Pandora escrita por Virgo
Notas iniciais do capítulo
Este capítulo tem 200 palavras a mais que os dois anteriores, tô contando porque tô com medo de chegar no 5 mil.
Entenda meu ponto, meu planejamento é para uma história fechada, se eu for expandir vou atirar no meu próprio e amado pézinho ;-;
Suspirou revoltado com o próprio comportamento, agora que estava esperando a audiência com o Imperador nada adiantava ficar pensando argumentos para uma conversa que já tinha passado.
Simplesmente não sabia o que se passava pela própria cabeça, talvez o menino que um dia foi estava comandando seus gestos e palavras. Sentia algo indescritível e sem motivo toda vez que olhava para moça, o mesmo sentimento que teve ainda menino quando a viu pela primeira vez, talvez, quem sabe, fosse mais um azarado nas peripécias de querubins desocupados.
A mulher ao seu lado era fascinante como nenhuma outra.
Ela soltou um riso com a conversa que tiveram horas antes, chegou a fechar os olhos como se negasse a inocência ou a ignorância do outro. Era um pouco difícil acreditar em algo como aquilo em sua condição de prisioneira.
— Você deve estar brincando. - zombou erguendo as mãos e balançando as correntes do pulso. - Apenas olhe para mim. Você realmente acha que esta é uma vida melhor?
— Desculpe-me por isso. Mas sabia que você não viria aqui por vontade própria. - respondeu se afastando um pouco com um sorriso debochado, estudando a situação.
— De qualquer forma você tem minha gratidão. - completou a moça com um suspiro cansado. - Pelo menos, a cela em que você me colocou é maior do que a câmara onde me deixaram escondida.
O homem, sem mais nem menos abraçou a mulher e a puxou para mais perto de seu corpo, segurando atrás de seu pescoço com ambas as mãos.
— Não se mexa. - a voz rouca em seu ouvido causou arrepios.
A moça deixou um soluço escapar, externalizando o medo que tinha escondido bem dentro de si. Sabia que aquilo podia acontecer há qualquer momento e era apenas uma questão de tempo, mas ainda sim foi surpreendida e por isso fechou os olhos com força, na falsa esperança de que isso fosse aliviar a dor de alguma forma.
— Seja gentil… - pediu num fio de voz.
A falta de ação a fez abrir os olhos poucos segundos depois, podendo ouvir um pequeno clique e logo viu o maior se afastar com a coleira que prendia seu pescoço nas mãos.
— O que?...
— Você fala como se a liberdade fosse tudo o que você precisasse para deixar de ser tão miserável. - respondeu jogando as correntes longe e fazendo a moça levantar ao puxar as correntes que ainda prendiam as mãos. - Depois de liberar suas mãos, você pode ir embora se quiser, inclusive, eu te levo. Mas não antes de responder a uma pergunta. Para onde você iria?
A moça travou com a questão, aquela era uma situação surreal, tão surreal que nunca a cogitou com um “e se” na frente. Seus olhos de repente ficaram vazios ao se obrigar a pensar numa resposta e seu rosto congelou em surpresa, seus músculos tinham relaxado e sua postura defensiva ficou frágil como um cristal.
— Quero falar com Hades…
E assim ele a libertou das correntes que faltavam e a deixou no quarto trancado para convocar a reunião com o Imperador, se a porta ficasse aberta alguns espectros poderiam não respeitar o status da moça e nem o seu status de juiz, ainda mais se fosse um dos subordinados malcriados dos irmãos. Sua prioridade era mantê-la em segurança até mesmo dos próprios aliados.
— Estou ficando frouxo… - resmungou consigo mesmo.
— Disse alguma coisa? - perguntou a moça ao seu lado.
— Controle o ímpeto. - desconversou sem dar grande importância.
As portas do salão logo se abriram, a reação do homem foi se ajoelhar com respeito na mesma hora, a mulher não reagiu, permaneceu esperando.
Logo saiu uma jovem de fios rubros e de beleza estonteante, ela conseguia ser mais bonita do que a morena, mas seria injusto comparar uma deusa com a mãe das mulheres mortais, naturalmente a beleza era diferente. E ela percebeu isso, pois parou e deu um sorriso gentil.
— Zeus é muito maldoso em suas artes. - comentou estudando o rosto fino da outra. - Sua lenda não chega nem aos pés de sua beleza, Pandora. E suponho que o mesmo se aplique às demais qualidades.
— Minha senhora… - baixou a cabeça lisonjeada, não é tudo dia que uma deusa a elogiava.
— Radamanthys. - agora era consigo, conhecia bem aquele tom risonho. - Pode se levantar. Aqui fora sou a sua irmã e não sua rainha.
— Sinto muito, minha senhora, mas enquanto Hades residir este lugar não posso lhe faltar com menos respeito. Mesmo que seja pedido. - respondeu ainda ajoelhado.
— Cuide dele, por favor. — o risinho já insinuava todo o necessário. - Podem entrar, meu marido os aguarda.
A mulher saiu e deixou os dois sozinhos para que pudessem falar com o senhor dos mortos.
— Aquela é Perséfone?! - agora que estavam distantes podia manifestar seu espanto.
— Esperava o que? Uma velha ranzinza? - a segurou gentilmente pelo braço e puxou para frente. - Vamos logo, meu senhor nunca gostou de esperar.
O deus estava sentado em seu trono, com uma das mãos apoiada em seu queixo e a outra fazendo um carinho na cabeça do meio do temível cão de três cabeças. O animal voltou a ficar alerta depois que os convidados entraram, sempre atento à todos que se aproximavam de seu mestre.
Eles se ajoelharam em respeito e o animal voltou a relaxar.
— Pandora, a Primeira Mulher e Portadora das Desgraças dos Homens. Por favor, levante. - a moça o obedeceu depois de alguns segundos. - Há muito tempo que queria falar com você, Pandora. Uma pobre criança abandonada à danação apenas porque seu propósito de enganar os homens já estava cumprido. Não foi acolhida por nenhum vivo, apenas maltratada e humilhada. Mas não aqui na Morada dos Mortos… Se quiser, você pode ter um lugar aqui.
O deus dos mortos tinha a alcunha de monstro, um demônio disfarçado de deus, mas a verdade era que ele era um homem justo e esse senso apavorava pois ele tinha a frieza necessária para julgar as almas. Ele não tinha compaixão à menos que merecesse muito.
O Imperador do Reino dos Mortos era um homem justo e de palavra, um líder que cativava e não oprimia.
— Senhor, com todo o respeito, mas por que minha vida seria melhor aqui do que entre os homens? - aquela mulher conseguia se colocar em perigo sozinha.
— Porque sou o único deus que lhe estendeu a mão. - ele não respondeu com irritação ou ameaça, respondeu apenas como se quisesse que ela enxergasse. - Pandora. Você orou por séculos, você rogava piedade e ninguém atendeu, mas eu a atendi. - se levantou e estendeu a mão para o lado, fazendo chamas negras apareceram no chão, consumindo a pedra em que se apoiava e gerando uma cratera de onde saiu um tridente negro. - Eu fui enganado, traído e abandonado por minha própria família. Você foi enganada, traída e abandonada pelos seus criadores, seus deuses. Vejo um pouco de mim em você e quero lhe estender a mão que nunca me foi estendida, ajudar a irmã que nunca tive. - apontou o cabo do tridente para moça, que se levantou e o pegou com leve temor. - Pandora, você é uma deusa. Se ficar, será a Deusa dos Caminhos da Morte, Senhora dos Sofreres, Mãe das Mulheres Mortais e Regente do Reino dos Mortos. Minha Mão Direita.
A moça olhava do deus para o tridente e do tridente para o deus, ela tremia com os ombros encolhidos e se controlava para não falar o que pensava, não estava acostumada a ganhar agrados sem ser cobrada.
E mesmo assim respirou fundo e endureceu a postura, voltando à imponencia de antes.
— Por que eu?
— Porque não? - rebateu voltando para o trono. - É digna como nenhum outro Pandora, o sofrimento lhe tornou mais sábia do que a própria Athena. Fique quanto tempo quiser e pode ir a hora que quiser também, estou aqui para lhe dar condições de andar sozinha. - olhou para o juiz atrás da mulher. - Além do que... Ser profundamente amado por alguém nos dá força, amar alguém profundamente nos dá coragem. Você nunca conheceu o amor, Pandora. E nesse mundo é preciso ter os três. - com um movimento as sombras cobriram o corpo da moça e se solidificaram em um vestido negro adornado com jóias e prata. - Ainda está tomando noção de sua força e nem todos ainda sabem quem você é, por isso vai ser escoltada por Radamanthys. Ele é seu guardião e o meu principal juiz, não tema gritar por sua ajuda, pois ele não exitará em matar pelo seu nome.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Tem dia que Zeus é um f**** d* p***, tem dia que Zeus é um cara legal. Zeus é uma mulher na TPM :)