Roommates escrita por isa


Capítulo 2
Soft Universe


Notas iniciais do capítulo

A música que dá título a segunda - e última parte - da historinha é da Aurora e pode ser conferida aqui: https://www.youtube.com/watch?v=tIhfFFX39X0



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Ela podia ser tão espinhosa. Ao vê-la vociferar em frente ao espelho enquanto treinava para uma apresentação, Luna Lovegood tinha dificuldade de lembrar como elas haviam se tornado amigas. Mas então Hermione respirava fundo, frustrada com alguma palavra que não tinha saído com a precisão que gostaria e Luna via aquele vestígio de insegurança e humanidade nela.

— Eu preciso que você fique parada. – ela disse novamente, pelo que parecia ser a quinta vez.

Hermione revirou os olhos, mas obedeceu.

— Terminei. – Luna disse um minuto depois, analisando o resultado de seu trabalho: uma trança embutida naquele cabelo castanho comprido. Com as mechas assim, todas puxadas para trás, o rosto firme de Hermione parecia ganhar mais evidência. – Você parece pronta para matar alguém.

Hermione sorriu, concordando.

— Obrigada.

— Disponha. – ela murmurou, tentando não se concentrar muito no fato de que adorava desperdiçar algum tempo apenas tocando no cabelo de Hermione. Não era um pensamento perturbador, mas poderia implicar em coisas que Luna não estava disposta a pensar. Ela não era uma pessoa que fazia amizades com facilidade, embora fosse naturalmente cordial. Tinha consciência de que havia algo em si que podia assustar outras pessoas, embora não pudesse determinar a causa exata. E ela estava bem com isso. De certo modo, Luna gostava disso; reforçava a estranha impressão de que ela era algo a parte do mundo. Mantinha-a em uma zona de conforto.

No entanto, desde que ela e Hermione haviam conseguido transpor um pouco a bolha de proteção uma da outra, as coisas estavam paradoxalmente melhores. Hermione às vezes a fazia encarar as coisas de um modo pragmático que Luna não imaginaria ser necessário em algumas situações antes. E ela sabia que de certo modo contribuía para que a garota desacelerasse um pouco.

— Certo. – Hermione disse, no mesmo tom. Mas já não parecia falar com Lovegood. – Certo. – repetiu, respirando fundo e ajeitando nervosamente o primeiro botão da camisa social.

Luna sentiu um ímpeto de segurar-lhe a mão, mas decidiu que aquilo era apenas uma resposta vibratória ao estado de espírito de Hermione: ela estava deixando-a ansiosa também.

— Vai passar. – Disse, tentando consolá-la. E embora não pudesse saber, Granger se sentiu extremamente grata por ela ter dito isto ao invés de “vai ficar tudo bem”. Provavelmente por isso assentiu com a cabeça e se permitiu abrir um sorriso nervoso para a colega de quarto.

— Você vai estar aqui depois da aula? – Hermione nem se incomodava mais em tomar a liberdade de perguntar coisas assim.

— Vou.

Luna não iria. Não inicialmente. Era um daqueles dias da semana em que sabia que Neville, um rapaz que estagiava na biblioteca, fazia o segundo turno no lugar. Ele costumava deixá-la tocar o piano do terceiro andar depois das sete porque [a] era quando os pavimentos superiores ficavam indisponíveis aos alunos e [b] ele estava secretamente apaixonado por ela.

Lovegood vivia por esses dias. Às vezes, a saudade de tocar piano se tornava quase uma dor física.

Mas Hermione não havia perguntado aquilo apenas por curiosidade. Luna sabia que era o seu modo de dizer que seria bom se ela estivesse. Ela poderia conversar e contar sobre a apresentação. Portanto, Luna estaria ali.

Assim, foi com uma pontada de confusão que, ao voltar para o quarto, ela o notou vazio. Tinha convicção de que havia aprimorado suas habilidades sociais o suficiente para entender algumas falas implícitas em outras. Hermione queria que ela estivesse ali, não? Isso havia parecido claro como a luz da manhã horas atrás. Agora Luna não tinha tanta certeza. Ela poderia estar apenas jogando conversa fora. Esse ainda era um campo que Lovegood não dominava. E era uma possibilidade: Hermione podia estar com seus outros amigos, os que entendiam jargões jurídicos e que a conheciam desde o ensino médio.  Luna se sentiu estúpida e notou que estava sendo tomada por um principio de irritação. Logo depois, uma onda de culpa a inundou. E então raiva por estar se sentindo tão irritada E culpada.

Era difícil lidar com tantas emoções ao mesmo tempo. Ela quase nunca enfrentava mais de duas ao mesmo tempo. Luna se sentiu, pela primeira vez, estranha.

Andou de um lado para o outro do quarto e tentou se ocupar com inúmeras coisas diferentes. Nada lhe prendeu a atenção por um tempo maior que segundos.

Quando Hermione finalmente passou pela porta, era como se alguém houvesse puxado e desfeito todos os fios que compunham a estrutura interna de Luna.

Ela estava pronta – quem diria! – para armar uma carranca. Mas bastou olhar para Granger para sentir todas as emoções conflitantes minguarem a fim de dar espaço a uma única: preocupação em estado bruto.

A menina parecia desolada.

— Ei. - Hermione disse. 

— Olá. - Luna devolveu, tentando descobrir o que deveria fazer. 

Granger largou a pasta no chão e se deitou na cama, de costas para a outra. Isso parecia encerrar o assunto antes mesmo de Luna ter a oportunidade de começá-lo. Ainda assim, ela continuou em pé, encarando o tecido da roupa de Hermione como se ele pudesse lhe sussurar alguma resposta.
Como não lhe ocorreu nada, ela decidiu agir de acordo com a sua própria natureza: deitou-se ao lado de Hermione em silêncio e com delicadeza, para não incomodá-la. Então cruzou as mãos em cima da barriga, olhou para o teto e esperou.

Luna havia imaginado que um pouco de calor humano não faria mal. Mas uma parte sua - uma que havia nascido recentemente - estava fazendo com que ela duvidasse de si mesma. 
Felizmente o silêncio não reinou muito tempo. Hermione se virou, surpresa. 

— O que você está fazendo?

— Pelo modo como você está me olhando, suponho que estou invadindo o seu espaço pessoal. - Lovegood respondeu, clara e calma como sempre. 

A outra jamais poderia entrever o estado de nervos que ela estava. Mas Hermione pode vislumbrar alguma coisa, do contrário não teria feito o que fez em seguida: ela a beijou. 

Luna não havia previsto isso. Não havia nada menos Hermione do que isso. Algo estava profundamente errado e ainda assim, corresponder ao gesto parecia a coisa natural a fazer. Luna sentiu que deslizava por uma vertigem. A pele de Hermione era quente em contato com a dela e isso lhe provocava uma sensação de conforto e letargia. Era como se ela pudesse ficar assim pelo resto da vida.
Era comovente o modo como Hermione lhe entregava uma ternura desesperada com os lábios. Não havia nada que ela gostaria de fazer além de retribuir. No entanto, quando a situação se encaminhou para um ponto em que não haveria retorno, Luna precisou de toda a sua escassa concentração para impedir que Hermione tirasse o resto de roupa (e de dignidade) que ela ainda mantinha.

Elas se encararam por um longo segundo. O estupor que havia tomado conta de Hermione gradativamente deu espaço ao choque.

— Eu nunca havia beijado uma garota antes. - ela murmurou em confissão. 

Luna podia lidar com isso. O que não tolerava era o modo como Hermione parecia estar se desculpando implicitamente.

— Isso é claro. - disse, depois de engolir um nível de orgulho que nem sabia possuir.
— Eu...

Luna sabia o que ela ia dizer. E sabia que não suportaria ouvir um "sinto muito" verbalizado, por isso pousou a mão delicadamente sob a boca dela. 

— Por favor, não. - Luna pediu, sentindo-se repentinamente muito sensível.  Confusa, Hermione a encarou novamente. Ela pousou uma mão em cima da mão muito clara de Luna e a segurou.

— Eu preciso que você me ajude aqui, porque não tenho ideia de qual é o protocolo social quando duas pessoas estão seminuas. - Hermione confessou e vê-la assim, desarmada, fez com que Luna sorrisse.

— Eu não quero que você se desculpe porque está tudo bem pra mim. Eu estou bem com isso. - esclareceu.

— Oh. 

— Você está bem? - Luna quis saber, não sem receio da resposta.

— Não. - Hermione admitiu. – As coisas não saíram como planejado e eu perdi o caso. – parecia difícil para ela até contar sobre. – Eu sei como isso soa patético, porque era um júri simulado, mas eu trabalhei tanto nisso... E eu havia montado uma peça de defesa realmente estruturada. – engoliu a seco, e Luna notou quando os olhos dela se turvaram. – Isso me faz questionar a minha capacidade acadêmica e emocional.

— Hermione...

— Não, eu sei, tudo bem? – ela revirou os olhos e uma lágrima teimou em descer, para a sua completa humilhação. – eu só não consigo ser razoável agora. Eu fico pensando em todas as causas que são importantes para mim e, eu sei que é desproporcional, mas falhar a nível pessoal é como se eu tivesse falhando com meus ideais, entende? E então eu cheguei me sentindo horrível e você veio demonstrar apoio... E... eu fiquei tão aliviada, e te achei tão estupidamente bonita, e eu acho que eu só quis agradecer, mas em retrospectiva, é como se eu tivesse me aproveitado, como se eu tivesse acabado de beber o sangue de um unicórnio ou algo assim e...

— Sobre isso, não sei se fui suficientemente clara. - Luna a interrompeu encostando os lábios nos dela. Hermione suspirou, fechando os olhos. - Tudo bem se você não se sentir confiante agora e precisar ser dura com você mesma. – Luna sussurrou, sem se afastar. – Mas eu confio.

— Você precisa ser irritantemente amável? – Hermione questionou.

— Você não me dá alternativa. – Luna encolheu os ombros, fazendo-a rir.

— Obrigada. – Hermione disse, passando a ponta dos dedos pelo braço muito pálido dela. Ela mal podia acreditar no quanto Ron estava certo. Aquilo era sobre tensão sexual, afinal de contas. Havia uma força visceral na beleza frágil de Lovegood. E observá-la assim, olhando-a como se ela fosse importante, enternecia e comovia Hermione. Além disso, agora que ela estava dolorosamente consciente de que podia beijá-la, era apenas muito difícil pensar em outra coisa.

Felizmente, para Luna, a sensação era muito semelhante. Estar ali com Granger, e despir-se não só de roupas, mas de medos e de dúvidas para que o que quer que houvesse entre as duas pudesse ocupar o espaço que exigia e merecia, era como assistir a criação de um universo a parte. Um universo feito a quatro mãos. Feito de suspiros e de silencio. De peles fundidas e corações descompassados.

— Luna? – Hermione chamou, horas depois, quando elas estavam deitadas lado a lado, naquele estado de descanso em que não se está dormindo, mas também não se está completamente consciente.

— Sim?

— Você poderia dormir aqui essa noite?

Ela dormiu.

Não apenas naquela, mas em todas as noites conseguintes também.

E esse pequeno ritual noturno fez com que os dias começassem a ser bem mais formidáveis. O que quer que acontecesse pela manhã ou tarde, desvanecia quando elas voltavam para o quarto. Era como manter uma realidade paralela. Luna nunca havia se conectado dessa forma com alguém. Ela se sentia mais viva e infinitamente inspirada. Passava todas as suas horas livres compondo versos num fervor quase religioso, porque esse era o único modo de canalizar sua energia, de dissipar um pouco daquela alegria insana na criação de alguma coisa bonita.

Tudo era incrível, mesmo quando dormir juntas significava apenas dormir juntas. Os dias de Hermione se tornaram relativamente mais cheios desde o fracasso de seu caso, porque de algum modo ela havia conseguido chamar a atenção de Minerva McGonagall, sua professora preferida, que viu potencial nela e acabou lhe convidando para um grupo de estudos sobre direitos humanos. Isso significava que Hermione também não poderia estar mais exultante com a própria vida, embora se sentisse extremamente cansada por vezes. Nesses dias mais difíceis, Luna colocava a caixinha de música – herança de sua mãe – para tocar e apenas a abraçava, satisfeita em servir de travesseiro para Granger.

A vida era bonita e escorreu como um sonho por dois meses inteiros.

De vez em quando, em tardes particularmente longas ou em aulas tediosas, Luna sentia tanta falta de Hermione quanto sentia de tocar piano. Nessas horas, ela pensava em procurá-la. Não havia nada que as impedisse de se verem em outros lugares, em folgas breves. Mas Lovegood quase sempre reprimia a vontade em favor de suas noites mágicas. Isso tornava tudo parecido com uma sonata de Beethoven: dolorosamente agradável.

Até o momento em que não tornou mais.

A bem da verdade, Luna não viu o problema surgir. Ela não pressentiu o tempo nublando na sua bonita bolha coletiva. Então quando, certa vez, Hermione chegou muito séria, dizendo que precisavam conversar, foi como se ver no meio de uma tempestade sem guarda-chuva.

— Você está confortável com isso? Conosco? – foi a primeira coisa que Granger perguntou. Havia uma preocupação sincera, mas também um princípio de raiva branda no modo como ela encarou a colega de quarto.

— Não nesse momento. – Luna escolheu as palavras com calma. – O que você quer dizer?

— Que eu não estou. – Hermione disse, sem rodeios. Luna precisou se sentar. Ela decidiu fazer isso em sua própria cama. Ela não estava preparada para essa resposta. Nem para aquela conversa, de uma maneira geral.

— Oh.

— Você parece surpresa. – Hermione constatou, e por alguma razão que Luna não conseguia entender, isso a deixou ainda mais irritada.

— Bem, sim. – não havia porque mentir. – Eu achei que estávamos bem.

Hermione deixou escapar uma risada ácida, enquanto balançava a cabeça. Ela parecia ter ouvido um absurdo. Luna sentiu como se algo estivesse lhe cortando por dentro.

— Acho que estou apaixonada por você, mas isso não me impede de querer te socar nesse instante. – Hermione confessou.

— O que isso quer dizer? O que você espera que eu faça? – o tom de voz de Luna aumentou pela primeira vez. Aturdida, ela mal registrou a dor se transformando em um principio de raiva.

— Eu esperava que você entendesse, droga. – Hermione engoliu a seco. Luna notou, assustada, que ela parecia prestes a chorar.

— O que? – ela perguntou novamente, exasperada.

— Que isso que nós estamos vivendo é lindo, mas também é ridículo, Luna. – ela disse por fim. – Eu nem a menos sei o que nós somos, porque nunca conversamos sobre isso. 

— Isso é sobre não termos um nome para o nosso relacionamento? – Luna não pode evitar o susto.

— Não, isso é sobre nós não termos um relacionamento real.

— Você vai precisar ser mais especifica se quiser que eu entenda.

Hermione respirou fundo.

— Eu acabei de dizer que acho que estou apaixonada por você e você nem pode esboçar uma reação normal.

— Você também acabou de dizer que queria socar minha cara. – Luna lembrou, na defensiva.

— Sim! – Hermione grunhiu. – Porque eu sou uma pessoa. Que faz e fala coisas estúpidas das quais se arrepende depois, e que vive num mundo estúpido, onde nem tudo faz sentido, onde as coisas nem sempre são bonitas! – gritou. – E eu acho assustador que você não pareça ter a menor pista do que estou falando. É como se eu namorasse uma maldita entidade espiritual!

— Eu não... Eu nem... – Luna gaguejou, sem saber o que dizer. Então se acalmou e tentou novamente: – Eu obviamente estou apaixonada por você também.

— Você está? – Hermione perguntou, parecendo verdadeiramente magoada. – Porque talvez isso não seja verdade, Luna. Talvez você esteja apenas me idealizando.

— É você quem está dizendo isso. – Luna murmurou.

— Claro, porque eu sou a única que está dizendo coisas por aqui. – Hermione acusou, sem poder se conter. – Você está muito ocupada mantendo a sua compostura e a sua aura intocada.

— Se eu te incomodo tanto, qual é a razão de nós sequer estarmos conversando sobre isso? – Luna quis saber, mas não estava realmente disposta a esperar uma resposta. Ela se levantou, calçou os sapatos e se dirigiu à porta.

— Você poderia fazer algo menos gritante em favor do meu próprio ponto do que fugir quando as coisas ficam humanas demais? – Hermione perguntou.

Luna não respondeu. Ao invés disso, ela girou a maçaneta.

— Faça isso então. Prove que estou certa. – Hermione comentou por fim. – Corra para o seu piano e produza algo triste sobre nós enquanto aquele pobre coitado suspira por você as escondidas torcendo para que você o note algum dia.

Luna olhou para os próprios pés por uns segundos. Uma parte dela queria ficar. E uma parte dela também queria socar Hermione, percebeu, por fim. Ela não era muito afeita a essas partes. Ela não sabia lidar com elas. Por isso acabou abrindo a porta.

Ela realmente correu para o piano. E uma vez que teve acesso a ele, tocou furiosamente, até perder a noção da hora. Neville Longbottom, o pobre coitado que Hermione mencionara, precisou avisá-la, um tanto sem jeito, quando a biblioteca estava prestes a fechar.

Luna pediu desculpas, constrangida. Eles caminharam juntos em direção ao ar livre. Àquela hora da noite, tudo parecia muito silencioso, quieto e harmonioso. Não havia nada de errado com as noites, Luna quis gritar de repente. Mas ela não fez nada disso. Estava pronta para se despedir de Neville, quando ele se ofereceu para acompanhá-la até o dormitório, por conta da hora. Também não havia nada de errado com um ato de gentileza, mas Luna sentiu o estomago pesar. Ela aceitou e pensou febrilmente durante todo o caminho.

— Longbottom, eu preciso dizer uma coisa. – ela avisou quando eles chegaram na porta de entrada do edifício. – E eu gostaria que você soubesse que não é um pedido e sim uma pergunta.

Ele assentiu com a cabeça, intrigado.

— Você gostaria de sair comigo?

O jeito como o rapaz ruborizou fez com que o peso dobrasse. O tempo que a resposta demorou para surgir apenas a torturou ainda mais:

— Eu posso ter pensado nisso algumas vezes. – ele admitiu, vacilante.

— Neville, eu sinto muito. – e ela não estava mentindo. – Eu tenho... eu tinha... eu não sei bem em que termos estamos agora, uma namorada.

— Ah! – ele piscou, surpreso. – eu que sinto muito, eu não...

— Fazia ideia. – ela completou, sentindo-se mal.

— É. – ele disse.

— Eu não sabia como você se sentia. Eu deveria ter notado.

— Eu deveria ter falado também. – ele ajudou. – Eu estava tentando evitar uma situação embaraçosa. É quase irônico que eu tenha conseguido exatamente o contrário.

Luna riu e concordou com a cabeça, porque ela o entendia mais do que gostaria. Naquele instante ela foi forçada a reconhecer que Hermione tinha razão. Ela descobriria eventualmente que ela quase sempre tinha.

Luna estava se esforçando para manter o que elas tinham em um ambiente controlado. Ela não queria que nada desse errado, então ela havia deliberadamente evitado todas as chances de que isso acontecesse. Era fácil preservar uma coisa mágica se ela nunca entrasse em contato com coisas banais ou conflitantes.

— Nós podemos ser amigos. Se isso não for desconfortável. – Ela propôs, por fim.

— Não é. – ele disse com sinceridade, enfiando as mãos nos bolsos. – Boa noite, Luna. E boa sorte com os termos desajustados.

Ela agradeceu e subiu para o andar em ficava o quarto, mas perambulou pelo corredor durante alguns minutos, antes de entrar no cômodo.

Hermione estava obtendo relativo sucesso em fingir que estava dormindo, e Luna decidiu não intervir. Ela se deitou em silêncio e fechou os olhos, pensando que seria ótimo se pudesse se concentrar muito e simplesmente flutuar como... como uma maldita divindade. Isso a fez suspirar.

— Você está certa. – ela murmurou porque sabia que Hermione escutaria. Era sua frase favorita.

Granger ligou a luz do abajur e a encarou em silêncio.

— Eu sei. Mas eu não deveria ter falado daquele modo. Eu sinto muito.

— Tudo bem. Eu realmente posso ser distante e evasiva algumas vezes. – Luna continuou. – E eu pensei que eu tinha algumas boas razões para isso, mas é apenas... Mais fácil assim.

Hermione suspendeu a respiração por um instante antes de se levantar para deitar ao lado dela.

Luna sentiu uma onda de alivio perpassando sua garganta.

— Viver parece aterrorizante, Hermione.

— E é mesmo. – ela respondeu com delicadeza, pousando uma mão no rosto dela. – Mas sabe o que? Eu acredito em você. E acredito no que nós temos. E essa coisa... O que quer que seja que me faz querer sorrir e chorar ao mesmo tempo quando olho pra você, como se não houvesse mais ninguém no mundo... Eu não acho que isso vai embora, Luna. Ou que se esgote aqui.

Lovegood a analisou com cuidado. Os olhos castanhos bonitos, a curva do maxilar, o jeito como ela parecia convicta. E foi assim que ela percebeu como elas melhoravam uma a outra. E como isso, independente do que quer que fosse, parecia certo.

— Olha quem está sendo amável agora...

— Você não me dá alternativa. – Hermione sorriu, antes de beijá-la.

***

 

 

É preciso sair da ilha para ver a ilha.

Não nos vemos se não saímos de nós.

Saramago


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