Os dias seguintes foram uma surpresa para Loki, porque Thor não voltou a agir como um idiota. Por mais inacreditável que fosse, Thor parecia ter se tornado alguém mais responsável. Ou pelo menos estava tentando ser.

A pedido de Odin, Thor começou a participar das reuniões do conselho. Ele ainda parece entediado quando as reuniões se alongam por horas e horas sobre assuntos poucos interessantes, mas se esforça para prestar atenção e contribuir com alguma sugestão ou opinião. O simples fato de Thor ficar até o final de uma reunião já era algo admirável; Thor costumava inventar desculpas para não participar delas.

Thor continuava fiel a sua promessa de fazer de Loki seu futuro Conselheiro Real, e sempre solicitava a companhia do irmão. Odin aprovou a ideia e estava contente em ver os filhos agindo em conjunto.

Em uma reunião para tratar de questões de segurança, Thor apresentou a ideia de fortalecer o escudo que protegia o castelo. Ele também queria que Asgard tivesse um exercito de magos; essa ideia pegou Loki de surpresa tanto quanto os demais participantes da reunião.

— Um exército de magos?! — alguns membros do conselho exclamaram. Loki nunca os viu tão confusos. Eles agiam como se Thor tivesse sugerido criar um exercito de galinhas. Loki não sabia de onde Thor tinha tirado essa ideia, mas concordava plenamente com ele.

Atualmente em Asgard, só estudava magia quem tinha interesse pela coisa, quem nascia com o dom e precisava aprender a controlar, ou quem era parente próximo de um feiticeiro que tinha a intenção de repassar seu conhecimento. Resumindo, eram poucos.   

— Não necessariamente um exército — Thor continuou. — Mas Asgard deveria ter mais pessoas versadas em magia...

— Sua mãe já treina mulheres o suficiente — Odin o interrompeu.

Loki fechou as mãos em punhos. A declaração de seu pai revelando o que a grande maioria das pessoas em Asgard pensava sobre magia. Que era uma arte para mulheres.

— Não apenas mulheres. Homens e crianças também. Qualquer um que tiver o dom e a pretensão de aprender.

— Os homens não irão querer aprender uma arte feminina e serem chamados de...

— Tome cuidado com o que irá dizer, Ancião — Thor falou ameaçadoramente, apontando o dedo para o velho. Meu irmão está aqui conosco e é um mestre das artes místicas, aconselho a não o ofender. Saiba, como eu sei por experiência própria, que em batalha um feiticeiro vale mais que vinte guerreiros.

— Não foi minha intenção ofender o Príncipe Loki, Vossa Alteza — o homem estava vermelho e assustado. Loki sabia que ninguém ousaria  fazer outro comentário do tipo.

Loki se empertigou a direita de Thor, fazendo pouco esforço para esconder seu sorriso.

— E estou falando de magia combativa. Para que eles possam atacar e defender. Uma vez treinados, eles poderiam trabalhar em conjunto com os Einherjar. — Thor continuou, como se ninguém o tivesse interrompido.

— Isso me parece desnecessário. Já temos os Einherjar e os melhores guerreiros dos Nove Reinos. — Odin falou coçando a barba.

— Desnecessário, meu pai? Tudo o que eu consigo ver é como o nosso povo está terrivelmente despreparado para enfrentar inimigos que dominem a magia. Como... Como os  Elfos Negros.

— Elfos Negros estão extintos.

— Não temos certeza disso. Os Relatos de Bor contam que Malekith jamais foi encontrado. Há por aí magos muitos poderosos, e feiticeiras tão letais quanto a própria morte. Não acha sensato que seu povo esteja preparado para esse tipo de inimigo, meu pai?

Thor queria fazer Odin pensar em Hela. E pela maneira como Odin estava olhando-o, Thor conseguiu.

— Muito bem. Mas quem se encarregaria de tal função?

— Minha mãe já é uma grande mestra. Tenho certeza de que ela concordará. Ela precisará de ajuda, é claro. Não conheço nenhum mago mais habilidoso do que meu irmão, Loki.

— Com sua permissão, meu pai — disse Loki —, eu encontrarei os melhores feiticeiros e magos de Asgard.

Odin concordou.

.

.

Quando a reunião acabou, Thor convidou Loki para acompanhá-lo até os campos de treinamento. Loki nunca foi muito entusiasmado a acompanhar Thor para esses treinamentos. Era sempre a mesma rotina. Thor, Fandral, Volstagg e Hogun ficavam competindo para ver quem era o mais forte. Thor sempre ganha. Exceto quando o adversário era Lady Sif. Sif ganhava algumas vezes. Ou Thor a deixava ganhar. De qualquer forma, Loki odiava quando Thor começava a tecer elogios para ela. Mas hoje, hoje Loki estava de bom humor, por isso ele resolveu acompanhar o irmão.

— Meus olhos devem estar me enganado porque vejo  o ilustríssimo príncipe Loki se aproximar — disse Fandral de modo teatral.

— Ao contrário do que sua mente possa estar imaginando, Fandral, não vim aqui para vê-lo. Então não se anime muito. — Loki olhou ao redor e sentiu uma pequena satisfação ao perceber que SIF não estava.

— É claro que não. Você veio para assistir Thor.

Loki não respondeu.

— Podemos começar? Eu já estou com fome — resmungou Volstagg.

— Fome? Acabamos de voltar da taverna — disse Hogun. — Você comeu um frango assado inteiro. Sozinho.

— Um frango não dá nem pra começar, meu amigo.

— Tem certeza de que não quer participar, irmão? — Thor indagou a Loki, que tinha escolhido um lugar protegido do sol nas arquibancadas.

— Tenho certeza. Vou ficar aqui e torcer por você. Não me decepcione.

Thor tocou o lado do pescoço de Loki. Loki segurou a mão de Thor ali por alguns segundos.

— Não irei.

Thor foi para o centro da arena de terra, manejando Mjolnir para lá e para cá. Fandral o acompanhou. Fandral olhou para o rosto radiante de Thor e para o sorridente Loki sentado nas arquibancadas.

— É impressão minha ou vocês dois parecem ligados pelo quadril desde a coroação? Aconteceu alguma coisa que não sabemos?

— Como o quê? — Thor olhou para Fandral com uma expressão vazia e inocente.

— Não sei. — Fandral sorriu. — Esqueça.

 .

.

.

O treino foi divertido. Sif tinha aparecido já perto do final, mas ela ainda pôde participar. Infelizmente, Loki saiu assim que Sif chegou. Thor não conseguia lembrar se nessa época Loki e Sif tinham brigado por alguma razão. Mas seu irmão nunca se deu muito bem com Sif desde o incidente do cabelo.

Thor se sentia suado e dolorido, um banho na piscina termal ajudaria a relaxar os músculos. Thor despiu-se no vestíbulo e caminhou para a sala de banho. Ele congelou na entrada quando viu que Loki já estava lá com metade do corpo imerso na água morna.

— Desculpe. Eu não sabia que você já estava aqui.

— Tudo bem — respondeu Loki quando Thor se virou para sair. — Você pode ficar se quiser. Tem espaço suficiente para umas vinte pessoas mesmo.

— Certo.  Tudo bem.

 Thor ainda ficou imóvel por alguns segundos, sem saber o que fazer. Mas como Loki o estava olhando com uma expressão inquiridora, Thor se aproximou da borda da piscina, deixou a toalha cair e entrou na água o mais rápido que pôde.

Thor nuca teve problema com nudez. Essa não era a primeira vez que ele ficava nu diante de Loki, mas ainda assim, parecia diferente agora. Loki não desviou os olhos um só segundo, nem pareceu afetado como Thor estava. Thor abriu os braços sobre a borda, e deitou a cabeça para trás, deixando a água quente fazer sua mágica.

— Você poderia ter falado comigo com antecedência sobre essa sua ideia de treinar mais feiticeiros — a voz de Loki ecoou pela sala silenciosa. ­— Ser seu conselheiro envolve poder alertá-lo se uma ideia é boa ou ruim antes que você a traga ao público.

Thor abriu os olhos. Loki não parecia zangado ou aborrecido. Era um terreno seguro.

— Desculpe. Você acha que é uma ideia ruim?

— Não. É a melhor ideia que você já teve. — Loki começou a nadar em direção a Thor. — Há uma razão para os grandes guerreiros sempre portarem uma arma mágica. Como nosso pai e sua lança Gungnir, e você com seu martelo Mjolnir.

— Que seria?

— Embora a maioria do nosso povo escolha menosprezar os feiticeiros e enaltecer os guerreiros, nós sabemos que no campo de batalha, um guerreiro com uma arma comum não tem a mínima chance. Como você mesmo disse.

— Eu vi com meus próprios olhos o que feiticeiros poderosos e artefatos mágicos poderosos podem fazer.

— Me diga quando você viu isso?

Thor olhou para Loki, agora tão perto dele, ao alcance da mão.

— No futuro. — Thor respondeu, e Loki girou os olhos, tomando a resposta do irmão por brincadeira.

Loki nadou até a outra borda, subindo os degraus que levavam para fora da piscina. Thor teve uma visão completa de seu irmão nu. Thor desviou os olhos, dando tempo para Loki colocar seu roupão. Mas quando Thor olhou de volta viu o tecido fino e branco grudando na pele molhada de Loki. Não revelava tudo, mas sem dúvida atiçava a mente. Thor sentiu seu sangue ferver e despertar certa parte de seu corpo.

— Já estou indo. — Loki enxugava o cabelo com uma toalha seca, sem dar muita atenção a Thor. — Nos vemos no jantar.

Loki entrou no vestíbulo para se trocar, e Thor submergiu completamente na água para esfriar a cabeça. Talvez o banho quente não tivesse sido uma boa ideia. Ele precisava desesperadamente de um banho muito gelado.

.

.

.

Por mais que Loki estivesse gostando desse novo Thor, ele sabia que algo tinha acontecido para provocar essa mudança. No entanto, Thor sempre dava um jeito de se esquivar da questão sempre que Loki indagava algo sobre. Loki conhecia Thor muito bem, portanto ele sabia que Thor estava mentindo. Mas por quê? E sobre o quê?

A curiosidade estava matando Loki. Não era simplesmente o fato de Thor ter um segredo, mas o medo e a tristeza escondidos nos olhos de Thor sempre que Loki tenta arrancar alguma informação dele. Loki sabia que algo grande e importante tinha acontecido com Thor. Talvez algo muito ruim. Quando Loki pensava nisso, Loki sentia raiva de quem quer que fosse responsável pelo sofrimento de seu irmão.

Certa tarde, quando voltavam do campo de treinamento, Loki perguntou a Thor se ele ainda estava tendo aqueles pesadelos. Thor demorou alguns segundos para responder que não. Loki também pesquisou sobre aquela pessoa que Thor havia mencionado, Thanos, mas não encontrou nada em Asgard sobre ele; provavelmente era um ele. Loki teria que procurar nos outros reinos também.

Também havia as misteriosas visitas que Thor estava fazendo a Heimdall. Eles sempre foram amigos, então não havia problema em Thor ir até a Bifrost para ver Heimdall. No entanto, por alguma razão, Thor decidiu fazer essas visitas às escondidas e elas se tornaram cada vez mais frequentes. Thor achava que estava sendo discreto e que ninguém notava suas escapulidas.

Até hoje, Thor não sabia como era fácil para Loki segui-lo. Loki fazia isso desde criança.

Sempre que Thor queria fazer algo sem Loki, ele saia escondido. Obviamente, o pequeno menino Loki achava um absurdo Thor querer alguns momentos sem seu irmão. Loki sempre o seguia para saber o que Thor estava fazendo ou com quem ele estava. Loki só diminuiu um pouco esse hábito quando ele tinha catorze anos e seguiu Thor porque achou que o irmão iria se encontrar com Sif. Em vez disso, Loki acabou vendo Thor se masturbar. Só de recordar aquele incidente, Loki sentiu seu rosto corar e seu coração acelerar, como se ele ainda fosse aquele menino de catorze anos de séculos atrás.

A imagem de um Thor de dezesseis anos ainda era muito nítida em sua mente. Thor recostado em uma arvore no meio da floresta, com a mão entre as pernas. O rosto corado. Fazendo sons constrangedores que o menino Loki jamais ouviu seu irmão fazer.

O jovem Loki tinha ficado tão constrangido e perturbado, que não conseguiu olhar para Thor por duas semanas.

Loki sacudiu a cabeça.

Enfim, Thor estava visitando Heimdall às escondidas, e não era para se masturbar; pelo menos Loki esperava que não. Loki sabia que não adiantaria perguntar a Thor, sua melhor opção era falar diretamente com o próprio Heimdall. E aqui estava outro grande problema: Heimdall e Loki nunca se deram muito bem.

Com o tempo, Loki aprendeu que não era sábio deixar todas as pessoas saberem sobre seus poderes e habilidades. Enquanto era agradável ao ego que mais e mais pessoas soubessem o quanto ele era poderoso em magia, tal exposição não era sábia e nem prática, e trazia muitas complicações. Então, Loki passou a ocultar grande parte do que ele era capaz de fazer. Isso o mantinha na surdina.

Se ninguém soubesse que ele era capaz de fazer crescer cabelo, ninguém teria o obrigado a devolver os cabelos de Sif. Frigga tinha ficado muito zangada com ele, Thor também. Mas o que Loki podia fazer? Tudo o que Thor sabia falar naquela época era o quanto o cabelo dourado de Sif era perfeito. Bem, Loki acabou com isso. Loki também aprendeu sua lição.

Uma das primeiras coisas que Loki decidiu esconder de todos, era sua habilidade em se ocultar de Heimdall. Não foi nada fácil desenvolver um feitiço capaz de tornar alguém oculto aos olhos do Guardião Que Tudo Vê. Levou um bom tempo para Heimdall descobrir que Loki podia fazer isso. Mas Heimdall nunca contou a Odin sobre essa habilidade peculiar de Loki, talvez porque Heimdall ainda não descobriu como Loki fazia isso, ou talvez por vergonha de admitir que há alguém capaz de escapar dos olhos do Guardião da Ponte.Isso levou Heimdall a desenvolver uma crescente desconfiança e antipatia por Loki.

Então, Loki não ficou surpreso quando Heimdall se recusou a dar informações.

— Escute. — Loki tentou uma abordagem mais emocional e completamente sincera. — Não tenho segundas intenções aqui. Meu irmão tem se comportado fora do comum nos últimos dias. Eu sei que Thor parece perfeitamente bem, mas ele não está. Eu posso ver isso nos olhos dele. Thor está ferido de alguma forma, ou ele está com algum problema e não quer contar a ninguém. Eu só quero ter certeza de que está tudo bem. Como amigo dele, você deve ter notado isso também.

Heimdall encarou o príncipe a sua frente. Sim ele tinha percebido a mudança súbita de Thor. Thor parecia ter finalmente colocado algum juízo em sua cabeça, mas também havia aquelas estranhas solicitações. Loki estava certo.

­— Thor sempre pergunta sobre o mesmo reino — disse Heimdall. —Midgard. E sempre que vem, ele pede que eu verifique uma pessoa diferente.

— Meu irmão já esteve com alguma dessas pessoas?

— Esse é o grande mistério. A não ser que Thor tenha descoberto meios de ir para os outros reinos sem passar por esta ponte, assim como você — ele alfinetou —, Thor jamais falou com essas pessoas, nem pisou em Midgard.

— O que ele deseja saber? Sobre as pessoas.

— Apenas se estão bem e seguras. O que estão fazendo.

— Quais os nomes deles?

Heimdall estreitou os olhos, ainda com desconfiança, mas acabou respondendo.

— Jane Foster. Tony Stark. Erik Selvig. Bruce Banner. Steve Rogers. Natasha Romanoff. Clint Barton. Wanda Maximoff. Stephen Strange. E alguns outros, mas esses são os mais frequentes. Alguns desses são pessoas bem incomuns.

Loki decidiu ver as tais pessoas com seus próprios olhos. Ele precisava entender qual o interesse de seu irmão nesses midgardianos. Loki agradeceu a Heimdall, e estava se preparando para sair quando lembrou. — Já ouviu ou viu alguém chamado Thanos?

Loki viu Heimdall enrijecer.

— Onde ouviu esse nome?

— Thor o disse durante um pesadelo.

— Não é ninguém nos nove reinos. Nem nos outros planetas mais próximos. Deve estar muito além dessa galáxia, onde minha visão não alcança com precisão.

— Muito bem, me informe se descobrir algo.

— Certamente, meu príncipe.

Loki montou em seu cavalo e voltou para o palácio.

.

.

— O que você fez?! — indagou Loki, horrorizado, quando entrou no quarto de Thor e viu o irmão cortar fora a última mecha de seu lindo cabelo comprido. — Por que cortou o seu cabelo?

— Eu percebi que o cabelo curto é mais prático. Acho que me acostumei. — Thor deu de ombros. Loki continuava a olhar para ele com perplexidade. — Bem já que você gostava tanto, pegue pra você.

Thor entregou aquela última mecha de fios dourados para Loki e voltou a se olhar no espelho. Loki bufou com desdém, mas discretamente escondeu a mecha em suas vestes.

— Você realmente não gostou? Acha que fiquei feio? — Thor olhou para Loki e de volta para seu próprio reflexo no espelho.

— Feio? Dificilmente eu o descreveria como feio, Thor. Apenas diferente.

— É? — Thor abriu um enorme sorriso e deu um passo mais próximo de Loki. Muito mais próximo. Quando Loki respirou, ele foi preenchido com o cheiro de Thor. — Você me acha bonito?

— Difícil é encontrar alguém que pense o contrário, irmão. Mas eu não vou responder a sua pergunta.

— Por que não, se sua resposta já ficou implícita?

— Creio já ter pessoas demais para inflar a sua vaidade. Não vou participar disso.

— Em questão de vaidade, irmão, a sua rivaliza com a minha. Embora eu não seja tão encantador.

— Isso até pareceu um elogio.

Thor passou os dedos pelos cabelos de Loki, aparentemente inconsciente de como o ato parecia íntimo. Ele deixou sua mão descansar no pescoço de Loki.

— Por que não deixa seu cabelo crescer?

Loki girou os olhos.

— Você é inacreditável, Thor. Acabou de cortar seu cabelo fora, mas quer que eu deixe o meu crescer.

— Só estou dizendo. Acho que ficaria legal em você.

Thor ficou ainda mais perto, e acariciou o maxilar de Loki com o polegar.

— Legal?

— Sim.

— Você gostaria disso? — Loki ficou surpreso ao perceber como sua própria voz soara lasciva. Ele podia até sentir a respiração quente de Thor em seu rosto.

— Sim.

Eles já tinham se provocado assim várias vezes no passado, mas algo no olhar de Thor era diferente. Isso não era simples e inocente provocação entre irmãos. Em algum momento a coisa caminhou para uma direção inesperada. Thor estava flertando com ele. E Loki estava flertando de volta. Loki se perguntou qual dos dois estava mais louco.

— Então vou mantê-lo curto. — Loki respondeu e quebrou o contado visual. Ele deslizou graciosamente para o lado, colocando alguma distancia segura entre eles.

— Você é tão malvado, Loki. — Thor sorriu, como se aquele momento entre eles não tivesse sido nem um pouco estranho ou inapropriado para dois irmãos.

— Vamos, me dê a tesoura. Deixe-me acertar seu cabelo, está tudo torto.

Antes de começar, Loki olhou para seu reflexo e o de seu irmão. Ambos estavam ruborizados.

“Consorte Real é um título mais adequado?”

Não. Loki não estava imaginando coisas.

Quando Loki terminou de acertar o corte de cabelo de Thor, ele deslizou os dedos pelos fios curtos.

— Nem me lembro de quando você já teve o cabelo tão curto assim.

— Você realmente não gostou? — Thor franziu a testa. — Vou deixar crescer novamente.

— Desde quando você se importa com a minha opinião?

Loki tentou se afastar, mas Thor segurou seu pulso.

— Eu sempre me importei, Loki.

— Fique tranqüilo, irmão. — Loki sorriu e deslizou uma mão pelo ombro de Thor. — Eu ainda o acho muito bonito. Satisfeito agora?

Thor se aproximou mais ainda. Ele acariciou a mandíbula de Loki. O toque descendo para o pescoço e seguindo para a nunca.

Loki inclinou-se para o contato da pele, era quase relaxante. Ele fechou os olhos por um instante. Quando percebeu, suas costas tocaram a parede e os lábios de Thor tocaram a curva de seu pescoço. Sua pulsação estava um pouco acelerada, mas definitivamente não era de medo.

— O que está fazendo, Thor?— sussurrou.

— Loki, eu... Eu... — as pupilas de Thor estavam explodidas. Ele não conseguia explicar. Ele só conseguia ver os olhos verdes de Loki olhando-o intensamente. Os lábios de Loki tão tentadores. O perfume de Loki tão familiar e tão convidativo. Thor se inclinou para beijá-lo.

— Não! — Loki o impediu, colocando os dedos sobre os lábios de Thor.

— Por quê? — Thor perguntou timidamente, embora suspeitasse a resposta. Thor ainda estava descobrindo esses novos sentimentos por Loki, ele tinha consciência que eles poderiam parecer errados e controversos, mas eles já estavam enraizados em seu peito.

— Você é meu irmão.

— Eu não... — Thor se refreou. Ele ia dizer que eles não eram irmãos de verdade. Mas isso era uma mentira. Loki sempre seria seu irmão. Mesmo que eles não tivessem o mesmo sangue. E agora Loki era mais do que isso. — Eu não me importo.

Loki arregalou os olhos, surpreso.

Eles tinham ficado tão próximos depois da destruição de Asgard.

 Tão próximos.

 Tamanha proximidade e intimidade não teriam surpreendido aquele Loki do futuro, mas poderia ser demais para este Loki. Este Loki não tinha vivido todas as coisas que Thor viveu com o Loki do futuro. Thor entristeceu-se ao perceber que, ao voltar ao passado, ele também havia perdido todas as coisas boas que ele compartilhou com o irmão. Todas as coisas que eles descobriram juntos.

Loki tocou o rosto de Thor e o beijou na bochecha. Ele passou os braços sobre o ombro de Thor e o abraçou.

— Você está realmente muito mudado, Thor Odinson — Loki sussurrou no ouvido de Thor.

Loki se perguntou quando Thor começou a desenvolver esse tipo de desejo pelo próprio irmão. Loki sabia que devia estar assustado ou mesmo enojado, mas o que ele sentia naquele momento era vaidade e um pouco de euforia. E uma repentina e inexplicável necessidade de sentir e tocar Thor.

Eles continuaram abraçados, até Loki ousar beijar o pescoço de Thor. Ele sentiu Thor arrepiar completamente. E aquilo foi maravilhoso.

Uma batida na porta os fez pular para lados opostos.

— Com licença, meu senhor, eu procuro o príncipe Loki. — a voz de um dos servos soou do lado de fora.

Loki se recompôs e foi abrir a porta.

— Estou aqui. O que deseja?

— Odin, Pai de Todos, e a rainha Frigga solicitam sua presença para tratar de assunto particular.

Thor engoliu em seco. Seus pais resolveram ouvi-lo? Contariam a Loki agora?

Loki deu uma última olhada em Thor antes de seguir o servo.