Depois de séculos de maldição, experimentar a vida humana comum era interessante. Eu agora tinha que me preocupar com coisas que antes eu nem pensava, como a minha saúde, o trabalho, a minha família. E isto era maravilhoso.

Kelsey e eu resolvemos viver nos Estados Unidos. Eu era o presidente de uma grande empresa, mas ainda precisava me formar na faculdade. Nós dois destrancamos as matriculas e voltamos para a universidade. Kelsey era uma aluna mais focada do que eu. Estava sempre diante dos livros, estudando para as provas e tirava boas notas. Eu não me preocupava tanto, mas até que estava indo bem.

Apesar de Nilima me ajudar a administrar as empresas Rajaram, ainda sobrava muito trabalho para mim. Não era incomum eu me ausentar do país à trabalho, deixando Kelsey sozinha. Ela reclamava sempre, mas se ocupava com a família adotiva e como os amigos, que agora ela colecionava. 

Kelsey era a melhor das mulheres. Era carinhosa, cuidadosa, forte, maravilhosa em todos os sentidos. Eu me esforçava para corresponder, sendo um marido amoroso e cuidadoso.

Depois que lemos a carta de Kishan, nós dois nos sentimos aliviados por termos a certeza de que nosso destino era mesmo sermos um do outro. Uma frase nunca saiu da minha mente: "ele é seu" Eu estava ansioso para ter uma família de fato. Por isso, fiquei extremamente feliz quando Kelsey me disse que estava grávida.

Kelsey já tinha se formado no semestre anterior, mas eu me formaria em menos de dois meses. Eu estava muito atarefado e dando pouca atenção à ela.  Por isso, nós combinamos de passarmos o fim de semana juntos, só os dois, sem interferência de trabalho ou faculdade. Nós iríamos à praia e nos hospedaríamos em uma pousada aconchegante. 

Nilima me ligou preocupada, dizendo ter havido um problema com um dos projetos novos. Ela precisava de mim imediatamente, pois corríamos o risco de perder uma parte considerável da nossa empresa mais antiga. Eu não podia permitir que isto acontecesse. Aquela empresa era o legado de Kadam, da nossa família. Eu disse que partiria imediatamente e fui avisar à Kelsey. Esta foi a nossa primeira briga depois de casados.

— Não Ren, você prometeu. Já estava tudo acertado.

— Eu sei Pryatama, mas é importante.

— Mais importante do que eu? Porque desde que nos casamos tudo parece mais importante do que eu. Você sempre tem uma desculpa para ficar longe de mim. Você se arrependeu de ter se casado? Cansou-se de mim?

Eu corri até ela, que tinha os olhos cheios de lágrimas e segurei seu rosto com as duas mãos.

— Asambhava. Nunca minha prema. Você é minha vida. Nada é mais importante do que você.

Lágrimas desceram pelo rosto de Kelsey, que escapou de minhas mãos dando um passo para trás.

—Iadala, por favor. Eu juro que assim que tudo estiver resolvido, eu corro para você. 

— Tudo bem Ren, pode ir.

Kelsey me deu as costas e subiu as escadas, trancando-se no quarto. Eu fui atrás dela e bati na porta.

— Kelsey, Meri aadoo, me deixe entrar. Por favor não me deixe assim.

Eu bati novamente, mas sabia que ela não iria abrir facilmente.

— Minha amada, hridaya patni, você é o ar que eu respiro. Você é minha água. Sem você, nada importa. Eu amo você. Eu abandonaria tudo por você. Se você não quer que eu vá, eu não vou. Vou ligar para Nilima e dizer a ela que resolva tudo sozinha. Ela não precisa de mim para nada. Eu preciso de você para tudo. 

Ouvi o suspiro de Kelsey do outro lado da porta, então continuei:

—Agora abra a porta amor, e me beije. Encoste sua pele quente na minha e me faça esquecer o mundo. Seja meu mundo Kelsey. Seja minha mais uma vez, que eu quero estar em sua pele novamente. Para sempre. Eu te quero Meri aadoo.

Kelsey abriu a porta com os braços cruzados e cara de brava. Eu ergui meus olhos, estiquei o braço agarrando sua cintura e a puxei para mim. Kelsey sorriu, envolveu meu pescoço com seus braços e me beijou. Eu a ergui, levando-a até a nossa cama. Entre juras de amor e gemidos de prazer, Kelsey desculpou-se:

— Me perdoa por ser tão mandona.

— Você não é mandona. Você é minha dona. Peça qualquer coisa e eu farei.

— Ah, é? Se é assim, pare de falar e me beije.

No dia seguinte, despedi-me de Kelsey e voltei para a Índia. Nós nos falamos todos os dias durante as duas semanas em que estive fora. Nos últimos dias, Kelsey me disse que estava se sentindo mal. Ela estava abatida e não tinha comido nada naquele dia. Fiquei preocupado e liguei para Sarah assim que terminamos a conversa. Ela me garantiu que levaria Kelsey ao médico no dia seguinte. Na manhã seguinte eu viajei de volta para casa.

Quando cheguei em casa já era noite. Kelsey me recebeu com um grande sorriso e disse que tinha feito o meu prato favorito para o jantar. Eu subi e me troquei, então desci para comer. O cheiro da comida abriu meu apetite. Kelsey era uma excelente cozinheira.

Depois de comermos, Kelsey me deu um livro infantil sobre tigres. Olhei surpreso para o presente. Sorri e disse:

— Você achou que eu precisava de um lembrete, Iadala?

— Não. — ela respondeu com um sorriso.

Eu estudei seu rosto e percebi que ela tinha um segredo.

—Você está escondendo alguma coisa. 

Eu a puxei para o meu colo e acariciei, sussurrando em seu ouvido:

— O que posso fazer para convencê-la a partilhar o seu segredo, mera jaan? 

Ela me beijou suavemente, então me respondeu:

— O meu segredo, é que o meu marido é muito bonito, e que haverá outra pessoa para que você possa chamar de "mera jaan”. 

Inclinei a cabeça intrigado. 

— Kells, o que você? 

Ela pegou minha mão e colocou sobre sua barriga.

—Você tem certeza? 

Ela balançou a cabeça sorrindo.

— E o médico disse que está tudo bem? — Perguntei preocupado.

— Ele disse que tudo estava ótimo. 

Eu encostei minha testa na dela e sorri, deixando as lágrimas de felicidade descerem pelo meu rosto.

Os anos se passaram e Anik crescia feliz e saudável. Ele era um garoto lindo e inteligente. também era cuidadoso e protetor. 

Quando nossa filha nasceu, Anik tinha  três anos e já era um mocinho tão responsável quanto podia ser. Ele cuidava da irmãzinha Kamala e a ensinava como um bom irmão mais velho.

Eu estava trabalhando muito, já que Nilima diminuira o ritmo desde que tivera seu bebê, que eles chamaram de Sohan Kadam. Sunil havia assumido parte do trabalho que antes era responsabilidade de sua esposa, mas algumas coisas, eu não podia delegar a outros.

Kelsey acabou se habituando com a minha ausência. Ela se formou antes de mim  e estava esperando que Kamala crescesse mais um pouco para voltar à faculdade e concluir seu doutorado. Kelsey queria ser professora, e seria uma mestre maravilhosa. 

Nós nunca nos esquecemos de meu irmão. Sabíamos que ele havia encontrado a felicidade e se tornado um ser especial. Eu tinha certeza de que ele nos abençoava, onde quer que ele estivesse, e era feliz por saber que a minha família também era a dele. 

FIM