Pandora escrita por Virgo


Capítulo 9
Apresentação e Espera


Notas iniciais do capítulo

Tive que dividir o capítulo original, ele tava muito grande e precisei tirar muita coisa, mas nada muito crucial, da pra viver sem essas partes. É uma pena, eu queria manter essas partes, mas elas realmente não eram importantes, deixei apenas três para dar exemplo (vão identificar fácil) e as outras eu dei uma boa secada.
Enfim, espero não demorar muito com a segunda parte e espero que gostem :)



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Esperar era, de todas as torturas às quais foi submetida, o pior e mais cruel dos castigo.

Quando despertou mais cedo, percebeu que não tinha mais o juiz dormindo ao seu lado, agora tinha um rapaz constrangido num canto do quarto a espera de que acordasse. Ele mantinha a distância servente de dois metros e, apesar de ser o braço direito de seu juiz, mantinha a cabeça sempre baixa para moça; a última coisa que queria era ser mal interpretado, o melhor seria demonstrar sua submissão em gestos.

— Valentine, por favor. - sabia o nome de todos, desde o mais velho ao mais novo. - Onde está Radamanthys?

— Foi se preparar para o combate, minha senhora. - respondeu lhe entregando as roupas com respeito. - Ele ordenou-me ficar a espera, quando a senhora acordasse é de minha inteira responsabilidade escoltá-la até seus aposentos em perfeita segurança e sigilo.

E, realmente, o rapaz o fez com maestria. Mas agora, depois da emoção de cruzar o palácio às escondidas, só lhe restava esperar e esperar e esperar.

Conseguia ver a arena para o combate ser montada de sua janela, imaginava quantas almas precisaram ser realocadas ou barradas para que o “evento” ocorresse na maior dentre as três Ilhas dos Abençoados. Via os cortejos divinos se organizando para o momento em que as testemunhas do combate e suas falanges fossem apresentadas, sendo ela quem faria todas as apresentações, afinal era a Regente. Ouvia os brados de guerra de cada falange, se fosse como os cortejos mortais certamente aquilo seria um festival de fidelidade antes mesmo de um combate, quase uma festa antes de uma execução. Sentia a janela tremer pelo tanto de soldados reunidos nos jardins e , mesmo estando há metros do chão eles conseguiam tremer paredes apenas de andar. Se perguntava o que Zeus tramava ao mandar os deuses trazerem suas falanges, acaso ele queria ameaçar Hades com números?

Ela não se sentia intimidada, certamente o senhor dos mortos também não se importava com toda aquela exibição e só queria que todo aquele pessoal saísse logo de seu reino; eles estavam impedindo o bom funcionamento do tribunal das almas e dos banhos de recomeço, milhares de almas impedidas de seguirem porque Zeus queria fazer alarde. Desnecessário, já começava a entender porque tantos soldados meio amargurados com o senhor dos deuses e seu exibicionismo. Inclusive, o exército do submundo só estava alinhado para que não fosse apelidado de relaxado, pois ninguém ali parecia verdadeiramente interessado em outra coisa que não fosse o resultado final no combate entre pai e filho.

E pensando neles, não tinha visto nenhum dos dois, nem a sombra. Viu os outros dois juízes zanzando ou estudando as demais falanges, assim como também viu os deuses e seus servos andarem por entre os jardins, inclusive a rainha dos deuses; mas não tinha um único sinal de Radamanthys e Zeus.

— Minha senhora! - o menino correu até seu colo e subiu quase chorando no mesmo.

O menino estava todo arrepiado e sibilava olhando na direção da porta, fosse o que fosse ele estava tudo menos confortável com a situação.

Se levantou com o menino no colo e se aproximou da porta, alguma coisa iria acontecer e isso tinha certeza. Porém, não aconteceu nada além de uma visita, por assim dizer, a própria Morte passou por sua porta e sorriu maldosamente ao mirar o menino trêmulo.

— Então é assim que gatos escapam de mim tantas vezes, eles me sentem chegando. - podia dizer que sua voz era risonha.

— Está assustando ele, Thanatos. - respondeu a moça com um suspiro um tanto irritado. - Diga logo o que quer, vamos poupar o menino disso, por favor.

— Que meiga. - nunca dava para saber se aquele homem era puramente cínico ou simplesmente cruel. - Vim lhe buscar para o Jugo da Espada, precisamos de uma proclamadora. Além do que, você é nossa regente e o “prêmio” que, muito provavelmente, Zeus vai exigir. - deve ter feito uma cara de nojo hilária porque o mais velho deu risada. - Vamos. Não é bom deixar os deuses esperando. Leve seu tridente e seu amiguinho felino, tenho certeza que vê-lo ao seu lado vai amansar um pouco o terrível humor de Zeus. - o homem se virou para sair, mas parou e a mirou por cima do ombro. - Relaxe. Vai dar tudo certo.

O homem lhe lançou um sorriso arteiro e saiu na frente, a guiando por todo o caminho até as Ilhas dos Abençoados. Lá passou a responsabilidade para o irmão, com quem, obviamente, o gato se sentia mais tranquilo.

A arena podia ser descrita como um anfiteatro sem palco, com paredes altas e totalmente circular, permitindo não apenas a permanência de vários espectadores como também os vários ângulos de visão. Séculos e milênios mais tarde, aquilo seria chamado de Coliseu pelos últimos netos de Tróia. E ainda tinha que se admirar com o fato de que o local estava dividido perfeitamente em treze blocos, sendo cada bloco destinado à um deus e suas forças. Havia construções como sacadas, onde ficariam os deuses maiores, abaixo havia um degrau mais alto que os outros, onde ficariam deuses menores e servos; um padrão que se repetia em todos os blocos, com a exceção de que o bloco destinado à Hades tinha uma sacada extra, frente com a arena e era lá que a moça estava.

— Deuses e deusas vão passar por aquele portão que acabamos de passar, todos escoltados por suas forças. Sua obrigação e proclamar seus títulos, cada qual sabe seu lugar. - explicava da forma mais simplificada e paciente possível. - Zeus e Hades são opostos, por isso nossas falanges ficarão aqui e as de Zeus do outro lado da arena. Os demais deuses preencheram o espaço entre os opostos, definindo os “tons de cinza”. Indo dos com a índole mais sombria perto de nós até os que tem a essência mais branda e calma perto de Zeus. Seus estandartes irão surgir conforme eles entram. Depois disso você deve anunciar o combate e apresentar os combatentes, por fim, deixe que Athena guie a situação. Entendeu?

— Creio que sim… - era muita informação, mas entendia porque dele não se desgastar muito com explicações.

O Sono deu-lhe um sorriso preguiçoso, não sabia dizer se era uma coincidência ou não, mas podia afirmar que era um sorriso caloroso e acolhedor.

 É uma mulher inteligente, Pandora, tenho plena certeza de que irá se sair bem. - respondeu tão gentil quanto uma mãe à tratar com um filho. - Relaxe. Vai dar tudo certo.

O homem fez um rápido carinho no menino que segurava sua saia e partiu para cumprir alguma outra tarefa. Em poucos minutos começou a ouvir e sentir uma falange se aproximando da arena, quando surgiram respirou um tanto aliviada por ver armaduras negras como as sombras da noite; aquela era a falange de Minos, seus soldados se posicionaram nos primeiros degraus de seu bloco enquanto o juiz seguia para seu lugar de destaque abaixo da sacada dos monarcas. Logo veio Aiacos e seus soldados com armaduras negras como asas de corvos, eles se colocaram atrás dos homens de Minos enquanto seu líder seguia para o lado do irmão. E então entrou Radamanthys e sua falange com armaduras negras como carvão, em nada fizeram de diferente dos demais, o que realmente os diferenciava era a armadura de Radamanthys e seu comportamento.

O homem nem ao menos a olhou, nem se quer demonstrou nada ao passar por ela, mas conseguia entender que ele estava focado na batalha. Estava preocupado como tudo iria se desenrolar e montava estratégia atrás de estratégia.

Mas a verdadeira diferença era sua armadura. Ela parecia responder ao momento, parecia que ela tinha noção de que iriam entrar em batalha. As asas que antes pareciam meros adornos, agora se moviam com fluidez impressionante, pareciam parte do homem, uma extensão de sua pessoa. As manoplas pareciam maiores e mais largas, quase redondas como um escudo pequeno. Conforme ele se movia as partes da armadura pareciam crescer e encolher, sempre o protegendo por todos os lados possíveis e imagináveis, só agora reparou que ele usava algo como uma cota de escamas por baixo da armadura. A armadura estava viva, consciente e mais ameaçadora do que já era naturalmente.

Radamanthys apenas se juntou aos irmãos e esperou.

Pouco depois os homens bradaram uma saudação, a euforia se instalou por alguns minutos, certamente eram ouvidos no lado de fora e, aparentemente, até mesmo as almas espalhadas pelo reino bradavam suas saudações, afinal o som parecia muito maior do que o que era causado pelos soldados. Olhando para trás pode ver senhor e senhora dos mortos aparecendo em sua sacada juntos de Hypnos e Thanatos, ambos em orgulhosa guarda.

O governante do reino dos mortos apenas esperou o silêncio antes de proclamar o passo sem volta.

— Apresentem-se e testemunhem! - sua voz ecoou por todo o espaço, não tendo necessidade de gritar ou elevar o tom de voz.

Então começou uma “música” alta, cujos instrumentos eram os passos pesados de guerreiros poderosos e seus urros ritmados. As falanges entravam ordenadas por seus comandantes na arena e uma delas, geralmente a mais poderosa, era a selecionada para escoltar sua divindade.

O menino se transformou em gato e pulo no parapeito de sua sacada, sentando com as costas retas tal qual um pequeno guarda. Balançava sua cauda de um lado para o outro e apenas avaliava os homens e mulheres que se apresentavam. Deixou seu tridente fincado ao seu lado e se inclinou um pouco para frente, afim de ver quem se aproximava.

Os guerreiros então pararam na frente do Imperador do Submundo e esperavam sua apresentação - algo que se tornou instintivo para a moça, simplesmente se viu conhecedora de tudo e todos ali presentes, talvez algum traço oculto de sua divindade.

— Berserks, filhos da guerra! Comandados por Leônidas, Rei dos Trezentos de Esparta, Hípolita, Rainha das Amazonas Sangrentas, Deimos, Senhor do Pânico e Histeria, e Phobos, Senhor dos Medos Profundos! - sua voz era ouvida em todas as partes, firme e carregada de certeza. - Bravos e fiéis guerreiros de Ares, deus da guerra sangrenta, senhor da sede de sangue e personificação da violência!

— FORMAT BELLUM NOBIS!! - urraram em tom quase animalesco, aqueles homens não temiam absolutamente nada e sua potente voz deixava clara sua devoção ao deus armado.

O deus da guerra então fez sua própria saudação e apareceu em sua sacada, estando ladeado por seus filhos, Deimos e Phobos. Seu exército se instalou em seu lugar e esperou.

A próxima falange então se aproximou, também parando na frente do Imperador a espera de sua apresentação.

— Bacantes, apreciadores do bom vinho! Comandados por Ariadne, Princesa de Creta e Dama do Labirinto, Sileno, Fabricante Primordial de Vinho, e Pan, Protetor das Florestas e Montanhas! - viu a moça acenar sutilmente para Minos, não sabia bem o motivo, mas não iria questionar. - Bravos e fiéis guerreiros de Dioniso, deus dos ciclos vitais, senhor das festas, produtor do vinho, patrono da insânia, pai do teatro, padroeiro dos ritos religiosos e da intoxicação!

— DIU VIVERE, VIVE BENE!! - proclamam com orgulho, eram felizes e isso era mais do que o bastante para eles.

O deus do vinho saudou o senhores com um brinde e também apareceu em sua sacada, com o diferencial de que a princesa cretense estava ao seu lado como igual, ao que parecia ela era sua general e esposa. Ladeando os dois como guardas estavam dois centauros.

Logo veio mais uma falange, carregados de martelos e machados, as primeiras fileiras eram realmente intimidantes.

— Artífices, poderosos piromantes! Comandados por Espínter, Nascido do Fogo, e Erictônio, Rei de Athenas Nascido da Terra! - achava curioso um dos comandantes ser tão parecido com a deusa da sabedoria. - Bravos e fiéis guerreiros de Hephaestus, deus da tecnologia, mestre dos ferreiros, pai dos artesãos, patrono da escultura, detentor dos metais, padroeiro da metalurgia, senhor do fogo e governante dos vulcões!

— NOLI TIMERE FABROS FLAMMIS!! - sua saudação era branda, respeitosa, mas não menos poderosa que as demais.

E assim seguiram-se todas as saudações e apresentações, alguns mais orgulhosos e outros mais humildes, porém, não menos poderosos.

As Caçadoras de Ártemis mesmo eram as mais orgulhosas de sua força e disciplina, sem dúvida eram muito poderosas e capazes. Apenas as achou muito confiantes, não seria surpresa se um dia fracassassem por seu orgulho exacerbado.

— NOS FACILE PELTAS!! - proclamaram num impecável uníssono.

Os Ladinos de Hermes eram sorridentes e um pouco desleixados, mas aquilo mais parecia uma fachada. Não pareciam muito confiáveis, seus sorrisos eram dúbios, mas pareciam absurdamente fiéis à sua causa.

— TUO VESTIGIA, MEA AURUM!! — cantaram alegremente, de todos eram os mais animados.

Os Marinas de Poseidon não expressavam nada além de seriedade e, assim como seu deus, não pareciam felizes com toda aquela exibição. Estarem longe de casa, longe do vasto oceano, podia muito bem ser a razão de sua raiva e postura defensiva, mas algo lhe dizia que o ódio era por Zeus e não pela situação.

— ORAMQUE MARIS, MARE PERDUCIT!! - exaltaram com a pouca alegria que conseguiam demonstrar.

Vieram os Pastores de Deméter, humildes de tudo, até de voz se fosse prestar atenção, em nada se comparava aos urros e brados dos demais. Mas aquilo certamente era uma doce fachada, aqueles homens e mulheres eram muito mais capazes do que deixavam aparentar.

 MULTA SECUM HABUIT!! - clamaram respeitosos, quase uma alegre oração.

Os Querubins de Afrodite eram sem dúvida os homens e mulheres mais lindos que já tinha visto em toda sua existência, a beleza não tinha par e nem descrição que se aproximasse de sua perfeição. Mas toda rosa possuía espinhos e aquelas certamente eram venenosas.

— AMOR NON HABET MODUM!! - fervoroso foi o brado dos apaixonados guerreiros, tão devotos quanto um amante à amada ou amado.

Esplendorosos eram os Músicos de Apolo, perdendo em beleza para seus antecessores, mas habilidosos como nenhum outro jamais seria. O sorriso largo e jocoso, sedutores em seus atos, a língua de prata poderia seduzir a mais pura ninfa e a mais severa sacerdotisa.

— NIHIL MINUS, NIHIL AMPLIUS!! - proclamaram como um hino.

E então veio Athena e seu cortejo de Cavaleiros, ela não tinha generais, era seu próprio general. O tão falado Patriarca era seu braço esquerdo e a jovem deusa Nike era seu braço direito, seriam eles a ocupar o local dos generais enquanto sua deusa ocupava sozinha sua sacada. Teimosa e orgulhosa, respeitosa não  há dúvida, fazia o que queria, só ligava para justiça, imponente com certeza, sabia mais que tudo, os olhos de céu fechado já contavam tudo. Seu amor é perigoso, nunca o desafie, para ele não há perdão, já que para seu ódio há proteção.

— SAPIENTIA DIRIGIT!! - exaltaram os homens e mulheres com armaduras de ouro, prata e bronze; alguns nem tinham armadura tamanha era sua fé.

Por fim, vinha o maior dos cortejos, tanto em números quanto em poder. Logicamente os guerreiros do Imperador e Imperatriz dos deuses trabalhavam como um único exército, mas respondiam separadamente por conta de sua lealdade. Seus mestres eram soberanos, trabalhavam juntos em reflexo dessa união, mas uma falange responde apenas ao Imperador e a outra apenas à Imperatriz. Era uma forma quase justa de manter as brigas de casal aceitáveis.

A frente dos exércitos estavam lendas imortais, os favoritos liderando os respectivos guerreiros de seus deuses. Heracles, Sarpedão, Perseu e Aquiles lideravam os Heróis de Zeus, sendo a grande maioria filhos imortais do mesmo; Sarpedão ainda se prestou a saldar exclusivamente os juízes, que reviraram os olhos, mas retribuíram. Hebe, Éris, Ilitia e Ênio lideravam os Filhos de Hera, nenhum era filho da deusa, com exceção das suas líderes, mas ela tratava todos como uma mãe trata suas crianças.

Ambos os soberanos estavam trajados com suas armaduras, a diferença é que Hera estava parcialmente trajada com sua armadura enquanto Zeus estava de armadura completa.

— DOMUS AUTEM SPIRITU!! - clamaram os guerreiros que traziam as penas de pavão em suas armaduras.

— CAELUM EST SUPRA!! - bradaram os guerreiros que traziam as asas das águias, tão fortes e poderosos quanto os trovões.

Pensou que já tinha acabado, que agora viria a apresentação dos combatentes e a luta. Porém, os homens atrás de si invocaram suas armas e bateram contra escudos ou as próprias armaduras, gerando um som profundo e intimidador.

— MEMENTO MORI!! - responderam os Espectros de Hades, tão altivos e respeitoso quanto sua função sagrada exigia.

Viu pelo canto do olho que seu tridente parecia vibrar, se sentiu curiosa quanto aquilo, afinal ele nunca teve aquele tipo de reação e por isso o tocou, e quando tocou seu braço agiu praticamente sozinho, batendo duas vezes no chão com grande força. O bater do tridente silenciou tudo e todos, ao mesmo tempo o chão da arena parecia tremer em expectativa, aquele era o momento de declamar os desafiantes.

— Servindo ao Imperador do Reino dos Mortos! O desafiante! Radamanthys de Wyvern! Juiz das Almas do Oriente! - sentiu uma lufada de ar em suas costas, precisou inclusive segurar os cabelos para que não fosse para frente do rosto, logo viu o maior pousar no centro da arena. - Liderando deuses e deusas do Olimpo! O desafiado! Zeus Maximus! Imperador dos Deuses!

Viu o senhor dos deuses abrir as enormes asas de sua armadura e levantar voo para pousar, também, no centro da arena. Logo mais viu Athena parar entre os dois, olhando de um para o outro com atenção, parecia indecisa entre deixar aquela luta seguir e parar o que acontecia. Seu papel, segundo o que Hypnos tinha lhe dito, acabou naquele momento, a partir dali a situação seria inteiramente guiada pela deusa.

Seu peito parecia apertado, não estava conseguindo respirar direito, estava com medo e sentia uma imensa vontade de chorar, não lembrava ao certo a última vez que se sentiu tão desesperada.

— Pandora. - ouviu uma voz feminina ao seu lado, quando olhou viu a deusa das estações e senhora dos mortos. - Não se ajoelhe, por favor. Fique calma, Radamanthys luta por você. Ele precisa da sua força para ter força, sem você ele não conseguirá vencer.

— Minha senhora... - sua voz possuía um tom choroso, por isso teve as mãos seguradas com ternura. - Zeus vai matá-lo…

— Zeus vai ter que pará-lo primeiro. - respondeu com um sorriso doce. - Ser profundamente amado por alguém nos dá força, amar alguém profundamente nos dá coragem. Ele lhe apresentou o amor, Pandora. E por isso ele vai vencer. Tenha fé nele, fique aqui, mostre que o ama ficando aqui, ele vai vencer.

A moça respirou fundo tentando se controlar ao máximo, respirou fundo algumas vezes antes de voltar a atenção para a arena; sua senhora ficou, sabia que precisava ficar para que a moça não sucumbisse ao desespero.

A deusa da justiça apenas estabeleceu uma distância inicial entre os homens, ela estava evitando provocações e agressões, conhecia os homens ali presentes, sabia que qualquer coisa era o bastante para iniciar um combate até a morte movido por raiva. Ela ficou entre os dois no centro da arena e prosseguiu com as “cerimônias” exigidas, tanta demora estava enlouquecendo a moça.

— Radamanthys de Wyvern. Qual suas exigências em vitória? - a voz da deusa reboou pela arena, ela olhava diretamente para o juiz.

— A liberdade incondicional de Pandora. O respeito para com suas escolhas e decisões. E principalmente, a total e absoluta imunidade dela em relação à vontade dos demais deuses. - respondeu com os olhos presos em cada movimento e respirar do pai.

— Zeus Maximus. Qual suas exigências em vitória? - sua voz continuava severa, ela olhava diretamente para o deus.

— O retorno da deusa olimpiana, Pandora, para sua verdadeira casa. - respondeu sorrindo, uma resposta dúbia como aquela lhe dava vantagens e o benefício da dúvida da esposa.

A deusa deu um tempo de espera para ver se um dos lados pediria algo mais ou mudaria o que tinha exigido. Ela então pegou sua lança e a fincou no meio da arena, o corte se estendeu até os dois homens e os circundou com uma luz dourada, aquilo era puro cosmo e causava arrepio em todos os presentes, chegando a causar espasmos musculares nos dois homens na arena.

 O Jugo da Espada é um julgamento, o que for decidido deve ser respeitado acima de tudo! - declarou em tom firme. - Caso a decisão não seja atendida, o desrespeitoso será sujeito à maldição irrevogável da Esfola! Minha espada pesará para o lado do justo, então sejam honestos em sua luta e exigências!

O gato se transformou em menino e voltou para o chão, se escondendo atrás da saia das duas mulheres, ele não queria ver e nem pensar no desenrolar daquela situação. Ele sentou no chão e ficou quietinho brincando com a própria roupa, iria fazer o máximo para ignorar o que acontecia.

Nenhum dos dois falou nada ou se manifestou de forma diferente, a deusa então forçou sua lança no chão, gerando um pulso que os desequilibrou brevemente e depois retirou a lança. Ela se afastou, voltando para sua própria sacada e, assim como todos os presentes, se debruçou em seu parapeito para assistir. Um silêncio medonho tinha se instalado naquela arena, o tempo parecia não passar nunca.


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Notas finais do capítulo

Tá tão sequinho comparado ao original, mesmo assim, espero que gostem :)
Essas notas vão ser grandes, mas como sempre, informação extra. Se quiserem, podem pular na completa paz ;D

Tradução dos juramentos, coloquei todos em latim por conta do juramente dos espectros ser uma frase originalmente romana, logo, está em latim.

Zeus - Caelum est supra. O céu está acima.
Hera - Domus autem spiritu. Família é espírito.
Apolo - Nihil minus, nihil amplius. Nada de menos, nada de mais.
Ártemis - Nos facilite peltas. Somos alvos fáceis.
Hephaestus - Noli timere fabros flammis. Ferreiros não temem faíscas.
Athena - Sapientia dirigit. A sabedoria nos guia.
Hermes - Tuo restigia, mea aurum. Teus passos, meu ouro.
Demetre - Multa secum habuit. A falta trás fartura.
Poseidon - Oramque maris, mare perducit. O mar tira, o mar trás.
Dioniso - Diu vivere, vive bene. Viva muito, vica bem.
Afrodite - Amor non habet modum. Amor não tem medida.
Ares - Format bellum nobis. A guerra nos molda.
Hades - Memento mori. Lembre da morte. Lembre-se de que você irá morrer. Lembre-se de que você pode morrer.

Para os curiosos:

1. As Ilhas dos Abençoados seriam o mais alto nível do Paraíso grego (Elísios), para chegar lá você tinha que ter vivido plenamente quatro vezes e ter habitado os Elísios três vezes.

2. Na cultura celta os gatos tinham nove vidas (sete, depende do lugar) porque eram o tanto de vezes que eles fugiam da morte. Para os celtas os gatos sentiam a morte vindo e então eles fugiam, cada fuga era uma nova vida que custava os sentidos do gato, até o ponto que eles não conseguiam mais sentir a morte chegando e então morriam de fato. O medo do Cheshire do Thanatos é uma referência a essa mitologia.

3. Netos de Tróia se deve a lenda criada pelos próprios romanos de que eles eram descendentes dos poucos troianos que escaparam da famosa Guerra de Tróia, mas isso era uma mentira criada pelos romanos apenas para dizer que eles eram descendentes de um povo humilhado pelos gregos, que na época eram subjugados pelos romanos. Meio que um "somos melhores que vocês, vencemos vocês, a justiça tarda mas não falha".

4. Ariadne, a princesa cretense que acenou para Minos é filha do mesmo com sua esposa, ela também é meia-irmã (por assim dizer) do monstro Minotauro. Quando jovem ela se apaixonou por Teseu e o ajudou a matar o monstro e, principalmente, sair do labirinto, mas este a abandonou. Nesse momento em que foi deixada, ela conheceu Dioniso e este se apaixonou perdidamente por ela, a tornando sua esposa e consorte pouco depois. OBS. Centauros, sátiros, ninfas, eram todos fiéis seguidores de Dioniso, por isso os coloquei como guardas.

5. Espínter, literalmente, nasceu de uma fagulha enquanto Hephaestus trabalhava em sua forja; sujo, pequeno e indefeso, o deus pegou a estranha criança para criar como seu filho.

6. Erictônio é filho de Hephaestus com Athena, porém foi gerado por Gaia. Hephaestus estava apaixonado por Athena, que era a única que lhe tratava com respeito, porém ele não sabia se comportar muito bem e nem interagir, então ele tentou obrigar a moça a ficar com ele. A deusa escapou e então percebeu que tinha sêmen do deus em sua perna, irritada e constrangida com a situação ela limpou a perna com nojo e deixou a "semente" com parte da sua pele cair na Terra (Gaia). A deusa primordial então teve uma gestação rápida e quase instantaneamente entregou um bebê, Erictônio, à Athena. A deusa o criou até a vida adulta como seu filho, mas ele logo se juntou à Hephaestus para ajudá-lo em sua forja, segundo o mito ele afirmou "metade de minha vida passarei com minha mãe e a outra metade de minha vida passarei com meu pai".

7. Sarpedão é irmão direto de Minos e Radamanthys. Europa teve três filhos homens com Zeus e é bem comum os fãs de Saint Seiya acharem que o terceiro filho era Aiacos, mas não, este era filho de uma ninfa chamada Egina (como dito em capítulos anteriores). Inclusive Aquiles, que é citado depois de Sarpedão, é neto de Aiacos. E Heracles (Hércules), um dos mais famosos filhos de Zeus, era bisneto de Perseu, que também é filho de Zeus. Os deuses, como podem ver, faziam tudo em família, apesar dessa parte dos exércitos serem criação minha.

8. Hebe era deusa da juventude, Éris era deusa da discórdia, Ilítia era deusa do parto e Ênio era uma deusa menor da guerra, as quatro eram irmãs de Ares e Hephaestus. No caso de Ênio, há mitos em que ela é amante de Ares ou sua esposa-irmã, e mitos em que ela era apenas uma companheira de batalha.

9. Esfola era uma tortura muito agradável em que o torturador tirava tiras e tiras de pele da pessoa, como se faz com animais após a caça. As pessoas eventualmente morriam pela perda de sangue, mas sofriam muito por ter seu coro, literalmente, arrancado. No caso de seres imortais como eles, a pele iria se regenerar rapidamente, então essa é uma tortura que duraria a eternidade.



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