Pandora escrita por Virgo


Capítulo 12
Orgulho e Ciclo


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo! Oh tristeza... :(
Queria ter escrito bem mais, porém, a ideia era para acabar assim mesmo - fazendo um link que explicasse como o Hades sempre reencarna no corpo da alma mais pura do mundo e porque a Pandora e Radamanthys não se lembram desse passado dos dois na obra original. Mas como vieram algumas ideias extras, o capítulo extra foi postado como parte da história, yey! =D
Agora vamos ao que interessa XD



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As ações que os levaram àquele ponto foram calculadas, o fato de haver um óbvio planejamento prévio era enfurecedor e mais doloroso do que aparentava.

A grande maioria dos homens faz um pequeno círculo ao redor de si e nesse círculo ele coloca sua mulher e seus filhos. Outros homens fazem um círculo um pouco maior e nele colocam mulher e filhos, amigos e parentes. Alguns homens fazem um círculo maior e nele colocam todos aqueles que o cercam, de seu núcleo mais íntimo até seu esterno mais companheiro e conhecido. E pouquíssimos homens fazem um círculo tão grande que cabe o mundo dentro dele.

Reconhecia com grande orgulho que seu Imperador era um dos “pouquíssimos homens”, mas também sabia que essa qualidade trazia uma dor e responsabilidade muito maior que as demais. Sabia que naquele momento, mais do que nunca, sua dor era por todos.

— Aiacos de Garuda. Juiz das Almas do Ocidente. - o homem se ajoelhou com a mão em punho sobre o peito enfaixado, seus olhos estavam vazios e cansados. - Compareço e presto meus serviços.

— Minos de Griffon. Juiz Defensor das Almas. - teve mais dificuldade para se ajoelhar, os ferimentos ainda eram muito recentes e por vezes complicam sua respiração. - Compareço e presto meus serviços.

— Radamanthys de Wyvern. Juiz das Almas do Oriente. - precisou de ajuda para se ajoelhar, seu senso de equilíbrio ainda estava afetado. - Compareço e presto meus serviços.

— Pandora. Regente do Reino dos Mortos, Deusa dos Caminhos da Morte, Senhora dos Sofreres e Mãe das Mulheres Mortais. - não estava podendo se ajoelhar, tinha perdido muito sangue e seus ferimentos internos continuavam ardendo. - Compareço e presto meus serviços.

Os deuses gêmeos ladeavam seu Imperador com expressões fechadas e cansadas, eles podiam ser a última linha de defesa do submundo, mas sem dúvida eles foram os que mais lutaram e se feriram. O Sono precisava se apoiar em uma muleta, parecia que iria desmaiar quando menos esperassem, mas se mantinha firme e o mais reto possível. O Morte estava com um braço em repouso e metade do rosto estava enfaixado, mesmo assim o sangue dourado despontava nas bandagens. Eles estavam enfurecidos e suas posturas, apesar de sofredoras, eram de ameaça e sede de sangue.

Ao lado do trono também estava o temido Cérbero, agora diminuído à um cãozinho assustado com a pata machucada. Pobre animal, o osso demoraria para fundir novamente e, mesmo depois que estivesse curado, a dor incomoda nunca desapareceria.

Mas o pior de todos era o deus maior com sua expressão vazia e olhos flamejantes, nunca viu tanto ódio, tristeza e revolta num só olhar. Ele tinha um ou outro hematoma, apesar de ter sido um dos que mais lutou, ainda haviam alguns cortes e escoriações; o ferimento mais grave que tinha era um corte vertical e profundo em seu ombro, ele estava enfaixado e medicado para que o deus não corresse riscos. Ele não falava nada desde o ataque, faziam três dias que seu cosmo queimava ódio e vingança.

— Eu os convoquei aqui porque estou farto de me esconder nas sombras, estou farto de ser apenas uma voz, estou farto de brincarem com nossas vidas como se fossemos meros peões. - sua voz aparentava calma, mas o timbre estava visivelmente alterado. - Minha rainha e meu primogênito foram mortos. Alguns de nós perderam pessoas amadas. Metade de nossos companheiros pereceram na defesa de nosso lar. Nossas cidades foram destruídas por guerra e ganância de outros deuses. O Olimpo finalmente mostrou sua face bestial e a primeira coisa que fez foi nos morder. - o deus respirou fundo e mirou os presentes com amargura, sua voz ficou mais profundo e ameaçadora. - Vamos à guerra. Vamos conquistar nossa vingança. Vamos fazer o Olimpo amargar suas escolhas egoístas.

A moça sentiu seu lábio tremer, o ódio e tristeza tomava seu coração com força, os olhos ardiam no momento que colocou a mão sobre o ventre vazio. Os olhos do cônjuge faiscavam vermelho e seu bafo quente criava vapor, via que os irmãos do mesmo também estavam com os olhos brilhantes, um deles espirava pequenas brasas e o outro se remexia de forma estranha, como se estivesse preso por cordas. Todos queriam a retaliação, todos sentiam ódio, mas ela queria mostrar como o amor de uma mãe podia ser perigoso.

— Memento Mori! - respondeu antes de qualquer um, a voz abalada e carregada com a dor da perda.

— Memento Mori! - responderam os juízes com as vozes igualmente carregadas.

O deus gesticulou para que eles se levantassem, precisava explicar a estratégia que adotariam dali por diante, podiam não destruir aqueles que os feriram, mas certamente deixariam suas marcas neles. Eles fariam seus algozes lembrarem da morte, lembrarem que dela não há fuga e nem lugares para se esconder ou rezas que a afaste.

A ordem era que encarnassem em corpos e famílias mortais, depois disso precisavam despertar sua essência milenar aos poucos para que a mente não fosse destruída, dessa forma poderiam preparar a chegada do senhor dos mortos e dos demais espectros. A necessidade de um corpo mortal se devia à necessidade de evitar perdas, um corpo mortal protegeria suas almas e assim poderiam voltar infinitas vezes; e enquanto não estivessem encarnados estariam seguindo com suas funções e preparando o próximo ataque. A guerra e aniquilação dos deuses olimpianos era uma questão de tempo e preparação.

O único empecilho era o de arrumar um corpo para o senhor dos mortos, ele era um deus maior e não qualquer deus maior, ele era um d’Os Três Grandes, nenhum corpo mortal aguentaria sua tentativa de encarnação. E isso se aplicava tanto ao corpo do infante quanto ao corpo da pobre mulher que o gerasse, o poder do deus simplesmente os destruiria.

— MEU SENHOR!! - a voz irrompeu no grande salão quase em desespero.

— HADEC…!!! - outra voz desesperada travou no mesmo lugar.

Um dos rapazes, o mais velho, estava com as mãos tesas na frente do rosto, ele apertava os lábios e tinha as bochechas estufadas. O tempo e idade fizeram bem à beleza do jovem Cat Sith, também fizeram bem ao seu poder, tinha ganho a própria armadura e status de subordinado direto de sua deusa; porém, no momento ele era o guardião do bem mais precioso de seus mestres. E, no caso, o bem mais precioso de seus mestres era o outro rapaz, ajoelhado perante os deuses e juízes; ele era a fusão perfeita de seus pais em intelecto e físico, os cabelos negros de corvo e os olhos dourados de ikhor. A alma mais pura já nascida, seu cosmo resplandecia nos confins mais obscuros do submundo e nada de ruim conseguia atingi-lo, um deus menor de grande poder sem sombra de dúvida.

— Hadecles. - o pai o chamou em tom neutro, mas já sentia a bronca em cada sílaba, não tinha o mínimo direito de estar ali.

— Por favor, meu senhor! - não ousava levantar o rosto. - Por favor, eu imploro! Ouça o que tenho a dizer!

— Hadecles. - agora era sua mãe quem o repreendia. - Volte com Cheshire, agora.

— Por favor! - se rebaixou ainda mais. - Eu quero lutar! Era o meu irmão! Era o meu príncipe e amigo! Era minha rainha e senhora! Eram meus irmãos de armas! Eu quero lutar! Por favor! Eu imploro, meu senhor! Eu imploro!

— HADECLES!! - o pai foi até si e o obrigou a levantar pelo braço, precisou segurar o ganido porque o pai em nada sabia dosar sua força.

— Radamanthys. - por fim o deus interveio, o rapaz parecia tão determinado, não custava nada ouvir o que ele tinha a dizer. - Deixe-o falar. Ele é filho de Pandora, tem a inteligência de Athena e a engenhosidade de Hephaestus em seu sangue. Com certeza o que ele trás e digno de ser ouvido.

O juiz respirou fundo e soltou o rapaz, não tinha coragem de olhar, sabia que no momento que o senhor dos mortos dava voz não tinha mais como voltar atrás, agora podia perder mais um filho para as garras dos deuses olimpianos. Conhecia plenamente as capacidades do rapaz, o treinou e cuidou com todo seu ser por todos os anos de sua vida, mas não era capaz de confiar naquele momento de perdas recentes.

Ele se afastou, indo para o lado da moça e esperou com a cabeça baixa, naquele momento estava concentrado em controlar sua dor. Sua mão tocou o ventre ferido da mulher, já estavam suportando tanta dor, não sabia se seriam capazes de suportar mais.

 Diga, Hadecles. - pediu o deus com alguma tristeza, o peito enfaixado do rapaz evidenciava como ele se doou mesmo não precisando. - Irei ouví-lo com atenção, você nunca decepcionou. Mas saiba que você é a única pessoa que permito declinar desta convocação.

— Não desejo declinar. - respondeu com uma negativa afoita, um gato negro se esfregava em suas pernas pedindo que desistisse ali. - Meu senhor, eu nasci sem um propósito para o equilíbrio da vida e da morte. Minha existência não me permite usar uma armadura negra pois esta se romperia com meu poder, mas também não posso usar uma armadura divina pois não sou um deus. E apesar disso, meus pais me glorificaram ao senhor. Hadecles, Glória de Hades. Um nome forte para alguém sem propósito, porém, as Moiras não dão ponto sem nó! - conforme ele se animava para explicar, mais entendível ele se tornava. - Eu apenas existia, um ser divino mortal, mas depois de muito pensar eu entendi, entendi que eu sou uma alma pura! A alma dentre todas as almas! Meu senhor, isso me torna a única criatura capaz de trazer o senhor ao mundo dos homens!

— Explique. - pediu o deus interessado em sua linha de raciocínio.

O gato se afastou de suas pernas e foi para o lado da moça, voltando a forma humana e murmurando pedidos chorosos de perdão. O rapaz tinha uma personalidade forte e muito perspicaz, o senhor dos mortos gostava muito dele e sempre apoiou que ele andasse junto de seu herdeiro.

— Meu senhor, eu preciso encarnar! - procurou ser o mais claro possível. - A minha matéria é a única capaz de criar um corpo físico que seja capaz de suportar a sua matéria! O seu cosmo! Eu sou a alma mais pura já nascida! Meu pai é filho de um d’Os Três Grandes! Minha mãe é uma deusa! E mesmo assim me restou um pouco da mortalidade de Europa! Esse é o elo que me permite criar um corpo forte! Um corpo que aguente o cosmo de um deus como o senhor!

 E depois do corpo forte, o que viria? — a genialidade do rapaz era assombrosa. - Não se esqueça que eu preciso encarnar.

— Eu cederei o corpo ao senhor! - respondeu imediatamente, tinha pensado em tudo antes de invadir a reunião. - Uma mãe reconhece o choro de seu filho mesmo entre mil crianças. Minha mãe deve ser responsável por portar  sua essência no reino dos homens, meu senhor. Minha mãe então deve me encontrar, nesse momento o senhor deve se fixar ao corpo e eu devo ficar em segundo plano, adormecido. Nisso ela deve buscar os  juízes, eles serão nossa proteção e alicerces enquanto a invasão é planejada! - fez uma breve pausa, uma interjeição de raciocínio. - Mas precisamos de um catalisador, um caminho, alguma coisa que facilite o processo…

— Uma jóia, talvez. - se manifestou o Morte, atento à explicação mais do que tudo.

— Um selo. - completou o Sono igualmente atento. - Não é algo difícil de conseguir.

— Mas uma encarnação tão jovem, um corpo tão jovem, você não teria tempo de lembrar. - disse o senhor dos mortos o mirando. - Você precisaria de pelo menos vinte anos para começar a se lembrar de tudo o que estamos falando agora. Ou então um grande trauma, algum encontro, alguma coisa que o impacte de alguma forma e o desperte.

— Minha ideia é que eu não vá precisar muito tempo, quanto mais cedo o senhor tomar posse melhor, principalmente porque o senhor vai precisar se habituar com o corpo mortal. - volveu o rapaz, dedicando um tempo para explicar o quão difícil poderia ser a adaptação. - Eu estou decidido, meu senhor. Eu quero lutar, da forma que posso, pelo que acho certo. Eu quero ajudar em nossa causa, quero dar paz à minha rainha, ao meu príncipe Zagreus, ao meu irmão nunca nascido e aos meus irmãos de armas… Por favor, meu senhor, eu quero lutar.

O rapaz abaixou a cabeça e esperou o julgamento do deus, seus argumentos tinham terminado ali e tudo agora dependia do que o imortal pensasse ser melhor.

Ele só queria poder dar justiça aos que se foram, esse era seu maior desejo naquele momento.

Ansiava que o irmãozinho tivesse justiça, a mãe tinha sido covardemente atacada pelo senhor dos mares, foi tão maltratada que o irmão morreu antes que pudesse sair do ventre e isso quase matou a mãe também; chegou-se ao ponto que a bondosa deusa lunar precisou abrir a barriga da moça para retirar o natimorto.

Queria justiça para seu príncipe e melhor amigo, que, apesar dos esforços do grandioso deus sol, não conseguiu se esconder e nem fugir, sendo despedaçado ainda vivo pelos servos do deus do vinho e a deusa da sabedoria, que acompanhou a caçada, não fez nada para aliviar sua dor e ainda permitiu o canibalismo de sua carne. Eles profanaram o corpo de um príncipe, o crime de canibalismo já seria hediondo por si só, mas agora ele foi cometido contra um príncipe herdeiro; um desrespeito como aquele não tinha precedentes e nem castigo que o equivalesse - mesmo que estranhamente Zeus a tenha banido para o mundo dos homens algum tempo depois.

Desejava justiça para sua rainha, decapitada por traição e rebeldia pelo próprio senhor do deuses; ela foi chorar a perda do filho nos braços da mãe e esta a entregou para destruição, mesmo com o deus ferreiro tentando auxiliar em sua fuga, ela foi pega e levada para um julgamento injusto. A senhora dos deuses ainda fez questão de anunciar as acusações injustas e decretar sua sentença, a deusa ainda assumiu descaradamente que foi ela quem ordenou a morte do príncipe.

Daria justiça aos irmãos de armas, todos guerreiros fortes, vencidos pelos números da deusa da beleza, a ardilosidade do deus dos ladrões e os golpes injustos do deus da guerra. Estava determinado a ir atrás de cada assassino e os faria pagar pela falta de honra.

Ele queria lutar, maior do que a tristeza de não ter vencido, era a vergonha de não lutar. Para ele a vida agora só tinha sentido se lutasse.

— Pois bem, Hadecles… - disse o deus com um suspiro culpado. - Você tem sua chance de lutar. Seja bem-vindo às falanges de seu pai, rapaz. Agora você é a Estrela Celeste da Pureza. Meu vínculo com o mundo mortal, eu sinto muito.

— Não sinta. - respondeu o rapaz com um sorriso, sentia como se o mundo tivesse se iluminado de alguma forma. - Agora posso dizer que tenho propósito.

Naquele momento os pais simplesmente não aguentaram, não eram dados à demonstrações públicas de carinho, mas naquele caso o desespero e medo falavam muito mais alto. A mãe o abraçou forte, o abraçou como sempre o fez quando o colocava para dormir na infância, ela tremia e soluçava com o filho em seu peito. O pai também os abraçou, ele era o mais silencioso, mas era o que mais aplicou força naquele abraço.

— Não... Meu filho... - ela beijava seu rosto e cabelo, juntando a testa com a do rapaz em profunda dor. - Por favor, não... Eu não quero te perder... Eu não quero...

— Mãe… - a afastou com cuidado, sorria feliz e secou as lágrimas da matriarca com carinho. - Não vai me perder. Vai se orgulhar. Desde que eu continue lutando por alguém querido, tal como o pai lutou por você, mãe, eu estarei no caminho certo.

Assim como a Oráculo lhe disse tantos séculos antes, seu filho foi a desgraça do Olimpo sem uma sina, ele destruiu tudo o que encontrou em seu caminho nas primeiras guerras, estando dividindo o corpo com o senhor dos mortos ou não. Os únicos deuses poupados foram os que tentaram ajudar, os demais foram caçados até a destruição, selamento ou retirada completa.

A única deusa que escapou da caçada foi Athena, esperta o bastante para se esconder ainda mais entre os mortais e organizar suas forças para guerrear contra as falanges do submundo. Ela sempre conseguia freá-los, mas nunca derrotar em definitivo. O ódio de Hades passou a se estender para a humanidade, eles sempre atrapalhavam por ajudar e esconder Athena, e ainda começaram a corromper Hadecles, que a cada encarnação se via mais e mais encantado com os humanos.

A humanidade estava sim cheia de defeitos, muitos causados por Pandora ao abrir sua ânfora, mas eles tinham qualidades que os afastava dos defeitos, alguns deles eram sim pessoas dignas da admiração e carinho de um deus como Hadecles. E nesse momento de encanto a batalha começou a se concentrar, em parte, no lado que o rapaz escolheria, mais de uma vez ele se colocou ao lado de Athena para defender os humanos, chegando ao ponto de vestir uma armadura dourada, e mais de uma vez ele ficou ao lado dos seus para destruir a deusa que permitiu a morte do príncipe Zagreus.

Com os anos o objetivo se tornou primeiro a completa e total aniquilação da humanidade como estava e depois a destruição de Athena, nesse momento, em que a justiça teria sido cobrada, eles poderiam reconstruir o mundo com o equilíbrio que ele sempre teve antes de Zeus achar divertido matar inocentes.

Mas antes de tudo isso, era preciso garantir o apoio de Hadecles em suas tantas encarnações. Independente do resultado, o importante era ele lutar por alguém querido, só assim o recebiam com orgulho ao retornar.

— Okaasan… - o menino puxava a saia de sua mãe. - Quem é aquela?

Estava numa grande festa com os pais, festa essa proporcionada por um milionário japonês em seu salão pessoal de artes. A mãe grávida de seu irmãozinho transmitia toda a alegria do mundo e nunca soltava sua pequena mão, muitas pessoas a cumprimentavam e elogiavam sua beleza, também elogiavam a menininha e o vestidinho roxo cheio de laços e fitas. Mas de tudo o que podia lhe chamar atenção naquele lugar, a mãe grávida com seu filho, ambos do outro lado do salão, era o que mais lhe chamava a atenção.

— Aquela é a Mãe de Todas as Mulheres e Portadora das Desgraças Humanas, a Primeira Mulher, Pandora. - explicou com a voz carregada de carinho. - Ela sofreu muito, mas somente o senhor dos mortos, Hades, lhe mostrou piedade.

— O que ela fez de errado?

— Foi curiosa. - respondeu a mãe fazendo carinho na barriga. - Em suma, não fez nada de errado. Mas acharam que ela fez, por isso ela foi muito castiga.

— Feio! - resmungou o menino fazendo careta. - Não podemos fazer maldades com ninguém. Está ouvindo, Shun?

— Shun… - chamou baixinho pelo nome diferente e estranhamente marcante.

— Pandora. - a mãe a chamou com um sorriso, indicando um homem gordo e um menino loiro de monocelha. - Este é o senhor Graves, amigo da mamãe e do papai. E este rapazinho elegante é o filho dele. Porque vocês dois não vão brincar um pouco no jardim?

O menino recebeu um toquinho nas costas do pai e andou para frente, indo até a menina com o rosto mais vermelho que uma pimenta.

— Pandora Heinstein. - disse estendendo sua mãozinha, tal como o pai ensinou que devia cumprimentar os outros.

— Radamanto Graves. - o menino apertou sua mão de volta, ainda muito vermelho e desviando um pouco o olhar. - Quer brincar comigo? Prometo que vou cuidar de você, é minha responsabilidade agora.

A menina concordou e como forma de selar aquele acordo, o menino segurou seu rosto e beijou demoradamente sua testa. Logo em seguida a segurou pela mão e guiou até os jardins para brincarem, deixando os sorridentes pais para trás, esperançosos de uma possível aliança familiar.

— Radamanto! - chamou já mais longe dos adultos. - Já nos conhecemos?

Ele parou e a mirou com o rosto avermelhado, mas o olhar decidido e muito mais severo do que parecia perto dos adultos. Estranhamente ainda conseguia enxergar um pouco de carinho ali também.

— Sim. - respondeu com voz infantil. - Ou já esqueceu que uma vez minha mãe disse para eu não te encarar?

E assim mais um ciclo de encarnações se iniciava.


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Notas finais do capítulo

Como disse alguns capítulos atrás, Zagreus teria um final triste. Acontece que os deuses receberam uma previsão do Oráculo de Delphos, a previsão era de que Zagreus faria com o Monte Olimpo o que Zeus fez com o Monte Etna (lar dos titãs). Com medo desse futuro e não querendo deixar de ser rainha, Hera mandou a morte do rapaz, que foi perseguido, morto e canibalizado. Para mim foi uma boa explicação da revolta de Hades contra o Olimpo e Athena, principalmente.
Ademais, um pequeno link com o Saint Seiya Clássico e um pouco de romance juvenil e um Ikki que nunca pode faltar hihihi
Ademais, novamente, torço para encontrá-los novamente em outra fic (Asas de Ouro e Fora de Roteiro aqui vou eu!). E, por fim, espero que tenham gostado =)



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