Estou na sua janela de novo, te olhando adormecida através dos olhos do falcão que sempre carrego comigo.

Estou na sua janela de novo, observando a sua respiração lenta e compassada, e os seus dedinhos de bebê que se fecham ao redor daquela pelúcia de formato estranho que a sua mãe deve ter feito com toda a habilidade de costura que ela certamente não possui—a não ser que seja para costurar alguém.

Ou talvez tenha sido um presente de seu tio Naruto que tem um péssimo gosto para as coisas.

Acho que ele também se parece com um falcão. Não sei.

Estou aqui novamente, sem a coragem de aparecer pessoalmente para lhe dar um beijo de boa noite ou ler uma história como sua mãe faz todas as noites.

Mas só porque acredito que ainda não posso ser um bom pai. Ou bom marido.

Será que se um dia eu te explicar isso, você vai entender, Sarada?

Acontece que eu fiz muitas coisas erradas. Escolhas na vida das quais não posso retornar e, em muitas delas, ainda não sei se arrependimento é a palavra certa.

Mas quando eu soube de você... da sua existência... apenas um pequeno amendoinzinho na barriga da sua mãe... como eu poderia continuar cercado pelas sombras? Como poderia me permitir continuar mergulhado nas trevas quando você era luz?

Até então, já havia iniciado o meu caminho na redenção, buscando fazer coisas que pudessem amainar os horrores da guerra sobre mim. E da vingança que institui como o único caminho que eu deveria trilhar.

Mas a verdade é que eu descobri que existem outras coisas importantes. Coisas com as quais ainda não sei lidar e nas quais ainda me vejo perdido. Como o seu sorriso bobo quando sua mãe faz uma careta pra você. Ou o sorriso bobo dela quando você sorri e diz Ma-ma daquele jeito todo engraçado que os bebês fazem.

Será que algum dia você dirá Pa-pa também? E será que eu vou agir de maneira tão tola quanto Sakura ao ver você?

Gosto de pensar que sou imune a essas coisas, mas acho que não. Porque sinto um calor em meu peito todas as vezes que penso em você. Todas as vezes em que meu falcão pousa por perto ou quando vou pessoalmente se achar que você precisa de mim.

Nunca pense que estou longe demais, Sarada, pois se você precisar de mim, estarei por perto. Moverei céus e terras para estar por perto.

Sei que ainda não posso ser um bom pai. Não enquanto não der um significado real para a minha própria vida. Não enquanto não fizer desse mundo, um mundo seguro para você.

Até lá, seja uma boa menina para sua mãe.

Gostaria que essas palavras te alcançassem, mas ainda não é o tempo certo de recebe-las. Espero poder entregá-las pessoalmente algum dia. E que você me perdoe por não estar sempre por perto.

Com amor,

Papai.