que admitir. Por isso Siren estava cansada de voar, logo que chegou com a mensagem da minha localização, ele a mandou de volta e mesmo assim ela voou rápido, muito rápido.

−Tenho que ser rápido, antes que a Beth acorde para arrumar a cozinha.

Começo a arrumar uma pequena mala marrom claro com algumas mudas de roupas para a viagem, inclui um sapato mais flexível para poder caminhar com facilidade e meus livros que faço leitura diária. Também coloquei a carta da minha mãe para confirmar uma coisa com o Braska.

−Hmm... preciso escrever uma carta para elas.

−Vejamos, onde deixei aquele pincel pequeno.

Lembro que preciso deixar uma mensagem para a Selene e os outros, dizendo que não se preocupem comigo. Então procuro pelo pincel de escrita na mala maior onde fica as roupas da Selene junto com as minhas e alguns utensílios de caligrafia e desenho.

−Encontrei!

−Bem então...

Tratei de pensar bem em cada palavra que iria escrever para deixar claro o que preciso que entendam.

“Pessoal! Assim que estiverem com essa mensagem em mãos, saibam que estarei bem longe, mas não preocupem com isso, pois estou de viagem para um lugar longe a fim de negociar com o Fogels. Não me interessa se vou ser preso pela Arcadia ou não, apenas vou fazer o certo dessa vez e sem hesitar. Estarei de viagem, possivelmente umas duas semanas e em breve voltarei. Enquanto ao assunto da nossa família, não posso aceitar até porque já estou morto segundo os registros dos 5 reinos e não vou fazer o contrato com a mesma criatura que me causou todo esse problema. Também vou resolver o tema do casamento arranjado que meu pai fez. Peço por favor que cuidem da Selene e da Siren até eu voltar, expliquem para ela o conteúdo dessa carta porque ela pode insistir em vir atrás de mim e por isso não posso informar o local que irei. Espero trazer boas notícias. Atenciosamente, Hector Sabrie”

Na verdade, nem mesmo eu sei para onde vou viajar. Só espero estar pronto para quando ficar frente a frente com o lorde Fogels.

Quando termino de escrever a carta, deixo a sobre minha cama arrumada e saio silenciosamente pelos corredores apenas calçando as meias para evitar o som da bota sobre o piso de madeira do andar superior. Com minha bolsa na mão esquerda, sigo meu caminho pela escada de mármore evitando ao máximo o som de meus passos no piso e apresso minha cainhada até a porta de saída.

Abro um pouco a porta de madeira pesada, um espaço suficiente para que eu passe e tento não fazer barulho quando encostar a trinca ao fechar. De frente para o jardim, verifico as horas no meu relógio de bolso.

−Hmm... 4 e 50, só mais alguns minutos.

Click!

Assim que fecho e guardo o relógio no bolso esquerdo da minha calça, vejo ao longe uma carruagem se aproximar com dois lampiões acesos. Tenho de ir até ele porque se chegar aqui perto da mansão, pode ser que alguém escute.

−Lorde Sabrie?

−Ah! É o senhor mesmo, suba por favor. Temos uma longa viagem.

Quando me aproximo da estrada a frente da mansão, o condutor levanta o chapéu de couro e sorri ao perceber que é eu. O condutor era o mesmo soldado que me levou para derrubar as barreiras sobre as estradas comerciais, não foi difícil reconhece-lo apesar da escuridão da noite e logo subo na carruagem para então seguirmos caminho até Yaska.

Dentro da minha condução, o sono tenta me pegar, não dormi direito porque estava pensando muito no que disse a minha família, sinto um arrependimento na minha consciência. Sei que sou bem calmo e controlado, porém sou muito sincero e minhas palavras acabam por serem mais afiadas do que imagino.

 

~~~~~~~~~~~~

 

Quando chego em Yaska, o sol começa a dar a sua presença, o vento gélido entra pela janela e através dela, observo a paisagem durante toda a viagem. Passo pelos mesmos monumentos históricos e teatros, em um deles há um grande anuncio de um evento musical com a Fiore e a May, cobrindo metade da frente do teatro com um tecido vermelho escrito em letras douradas e imagens pintadas a mão das duas irmãs.

Passando por ele, logo cheguei na frente da mansão de Braska e assim que desço do veículo, sem muito enrolação, sou levado até o escritório do rei para um encontro de última hora.

−Ah! Hector, chegou em boa hora.

−Estou arrumando algumas malas para a viagem até Aquedus.

−É onde o Fogels vai estar nos próximos 6 dias.

Ao entrar na sala, vejo Lorde Braska com uma empregada arrumando as roupas e alguns utensílios de escrita nas malas. Ele vem calorosamente me cumprimentar quando percebe a minha presença.

−Aquedus, eh??

−Meus professores são de lá.

É uma boa oportunidade para poder revê-los, acredito que eles ficariam muito felizes em me ver ou até surpresos por manter a mesma idade da última vez que nos vimos.

−Verdade?

−Existem ótimos professores lá e muitos vêm para o continente ensinar filhos de nobres.

−Principalmente a filha de Fogels.

Seu comentário reforça minha lembrança de que tenho mais uma coisa a resolver com esse homem.

Sigh! Parece que vai ser uma longa viagem.

−Ela também é outro assunto que tenho que resolver com Fogels.

−Como ainda estou vivo, o noivado dela comigo ainda é valido.

−A não ser que os dois líderes das famílias, dê isso por encerrado.

Ele olha para mim discretamente enquanto arruma uma calça na mala.

−Helena, leve essa mala junto com as outras, por favor.

−Hmm! Me pergunto, o que seu pai tinha em mente quando fez isso?

−Unir os dois reinos? Ou era um pretexto para fingir um golpe depois?

Entregando a mala para sua empregada, ele vem até mim abrindo seu leque sobre o rosto com aquele olhar curioso de sempre.

−Estou ciente de tudo agora, ele planejava alguma forma de tomar o reino de Fogels, mas eles fizeram algum pacto para tomar Aeternam juntos.

−Com a morte da minha mãe, apenas me usou de forma a enganar a população e fingir um ataque, mas parece que foi traído.

−Esse noivado ficou sem sentido, então vou encerra-lo para poder confrontar sem envolver a Luna.

Ela também foi usada para satisfazer um desejo seu pai, que vai além do amor familiar e levando para uma manipulação a fim de atingir um objetivo, que é nada mais na menos que um capricho egoísta de criar um império continental. Assunto que foi comentado por Braska de forma secreta comigo.

−Sim, o cancelamento desse casamento arranjado será um grande passo para nós e uma grande afronta ao Fogels, que acredita estar sempre no controle.

−Você é um gênio. Eu devia ter pensado em tal coisa.

−Não é uma invenção ou algo elaborado, é pura e simplesmente um confronto direto.

−Parece que temos um plano pronto.

Fechando o laque sobre a palma da mão esquerda, ele sorri enquanto analisa em voz alta toda a situação e talvez até imaginando os resultados dessas ações.

Eu aceno com a cabeça concordando com ele.

−Certo, vamos?

−A carruagem deve estar pronta para irmos ao porto Eterkov e partindo dele serão 3 dias no mar até chegarmos a Lumina.

Calmamente caminhamos rumo à frente da mansão e a forma como agimos parece a relação de mestre e aprendiz, só que eu não encho ele de perguntas. Talvez porque em partes compreendo como a mente dele funciona, sabemos que não há necessidade dizer coisas obvias em nossas conversas e fugimos dos padrões nobres, deixando a honra de lado para proteger nosso povo e nossas famílias.

Dentro da carruagem novamente, fico em silencio o percurso todo e Braska fica entretido com um livro de histórias, assim ficamos até a nossa chegada no porto para embarcar no navio dele.


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Notas finais do capítulo

Chegamos ao fim do segundo arco da nossa aventura, como vocês ja leram o próximo arco é o de Aquedus. Demorei para terminar porque tive que refazer os capítulos após a ajuda de um revisor, agora vou postar os capítulos assim que eu terminar de escrever e revisar, seguindo o dia de postagem semanal. Agradeço aos leitores que tiveram paciência em me acompanhar nessa historia e nos vemos no próximo capítulo!



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