Midoman escrita por Azai


Capítulo 1
Capítulo 01 - Deu errado, mas não pode ser tão ruim


Notas iniciais do capítulo

Repostando a fic, porque tivemos um probleminha com a outra conta.



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A televisão não estava tão alta. Maurício assistia enquanto esperava a chegada da pizza que havia pedido, e enquanto guardava coisas dentro de sua maleta. Hoje era a noite de mais um trabalho. Arrombar o cofre pessoal de algum vereador envolvido com jogo do bicho, isso só seria fácil em algum filme de Tom Cruise. Colocando os últimos itens em sua maleta, uma matéria lhe chamou a atenção fazendo o procurar o controle remoto e aumentar o volume.

— No final do século VXIII, os bandeirantes que começaram a minerar na região onde hoje é o estado de São Paulo encontraram uma pedra singular. Acostumados a encontrar ouro ou diamante, dessa vez um deles encontrou uma pequena esfera esverdeada do tamanho de uma bola de gude. De longe, todos achavam que se tratava de uma pequena esmeralda por sua coloração, mas  não havia como negar que aquele artefato era feito de algum tipo de metal e ao mesmo tempo era leve. Também não se sentia essa pequena esfera gelada como os outros metais, mas sim uma temperatura morna. Quase como se estivesse viva.

— Obviamente essa esfera foi vendida pelos bandeirantes, até chegar ás mãos da família Real Portuguesa, onde fez parte de um colar usado por princesas. Esse colar foi passado de geração em geração sendo a Princesa Isabel, a última princesa que se tem registros há usá-lo, quando a mesma aboliu a escravatura no Brasil. Hoje esse colar está rodando as capitais brasileiras com outros artefatos que pertencem à família real. Ele estará somente esse fim de semana exposto no conhecido Forte das Cinco Pontas, no bairro de São José, e seguirá logo em seguida para Salvador, capital da Bahia.

No próximo bloco, uma estranha tempestade de raios causa prejuízos a moradores e comerciantes no centro do Recife. Veja como proceder em casos seme...

A campainha tocou, tirando sua atenção da TV.

— Quem é? – Indagou Maurício se armando com uma adaga

— Foi aqui que pediu pizza de calabresa? – Respondeu uma voz que ecoou no outro lado da porta.

— Sim. – Respondeu olhando pelo olho mágico, assim vendo que de fato era o entregador. – Você poderia deixar a pizza aí no tapete, por favor? Eu vou passar o dinheiro por debaixo da porta.

Enquanto ele fazia o pagamento, seu celular tocou. - Um celular flip antigo. - A chamada vinha de algum número restrito, porém ele sabia quem estava ligando. Ele atendeu o telefone já perguntando:
— Beto, viu a matéria que acabou de passar no jornal?
— A desse colar da princesa? Vi sim. – Uma voz um tanto esganiçada respondeu do outro lado da linha.

— Tive uma ideia. Tá a fim de fazer um extra depois do cofre essa noite?

— Claro.

Mais tarde...

—Maurício, o negócio é o seguinte: – Beto discursava enquanto Maurício pintava ao redor dos olhos com tinta preta. – Não tem muita segurança pra chegar até a coleção da princesa, mas onde ela está exposta é que é o problema.

— Como assim? – Perguntou Maurício enquanto calçava as luvas.

— É simples. – O rapaz negro de cabelos curtos e espinhas nas bochechas, tirou algo semelhante a um antigo MP3 Player do começo dos anos 2000. – Isso é uma bomba eletromagnética. Isso se explodida junto ao mostruário da jóia vai criar um PEM forte o suficiente pra desativar os alarmes de segurança. Isso vai fritar qualquer tecnologia no Forte...

— Legal! Onde você conseguiu isso? – Maurício tomou o dispositivo da mão de Beto com os olhos maravilhados pelo poder, em um algo tão pequeno e aparentemente frágil.

— Digamos que eu conheço um cara que conhece um cara. – Beto viu a expressão abobalhada de seu amigo e deu-lhe um cascudo. – Foco! Não fica brincando com isso! Você entendeu, não é?

— Eu acho que a informação não foi à única coisa que você pôs na minha cabeça agora. – Ele falava enquanto afagava a própria cabeça. - Mas sim, eu entendi. – Ele acenou uma vez positivamente com a cabeça.

Maurício se preparou pra descer o muro pelo lado de dentro do Forte, mas Beto o chamou olhando para os seus sapatos e perguntou com um tom de voz um tanto preocupado:

— Maurício, cê acredita em mau pressentimento? – Seu parceiro de crime só olhou pra ele com uma cara de dúvida. Ele não tirou o rosto do chão como se tivesse envergonhado das próprias palavras e continuou no mesmo tom. – É que eu não tô sentindo algo bom com isso, não é arrependimento, é só um pressentimento ruim.

— A gente não vai ter outra chance! Sabe o quanto isso vale? - Maurício respondeu com mais intensidade na voz, mas continuava sussurrando. – Não me vem com essas coisas supersticiosas. Não hoje.

— Ok, ok... Mas tenha um cuidado extra, tá legal?

— Sempre. – Maurício pulou pra dentro do Forte e caiu com os dois pés no chão, de forma desajeitada, mas logo se pôs em pé. Ele ajustou seu headset e falou seu bordão: - E agora a nossa dança começa.

Ele foi andando pela escuridão do edifício, porém parou ao ver dois guardas. Provavelmente o curador não imaginava que alguém tentaria tamanha ousadia. Pobre iludido esse curador. Agilidade nos pés e seu corpo magro lhe dão a habilidade de se espremer e brechas e becos. Ele também não é alto ao ponto de se tornar um destaque numa multidão. Sua pele parda também o ajudava a se misturar praticamente em qualquer aglomeração de pessoas. Parece até que fôra foi feito pra essa vida.

Ele avistou a ala com a exposição da família real. Mas havia algo estranho. Havia movimento no cômodo, Guardas? Não.

Ele acabara de passar por eles. Tão inúteis que só faltava um sanduíche na mão pra serem iguais aqueles de filmes de comédias americanas. Alguém balbuciava algo na sala, mas Maurício não conseguia entender.

Ele então decidiu chegar mais perto. Ao se aproximar, se esgueirando pelos mostruários de madeira e vidro, Maurício viu as luzes dos dispositivos de segurança dos mostruários e próximos a ele: duas sombras.

Eles pareciam procurar algo entre as peças da exposição. A primeira é definitivamente de um homem usando cartola. A segunda é humanóide, porém com um corpo gorducho de formato redondo, parecido com o Jabba. Eles estavam longe da joia da princesa então Maurício falou baixo com Beto pelo comunicador:

— Há competição essa noite. Vou precisar agir rápido. Vai pra o carro. – Ele sussurrou. – Eu vou terminar o serviço e te encontro lá.

— Vou deixar o motor ligado, mas seja rápido. – Beto respondeu.

Maurício foi até o mostruário e colou o dispositivo de P.E.M. portátil no mostruário com uma fita dupla face. Na hora que ele apertou o botão de ativação, ele sentiu uma presença amedrontadora ao seu lado e em seu ouvido direito, Beto bradou:

— Maurício! Abortar opera... – O comunicador ficou mudo por um instante, e apenas estática podia ser ouvida.

O dispositivo dado por Beto havia funcionado, o comunicador apagou, as câmeras desligaram e tudo ficou escuro. - Não haveria mais tempo a perder, as vozes na sala ficaram mudas. - Ele agiu rápido e tirou o tampo de vidro do mostruário da jóia com um cortador de lâmina circular. Assim depositou o tampo de vidro à base do mostruário, abaixo do dispositivo. Lá estava ela. Linda. O orbe esmeralda conseguia refletir mesmo o menor filete de luz naquele ambiente.

Maurício estendeu a mão e pegou a joia, pondo-a no bolso frontal do seu uniforme de operações. Nesse instante o dispositivo de pulso eletromagnético descolou do mostruário e caiu em cima do vidro, quebrando-o. O acontecimento provocou um som audível de estilhaço, não tão alto, mas um barulho audível o suficiente para que os outros ocupantes do cômodo ouvissem.

— Quer dizer que há mais alguém aqui? – Uma voz masculina suave soou pelo local.

Os dois seres na sala se aproximaram de Maurício.

O coração de Maurício acelerou. Milhares de pensamentos desesperados pipocaram em sua mente. Se esconder nas sombras parecia uma boa ideia. Afinal a joia já estava em seu bolso, era só se esconder, esperar uma brecha e fugir. Foi isso que ele fez. Mas não fez diferença quando as luzes de segurança ascenderam, o local ficou iluminado na cor vermelha. E a próxima sentença das silhuetas, trouxeram-lhe calafrios a espinha.

A voz que era suave se tornou a mais aterrorizante que Maurício já ouviu:

— Eu já sei que você a tem. Eu vou pegá-la. E se você resistir eu terá por consequência coisas que nem seus piores pesadelos poderiam criar.

As figuras saíram das sombras e Maurício as pôde ver detalhadamente. Havia sim um homem, este de cartola. Um homem que nenhuma mulher em sã consciência rejeitaria, exceto talvez pelo tamanho nariz. Mas o resto de sua beleza com certeza seria irresistível pra qualquer garota. O outro era um ser com braços e pernas. Não tinha mãos, mas sim esferas no lugar. Seu corpo não passava de uma grande esfera azul acinzentada. Não havia cabeça, mas havia olhos e boca em tal monstruosidade.

— Me dê a Lágrima e eu lhe darei uma morte rápida!

Se esconder nas sombras não adiantou. O homem que vestia um terno branco e cartola ia se aproximando de Maurício cada vez mais. Com medo ele resolveu que ia lhe dar a joia e fugir na primeira oportunidade que tivesse.

Maurício atemorizado pegou a joia do bolso e estendeu-a em mãos, fechando os olhos pronto para entregar a joia, mas o tom de surpresa e espanto do homem de cartola o fez reabrir os olhos:

— Não acredito!

Continua...


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