A ansiedade é como o Drácula escrita por Shamira


Capítulo 1
A ansiedade é vampiresca


Notas iniciais do capítulo

Apenas uma simples analogia ao mal que atormenta a maioria de nós e que, costumeiramente, ataca durante o período noturno.
Boa leitura.



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A ansiedade é como o Drácula

Capítulo Único: A ansiedade é vampiresca

 

A noite abraçou o céu.

Aquele era o gatilho para que suas ideias viajassem por uma profusão de suposições fantasmagóricas, que arrastavam suas pesadas correntes nos corredores de seu próprio limbo. Pensamentos conflitantes que emanavam um brilho prateado, atordoante, tal qual o cingir da lua cheia que imperava soberana no tapete negro sobre si.

Havia tensão em cada um de seus músculos e uma fraca enxaqueca confirmava sua presença. Encontrava-se à iminência de outra crise, Oleanna sentia. Sentou-se na cama em posição de meditação, fechou os olhos e começou a sequência ritmada de inspirações e expirações que pensou erroneamente acalmá-la. Outra vã tentativa de afastar as sensações que a enclausuravam: pânico, sudorese, taquicardia, tremor.

A ansiedade libertou-se de seu caixão, de seu pousio temporário, e esgueirou-se taciturna e faminta à procura de sua mente frágil que, novamente, tornar-se-ia sua refém. Prisioneira em uma torre alicerçada por milhares de tijolinhos de pessimismo. Construção de onde nem Van Helsing lhe ajudaria a escapar.

A maldosa rastejou em busca de Oleanna e ao levar seus gélidos dedos no braço da moça que contava até dez, o reflexo de si mesma exibido no espelho de perseverança, desapareceu. Apagara a luz do fim daquele túnel.

Oleanna separou os cílios e tudo o que enxergou foi a ausência de controle, refletida numa falta de ar que transformara a respiração num ato quase utópico. Era como se estivesse sendo asfixiada.

Andou, as pernas se liquefazendo, até a janela e abriu-a crendo que o vento noturno invadiria o cômodo e traria uma dose de alento. Um escape para as divagações que se misturavam em suas problemáticas: faculdade, trabalho, saúde, dinheiro, família, amor. Passado, presente, futuro.

Tantos devaneios, tantos pensamentos!

Almejava unicamente um pouco de domínio. Poder sobre a ação de não mais pensar.

Incitada pela luz do luar, a ansiedade deslizou pelo quarto, como um felino. Os pés moviam-se silenciosos e a capa que levava às costas parecia flutuar como um navio no oceano. Parou perto da coluna de Oleanna. Sua presença sentida em cada vértebra.

Ela estremeceu porque a ansiedade se aproximou outra vez.

Experimentou a pesada respiração eriçar os pêlos de sua nuca e, concomitantemente, mãos frias como o inverno enrodilharam-se em sua cintura. Oleanna sorveu uma pontada no estômago. Estava enjaulada. Uma baforada quente reverberou em sua clavícula e ao fechar novamente as pálpebras, lábios úmidos abocanharam seu pescoço. Teve náuseas. Ânsia de vomito.

Então, dentes afiados venceram a barreira conferida por sua pele e conforme se afundavam na camada de epiderme, um filete de sangue escorreu dos pequenos orifícios. Estava fraca, vencida. Decepcionada consigo mesma porque fora derrotada pelo terror criado por seu cérebro.

O sangue não era sangue. Eram lágrimas que vertiam de seus orbes oculares ao se ver no ápice da crise que lutara para afastar. Queria fugir, andar sem rumo, sem ao menos saber em qual destino chegaria. Em vez disso, como sempre acontecia, desmaiou.

Adormeceu sobre o tapete acomodado ao lado da cama e quando os raios solares tornaram-se fortes ao ponto de abortarem seu sono, Oleanna acordou.

Metade sua sentia-se melhor, e a outra metade sofria antecipadamente pelos horrores noturnos, pois bem sabia que a ansiedade era como o Drácula.

Ergueu-se do chão e caminhou roboticamente até o banheiro. Carecia de um banho, rezando para que o calor da água lhe conferisse o ânimo que necessitava para iniciar outro corrido dia. Pensou em recursos que pudessem afastar a ansiedade após o pôr do sol, mas tinha a certeza que uma estaca, alho ou crucifixo não iriam lhe ajudar. Afinal, o temido vampiro se escondia na escuridão de sua própria cabeça.


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Notas finais do capítulo

Vocês também são ansiosos? Sorvem os efeitos físicos desse monstro?
Beijos. Obrigada pela presença. ♥



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