Mischievous Legacy escrita por misundersloki


Capítulo 2
Power succumbs to power




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Harriet não se sentia fraca. Pelo contrário, era como se uma energia indescritível pulsasse por suas veias. Seu coração ainda batia de forma acelerada quando conseguiu abrir seus olhos, não sabia a quanto tempo estivera desacordada, mas a última coisa que se lembrava era de ter sido encontrada no terraço pelos Caçadores de Sombras momentos depois de Valentine ter fugido com o Ciclo. Os que a resgataram também estavam atrás do instrumento mortal, e pareciam saber que ela havia ingerido diretamente dele.

 Ela não sabia o que havia acontecido, mas algo não parecia certo.

 A feiticeira nunca havia confiado em Caçadores de Sombras, principalmente pelo fato de eles quererem de qualquer forma estabelecer uma hierarquia entre os seres de Midgard, e por isso não se sentiu muito confortável ao perceber que estava no meio de tantos deles. Estava novamente presa. Dessa vez, cordas suaves pareciam ter sido amarradas cuidadosamente em seus pulsos para que não irritassem os ferimentos que já estavam ali, mas ela estava deitada em uma maca acolchoada dessa vez, o que não impedia sua coluna de doer.

 Estava em uma sala — a enfermaria — posta como uma exposição para quem passava. Harriet demorou para acostumar-se com a claridade depois de estar com os olhos tão sensíveis, encontrando o teto de madeira adornado de arcos com murais. Sua cabeça latejava, como se o corpo tentasse se acostumar com a mudança do sangue, e Harriet sentia que poderia explodir em mil pedaços a qualquer momento. Era estranho, mas sua energia parecia entrar em sintonia com o lugar.

 — Filha de Lúcifer, finalmente está acordada. — Ouviu uma voz feminina próxima de si e, mesmo com a dificuldade dos braços amarrados, Harriet conseguiu levantar-se minimamente. — Sou Rachel Whitelaw, bem vinda ao Instituto de Nova York. — Ela sorriu, mas Harriet poderia ver que a mulher ainda estava hesitante.

 — O que aconteceu? Por que estou aqui? — A feiticeira sentiu-se zonza, ela havia feito a pergunta mas sentia medo da resposta que receberia. A caçadora de sombras parada ao seu lado suspirou, olhando para a movimentação tornando-se maior na enfermaria. Havia uma figura conhecida entre eles, mas Harriet ainda não conseguia raciocinar muito bem para saber quem era.

 — Você ficou inconsciente por dois dias. Achamos que houvéssemos te perdido, já que… bebeu do cálice mortal. — Rachel escolhia as palavras com cautela, dando passos para trás. — Valentine fez algo com você. Algo que pensamos que nunca aconteceria, pelo Anjo… — Ela passou as mãos sobre o rosto, olhando para trás. — Talvez alguém mais familiar possa explicar pra você. Magnus?

 Antes que Harriet pudesse responder, ela finalmente pôde reconhecer a figura que se destacava entre todos aqueles cobertos de runas. Magnus Bane suspirou, a preocupação evidente em seus olhos amarelo-esverdeados. Ele trajava um sobretudo cinza que emoldurava seu corpo de modo estiloso, os pêlos avermelhados na gola em volta de seu pescoço deixando em evidência a cor bonita de sua pele. Ele mexeu inquieto com os anéis em seus dedos.

 — Pobre Harriet, o que Valentine fez com você? — Magnus passou a mão no rosto da garota, e o lugar onde seus dedos encostaram pareciam pegar fogo. Ouro parecia correr por debaixo de sua pele, que cintilava em um tom dourado. Harriet apenas arregalou os olhos, confusa. — Eu comuniquei o Sanctum de Nova York. Os magos estão de olho em Edom. — Ele falou baixo. — Valentine tentou te matar com o Cálice Mortal. Nós pensamos que isso seria impossível… mas você não é uma feiticeira de Midgard, Harriet. Você é filha de um demônio muito mais poderoso.

 — Lúcifer não me deixou morrer? — Harriet sussurrou.

 — Lúcifer já foi um anjo, Harriet… Lúcifer foi expulso do céu, foi amaldiçoado, mas seu sangue nunca mudou... — Magnus tentava transmitir-lhe calma, falando baixo. — … ele te passou a maldição demoníaca, mas também te passou o mesmo sangue. Você tem mais do que o sangue do patriarca dos demônios, Harriet, você também tem sangue de anjo. — A feiticeira abriu a boca para falar, mas Magnus cortou-lhe antes de proferir alguma palavra. — Você conhece o cálice. Sabe que ele pode transformar Midgardianos em novos Nephilins… e ele acordou o seu sangue.

 — Isso é impossível, Magnus. — Harriet sussurrou de volta, sua mente tentando assimilar as informações. Valentine havia realmente tentado matá-la, mas tudo aquilo parecia loucura. — Eu ainda sinto a minha magia, eu ainda...

 — Não é impossível, Harriet. — Rachel voltou a falar, aproximando-se novamente enquanto gesticulava com uma das mãos para Magnus ir para trás. — Você não pertence a essa dimensão, e foi erro nosso não mantermos um olho em você. Não é surpresa que fuja da regra, você veio do mesmo lugar que os demônios que precisamos combater diariamente.

 — Vocês sabem que eu não tenho controle sobre Edom. — Harriet falou entredentes, levantando-se mais ainda para aproximar-se do rosto de Rachel. Ela podia sentir o desprezo típico dos caçadores de sombras pelos seres do submundo, mas sabia que este era maior por ser filha de Lúcifer. — É por isso que eu vim para Midgard. Eu nunca iria querer o mal de um lugar que me acolheu. Eu amo Midgard, Whitelaw. Eu tento lutar contra esses demônios, eu tento proteger o mesmo mundo que vocês. Estou ao lado dos Sanctums, da Anciã para tentar controlar aquela dimensão. Não é difícil entender que nós estamos do mesmo lado.

 — ... e por isso Raziel permitiu que pudesse ser uma Caçadora de Sombras. — Rachel pegou Harriet de surpresa ao cravar as unhas no braço esquerdo da feiticeira e, com a outra mão, apontar uma estela contra seu ombro.

 Harriet encarou-a, assustada, soltando um grito quando a estela pareceu queimar sua pele. Rachel olhava com frieza para o desenho que fazia, a feiticeira assustada enquanto recebia sua primeira runa. A Runa do Poder Angelical. Seu corpo pareceu adaptar-se com o poder do desenho, uma força vitalizante lançando-a para frente enquanto a sensação de poder do sangue angelical misturava-se com sua magia, Harriet lançando Rachel longe, contra a parede, com uma rajada de sua magia azulada. Ela respirava arfante, preocupada, enquanto lâminas serafim eram novamente apontadas para ela, Magnus sendo contido por braços atentos que não o deixaram aproximar-se da feiticeira. As runas deveriam levar seres do submundo a loucura, mas ela sentia-se extremamente sã.

 O barulho que Rachel havia feito ao chocar-se contra a parede e uma prateleira de vidro, a qual rachara com o impacto, alarmou os caçadores que correram para ajudá-la. A mulher, ainda no chão, desenhou um iratze no antebraço que sangrava enquanto olhava assustada para Harriet. Ela preparava-se para avançar contra a feiticeira, mas uma série de palmas que vinha da direção da porta da enfermaria fez com que todos levassem a atenção para quem estava fazendo aquilo.

 — Inquisidora! — Rachel exclamou assustada enquanto recebia ajuda para levantar-se.

 Harriet apertou os olhos. Estava cansada de se sentir um animal no zoológico, havia uns dias em que ela seguia sendo raptada de formas diferentes por pessoas diferentes, e seu ombro queimava de forma estranha. Mesmo recebendo todas as provas, ela ainda não queria acreditar no que Valentine havia feito.

 — … Parabéns, Harriet! Muito poderosa. — A mulher altiva carregada de ironia caminhou lentamente em direção à sua maca, encostada contra um extremo da parede decorada com pedaços de dourado, enquanto ainda batia palmas. — Mas… vejo que seu corpo reagiu muito bem a isto. É um grande poder, você sabe, ter o sangue de anjo muito bem acordado mas a magia ainda responder a você. — Ela apontou para a runa no ombro de Harriet. O símbolo do poder dos caçadores de sombras, a primeira runa que um deles recebia na vida. A marca começava a assentar na pele e tornar-se negra, mas os vergões vermelhos em volta como quem era queimado por ferro ainda estavam ali. — Por isso devo dizer, enquanto esta runa estiver em seu corpo, você é propriedade do Conselho de Idris.

 — Eu não pedi pra isso acontecer comigo! — Harriet alterou sua voz, fechando a mão em punhos. Os caçadores de sombras ao redor dela levantaram as lâminas mais uma vez, mas a Inquisidora os fez abaixá-las com um movimento singelo. — Eu não sou propriedade de ninguém. Valentine me raptou! Me raptou porque é louco, porque vocês não souberam controlá-lo. Eu não tenho que pagar pelos erros dele! Eu não quero fazer parte disso!

 — Shhh. — A Inquisidora ergueu suas sobrancelhas, colocando o dedo indicador sobre os lábios finos. — Nós não podemos dizer se você estava ao lado de Valentine. Estava? — Harriet nem ao menos conseguira responder àquele absurdo. — Olhe para esta experiência bem sucedida que Valentine poderia usar contra nós. Uma arma contra Midgard. Se o seu sangue responde a nós, você está sob nosso poder, ou é tão errada quanto ele.

 — Eu nunca seria uma arma contra Midgard. — Harriet sussurrou.

 — Mas é uma arma, Filha de Lúcifer. — A Inquisidora curvou-se, com as mãos atrás do corpo, para aproximar-se do rosto de Harriet. A falta de expressão da mulher assustava a feiticeira, seus lábios finos e ressecados curvando-se com uma perversão reprimida. — O quanto você ama Midgard, Harriet?

 — O que você espera que eu responda?

 — Eu lhe dou duas alternativas. — A mulher suspirou. — Fique no Instituto de Nova York, desenvolva as habilidades que o seu sangue Nephilim a permite ter em Alicante. Nós te ajudaremos se lutar ao nosso lado contra o Ciclo de Valentine, aceite ser a nossa arma e salve sua Midgard. — Ela sorriu. — Ou vá direto para a cela em Idris e nos deixe fazer nosso trabalho sem mais nenhuma… interferência de natureza atípica.  

 Harriet desistiu de erguer seu pescoço para encarar a mulher, chocando sua cabeça contra a almofada fofa que estava atrás de suas costas. Sabia que não a deixariam ir. Se o seu sangue realmente havia rendido-se à coexistência, ter o poder dos Nephilim ao lado de sua feitiçaria poderia transformá-la facilmente em uma criatura poderosa demais… e os Caçadores de Sombras odiavam não ter poder sobre coisas poderosas demais do submundo. Harriet não queria submissão, havia saído de Edom exatamente por amar a liberdade que tinha em Midgard, mas… acima de tudo, amava Midgard. E daria sua alma por ela. Poderia realmente fazer alguma diferença rendendo-se ao Instituto, poderia ver toda a oportunidade de sua liberdade indo embora dentro de uma cela em Idris. Mesmo assim, ela não era propriedade de ninguém.

 — Tudo bem. — Harriet suspirou. — Você ganhou. Eu fico sob o comando de vocês, se for… para proteger Midgard. Me ajudem, então. Eu não sei o que eu virei, não sei o que estou sentindo.

 — Não se preocupe com isso. — A Inquisidora sorriu, tirando de seu bolso uma estela idêntica a de Rachel, levando-a para o pescoço de Harriet.

 Dessa vez, a feiticeira apenas fechou seus olhos, sentindo a pele queimar sob o desenho elaborado enquanto a Inquisidora a obrigava a erguer o queixo com uma de suas mãos geladas. Harriet esperava que aquela fosse apenas mais uma runa para lhe ajudar a se acostumar com o poder angelical mas, de forma súbita, a garota sentiu como se grande parte do poder que possuía antes de ter seu sangue acordado ficasse sob alguma forma de anestesia. Harriet tentou fazer com que sua magia afastasse a Inquisidora da mesma forma que fizera com Rachel, mas apenas conseguiu com que a magia azul fluísse de forma fraca de suas mãos.

 — O que você fez? — Harriet falou entredentes.

 — Sem tentativas de fuga. — A Inquisidora sorriu, colocando a estela dentro do bolso do blazer bem arrumado para em seguida libertar os pulsos de Harriet que ainda estavam presos contra a maca. A feiticeira levantou uma de suas mãos, ainda olhando a nuvem azulada fraca que conseguia fazer. — Você aceitou, pertence ao Conselho agora. Os feitiços podem te ajudar, mas aqui dentro você é uma Caçadora de Sombras. — A mulher cruzou os braços contra o peito. — Seus poderes demoníacos foram bloqueados à metade. — Ela sorriu mais uma vez. — Não há portadores de magia o suficiente para desfazer uma runa de bloqueio, Harriet.


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Notas finais do capítulo

LOKI IS COMINGGGGGGGGG



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