Eu podia ouvir seu coração batendo através do toque das minhas mãos.

Mesmo com apenas cinco meses de gestação, eu já podia sentir seu pequeno ser mexendo com vontade dentro da barriga da sua mãe.

Você era só um pedacinho de vida e mesmo assim parecia nos sentir tanto quanto nós o sentíamos. Lily mais do que eu, mas ainda assim nos momentos em que ela adormecia eu passava horas tentando sentir seus movimentos, por menores que fossem.

Eu não acreditava ser possível me sentir mais feliz do que o momento em que Lily disse “sim” no altar, mas mesmo com a guerra vindo a nosso encontro, a notícia de que eu seria pai reacendeu toda chama que havia em mim.

Filho, a sua vida deu um novo sentido para a minha.

— James, não seja bobo – exclamou Lily. – Se ficar insistindo ele não vai mexer.

— Vai sim, Lírio – respondeu ele com um sorriso ansioso. Os dois estavam deitados enquanto a chuva caía numa noite de março, e um James determinado mantinha suas duas mãos sobre a barriga da esposa que ria levemente dele. – Nunca perco a esperança.

E depois de alguns minutos, James finalmente o sentiu mexer, deixando estampado em seu rosto um sorriso que não desapareceria nem mesmo depois dele cair no sono.

Depois de um tempo de gravidez, nosso melhor hobbie deixou de ser assistir jogos de Quadribol e falar de estatísticas para às vezes sair pela Londres trouxa e fazer compras de bebês, ou apenas ficar em casa apostando em como seria aparência. Independente de como você fosse, tínhamos certeza que você teria meus cabelos, porém os olhos de sua mãe.

E quando eu digo “nosso”, quero dizer seus tios Remie, Pet, tia Lene e até mesmo seu tio Six. Isso sem contar as apostas que Remus e Sirius fizeram: se fosse menina, Remus seria padrinho, mas se fosse menino Sirius o apadrinharia. E bem, Padfoot ficou mais do que honrado com o título.

Você se tornou a maior paixão, e então a maior prioridade de todos.

— Conta logo, Lily! – implorou Marlene, com tanta animação que sozinha poderia preencher a sala toda.

James e Lily haviam combinado com os amigos que fariam um jantar para contar qual seria o sexo do bebê assim que descobrissem, e ali estavam eles esperando para receber a notícia.

— Muito bem, muito bem – começou Lily, igualmente animada – Vocês sabem que se fossem da minha vontade nós descobriríamos somente quando a criança nascesse, não é?

— Mas como ela não resiste ao meu encanto – cortou James, puxando a esposa para mais perto, e recebendo um leve tapa da mesma – nós decidimos que seria melhor descobrirmos antes, e assim termos mais tempo para preparar as coisas.

— Enfim! – sorriu Lily enquanto segurava a barriga, olhando para os quatro amigos que estavam diante dela; a ansiedade estampada em seus rostos. – É uma honra para nós que você seja o padrinho do nosso filho, Six!

— É um menino! – exclamou James em seguida.

E o que veio a seguir foram gritos de comemoração. Marlene chorou abraçando amiga tanto quanto Sirius tentava segurar a emoção das lágrimas abraçado à James. Remus tinha um sorriso que parecia estar prestes a rasgar seu rosto ao passo que Peter ficou sem palavras com tamanha comoção.

— É isso aí Moony, você vai ter que esperar mais um pouco – brincou Sirius, também abraçando o amigo.

— Não se preocupe Pads, não demora muito para você e a Lene nos darem um sobrinho também – respondeu Remus rindo, também emocionado.

Naquela noite não havia guerra, não havia desaparecidos, não havia nada; só havia alegria e a tão esperada vinda do pequeno Harry a ser compartilhada.

Harry, você é a realização dos sonhos que eu jamais imaginei habitar em mim. Quando você finalmente veio para nossos braços o mundo inteiro congelou para que somente nós três vivêssemos naquele momento.

Você sequer tinha aberto os olhinhos ainda e já segurava um dos meus dedos como se eu fosse o que o mantinha nesse mundo, e cada vez que o via respirar, sentia meu coração batendo no mesmo ritmo.

Você se tornou a razão pelo qual Lily e eu lutamos todos os dias por um mundo melhor.

Mesmo sua vinda sendo inesperada, você trouxe para Lily e eu todos os motivos a mais para viver, e por você nós morreríamos.

E eu espero que você jamais duvide do quanto é querido e amado por nós.

 xxx

— Jay? – chamou Lily da porta. James estava carregando um Harry há tempos adormecido em seu colo. – Está conversando a mesma coisa com ele de novo, ou seria um assunto novo? – Sorriu a ruiva ao se aproximar do marido que tão amorosamente olhava para o filho de apenas um mês.

— Estou sempre falando com ele, você sabe – respondeu ele também sorrindo, agora desviando o olhar para a esposa.

— Deixe-o descansar, amor – disse ela suavemente, as mãos passando pela bochecha gordinha de seu bebê. – A menos que esteja disposto a passar a noite toda acordado com ele.

— Não seria um problema pra mim também, Lírio – mas mesmo assim James o colocou ajeitadamente de volta no berço. – Mas isso você também sabe – acrescentou ele enquanto a puxava para um abraço.

— Você é o melhor pai do mundo, sabia? – sugeriu ela levantando os olhos para ele, admirando seus olhos, brilhando.

— Vocês são o meu mundo, Lils. Passarão pelo meu cadáver antes de qualquer mal acontecer com vocês - concluiu ele antes de puxá-la para um beijo cheio de amor.

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James e Lily poderiam não ter mais a sua liberdade; mas tinham um ao outro, poucos amigos, muito pelo que lutar, e principalmente o recém e amado fruto de seu amor.

Mas eles sabiam que desde que estivessem juntos, tudo estaria bem.

Until the very end.