AS TRÊS AVENTUREIRAS escrita por Aventure
O baobá era impressionante. Dezesseis metros de largura, precisaria um batalhão para abraçá-lo. Em seu tronco marrom e rugoso, porém, pendiam cartazes em várias línguas, inclusive o idioma do deserto, falado por Alter, e o circassiano, de Gésane. Esta sabia falar a língua de Alter; o contrário não sucedia.
— Que língua falará esse homem? — especulou a circassiana, abrindo e fechando, por exercício, os longos e ossudos dedos de suas longas mãos.
— Talvez seja o hiperbóreo — opinou Alter, alisando os longos cabelos castanhos. — Logo saberemos. Tomara que ele esteja em casa!
As placas anunciavam coisas fabulosas: “Resolva os grandes problemas da sua vida! Consulte o grande Sábio da Árvore Oca!”“O passado e o futuro não são mistério para o Grande Sábio!”“Abdil, o Sábio do Baobá Oco, orienta a sua vida por preços módicos!” “Mude a sua vida, resolva as suas dificuldades!” “ O Grande Sábio te dará a orientação!”
— Será tudo isso verdade? — comentou Gésane, com uma ponta de ceticismo.
—Se viemos até aqui, vamos ter que ver. Vamos bater na porta!
Tinham prendido as bestas em arbustos próximos e se aproximaram da grande árvore.
— Alter... Será que fica bem chegarmos assim descalças? Não é melhor colocarmos as sandálias?
Alter riu, olhando os pés sujos, mas graciosos, de Gésane.
— Poderia ser um erro. Não conhecemos os costumes, talvez a boa educação esteja em entrar descalça, deixar os calçados do lado de fora. Eu não me preocuparia com isso.
— Com o que você se preocuparia?
Pela expressão de Alter, não se saberia se ela brincava ou falava a sério:
— Com o conjunto dos teus olhos. Essas pupilas verdes, os teus cílios exagerados, o ornato das tuas sobrancelhas.
— Outra vez essa história, Alter?
— Gésane, você tem olhos de enlouquecer os homens. Vamos que o Grande Sábio seja um tarado, e aí...
A circassiana fez um gesto de impaciência.
— Tudo bem. Se ele me atacar você me protege. Vamos logo, mulher!
Chegaram à porta de madeira — obviamente não era madeira do baobá, que estava fossilizado —e depararam com uma placa-seta que dizia: TOQUE AQUI.
— Que é isso?
— É uma campainha, Alter! Conhece?
— Ela move um cordão e um sino, não é?
— Não, essa é elétrica!
— Você disse elétrica?
— Já sei! Na sua terra não tem isso? Na Circássia tem em alguns lugares. A gente pode iluminar a casa de noite, sem precisar acender velas.
— E de onde vem isso?
— Isso está na natureza. Não vê os raios, as faíscas?
Alter parecia fascinada, mas Gésane já estava impaciente e pressionou a campainha. Ouviu-se um som musical, e Alter deu um pulo para trás.
— Sua boba!
Aguardaram alguns minutos. Gésane já pensava em tocar de novo quando a janelinha da porta se abriu e surgiu uma estranha visão.
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