Mãe escrita por Beatriz Lorena


Capítulo 1
A Idéia


Notas iniciais do capítulo

Essa história aqui é muuuuito antiga e eu escrevi ela na época em que saiu o ep do Pequeno Mordomo, então obviamente já não tem muita relação com o andamento atual do desenho, mas na época que eu escrevi, eu ainda era muito nova nisso de escrever e ler fanfic, então eu decidi reescrever a tragédia que era essa fic, espero que gostem.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/760221/chapter/1

Aquela tarde estava especialmente triste, e não era por clichês como o céu estar nublado e chuvoso, até porque o clima estava agradável, quente e perfeito pra dar um volta na orla da praia. E provavelmente seria isso que Steven faria, ou salvar Beach City de alienígenas, porém hoje não.
Hoje não porque hoje era um dia especialmente triste, e só quem sentia essa angústia era o garoto. Havia se passado algum tempo desde o Réveillon e, consequentemente, o caso do "Pequeno Mordomo"
Aquele caso que só causou problemas, emoções, problemas e mais problemas, e que insistia em não sair um minuto sequer da cabeça do meio-gem. Não conseguia esquecer aquela noite.
Não conseguia esquecer dela.
O momento da briga, onde agiu por impulso para separar Greg e Ametista e se deparou com a cópia quase perfeita de Rose. Os cachos, o vestido, os pés descalços, o batom no rosto, tão linda porém tão vazia, o tom roxo lhe dando um aspecto fantasmagórico que não se surpreende ter assombrado Greg.
E era estranho, bizarro, mas Steven sentiu que esse momento era seu. Quando cruzou os olhos com o da "mãe", parecia que só os dois estavam ali. Vê-la pessoalmente, na sua frente, sem ser por um vídeo ou quadros pendurados pela casa como santuários era, não sei, mágico. Entretanto aquela não era Rose Quartz. Aquela não era a líder das Crystal Gems, a primeira alienígena a se envolver com um humano e a mãe de Steven Universo. Aquela era Ametista, tentando forçar Greg a assistir um seriado.
E retornava a angústia, a dor incessante no peito e a memória que se repetia e se repetia em um loop eterno na sua cabeça, quebrando-o em mil pedaços. E sua mente passava a vagar por lados perigosos, pois todo esse caso do Pequeno Mordomo envolvia sentimentos mórbidos e fazia Steven relembrar do fato que vivia o perseguindo: fora ele o causador da morte de Rose. Ok, ela "largou mão do corpo físico para tê-lo", mas não foi a mesma coisa que morrer? E era mais depressivo ainda saber que isso tudo é culpa sua sem que você tivesse sequer nascido pra fazer algo errado. E todos repetiam que Steven não era culpado, entretanto o garoto não era idiota. Sabia que as Crystal Gems o culpavam, mesmo que jamais fossem admitir em voz alta.
 —Steven. Steven. - uma voz o despertou, fazendo-o relembrar onde estava — Você escutou algo que eu disse?
Era Sadie. Os dois estavam no Big Rosquinhas, sentados um de frente pro outro e conversavam exatamente sobre aquele assunto, pois o menino precisava de algum conselho.
 — Você escutou algo que eu disse?
 — Não. - foi sincero com a amiga.
Ela suspirou. Estava tão preocupada com o colega. Desde que o conhece ele é tão alegre, espontâneo, animando o ambiente ao seu redor, independente de toda a loucura que é a sua vida. Vê-lo entrar cabisbaixo no estabelecimento, com uma aura triste ao seu redor e pedindo um conselho com a voz tão quebrada, isso lhe partia o coração e precisava tentar fazer algo para ajudá-lo.
 — Eu disse que, não sei, se eu fosse você acho que pediria para Ametista se transformar de novo. Pelo menos para rever sua mãe uma última vez, sabe? - explicou novamente.
Sadie não sabia mesmo o quê fazer. Deuses, ela é só uma humana, com problemas humanos e isso não tinha nada de humano!
 — Sadie, essa idéia é fantástica! - como num passe de mágica ele se animou, voltando a ser o mesmo de sempre - Você é a melhor! Vou falar com ela agora.
Se levantou da cadeira e partiu correndo porta a fora
[...]
Quando chegou no templo, se deparou, por sorte, com a porta do quarto de Ametista aberto, que ela provavelmente não fechou por pura preguiça.
Entrou e procurou a garota por algum tempo, adentrando mais e mais o quarto.
 — Ametista?! Ametista?! Onde você está?! 
 — Eu vou te matar! - alguém com a voz engrossada gritou, se jogando de um pilha de lixo e caindo em cima de Steven, que gritou de susto. - Há! Te peguei direitinho.
Ametista saiu de cima dele, tirando do rosto sua máscara de Jason.
 — Estou arrumando as coisas por aqui. - chutou uma pilha de lixo - Pérola-sabe-tudo veio aqui e desarrumou tudo!
 — A-ah, legal... Ametista, eu queria lhe pedir um favor - Steven começou, temendo por uma reação negativa - Eu queria que você...
Falou baixo demais, fazendo com que nem ele mesmo escutasse a continuação. Ametista se aproximou mais, confusa, e pediu para o garoto repetir.
 — E-e-eu queria q-que você se transformasse... - não conseguiu continuar, um bolo se formou em sua garganta e ele estava com vergonha de seu pedido.
Pensou em desistir, pois além de a gem não estar entendendo nada, parou para repensar e tirou conclusão de que aquilo era estúpido. Não iria ver Rose nunca, do que adiantava uma cópia dela?
 — Transformar? - ela entendeu a última palavra - Ah! Você quer que eu me transforme em algo! O quê então? Uma bola? Um bebê? Ou talvez um...
 — Não, Ametista! - interrompeu a amiga e logo após voltou à timidez, mas agora pronto para dizer de uma vez - Eu queria que você se transformasse em minha mãe...
Ametista congelou. Ela não esperava nem um pouco aquele tipo de pedido, e temeu pela possibilidade diante de seus olhos. Não queria se transformar, não depois do Réveillon e do trauma que aquilo lhe causou, e não queria agir tão banalmente quanto a imagem de Rose.
 — M-mas se as outras entrarem aqui eu vou levar uma bronca! - pensou em alguma desculpa, implorando internamente que ele esquecesse essa idéia.
 — Estamos longe da porta, saberemos se alguém se aproximar. - Steven ressaltou, mas quase desistindo.
— Eu não posso! Não depois de tudo aquilo... - se referiu ao episódio já tão conhecido pelos dois.
O garoto segurou a mão da amiga e a encarou, tentando passar confiança:
— Por favor, eu preciso disso.
Ela se decidiu, se desaproximando um pouco. A pedra em seu peito brilhou forte, cercando-a de uma luz cegante e modificando sua silhueta, tornando-a bem maior. Quando a luz deixou de brilhar, existia ali uma mulher roxa exatamente igual Rose Quartz. 
Ametista encarou Steven, que analisava cada parte de sua "mãe". Não abriu a boca em só um momento, apesar de em sua mente se passar várias perguntas e piadas, que a ansiedade sufocava e não deixava passarem por entre os lábios grossos pintados.
Os olhos castanhos se encheram de lágrimas e Steven a abraçou, afundando o rosto no tecido do vestido. Tinha o cheiro de Ametista, porém o garoto não ligou, principalmente quando os braços o cercaram e a mulher abaixou para abraçá-lo mais firmemente. Fechando os olhos, podia imaginar o rosa, a risada, o olhar preocupado e gentil e o "eu te amo". 
Ametista não podia deixar de pensar o quão encrencada ficaria se presenciassem aquela cena, mas sorria de qualquer forma, tentando ao máximo passar a imagem que conheceu de sua líder, aquela mãezona que cuidou tão bem de sua equipe.
E por muito tempo ficaram ali, abraçados e relembrando (ou criando) memórias.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Mãe" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.