O Orgulho e a Soberba escrita por FlordaRelva


Capítulo 5
Cartas


Notas iniciais do capítulo

MDS! GENTE DESCULPA DE TODO O CORAÇÃO! FAZ UM TEMPÃO QUE NÃO POSTO NENHUM CAPÍTULO!
ESSE JÁ ESTAVA PRONTO HÁ SEMANAS MAS EU ESTAVA AINDA FINALIZANDO... DESCULPAS E BOA LEITURA!



Qualquer puxão de orelha é bem aceito! ksksksk



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*******

Julieta entrou na casa. Petúlia já estava posta ao pé da escada para atender a patroa. Ela tinha saído correndo para a sala quando escutou o barulho do carro. Queria mostrar a eficiência de seus serviços. Quando  viu a patroa encharcada e cheia de areia não pôde conter a curiosidade.

—Senhora! Mas o que aconteceu?

— Nada, apenas um pequeno incidente na cachoeira. Posso saber onde está Susana e os outros?_ perguntou Julieta estranhando o silêncio da casa.

Mesmo a patroa não matando sua curiosidade, Petúlia decidiu responder com prontidão.

—Susana está no quarto, mandou avisá-la que os documentos que a senhora aguardava já estão no escritório. Senhor Darcy e Charlotte foram de tarde para São Paulo. Lorde Williamson está dormindo.

Julieta assentiu. Estava feliz que não veriam o seu estado, assim não se estressaria com as perguntas curiosas dos mesmos.

—Suponho que já houve o jantar?_ disse ao ver a mesa já organizada.

—Sim, senhora! Porém, se quiser algo...

—Não, obrigada! _ Julieta já ia subindo as escadas quando interrompeu a dispensa_ Pensando bem, quero alguns sais de banho e uma garrafa de vinho!

Estava exausta. Quem sabe assim não relaxaria...

—Como a senhora desejar!_ respondeu Petúlia que prontamente foi realizar o pedido da madame.

Já no quarto Julieta guardou a arma em uma gaveta. Seu olhar sem querer foi ao espelho. Viu seu reflexo, estava mesmo uma bagunça. Lembrou dos beijos de Aurélio e automaticamente levou as mãos ao pescoço, como se lembrasse da sensação dos toques dele. Percebeu então que sorria. Conseguia sentir um por um os beijos. Pequenas carícias que arrepiavam sua pele.

Ainda não conseguia entender o porquê de ter rido tanto naquela lagoa. Estranhamente se sentia confiante junto dele. Há muito tempo não ria. Não assim, de maneira tão sincera. Era tão fácil Aurélio abaixar os seus escudos. 

A imagem de Aurélio na lagoa voltou a sua cabeça. Estava realmente cômico. O filho do Barão, sempre elegante e íntegro, cheio de areia e lama. Mesmo assim ele possuía charme, confessou.

O banho já estava preparado. A sensação ao entrar na água morna e perfumada não se assemelhava á nada a sensação que teve na água gelada da cachoeira. E mesmo que relutasse sabia a resposta, a banheira não podia lhe dar o mesmo abraço que Aurélio. Não podia aquecer sua pele e acariciar a sua alma. A água ricamente perfumada, não chegava aos pés daquela tão fria e embelezada pela lua. 

 Enquanto se banhava pensava na continuação que a conversa teria. As cartas não estavam todas postas na mesa. Em algum momento a Rainha teria que jogar . E quais seriam as consequências? Mordeu os lábios. 

Colocou uma camisola de seda. Decidiu beber uma taça de vinho. Amanhã o dia seria novo. Tudo que tinha acontecido seria esquecido junto com a noite.

Desceu as escadas e foi ao escritório, tinha muitos papéis para analisar.

*********

Quando Aurélio chegou ao hotel, o Barão já estava no quinto sono. Achou melhor não interrompê-lo, por isso decidiu que contaria sobre o emprego no dia seguinte.

Tomou um banho, lavou a roupa suja e se deitou na cama. Podia sentir ainda o cheiro de Julieta impregnado. Aquela fragrância inesquecível que só a mesma tinha. Lembrou do som da sua risada. Era uma música graciosa aos seus ouvidos. Poderia passar dias só vendo-a sorrir. Lembrou da sensação de abraça-la. Os braços pareciam ainda sentir a presença dela envolta.

Inerte em seus próprios pensamentos, pensou em várias coisas e assuntos. A paixão que sentia crescer pela mulher complexa que era a Rainha do Café. Ema que continuava magoada com ele. E a situação financeira da família.

Sentiu uma dor no peito ao lembrar das cartas que mandou a filha, porém sem respostas. Já sem aguentar olhar para o teto e sem conseguir dormir, foi até a gaveta. Lá achou os papéis antigos que conseguiu trazer da antiga casa.

No meio dos vários documentos, achou fotos de Ema quando criança. Sentiu a saudade doer. Lembrava do quão difícil era substituir a presença materna. A mãe de Ema morreu quando a mesma ainda era muito pequena. Ele e o pai então a enchiam de mimos. Vestidos, viagens, e festas para as amigas não lhe faltavam.

Ele se sentia orgulhoso da menina doce, gentil e inteligente que tinha criado. Sabia que tinha dado todo o amor possível. E o mais importante de tudo: que tinha lhe feito feliz.

Ao arrumar uma foto, viu uma carta antiga dos finados avós maternos da filha. Era de sua sogra. Mal se lembrava dessa correspondência, a data estava borrada. Provavelmente alguma lágrima de Ema borrou a tinta, ficou curioso e resolveu ler:

Caro Aurélio,
   Os momentos que meu marido e eu passamos com Ema foram extremamente agradáveis. Eu diria, na verdade, que foram inesquecíveis. Vejo que minha neta herdou muitos traços de minha filha. Não poderia ficar mais feliz. Ana continua viva! Ela está em todos os gestos da pequena Ema.
       Sei que nossa linda flor ainda está aprendendo a ler. Por isso, peço que leia devagar o último trecho dessa carta. Aproveito e lhe peço outros favores: que cante a música que ela tanto gosta ao seu pé do ouvido antes de dormir. E deixe que ela toque o piano até que doem os dedos! Não há coisa mais linda, e o senhor deve concordar, do que o riso da pequena.
      No último dia de Ema conosco, voltávamos de Ouro Preto. Muito provável ela lhe contou sobre as ruas e igrejas deslumbrantes que visitamos. O encanto foi tamanho, que lhe prometi uma viagem a Paris, com certeza ela irá se apaixonar pelo Arco do Triunfo!
         Porém, não foram as lojas ou as decorações as principais paixões. O que arrebatou-lhe o coração foi o chocolate. Cheguei ao ponto de pedir a receita á uma doceira. Trago a mesma detalhada junto dessa carta. Entregue à Marta e peça para que ela ensine a Ema. Creio que não haverá doce melhor do que o feito pela minha amada neta.
          Aqui está o último trecho, 
       Minha querida e pequena Ema, seu avô manda lhe dizer que já está com saudades. E que, se ele estivesse melhor, escreveria uma carta á próprio cunho, dizendo que lhe ama, e que tu és perfeita desde a ponta do pé até a cabeça. Em todos os detalhes você irradia luz. Ele me pede que lhe diga que já organizou o teu jardim, as rosas foram plantadas.
      Saiba minha neta, que o piano daqui de casa já foi concertado. Ele espera ansiosamente por suas delicadas mãos. Sobre ele está um envelope lacrado para você, dentro há uma frase que ambas já conhecemos: “Juntas em Paris”.
                                                                              Maria Valverde.

Virando a carta, achou a receita do preparo do chocolate. Se lembrava que Ema passou dois dias inteiros na cozinha tentando aprender. Queria que a avó ficasse orgulhosa. Realmente, Dona Maria estava certa, o doce de Ema era o melhor do mundo. Os olhos marejaram. Os pais de Ana eram um casal muito amável. Ajudaram no crescimento de Ema. Eram grandes amigos.

Analisou a receita. Tirando algumas etapas que pareciam complicadas, ele conseguia a entender. Uma esperança irradiou no coração de Aurélio. Iria preparar o chocolate preferido da filha e também lhe entregaria a carta de seus avós. Sabia o quanto ela sentia falta dos mesmos. Iria fazer isso, mas sem esperar o perdão de volta. Somente para fazer a filha sorrir.

Estava decidido, antes de ir para o trabalho iria na Casa de Chá. Teria uma conversa com Dona Agatha. Tentaria conseguir algumas aulas de confeitaria. Faria ele mesmo o presente de Ema.

*******

 

Dona Agatha mal abria a Casa de Chá quando foi surpreendida por Aurélio. Ele saltou do cavalo e segurando-o pela corda, a cumprimentou.

—Bom dia Agatha!

—Bom dia senhor Aurélio! Mas o que faz aqui tão cedo? Os pães ainda não estão prontos...

—Não, não é sobre isso_ Aurélio interrompeu sorrindo_ é que preciso da sua ajuda para uma coisa!

Agatha ficou surpresa. Com o que ajudaria o filho do Barão?
Eles conversaram. Bastou Aurélio falar que era um agrado que pretendia fazer á Ema para que Agatha aceitasse sem relutâncias. As aulas estavam marcadas, todas as quartas e quintas de noite.

Já com o objetivo atingido, foi até a fazenda dos Fagundes. Chegando lá, pediu á um empregado de confiança do senhor Augusto que levasse a bolsa de Julieta e uma carta até a mesma. Mesmo sem entender muito bem o porquê, o empregado aceitou a ordem e partiu até a propriedade da Rainha do Café.

Aurélio foi ao estábulo. Tinha muito trabalho a fazer.

**********
       Julieta mal conseguira dormir. Os pesadelos de Camilo a maltratando e Osório rindo do desprezo que o filho sentia por ela eram constantes. Mas logo depois deles surgia Aurélio. E então virava sonho e ela acordava.
      Levou calmamente a xícara de café até a boca. O gosto amargo da bebida não era tão amargo quanto o dos pesadelos. Lembrou então do que Aurélio tinha lhe dito na noite passada. Os olhos dele expressavam sinceridade. Sinceridade a qual ela não estava acostumada. Não no cruel mundo de negócios que ela tinha que sobreviver.

—Julieta, posso saber onde passou a tarde de ontem? Acredito que tenha chegado tarde...

Disse Susana sentando-se a mesa e acordando Julieta do transe em que estava.

— Fui até a cachoeira, precisava descansar um pouco.

Julieta mantinha o olhar fixo na xícara. Susana riu

—E pelo visto realmente descansou! Passou horas lá....

Julieta só agora reparava que realmente, ela e Aurélio ficaram horas na cachoeira. Como o tempo passou rápido sem que ela percebesse.

—Ao contrário!_ respondeu secamente_ Encontrei tudo menos descanso.

Estava prestes a se levantar da mesa para ir ao escritório quando foi surpreendida por Tião.

—Senhora, há uma entrega para você. O empregado do senhor Fagundes veio trazê-la.

Julieta ficou sem entender. O senhor Augusto tinha recusado qualquer negociação. O que iria receber?

— Por favor! Aonde ele está?_ disse fazendo sinal para que deixasse-o vir.

Tião concordou e trouxe o funcionário. Logo depois se retirou.

O empregado cumprimentou Julieta e Susana.

—Na verdade, não é uma entrega do senhor Augusto. É de Aurélio Cavalcante.

Julieta sentiu a cor se esvair da face. Qual era a encomenda que iria receber?

Susana olhava curiosa. Por que Aurélio Cavalcante entregaria algo para Julieta? Seria uma forma de recuperar as terras ou amenizar as relações?

Antes que o empregado retirasse algo da pequena mala, Julieta pediu que ele a acompanhasse até o escritório. Susana perguntou o motivo, já que não via necessidade. A rainha do café apenas se limitou a dizer que provavelmente se tratava de negócios então o mais prudente seria eles irem ao escritório.

—Não quero que se incomode Susana! Logo o Lorde Williamson irá descer para tomar café e tenho certeza que ele gostará de alguma companhia.

Susana acatou sem demora. Era inútil querer fazer a amiga mudar de ideia. E pensando bem, seria muito mais vantajoso ficar a sós com o Lorde. Logo agora que Darcy e Elisabeta estavam juntos de novo. Eles precisavam ter uma conversa.

—Por favor me acompanhe_ disse fazendo sinal para o empregado.

Quando ambos chegaram no escritório, o encarregado da entrega abriu a mala.

—Ele pediu para entregar-lhe essa bolsa junto com essa carta

—Carta?_ Julieta perguntou curiosa e se esquecendo completamente da outra entrega que o empregado trazia consigo.

—Sim, aqui está.

Julieta pegou receosa. Na sua mente passavam várias coisas. Sentia aflição de talvez o mensageiro ter lido. Sabe-se lá o que estaria escrito!

—E a sua bolsa, senhora_ disse entregando a pequena bolsa preta.

A rainha do Café olhava surpresa para a entrega. Aurélio tinha se dado o trabalho de procurá-la, e agora de devolvê-la.

Antes que o empregado saísse a Rainha do café o chamou.

—Posso saber o porquê de Aurélio ter lhe pedido isso? Vocês são amigos ou se conhecem....?_ perguntou fazendo pequenas gesticulações.
O funcionário sorriu negando.

—Não, ele está trabalhando pro senhor Augusto. Me pediu o favor de fazer a entrega. Acabamos de nos conhecer. E olha senhora, confesso que pensei que nunca uma pessoa como ele, que tem sangue real fosse pegar duro no batente. Mas, ele não para um segundo o trabalho!

Julieta estava surpresa. Não sabia que Aurélio estava trabalhando. Ele realmente estava tentando reerguer a família. A sinceridade era real. Sorriu ao imaginar Aurélio no campo, os olhos azuis dele contrastando com o verde das arvores.

—Se me permite, devo ir_ o empregado cumprimentou com o chapeú e partiu. 

Aproveitando que estava a sós, a rainha do café se sentou na poltrona. Colocou a bolsa em cima da mesa. A carta estava lhe implorando para ser lida. Pegou sem relutâncias. Os olhos corriam por cada frase enquanto o coração tentava sair de uma em uma.

Querida Julieta,

Creio que não seja mais necessário o termo senhora. Porém, não veria problemas em usá-lo de novo se isso for de sua vontade.

Ontem á noite, você correu de mim duas vezes. Na última, não me deu a chance de dizer-lhe adeus. Muito menos de entregar-lhe a bolsa. Gostaria muito de te encontrar e fazer a entrega pessoalmente. Porém, mesmo que eu esteja ocupado, em meu coração ainda há o som da sua risada. Enquanto em meus braços ainda há a sua fragância. E isso me deixa estranhamente feliz e satisfeito.

Julieta, espero que possamos retornar em breve a nossa conversa. Aquela que foi interrompida por um beijo. O nosso beijo. E que dessa vez, não tenha fugas nem esquivamentos.

Não pretendo ser petulante, arrogante ou qualquer um de seus vários atributos á minha pessoa. Desejo, acima de tudo, ser o homem que faça nublar teu raciocínio da mesma forma que a senhora nubla o meu coração.

Por favor, caso algum dia venhamos a nos encontrar de novo na cachoeira, não perca essa bolsa uma outra vez. Só Deus sabe o quão difícil foi encontrá-la.

                                                          Com todo respeito e afinco,
                                                                          Aurélio Cavalcante

Julieta ainda processava as palavras. Aurélio mais uma vez parecia querer descontrolar suas emoções. Reparou que em nenhum momento ele falara sobre o emprego. Sentiu uma pequena raiva brotar no peito. Se perguntava o motivo para ele querer esconder aquilo dela. Sim, esconder. Afinal, ele já tinha tido duas oportunidades para lhe falar sobre. Na cachoeira e na carta .

Bufou ao reler a saudação. Era mesmo uma afronta o não uso de "senhora". Mas teria realmente necessidade? Depois de tudo que passaram ela já estava incerta quanto a isso.

Passou com o dedo de novo na parte que Aurélio citava o beijo, desenhou círculos nas palavras. Sentiu um leve rubor ao relembrar o beijo.

Decidiu guardar a carta. Não teria coragem de queimar. Não.
        Deixaria que virasse um segredo. Mais um para sua lista.


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Notas finais do capítulo

Gente, finalmente a minha história está tomando rumo! Qualquer crítica construtiva é muito bem aceita! bjs ♥



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