Faded Hearts escrita por Yukime Harukaze


Capítulo 1
Cerimônia de Maioridade


Notas iniciais do capítulo

Olá caros leitores!
Vamos começar nossa viagem no mundo de Faded Hearts e suas grandiosas lendas.



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Ouço uma canção familiar no escuro, mas não tenho certeza se pode ser ela mesmo.

Hmm...

Está ficando distante...

Começo a andar em direção a melodia que escuto.

Reparo em uma pequena luz na minha frente bem distante, parece ser uma mulher.

−Oi!!!

Sem perceber acabei gritando para chamar sua atenção e ela olha para trás.

−Ah... ela correu.

−Errrr...

Corro atrás dela com todas as minhas forças, mas à medida que vou em sua direção parece que fico mais distante e aos poucos ela desaparece junto com a luz.

−O que está acontecendo aqui? E porque está tão escuro assim?

Paro de correr e tento compreender a situação.

Uff!...

−Jovem mestre!

−Jovem mestre!!

Ouço uma voz chamando por mim vindo de trás.

−Acorde!

−Vamos, acorde.

−Já é de manhã.

Olho para todos os lados dentro daquela escuridão sem fim em busca de onde vem a voz de uma mulher.

−Huh?...

−De manhã?...

Quando abro meus olhos percebo que tudo era apenas um sonho.

−Hmm...

−Já está na hora de acordar?

−Por que tenho que ser acordado as 5 horas da manhã no meu aniversário?

Reclamo todo sonolento enquanto limpo meus olhos.

−Você tem que acordar cedo, Hector.

−Porque esse vai ser um dia maravilhoso para a sua família.

Séria diante a minha reclamação, Beth explica o motivo de ter que acordar mais cedo.

Olho para uma mulher com cabelos castanhos caídos sobre os ombros, olhos castanhos usando um vestido de empregada cheio de detalhes florais, longo e preto com uma tiara branca, um avental branco e uma bota marrom.

−Para o Jovem mestre também.

−He! He!

Ela se aproxima para arrumar a minha cama com um sorriso de alegria pela chegada desse dia, que eu não esperava chegar tão cedo assim.

Então, me levanto e vou em direção as cortinas.

Vop!

−Ah! A propósito.

Olho para trás em sua direção.

−O que foi, Beth?

Curioso pela mudança em seu tom de voz, acabo abrindo as cortinas demais.

−Ahhhh! Está muito claro!

Huh? Claro? As 5 horas?... Não pode ser.

−Ho! Ho! Ho!

Ela vem até as janelas e me ajuda a fechar um pouco as cortinas.

−Nessa época do ano alguns dias ficam claros logo cedo, principalmente no dia de seu aniversário.

−Sua mãe dizia que no dia do seu nascimento, o céu estava sorrindo.

Ela solta a cortina com um olhar cabisbaixo.

...

−Beth, está tudo bem?

−Não quero ver você chorando na minha cerimonia né.

Tento animar a única pessoa que cuida de mim a anos e está triste com a falta de sua amiga mais próxima. Ela é muito sentimental, principalmente em relação a minha mãe.

As duas sempre foram muito próximas uma da outra.

−Obrigada, jovem mestre.

Sentando-se na cama, ela se recompõe respirando fundo.

−Devemos olhar para o presente..., mas não consigo esquecer o que aconteceu com a senhora Lucina.

−Prometi a ela que cuidaria de seus filhos como se fossem os meus.

−Então....

Ela vem em minha direção e me empurra para fora do quarto.

−Vamos, vamos...

−Você tem que se trocar e me ajudar com os preparativos da sua cerimônia.

−Rápido...

Saindo do quarto, deixo a Beth arrumando a minha cama e os livros que li ontem à noite.

 

~~~~~~~~~~~~

 

Caminhando pelos corredores do segundo andar rumo as escadas, escuto vozes vindas do andar abaixo.

−Bom dia, Elizabeth.

−Olá, Beth.

Duas vozes familiares estão na entrada da mansão, a primeira bem suave e calma, a outra voz é alegre e energética.

Aproximando-se das escadas observo duas garotas na entrada de casa.

−Oh! Jovem mestre, venha por favor.

−Você tem duas belas visitas.

Desço as escadas calmamente e um tanto curioso com a presença de visitas, justo no dia do meu aniversário. Faz 3 anos que meu pai me colocou nessa mansão distante da cidade, além de ser proibido de sair dela ou receber visitas.

−Não esperava visitas de manhã cedo.

Tenho uma sensação que conheço elas, mas não sei por isso em palavras.

−Bom dia, senhor Hector.

Usando um leve sorriso, uma delas se aproxima e com um toque delicado pega minha mão esquerda.

Esses olhos verdes... já vi eles em algum lugar.

−A quanto tempo não te vejo.

−Faz quase 8 anos desde aquele dia né?

Sem saber quem ela é, olho fixamente para seu rosto tentando lembrar dela de alguma forma.

Cabelos loiros presos com um rabo de cavalo... um olhar simpático... sempre sorridente e um colar em forma de lua crescente dourado.

Somente uma pessoa usa esse colar...

−Sim, faz muito tempo.

−Prazer em vê-la novamente, Luna Fogels.

Ela solta minha mão e estava tão contente como se ela não fosse capaz de se segurar.

−Ugh! Ele... se lembrou de mim? Co... como?

Sussurrando para si mesma, ela disfarça o que demonstra em seu rosto pegando minhas mãos novamente.

−Aqui, segure isso.

−Agora, tente adivinhar o que é.

Ela solta algo em minhas mãos e impede que eu abra para ver.

Olho fixamente para as mãos de Luna sobre as minhas e por um certo tempo, não percebi que demorei para responder.

−O que foi, senhor Hector?

Luna aproxima-se de meu rosto e suas sobrancelhas inclinaram para a direção de fora do seu rosto, parecem demonstrar uma certa preocupação.

Acredito que isso em minhas mãos seja algo que ambos conhecemos como um relógio ou alguma coisa do tipo.

Uh! Espera. É isso mesmo.

−Hmm... Isso é um relógio de bolso. Certo?

Tirando suas mãos sobre as minhas e juntando elas próximas ao seu vestido branco.

−Sim! É um relógio de bolso com engrenagens de uma caixinha de música.

−Eu pedi para colocar a melodia que... bem... você criou.

Tentando esconder seu rosto vermelho, ela cobre parte do rosto com um lenço.

−Serio? Ohhh...

Abro o relógio e ouço a melodia que fiz a 3 anos atrás.

−Incrível! Como conseguiram usar as engrenagens de caixas de música nele?

Curioso e de certa forma com meu coração acalorado, tento olhar os detalhes dele.

−Hu Hu! Fico contente que tenha gostado do meu presente.

Luna sorri novamente, mas dessa vez ela parecia mais alegre do que eu.

Para uma garota tímida que tem dificuldades de se aproximar das pessoas, ela parece ter se esforçado muito para ser mais aberta a conversar com outros, lembro do quão difícil foi para ela se acostumar com a minha presença quando nossos pais se encontravam.

−Obrigado, Luna.

−É um ótimo presente.

Guardo o relógio junto ao bolso de meu colete.

Ao lado de Luna está a outra garota bem familiar para mim, mas por algum motivo minha memória vem falhando de forma bem estranha e esqueço por um certo momento das pessoas que conheci.

−Hey, Hector.

−Como está?

Com sua voz energética ela me cumprimenta.

−Bom dia.

−Estou bem, obrigado.

Esqueci seu nome como vou lhe cumprimentar direito.

Hmm... por que sou ruim para lembrar do nome das pessoas?

As vezes não me entendo, mas a sua forma de conversar e agir, os olhos na cor do mar e cabelos longos azulados.

−Eh... Hector?

−Não lembra quem sou eu?

Percebendo minha reação, suas sobrancelhas inclinam.

−Er... sinceramente, não.

Sem pensar acabei sendo indiscreto.

−Ahn! Como não lembra de mim?

−Sou eu, Fior. Fi-orrr.

Ela põe as mãos sobre meus ombros e começa a me chacoalhar como um boneco.

−Você fica preso nessa mansão por 3 anos e esquece seus amigos.

−Como pode lembrar da Luna tão rápido assim?

−Me explica.

Sei bem quem me chacoalha desse jeito. É uma forma estranha de lembrar de alguém, mas ela está bem diferente.

−Fior, pare com isso.

−Assim não consigo conversar com você.

Tento acalma-la, mas de jeito que estão as coisas tenho vontade de pedir socorro.

−Ah! Desculpa. Não devia ter feito isso.

Soltando meus ombros, Fior tenta se acalmar.

−Para falar a verdade, você está bem diferente e alta também.

Como ela cresceu tanto assim? Deve ter comido muita massa, talvez.

−Verdade? Não tive essa impressão.

−Será que foram os bolos que comi?...

Com o dedo indicador sobre a bochecha, ela parece pensar mais no fato de ser bem alta.

Fior você realmente tem quase 15 anos?...

−Ah! Quase esqueci.

−Trouxe um presente para você.

Em suas mãos estava um anel com um símbolo e uma luva de couro, que são entregues a mim.

−Obrigado.

−Esse símbolo é... da família Alma?

São realmente presentes lindos, mas minha atenção sobre aquele anel de prata despertava uma certa curiosidade. A luva preta também tem algo diferente, o couro parece ser bem resistente e costurado de forma artesanal.

Com suas mãos próximas ao seu vestido com tons suaves de rosa.

−Sim, esse anel pertencia a meu pai.

−Minhas irmãs escolheram ele como presente para você.

−A luva, eu fiz porque você sempre treinou com espadas desde quando éramos pequenos. Então usei um couro especial vindo do Leste e fiz um reforço de metal na parte de cima das mãos.

−Veja, nas palmas tem um tecido para as coisas não escorregarem quando for pegar algo e elas não cobrem os dedos também.

Ela mostra cada detalhe dos presentes com atenção.

Você um gênio, Fior.

Luvas especificas para quando eu usar as espadas ou as lanças.

−Obrigado mesmo.

−É muito inteligente de sua parte fazer isto.

−Um segundo...

Em sinal de respeito coloco as luvas em minhas mãos e o anel de prata no dedo indicador da mão esquerda.

−Meninas, sentem-se no sofá.

−Fiz um chá de rosas brancas.

Enquanto colocava o anel no dedo, Beth acompanha as garotas para a sala de visitas.

Olhando para a porta percebo nuvens no céu a fora com um leve vento.

Um dia especial é?

Talvez eu deva ir vê-la...

... Cleck

Esta porta não era tão silenciosa quando fechava, isso é estranho.

Após me arrumar, vou até a sala de visitas e sento de frente para as duas.          

−Aqui, jovem mestre.

−A propósito, tenho algo para te contar.

Beth me serve uma xicara com chá.

−Pode me dizer.

Blub! Blub!

Pego a xícara bebo um pouco de chá.

−Elas são suas noivas.

Ao lado de Fior e de Luna, cobrindo a boca com a mão direita.

−Huh? Gulp!

−Coff! Coff!

Me afogo ao saber o que ela me disse.

−Jovem mestre, o senhor está bem?

Beth vem em minha direção preocupada com o que aconteceu.

−Coff! Sim.

−Só fiquei surpreso com o que me disse.

Fico com a mão direta fechada cobrindo a minha boca.     

−Hur... Hurmm.

−Quando você me disse que hoje seria especial, não esperava algo como isso.

Uma grande surpresa para ser sincero, eu ter duas noivas logo agora.

−Então era isso que ele tinha para mim? Preocupado com o futuro de Aeternam ele planejou tudo.

−Sigh! Você não tem jeito né pai.

Coloco o pires de chá a minha direita.

−Mestre Oscar, parecia bem preocupado com este assunto.

−Ele espera que agora com o jovem mestre entrando na fase adulta, consiga ajudar ele com alguns assuntos e assim ser um exemplo para Celia e a pequena Ada.

Beth recolhe o pires com a xícara e coloca sobre a mesa ao lado de um bolo de morango. Um bolo redondo com cobertura de glace branco, uma calda de morango e pedaços de morangos por cima.

−Crianças, gostariam de um pedaço de bolo?

Beth corta o bolo e a Fior parece estar hipnotizada ao ver seu bolo favorito.

−Tia Beth, esse bolo é uma maldade

−Vamos vocês dois, ainda temos muito o que conversar.

Fior vai pegar um pouco do bolo com a Beth.

−Ei, Fior.

−Deixe um pouco do bolo para nós.

Eu e Luna nos levantamos para ir até a mesa, antes de Fior começar a comer um pedaço do bolo atrás do outro.

Faz um bom tempo que não recebo visitas, eu deveria aproveitar mais esses momentos porque pode ser que não possa ter tanto tempo para isso, quando alcançar a maioridade.

 

~~~~~~~~~~~~

 

A tarde estava esperando a visita de minhas irmãs, mas parece que elas não vão vir.

Olho para a estrada a frente da mansão, aqui da sacada do meu quarto.

Sigh! O preparativo para minha cerimonia está pronto, demorou mais do que esperado, mas terminamos tudo antes do tempo.

Me viro olhando em direção do quarto.

A conversa com Fior e Luna foi bem divertida, lembrei da minha infância.

...

Com um sopro levemente gelado em meu rosto observo o céu.

−Está começando a anoitecer.

−Devo ir visita-la antes da cerimônia.

Vou até o andar de baixo.

−Beth!

...

−Beth!

Chamo pela Elizabeth, mas ela não responde.

Caminho para a frente da mansão.

−Ah! Beth você estava aqui?

Ela se encontrava junto as flores amareladas, próximo a um chafariz branco com forma de um menino com asas curtas segurando uma harpa.

−Ora! Jovem mestre.

−Estava a minha procura?

Ela percebe minha presença enquanto regava as flores com um regador pequeno.

−Sim. Vim avisar que vou visitar a antiga mansão.

Tenho uma estranha sensação sobre hoje, talvez ela possa me dizer algo.

−Eu deveria ir com o senhor, se não se importar.

−Quando voltarmos, você deve estar pronto para a carruagem te levar a igreja.

Ela coloca o regador sobre as bordas do chafariz e faz um olhar fixo para mim como se estivesse lendo minha mente. É um olhar assustador através daqueles óculos com lentes arredondadas, assim não posso recusar o que ela me disse.

−Ug! Entendido.

Por mais que ela me fizesse uma proposta, conseguiu me convencer com seu olhar assustador.

−Jovem mestre, vou trocar meus sapatos e... devo levar um guarda-chuva?

Observando o céu e pelo vento, ela deduz que pode chover.

Contando que é primavera, a brisa ser fria realmente indica que pode vir chuva.

Beth vai trocar seus sapatos e pegar um guarda-chuva, enquanto eu espero aqui no degrau da porta de casa.

−Finalmente posso sair um pouco para respirar.

Digo para mim mesmo.

Tenho uma estranha sensação que algo vai acontecer durante a cerimônia, mas espero estar errado.

 

~~~~~~~~~~~~

 

Caminhamos uma grande distância sobre uma estrada de terra com vista para um vasto campo com plantações de trigo.

Ao fim da estrada próximo à fronteira da capital com as cidades menores, encontra-se um jardim com os mais variados tipos de rosas e orquídeas, e uma casinha que serve como capela.

Aproximando-se do local que tem um gramado bem cuidado e pedras com nomes escritos. Um cheio suave e doce se espalha com o sopro do anoitecer, vindo de uma flor muito rara por essas regiões.

Procuro pelo nome dela enquanto ando entre as pedras, mas aqui ficou muito bonito depois que plantamos arvores e algumas flores.

Beth toca meu ombro esquerdo, à medida que nos aproximamos da casinha com uma cruz feita de aço.

−A última pedra é a dela.

−Limpei as folhas que estavam acima dela mês passado.

−Na semana que vem será seu aniversário, tenho certeza que vai estar toda cidade neste local.

Movimentando seu dedo indicador de forma aleatória enquanto conversava.

Quando se trata da pessoa mais querida para ela, ninguém consegue segurar seus impulsos de falar sobre o quanto elas divertiam juntas.

Chegamos em frente a pedra com seu nome, Beth então entra naquela casa para rezar e me dar um tempo com ela.

−A quanto tento não te vejo.

−Mamãe.

Me ajoelho diante seu tumulo com o nome Lucina Sabrie gravado.

Sinto um aperto no meu coração e ao mesmo tempo uma forte vontade de reencontra-la.

−Faz 3 anos, na verdade.

−Li todos aqueles livros da nossa biblioteca e gostei muito daquele Rosas na Janela.

−Sobre o papai, bem... ele me prendeu na antiga mansão da família.

−Realmente não sei o porquê de ele ter feito isso, mas tive que aprender a conviver mais com minha solidão.

Pat! Pat! Pat!

Tiro as folhas caídas sobre a pedra, como se eu tocasse a suas mãos e arrumo sua foto abaixo de seu nome.

−Como estou agora?

−Fazendo 15 anos e sem saber o que me espera com a cerimônia de hoje à noite.

−Várias responsabilidades sem dúvidas.

−He! He! He!

Conversar com um morto pode parecer estranho, mas é um costume familiar. É como se você conseguisse tirar um peso das costas.

Ouço os passos da Beth vindos por trás.

−Jovem mestre, não temos muito tempo.

−Vamos limpar seu local de descanso, para que ela fique contente e voltamos uma próxima vez para visita-la.

Tendo em suas mãos um balde com agua e dois panos.

Beth não diz uma palavra se quer enquanto limpamos a pedra e varremos as folhas nas proximidades.

Ao terminar de limpar sua pedra sinto uma forte dor na minha testa, o som parece estar abafado e minhas mãos perdem força.

Huh!

Minha visão desfoca e vejo um forte brilho vindo de longe.           Nesse momento sinto algo tocar minhas costas e uma outra voz mais baixa, me chama pelo nome.

−Jovem mestre!

−Mestre Hector!

Beth chama por mim, mas não consigo reagir de alguma forma.

Novamente esta situação, simplesmente minha consciência se apaga por alguns segundos e subitamente volta de forma desconhecida.

Minha visão parece voltar e aquele brilho desaparece.

...

−Jovem Mestre!

−O que aconteceu?

Aquela sensação de peso sobre minha cabeça desaparece.

Quando viro meu rosto para direita, a Beth está me segurando em seus braços e com um olhar preocupado diante de mim.

−Minha cabeça dói.

−Não sei como explicar isso, é algo muito estranho.

Tento me levantar recuperando meu equilibro.

Isso não é bom...

De alguma forma, algo não está certo.

−Vamos voltar para casa.

−O senhor deve descansar um pouco, isto pode ser nervosismo.

Suas palavras me trazem uma calma, Beth.

Você é como uma segunda mãe para mim, não tem como eu ir contra o que me diz.

Com minhas mãos sobre o lado esquerdo da minha testa, voltamos pela mesma estrada rumo a mansão.

O vento... parece que quer me mostrar algo, mas o que?

Não posso compreender ou talvez, eu não queira.

Só espero que nada de mal aconteça.

 

~~~~~~~~~~~~

 

Ao cair da noite. Estou na sala do padre, fazendo os últimos ajustes antes de entrar diante o relógio da cidade.

Zaa! Zaa!

Observo a chuva no reflexo da janela da sala através do espelho que estou de frente.

−Ok!

−As luvas que a Fior me deu.

Verifico os bolsos do terno branco que estou usando.

−Ah! Encontrei você.

−É um relógio muito bonito.

Após checar a todo os meus acessórios, guardo o relógio de bolso e volto para minha camisa.

−Está tudo em seu devido lugar

Falando baixo comigo mesmo enquanto ajeito a gravata a borboleta.

Não esperava uma chuva justo no meu aniversário, mas agora está na hora.

Ando em direção a saída, mas com aquela mesma sensação de antes.

Eeww!... Click!

Entro no corredor e fecho a porta da forma mais silenciosa possível.

É realmente lindo o piso com mármore, estatuas de pessoas com asas e alguns com arco e flecha. As janelas com um mosaico retratando os apóstolos e símbolos religiosos.

Chiiiii!

−Opa! Essa foi por pouco.

−Quase caio no chão.

Me seguro no pilar a minha direita próximo a entrada para o salão central.

Devo ir para a entrada. É para esquerda, se não me falha a memória.

Chegando na entrada, ouço muitas vozes vindas do salão da igreja.

−Jovem mestre.

−Está pronto?

Beth estava segurando um pequeno cravo vermelho em suas mãos.

−Uhum! Estou pronto.

Fecho minha mão esquerda e aguardo minha hora de entrar.

−Beth, o meu pai não venho?

Por um momento lembrei dele, principalmente porque foi algo combinado entre nós e ele afirmou que iria deixar o trabalho de lado hoje.

−Ele não conseguiu vir.

−Seu tio também está ocupado, então eu serei a anfitriã.

Corrigindo minha gravata após pôr o cravo no meu terno, Beth tenta explicar a situação dos meus familiares.

Era de esperar algo como isso de meu pai. Sou o único filho que ele parece não se importar, é como se odiasse.

Beth entra no salão para dar início a cerimonia, ao longe vi duas meninas loiras com olhos âmbar.

São a Ada e a Celia, mas elas não deveriam estar aqui.

Elas acenam para mim.

He! He!

Mesmo assim estou feliz em vê-las após todo esse tempo.

Fecho meus olhos por um momento e tento me concentrar, somente escutar o som do ambiente é importante agora.

...

..

Zaa! Zaa!

Zaa! Zaa!

A chuva parece estar ficando forte.

Um dos empregados se aproxima.

−Senhor Hector, pode entrar no salão.

Abro meus olhos e tudo está... como devo descrever isso?

Dou meus primeiros passos para o salão todo enfeitado, com luzes suaves e uma melodia tocada no piano.

−Éh... Todos os duques e nobres estão aqui.

As mesas têm toalhas brancas com azul marinho, os homens estão vestidos de branco e as mulheres com vestidos vermelhos com detalhes brancos.

Ando calmamente rumo à frente do salão.

No corredor vários buquês de cravos vermelhos ao longo do caminho, um tapete vermelho e no final dele há uma escadaria com 7 degraus com um relógio na parede da igreja após as escadas.

Este é o relógio adormecido Eclésia, a lenda diz que ele parou de tocar a 200 anos atrás quando ocorreu o desastre da cidade de Perpetua. O padre sempre me disse que um dia ele voltará a tocar e que a pessoa que fizer isso, poderá ser o causador de uma tragédia de proporções desconhecidas.

Meu medo é que ele acorde justo comigo... não, agora não é hora de lembrar disso. Devo tocar na parede do relógio e recitar o juramento da maioridade.

Chego ao início da escadaria ao lado de Beth e fico de frente com a multidão.

−Hector Sabrie, filho do Lorde Sabrie com a senhora Lucina Sabrie e herdeiro do trono de Aeternam.

−Hoje completa 15 anos de idade, sendo capaz de participar de festas e eventos feito pelos nobres desse reino e de outros.

−Daremos nossas bênçãos ao futuro líder de Aeternam.

Beth sabe ser uma ótima anfitriã e coordena o evento com muita clareza e facilidade.

Todos ali presentes se levantam com uma taça de vinho em mãos.

−Abençoe o lorde Hector!

−Bênçãos ao futuro senhor de Aeternam!!

−Parabéns jovem Hector!!!

Levantando as taças para cima, eles elevam suas vozes que ecoa em todo o salão.

É uma sensação indescritível, mas ainda é uma ótima sensação.

−Vá até o relógio e recite o juramento.

Beth sussurra para mim me dá um sinal piscando o olho direito.

Me viro de frente para o relógio e devagar subo cada degrau.

É só terminar o juramento e poder continuar com a minha vida. Ser capaz de rever minhas irmãs, poder sair daquela mansão quando eu quiser e participar de alguns eventos.

Caminhando silenciosamente, chego em frente a parede.

Minhas mãos tremem, começo a suar e meu coração está acelerado.

Me ajoelho e toco a parede do relógio.

−Eu Hector Sabrie, filho de Oscar Sabrie e de Lucina Sabrie. Nesse dia presente, juro exercer minhas funções como um nobre de Aeternam, honrar o nome de minha família e sempre buscar o bem de todos a minha volta.

Em alto e bom som, minha voz é ouvida por todos do salão.

Olho para o relógio acima de mim.

Ele está com os ponteiros parados 1 segundo antes da meia noite.

Tic!

?!

Blom! Blom!

Blom! Blom!

Ele... ele está tocando.

Isto... isto não está acontecendo.


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Notas finais do capítulo

"Um relógio adormecido a 200 anos novamente acorda, qual tragédia ele irá trazer?"



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