Quando se lembrava de estar com Pepper, correndo num parque sem quaisquer preocupações, ele via um outro Tony, como se tivesse sido a vidas de distância. Tal qual um dia um sequestro mudou tudo, tal qual um dia um buraco de minhoca mudou tudo, os eventos do dia criaram uma nova realidade. Acordar pela manhã, depois de um sonho bom, em uma cama confortável e segura, sem o peso da catástrofe sobre si é que parecia fora de contexto agora.

O sonho.

Tinha sido real demais, ele disse a Pepper. Pareceu tão bom e ele quis tanto. E ele nem mesmo entendeu o que significava.

Tony Stark sempre soube que o fim viria de cima, que ele não era capaz de impedir, que nem mesmo todos os Vingadores juntos eram capazes. Ele ocupou sua mente com formas de impedir, ele se tornou o cientista louco, obcecado, agiu impulsivamente mais de uma vez, guiado pelo medo de que o dia que "eles" chegassem fosse hoje, ou no dia seguinte, ou no outro...

A entrada do garoto Parker em sua vida não foi como Tony planejou, mas de novo, não era como se ele tivesse o controle de algo. E o adolescente estava lá, conta a vontade de Stark, quando o dia mais temido chegou. Estava ao seu lado, lidando com o perigo como se fosse nada, como se entendesse os riscos. Apenas uma criança com um coração grande demais e uma coragem sem medidas.

E foi apenas no último segundo que os olhos de Tony se abriram. Quando Peter se apoiou em seu abraço, quando Peter chorou e implorou, Tony entendeu o sentimento. Ele sonhou que tinha um filho e acordou com a certeza de que era real. Stark percebeu tarde demais.

Assim como Tony sabia que um dia enfrentaria uma ameaça impossível de ser derrotada, mas não estava pronto para passar por isso, Peter correu o risco de morte em cada segundo de perigo que vivenciou, mas somente no fim iminente o desespero se tornou real. Palpável. Irreversível.

Se ao menos Tony entendesse antes, ele teria dado aquele abraço no garoto, aquele antes de abrir a porta do carro. Ele enxergou tantas coisas, tanto futuro, tanta tecnologia, que deixou as coisas mais importantes passarem em branco.

E agora, depois do fim, só restava ao Stark chorar.

Não como se chora a perda de um amigo.

Não como se chora a perda de um aprendiz.

Mas como se chora a morte de um filho.