A Odisseia escrita por yumesangai


Capítulo 1
Capítulo único




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— Nós fizemos um pacto. – Hoseok apoiou o rosto na mão, enquanto olhava para Taehyung.

O garoto suspirou.

— Isso é injusto Hyung. Meus amigos precisam de mim, o que você acha que vai acontecer se eu desaparecer? Ou se eu morrer? Não agora, nós não podemos esperar?

— Tae. – Hoseok desceu uma escada invisível e ficou frente a frente com ele. – É quase o seu aniversário, eu fiz tudo por você, por 10 anos.

— Eu não estou dizendo que não vou cumprir, eu sei bem o que eu pedi, apenas... apenas um pouco mais? O que são mais alguns meses pra quem está ao meu lado há 10 anos? Hyung, por favor. – Ele agarrou a manga do casaco de Hoseok.

— Eu não vou mais te ajudar, em nada, ok?

— Hyung... – Taehyung arregalou os olhos, mas Hoseok apenas balançou a cabeça, parecendo cansado, parecendo decepcionado e humano.

Doía de alguma forma. Como era possível? Hoseok era como um ceifador, exceto que ceifadores não realizam desejos, ele também disse que não era um demônio.

Ele era algo necessário, algo como um ceifador, como uma meio-demônio, ele não usava preto ou carregava uma foice. Pelo contrário, ele usava um casaco grande vermelho, seus olhos brilhavam como a pedra mais brilhante, do tipo que você sempre vê a si mesmo refletido ali.

Como se estivesse vendo a sua alma aprisionada. Taehyung nunca duvidou que fosse algo assim que fosse acontecer quando o prazo atingisse o limite.

Hoseok também carregava um relógio de bolso.

Ele olhou para o relógio, Taehyung sabia que faltava pouco para meia noite.

— Hyung... por favor... Eu não estou mentindo, eu juro que vou cumprir a minha parte, eu sempre soube, ok? – Não percebeu que estava choramingando, até que estava caído sentado no chão, as mãos agora segurando a barra da calça.

Hoseok olhou novamente para baixo.

A primeira vez em que conheceu Taehyung, não era como se ele só alcançasse suas pernas, mas ele era pequeno...

[...]

Taehyung veio chorando no parque, que estava vazio, era começo do inverno e estava frio, o tempo fechado e nenhum sinal de sol. Ele tinha machucados nas mãos, suas bochechas estavam vermelhas, ele foi andando e chorando até o balanço onde se sentou, suas pernas não alcançavam o chão.

Kim Taehyung, 8 anos de idade.

Hoseok não era um demônio ou um ceifador, ele não sabia exatamente o que era, algo como uma necessidade, ele surgiu no outro balanço, sua roupa era preta de cima embaixo, havia um cordão prateado que estava preso ao colete da roupa.

— Por que chora? – Ele perguntou na direção da criança.

Taehyung secou as lágrimas e o encarou, ele não falava como um adulto falava como uma criança, se ajoelhando e ficando no mesmo nível, ou com preocupação. Taehyung conhecia o mundo dos adultos.

E aquele ali não era uma pessoa bondosa.

Ele apertou os lábios e o ignorou, sacudiu as pernas tentando fazer o balanço ir para frente, mas conseguiu apenas sacudir de um lado para o outro.

O homem se levantou. Os ombros de Taehyung se enrijesseram, mas ele não saiu correndo, o que quer que fosse acontecer, ele não daria esse prazer. Mas o homem apenas começou a empurrar o balanço.

Taehyung não olhou para trás, mas fechou os olhos, as lágrimas secando em seu rosto.

— Papai me odeia. – Ele disse baixo, tão baixo que ninguém mais deveria ter ouvido.

— Hmmm. Você gostaria que ele fosse embora?

Taehyung assentiu.

— Diga as palavras. – O homem se colocou na frente dele, pela primeira vez, alto, sem se abaixar. Com um sorriso no rosto.

Um sorriso nem um pouco bondoso.

— O que vai acontecer?

— Ele vai embora, simples assim. – Ele parecia ansioso.

— E quem vai ficar comigo? Eu não posso ficar sozinho.

— Eu vou ficar com você.

Isso não confortava, Taehyung franziu o cenho, ele poderia voltar para casa e sua vida seguiria a mesma coisa. Seria difícil, mas ele poderia ir embora quando ficasse mais velho. O mais difícil era o inverno, no verão ele se escondia pelas ruas, mas no inverno? No frio?

Os primeiros flocos de neve caíram, o céu ficou alaranjado de repente, se não fosse o pôr do sol, Taehyung diria que era aquela pessoa o responsável por isso.

— Pra sempre?

O homem sorriu, como se tivesse ouvido a pergunta certa.

— Não, por 10 anos. Quando você completar 18, eu vou embora.

— E eu vou ficar sozinho? Qual o seu nome?

— Eu não tenho um nome. Pode me chamar do que quiser.

— Hope.

— Hope? – Repetiu confuso pela primeira vez.

— Significa “esperança”.

Seus olhos brilharam, Taehyung inclinou o rosto para ver melhor, parecia um castanho muito brilhante, mas não havia sol.

— Hope, seus olhos são engraçados.

Ele ergueu a mão, cobrindo um dos olhos.

— Acho que é a primeira vez que eu escuto isso.

Taehyung deu de ombros não se importando, não era como se ele estivesse fazendo algo errado.

— Ok, então.

— Oh, de verdade? Não tem como mudar de ideia. – Novamente a expressão eufórica.

Taehyung fez um bico e deu de ombros.

— Eu vou primeiro. Você não precisa ver. – Ele colocou a mão no bolso e retirou um relógio de bolso prateado, mexeu nos ponteiros e seguiu andando em direção ao segundo andar.

Eles moravam num flat em frente a um parque velho.

Taehyung fechou os olhos.

Com 8 anos, ele não sabia o que Hope era, mas foi alguém que lhe poupou de muito sofrimento, ele só não entendeu com o que estava concordando.

E mais tarde ele iria se arrepender de não ter feito um contrato por escrito.

[...]

— Taehyung, eu deveria me preocupar mais seriamente? – Namjoon perguntou se aproximando.

Taehyung abriu os olhos e encontrou o rosto do amigo o encarando. Ele estava deitado num colchão velho que ficava largado dentro de uma piscina abandonada.

— Ah Hyung, está cedo, por que me acordou?

— Você está dormindo nas ruas, faz uns quatro dias que você está com essa roupa. Precisa de um banho. – Ele esticou um copo de café. – Seu pai?

Taehyung balançou a cabeça negativamente, seu pai não estava mais em cena havia pelo menos 6 anos. Com o passar dos anos, ele foi ficando melhor em evitar falar sobre isso. Mas depois de 6 anos vivendo com Hope, era difícil.

Alguém que não era familiar.

Sua casa nunca mais havia sido sua casa. Ele deitava e encarava um teto estranho. Ele gostava de dormir fora, acordar e ver o céu, como saber que estava vivo.

Mas ele não podia explicar isso para seus novos amigos.

Namjoon era mais velho, mas a maioria de seus amigos também eram, Jungkook era o mais novo, ele estava sempre com algum machucado, mas não era por causa de família, era na rua.

— Obrigado.

— E se nós fizessemos uma fogueira? Nós chamamos os outros, podemos ver as estrelas e comer marshmallow. Como acampar.

Taehyung sorriu por trás do copo quente.

Namjoon era o tipo que inventava pequenos sérios para fazer com que todos fossem normais. Como Jimin que parecia sempre distante, Jungkook machucado, Yoongi que não iria beber. Namjoon tentava salvar a todos, mas quem estava tentando salvá-lo?

Taehyung encarou novamente o céu. Ele desejou uma mudança e até agora não sabia se o resultado havia sido o melhor, mas ele não poderia mudar.

[...]

— Quando é o seu aniversário? – Hope perguntou retornando ao parque, usando um lenço branco para esfregar as mãos.

Taehyung de alguma forma esperou ver sangue ali, mas não havia.

— 30 de dezembro.

— Ah, falta alguns meses, vamos fazer assim, eu estou te dando alguns meses de brinde.

Taehyung não entendeu, então apenas assentiu lentamente, Hope começou a andar na frente e o menino o seguiu, ele segurou na mão do mais velho, que o encarou parecendo confuso, mas não falou nada.

Algumas coisas também eram novas para ele.

A casa não estava fria, o aquecedor estava funcionando. Taehyung correu na direção da mesa arrumada e com comida quente.

— Você fez!?

Não havia nenhum sinal do pai, ou de luta, tudo estava em mais ordem do que nunca, era como se Hope tivesse gastando todo o tempo que ficou lá fazendo faxina.

— Bom, você deve estar com fome, não? – Ele fechou a porta estalando os dedos.

Taehyung observou, mas não comentou nada.

— Você sabe cozinhar, eu também sei. Você não vai se servir? – Ele não estava fazendo cerimônia em encher uma vasilha de arroz.

— Não, é pra você. Eu também estou agradecendo. E vou continuar agradecendo pelos próximos anos.

— Até os meus 18 anos? O que vai acontecer? Você vai embora? – Perguntou mastigando.

— Algo assim, falta bastante tempo, não se esqueça disso.

Ele nunca esqueceu, porque Hoseok nunca o deixou esquecer.

[...]

Hope foi Hope por mais ou menos 6 anos, quando tudo funcionava em certa harmonia, comida quente, casa arrumada, Taehyung que poderia ir nos passeios do colégio, mas com 14 anos, talvez fosse a idade rebelde.

Taehyung quase foi atropelado, ele estava dirigindo bêbado, uma bicicleta, mas de qualquer forma, ele estava guiando um veículo bêbado e trafegando sem prestar atenção. A primeira vez que bebeu soju.

Também quando conheceu Yoongi.

Yoongi era mais velho, mas também não deveria estar bebendo, ele estava sentado em caixas vazias no fundo de um bar movimentado. Seu cabelo era verde, Taehyung encarou o cabelo verde menta até incomodar o mais velho.

— O que você quer? Eu não tenho dinheiro, não tem nada para levar aqui.

— O seu cabelo é muito legal.

— Ah isso? – Yoongi tocou nos fios. – Você quer pintar o seu?

— Acho que teria problemas no colégio. – Respondeu dando de ombros.

— O que eu posso fazer por você? – Ele bateu na caixa vazia ao seu lado. – O nome é Yoongi.

— Taehyung. – Sentou ao lado dele.

— Ok Tae, beba comigo. – Disse erguendo uma garrafa.

— Por quê?

— Porque não?

Taehyung não sabia a resposta, mas apenas lembrou de seu pai, a única coisa que lembrava seu pai. Ele encarou o líquido e o cheiro forte. Yoongi bateu as garrafas num brinde e bebeu.

O gosto era ruim, ficava na garganta.

— Ew. - Resmungou cuspindo num canto. – Por que você bebe essa droga?

— Algumas pessoas bebem para socializar, outras bebem porque tem problemas.

— E no que resolve os problemas?

— Não resolve, apenas te faz esquecer.

Com essa resposta, Taehyung virou toda a garrafa de soju. Talvez ele conseguisse aliviar seu coração de alguma maneira. Ele foi embora mais tarde, pedalando, e então acabou atravessando para outra pista, para onde um caminhão estava passando.

Ele deveria ter sido atingido, qualquer pessoa teria.

Mas de repente ele estava rolando um barranco do outro lado da pista, um barranco que ele nunca teria alcançado se Hoseok não tivesse interferido.

E ele estava furioso.

Suas roupas não eram mais pretas, ele usava um casaco vermelho, o casaco havia sido o primeiro presente de Taehyung para ele, mas isso era uma outra história.

— Você está tentando se matar?

— Não... – Se levantou sacudindo a poeira. Suas mãos estavam arranhadas, havia pelo menos dois rasgos não intencionais em sua calça. – Foi um acidente.

— Porque morrer por algo tão estúpido assim, se esse era o seu plano, você precisa se contentar com o que tem.

— Eu tenho mais 4 anos pela frente! – Gritou. – Tem idiotas na minha sala falando de faculdade e coisas que eu nunca vou experimentar.

— Você já sabia disso.

— Eu tinha 7 anos, como iria saber!?

Hoseok deu um passo para frente e Taehyung recuou mais um, caindo na bicicleta ainda no chão.

— Você queria que o seu pai fosse embora, isso aconteceu. Você tem comida quente todos os dias, roupas novas, eu que estou fazendo todo o serviço, por 10 anos. Quer comparar o seu grandioso sofrimento com o meu?

— Por que você não vai embora, então? Me deixa em paz! Só apareça quando for os meus 18 anos, não é como se você se importasse comigo!

— Taehyung, você é o mais ingrato. – Ele parecia magoado, de verdade.

Taehyung apenas engoliu as lágrimas, mas havia um gosto amargo em sua boca e não era culpa da bebida, ou talvez fosse.

Ele chorou, abaixou a cabeça e chorou. Chorou pelo pai que havia perdido, pela vida que nunca conseguiria desfrutar. Por Hoseok e qualquer que fosse o relacionamento atual deles, como tudo havia piorado.

— Tae...

Mas Hoseok era o que mais havia mudado. Ele esticou a mão.

— Vamos para casa.

Taehyung chorou ainda mais alto. Ele odiava aquela casa.

[...]

— Hobi! – Taehyung se aproximou com uma sacola mal escondida em suas costas.

Hoseok ergueu os olhos do livro que estava lendo e sorriu na direção do garoto de 12 anos. Ele estava ficando cada vez mais alto.

— Precisa de ajuda com seu dever de casa? Eu já disse que não vou fazer para você.

— Não, eu estava pensando. Já que você não sabe o que aniversário, nós deveríamos comemorar juntos.

— Oh, por quê?

— Porque foi quando eu conheci você. – Ele esticou a sala. – É o meu presente para você.

Hoseok riu e tirou um casaco comprido de lá, vermelho vivo.

— Você só usa preto, deveria tentar outras cores.

— Vermelho fica bom em mim?

Taehyung assentiu.

— O único presente que eu ganhei foi esse relógio. – Disse batendo no bolso, onde a única coisa visível era a corrente. – É o segundo presente que ganho, obrigado.

[...]

— Hyung, hyung, por favor. – Taehyung insistiu com as lágrimas caindo, se agarrou a sua perna quando Hoseok fez menção de andar.

— Tae.

— Por favor.

— Tae.

— Hope, por favor.

Hoseok balançou a cabeça negativamente, ele não escutava ser chamado assim desde que Taehyung saiu da infância para a adolescência, era injusto ouvir isso anos depois.

Ele que havia dado meses pela frente, pois não era o aniversário de Taehyung ainda, ele esperou três meses além do contrato.

Nunca havia sido uma criança. E ele não poderia mentir em dizer que isso não havia feito diferença. Adultos eram chatos e simples. Adolescentes eram cheios de humor, mas uma criança?

Ele o viu crescer, o viu se decepcionar com o mundo e depois sofrer sabendo que nunca teria asas para viver a própria vida.

Que ele mesmo havia usado uma tesoura e as cortado.

— Mais um dia, não precisa ser meses, me desculpe, apenas mais um dia, na próxima meia noite, não nessa, Hyung.

Hoseok cerrou os punhos com força. Ele tirou o casaco vermelho e jogou no chão.

— Use isso.

— O que? – O garoto ergueu o rosto.

— Use o casaco.

Taehyung não entendeu, apenas pegou o casaco e colocou sobre os ombros.

— Eu não posso achá-lo enquanto você estiver usando ele. Quando você tirar e ficar definitivamente sem o casaco, eu vou achá-lo. Esse é o tempo que vou te dar. Pode ser um mês, um ano.

— Hyung...

— Adeus Taehyung, feliz aniversário.

Hoseok virou as costas e foi embora. Taehyung deitou no chão e jogou o casaco por cima, e ficou ali, tremendo. Ele era tão egoísta, ele queria tanto que Hoseok continuasse ao seu lado.

Por que ele havia escolhido uma vida em que só perdia as pessoas?

[...]

Jungkook estava no hospital se recuperando, depois de ser atropelado. Sua perna nunca mais seria a mesma os médicos disseram, mas ele estava vivo. Taehyung entrou vestindo o casaco vermelho.

— Hyung? – Jungkook o chamou parecendo sonolento.

— Melhor?

— Sim... – Ele abriu, mas logo fechou os olhos. – Nós podemos ir para o mar? Aquele dia, aquele dia foi o melhor, nós podemos voltar no tempo?

Taehyung afundou a mão nos bolsos.

— Eu também quero voltar. – Admitiu olhando para a janela, o tempo estava agradável.

— Vamos voltar hyung.

— Assim que você sair daqui, ok?

Jungkook assentiu e virou o rosto para o lado, logo pegando no sono. Taehyung tentou chamar o número de Yoongi mais uma vez, mas o outro nunca atendia.

Como ele poderia continuar algo com tudo tão bagunçado?

[...]

— Jimin, finalmente! – Taehyung comemorou quando o amigo se aproximou carregando a bolsa do treino.

Seus lábios se comprimiram num sorriso, Namjoon e Seokjin também se levantaram para abraça-lo. Yoongi e Jungkook estavam ocupado o velho sofá todo.

As estrelas já estavam brilhando.

— Marshmallow para comemorar o seu aniversário? Eu não poderia recusar. – Jimin bagunçou os cabelos de Taehyung.

Eles sentaram em volta da fogueira. Namjoon e Jin discutiam algo complexo demais para ele acompanhar. Yoongi e Jungkook estavam ocupando o colchão do outro lado. Jimin tinha os olhos fechados e um sorriso pleno.

Quando deu meia noite, Taehyung ergueu os olhos, e viu Hoseok parado mais a frente, ninguém mais conseguia vê-lo, ele já sabia disso.

— Parabéns pelos 15 anos.

Taehyung assentiu com um meio sorriso. Ele estava feliz, depois de um bom tempo, ele estava realmente feliz, com seus amigos e de certa forma, com Hoseok.

Se ao menos o tempo pudesse parar. Se as coisas pudessem continuar assim.

Mas não era mais um ano de vida, era menos um.

— Ei. – Jimin envolveu o rosto de Taehyung com suas mãos. – Por que você está chorando? Você tem que fazer um pedido.

Não havia nada que ele poderia pedir.

Porque ele não seria atendido. Hoseok sustentou o olhar, e então virou as costas, Taehyung sempre sentia o coração disparar quando ele fazia isso, como se estivesse desaparecendo.

Deveria ser bom, houve um período que ele desejou que ele nunca mais voltasse, mas o peso que ele carregava com isso, era demais.

Hoseok mudou sua vida.

[...]

— Hyung, nós deveríamos fazer algo no meu aniversário de 16 anos, só eu e você, o que acha?

Hoseok parou o que estava fazendo e o encarou.

— Não deveria aproveitar com seus amgios? Você pareceu bem esse ano.

De alguma forma eles voltaram para uma rotina amigável e de paz, já fazia alguns anos. Hoseok acreditava que Taehyung sabia que seu tempo estava encurtando e havia cansado de brigar.

— Eu sei, mas também é o seu dia.

Hoseok não queria comentar que já fazia algum tempo que eles não celebravam “seu aniversário”, mas não era como se a data fosse real. Se fosse assim, a data de todas as pessoas que fizeram o mesmo pacto...

... Ele teria muitas dadas. Assim como ele tinha de anos.

— Nós podemos fazer o que você quiser, eu não me importo.

— Hyung, é o seu aniversário, você tem que se importar.

— Nós podemos ir para outro país?

— Eu pareço o gênio da lâmpada? – Retrucou erguendo a sobrancelha.

— Acho que isso é um não. – Comentou deitando no chão e encarando o teto. – Hyung, você sente a falta dos outros?

— Não.

— Oh. Então você não vai sentir a minha também.

— Nenhum era como você. Eu acho que vou sentir a sua falta.

Taehyung sorriu para o teto.

— É a sua punição, por tomar mais da metade da minha vida. Vai sentir a minha falta eternamente.

Hoseok enrolou o dedo na corrente do colégio.

— Eu acho que sim. – Respondeu pensativo.

[...]

— Eu quero voltar no tempo. – Taehyung choramingou um dia antes do seu aniversário de 17 anos.

— Você se arrepende?

— Não, eu só... eu quero ir para Jeju, eu quero ver filmes que vão sair, eu quero ler mais livros...

— Tae, eu não posso aumentar o tempo do acordo. – Disse sentando na beirada na cama e tocando em seu cabelo com delicadeza, num carinho incerto.

— Você tem um ano pela frente, não desperdice esse tempo, saia com seus amigos, eles também precisam de você, não?

— Seokjin se formou, ele não vai ficar preso aqui, ele tem tanto pela frente. Namjoon Hyung é um teimoso, ele poderia ir embora, mas acha que carrega o mundo nas costas, Jimin vai conseguir uma chance e sair daqui, Yoongi... Yoongi é complicado, Jungkook também, mas eu só quero um futuro para eles.

— E o seu? – Tirou a franja do rosto dele, quando ele virou o rosto.

— Eu nunca tive um. Você mudou o meu mundo, hyung, mas eu nunca tive um futuro.

Hoseok queria confortá-lo, mas ele não tinha esse direito.

[...]

— Eu voltei o mais rápido que consegui. – Seokjin falou recuperando o fôlego.

Taehyung sorriu simpático. Ele foi encontrá-lo na estação de trem, ainda usando o casaco vermelho.

— Tudo bem, ele deve demorar mais um pouco para receber alta.

— Não está quente para estar usando isso? No hospital está frio?

— Do que você está falando? É primavera. – O mais novo apenas deu de ombros com um sorriso enquanto caminhava na frente.

Seokjin queria argumentar que primavera e outorno não significavam a mesma coisa, mas Jungkook no hospital era mais importante.

— Yoongi está lá?

— As vezes, ele toca violão. Jungkook fica feliz quando ele leva algum instrumento.

— Eu trouxe a minha câmera, vamos melhorar o ambiente, sim?

O pequeno quarto teve que substituir a piscina deserta ou a praia. Yoongi largou o violão num canto e ficou sentado na beirada da cama. Jimin descascava uma maçã e Yoongi e Namjoon conversavam num canto.

— Acho que está tudo bem agora. – Taehyung disse para si mesmo enquanto observava. – Hobi...

[...]

— Você já se apaixonou? – Taehyung perguntou para Seokjin que piscou seguidamente, até abrir um sorriso complacente.

— Acho que sim, por pequenas coisas.

— E por alguém?

— Hmm, eu já tive o meu coração machucado, então acho que sim.

— Por que vocês não estão juntos?

— Porque eu não moro mais aqui, relacionamentos à distância são complicados. Eu quero vê-lo todos os dias, como eu poderia fazer isso acontecer?

Taehyung assentiu, sua casa estava vazia, sua coisa que nunca mais foi sua casa. Continuava estranha, continuava fria, ele sentia falta de Hoseok sentado lendo, sentia falta dos olhares, o que quer que eles significassem.

Seu coração continuava batendo com força antes de dormir. Pensando, imaginando, um cenário diferente.

Talvez num outro mundo.

Se isso fosse possível.

— Eu também não sei. – Taehyung respondeu para si mesmo.

[...]

Taehyung subiu numa construção que ficava em frente para o mar. O céu da primavera era muito mais fresco. Ele tirou o casaco, o deixando na plataforma, não demorou muito para Hoseok aparecer de braços cruzados.

— Está na hora?

— Eles vão ficar bem, eu fiz o que pude.

— Você viveu mais do que uma vida, mesmo com 10 anos de pacto. Tudo que você fez, desde o acordo, você mudou a vida deles. Nada seria desse jeito se você não tivesse concordado, você fez um bom trabalho.

Taehyung sorriu.

— Eu aceito isso.

Hoseok esticou a mão.

— Vai doer? – Ele hesitou em aceitar a mão dele.

— Não. Nós vamos parar a sua linha do tempo. Todas as outras continuarão seguindo.

— Ok... – Ele segurou a mão dele e Hoseok o puxou para um abraço.

— Você também mudou a minha, obrigado Tae.

Taehyung se escondeu naquele abraço, ele fechou os olhos com força, quando abriu ele podia ver o mar, as ondas leves quebravam e tinham um tom de azul metálico, o céu estava escuro. Parecia algo como a aurora boreal do oceano.

Ele estava dentro d’água, com ela batendo na altura dos calcanhares.

— Hyung? – Ele chamou por Hoseok, mas só ouvia as ondas quebrando.

— Você deveria continuar a se esconder. – Hoseok colocou novamente o casaco em seus ombros. – Mas dessa vez você vai poder tirá-lo, eu não vou te alcançar tão fácil.

Taehyung encarou o horizonte.

— O que tem do outro lado?

— Outra linha do tempo, eu provavelmente vou demorar para te encontrar, mas você deve me encontrar mais rápido.

— Hyung...

— Eu tirei as suas asas, eu não deveria, mas... – Hoseok esticou a mão tocando no rosto gelado de Taehyung. – A culpa é minha. Você tem outra chance, ok? Sem mim.

O mais novo assentiu lentamente.

— Você venceu o seu inimigo. – Hoseok murmurou falando consigo mesmo.

— Você nunca foi meu inimigo...

Hoseok queria dizer que ele estava errado, mas aceitou as palavras dele. Taehyung se colocou na ponta dos pés e o beijou.

— Você roubou a minha vida, eu quero roubar algo seu. – Disse com um sorriso.

Hoseok apenas sorriu, naturalmente, como havia aprendido. Enquanto eles estavam no fim do mundo, esquecido pelo próprio mundo.

— Tudo bem se tudo acabar aqui. É o fim dessa odisséia de 10 anos. Mas eu gostaria de viver mais, mas tem que ser com você, ou nada disso faz sentido.

Hoseok suspirou. Ele puxou o relógio, arrancando a corrente que ficava presa ao colete. Os ponteiros parados. E deixou o objeto afundar na água.

— Hyung?

— Você que me deu um nome, eu não posso ser tão egoísta assim, posso?           

— Foram 10 anos, acho que você tem todo o direito. Mas o que acontece se você não ficar com a minha alma?

— Quer descobrir?

Taehyung segurou a mão dele, enquanto eles caminhavam no mar, em direção a auora boreal, para a próxima odisseia.


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