Lembro do abraço.

Quando você me abraçou na chuva, formando a cena mais clichê do mundo, eu ri.

Você tinha 18 anos a dois meses e mal nos falamos depois do seu aniversário. Não entendi o motivo do penhasco que se formou entre nós, mas pensei em recriá-lo mais vezes apenas para te ver todo molhado na frente do meu curso de alemão.

Perguntei o que você estava fazendo e você apenas se desculpou gritando, como se a palavra estivesse presa em sua garganta.

A chuva era gelada e você quente. Seu abraço era molhado, mas extremamente confortável.

Não nos beijamos, embora eu quisesse muito, e eu não disse nada. Sentia que se abrisse a minha boca faria algo errado, então apenas aproveitei aquele raro momento entre nós.

Foi aí que eu percebi que você também queria me proteger de toda desgraça presente no mundo.

Eu ri depois de exatos 6 minutos parados na chuva sem se importar com nada ao nosso redor. Você riu junto e disse “eu sei, isso foi clichê”, eu apenas respondi que havia gostado do ato bobo.

Naquele começo de noite, eu caí de amores por nós dois ao notar que ficávamos tão bem juntos.