Mint escrita por Ariel F H


Capítulo 1
Mint


Notas iniciais do capítulo

oi ^-^
essa fanfic foi só uma grande desculpa minha pra escrever sobre não binaridade e um fluffysinho básico

eu não me preocupei em ser didático nela então vou deixar alguns termos aqui que você precisa saber pra entender:
não binário: pessoa trans que não se identifica dentro da binaridade de gênero (homem e mulher) dentro da não binaridade existem várias identidades (gênero fluído, agênero, bigênero, demimenino, demimenina, e por aí vai)
cisgênero: basicamente contrário de transgênero. pessoa que se identifica com o gênero que foi designado ao nascimento
gênero fluído: pessoa que flue entre gêneros. Pode ser mais de dois gêneros, pode ser dois, pode ser gêneros binários ou não binários etc
agênero: pessoa sem gênero

eu acho que é isso. qualquer coisa, podem perguntar nos comentários
espero que gostem ♥



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— Eu ainda não entendi o motivo disso tudo. — Nico falou, talvez pela terceira vez naquele dia.

— Ela é muito fofinho. — Alex disse, talvez pela terceira vez naquele dia. — E tem um amigo.

Nico olhou para a amiga — porque naquela tarde os pronomes de Alex eram femininos, diferente da tarde anterior — e sentiu vontade de revirar os olhos.

Alex tinha uma quedinha automática por qualquer ser humano com a mesma identidade de gênero que a dela, ou qualquer pessoa que simplesmente fosse não-binária. Nico não poderia culpá-la.

(Geralmente, ele — porque naquela tarde os pronomes de Nico eram masculinos, assim como o mês inteiro e o mês anterior desse, mas não as duas primeiras semanas de três meses atrás, que preferiu usar pronomes neutros na maior parte do tempo — também tinha uma pequena queda por pessoas que não se encaixavam na binaridade de gênero, apenas não admitia. Gostava de fingir que jamais se apaixonaria por ninguém. Não queria lidar com essas coisas.)

— Eu nem sei quem é ela. — ele resmungou. — Ou o amigo dela.

— Mas eu te disse. — Alex retrucou.

Já fazia alguns minutos que os dois estavam sentados lado a lado, em uma mesa qualquer da sorveteria. A mulher do caixa estava começando a olhar feio para eles, por não terem feito nenhum pedido ainda e continuarem ali.

— E eu ouvi. — Nico disse. — Mas continuo sem saber quem é. Não é muito justo você conhecer Will e eu não.

— Bem. — ela largou o celular em cima da mesa. Esteve digitando algo freneticamente nos últimos minutos. — Eu não conheço realmente, você sabe. Só nos vimos duas vezes. Mas Will sorriu pra mim... — ela piscou. — Ele é tão fofo, Nico. Você precisa ver. Will disse que você e o Magnus se dariam muito bem... Magnus é cis, mas Will disse que ele é legal.

Nico já tinha ouvido aquela história. Era claro como água que Alex estava planejando namorar Will e fazer Nico namorar Magnus, ou algo muito perto disso.

Ele não queria um namorado. Principalmente um que fosse cisgênero.

— Você vai me empurrar pra um cara cis. — Nico soltou um suspiro dramático. — Achei que éramos amigos.

Alex deu um sorriso de divertimento. O passatempo preferido de ambos era fazer piadas como essa. Nico gostava daqueles momentos. Alex era a única pessoa não-binária que Nico conhecia fora da internet. Estar perto dela fazia Nico se sentir válido e que pertencia a algum lugar.

— Você vai gostar do Magnus. — Alex comentou. — Will disse que ele gosta das mesmas bandas ruins que você gosta.

Ei. Alice in chains não é ruim.

— Sei. — Alex disse, porque não gostava de nada que não fosse pop dos anos 2000 ou indie dos anos 90. — Além do mais, de acordo com Will, Magnus é a cara do Kurt Cobain.

Ok, agora Nico estava interessado.

Por coincidência, estava usando sua habitual camisa do Nirvana, junto com a calça rasgada no joelho e o coturno preto.

Em contrapartida, Alex era quase que um exato oposto de Nico: cabelo recém tingido de verde, calça jeans rosa, regata também rosa e camiseta xadrez em três tipos de verde diferente.

Além, claro, do bottom com a bandeira gênero fluído.

Alex sempre estava com aquele bottom. Em um desses dias, ela comprou uma tinta verde para o cabelo e Nico precisou ouvir por duas horas que a pessoa que atendeu Alex deu um sorriso quando viu as cores da bandeira e disse "ei, somos irmãos de gênero".

Nico gostou de ouvir aquilo, porque Nico também era a única pessoa não-binária que Alex conhecia fora da internet e as vezes isso era bem solitário.

Bem, os dois se conheceram online, mas a amizade parou de ser apenas virtual quando descobriram que moravam a apenas quarenta minutos de distância.

Alex voltou para a loja de cosméticos dois dias depois de ter comprado a tinta, mas dessa vez saiu de lá apenas com um número novo em sua lista de contatos e um encontro duplo marcado para a próxima semana.

Nico suspirou. Estava feliz por Alex estar empolgada e por ter a chance de conhecer outra pessoa não-binária, mas não queria estar ali. Ele nunca se saia muito bem com interação social. Queria estar em casa lendo algum livro ou quem sabe descobrindo uma nova banda grunge.

— Ele tem um amigo. — Alex disse novamente. — Que é um cosplay ambulante do Kurt Cobain. Me diz se não é o destino, Nico. Me diz se Magnus não é o amor da sua vida.

— Ele é cis.

Alex deu um soquinho no ombro de Nico.

— Alegre-se. Não esqueça que Will pode conseguir um desconto pra minha próxima tinta.

Nico levantou as sobrancelhas.

— Você está pensando nisso desde o começo, não está?

Alex seu sorriu e passou a mão pelo cabelo.

— Eu estou pensando em rosa agora, o que acha?

Nico estava pronto para dizer algo, mas notou como Alex mudou de postura e fixou os olhos na entrada da sorveteria. Ele seguiu o olhar. Havia duas pessoas entrando ali.

Alex estava certa, Magnus realmente parecia Kurt Cobain, com o cabelo loiro quase abaixo do ombro, o jeans rasgado e a camisa xadrez, mas não foi nele que Nico prestou muita atenção.

A pessoa ao seu lado era a coisa mais linda que Nico já havia colocado os olhos. Definitivamente já havia visto aqueles cabelos louros cheio de cachinhos em alguma pintura de anjos. E era definitivamente isso que Will parecia: um anjo. Usava uma camiseta laranja e, pelo amor de Deus, quem é que fica bonito com uma camiseta laranja?

Will Nico pensou.

Notou em como o jeans dela parecia ser uma calça que foi cortada para se transformar em um shorts. Primeiro, achou aquilo amável. Depois, voltou a atenção para seu cabelo e quis esticar o braço e tocar nos cachinhos de Will.

Por que tudo nele era tão lindo?

— Oi.

Nico piscou, se dando conta de que aquela era a voz de Will. Merda, ele já estava tão perto assim?

Nico não tinha passado todo esse tempo encarando Will.

Ou tinha?

Sentiu seu rosto arder enquanto ouvia Alex devolver o cumprimento.

Ele desviou o olhar, mas, notando que alguém estava olhando para ele ergueu os olhos, sem mover a cabeça.

Magnus o encarava de uma forma um pouco estranha. Parecia desconfortável. Pra ser franco, Nico também estava desconfortável ali.

Magnus pareceu estar prestes a abrir a boca para dizer algo para Nico, mas então Will disse:

— Isso é tão legal. — sua voz estava exaltando empolgação de uma maneira tão fofa que devia ser crime. — Eu sempre sou a única pessoa do grupo que não é cis, e de repente Magnus é essa pessoa. — ela se virou para Magnus — Como é a sensação?

Magnus levantou a sobrancelha.

— Meio que me sinto normal — o cosplay de Kurt Cobain falou. — Que estranho.

— Bem. — disse Alex. — A gente precisava de uma cota cis, né?

— Cota cis. — Will repetiu, rindo. — Adorei isso.

Nico sorriu também.

Inesperadamente, seus olhos encontraram os de Will. Sentiu seu rosto arder novamente, mas apenas um pouco. Que droga. Will fez menção de querer dizer algo, mas Alex foi mais rápida — e Nico quis bater na amiga por isso.

— Ei, Nico, por que você e Magnus não vão lá e fazem o pedido pra gente?

Nico percebeu que aquela era só uma maneira de Alex e Will ficarem sozinhas, mas, mesmo assim, disse:

— Por que eu?

Nico não queria ficar sozinho com Magnus. Seria constrangedor e bizarro. Mesmo que gostassem das mesmas bandas grunge, isso não significava que eles se dariam bem.

Alex abriu a boca para responder alguma coisa, mas Will se adiantou:

— Eu vou junto.

Nico entremeceu.

Ouviu Alex resmungar alguma coisa e Magnus fazer o mesmo logo em seguida — algo sobre querer um milkshake de morango — e quando se deu conta ele estava de pé, indo junto com Will até o caixa.

Havia duas pessoas fazendo pedidos para a atendente, então Nico e Will ficaram parados lado a lado, esperando.

Nico fez uma anotação mental para se lembrar de que Will gostava de variar pronomes femininos e masculinos, mas não da mesma forma que Alex. Will os deixava fluir na mesma frase, nunca ficando em apenas um por mais do que minutos. Não queria fazer a burrada de errar o pronome de alguém.

Por coincidência, Will escolheu aquele momento para se virar para Nico e dizer:

— Ei, me desculpa, a Alex não foi muito específica, quais são seus pronomes?

Nico gostou do uso das palavras. Quais são. Não quais você prefere, ou quais você se identifica. Quais são.

Ele limpou a ganganta antes de responder, sentindo-se nervoso de estar ali sozinho com Will.

— É ele agora. Geralmente é ele. As vezes é neutro, mas é só, tipo, dez por cento do tempo.

Will assentiu.

— Vou fazer uma anotação mental disso.

Nico não gostou muito da fisgada que sentiu abaixo de seu estômago, como uma linha sendo puxada para dentro, mas o sentimento estava ali.

Ele não queria ficar ali em um silêncio constrangedor, então se forçou a dizer:

— Você é gênero fluído, né? Alex ficou a semana toda dizendo como era legal finalmente ver ao vivo alguém como ela.

Will riu.

— É. Desculpa por não ter ninguém agênero pra te apresentar.

Não fazia ideia de como Will sabia qual era sua identidade, mas gostou de qualquer forma.

Gostaria de dizer mais algo sobre aquilo, mas Will falou:

— Eu sempre quis uma daquelas.

Ele estava apontando para os cartazes atrás do caixa, com as especialidades da sorveteria. Nico encarou aquele monte de fotos de taças de sorvetes.

— A de menta com chocolate. — Will especificou. — Não tem como isso ser ruim. Eu sempre quis essa, mas ela é grande e cara demais pra uma pessoa só... E Magnus odeia qualquer coisa que não seja de morango ou baunilha. Algumas pessoas simplesmente não sabem viver.

Nico olhou para uma das taças de sorvete que sempre quis experimentar: com sorvete de menta, vários tipos de chocolates e outros atrativos. Era grande, do tipo que ninguém come sozinho, sempre com um acompanhante.

Do tipo que foi feita pensada para um casal.

Nico tentou não pensar muito nisso.

— Como ele não gosta de sorvete de menta? — Nico disse. — É o melhor de todos.

— Bem, é o meu favorito, então preciso concordar com você.

Eles se olharam.

— Nós podemos dividir. — Will sugeriu, lentamente. Havia um pequeno sorriso no canto de seus lábios.

Nico não hesitou em aceitar.

Ele sempre esperou por alguém para dividir sorvete de menta.


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