Sweet religion (the blood is spilling) escrita por menoguchi


Capítulo 1
Persecute the weak and willing


Notas iniciais do capítulo

crybaby!Ryo é a versão do Ryo que eu menos consigo compreender, mas é uma das que eu mais aprecio (mesmo assim, ova!Ryo pra sempre ocupará o primeiro lugar do meu coração).
Por algum motivo, senti a necessidade de escrever essa fanfic no bloco de notas do meu celular às 4:30 em uma madrugada pré-prova. Eu estava estressada, deprivada de sono e com minha mente a mil. Além disso, já fazem uns bons cinco anos desde a última vez que eu escrevi uma fanfic. Então não mantenham expectativas altas.



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Ryo caía, e caía, e caía.
 Indefinidamente. Ininterruptamente.
 E ele continuava a cair.

~x~

 Ryo tem cinco anos de idade quando vê Akira Fudo pela primeira vez.

 Ele é gentil, e estupidamente altruísta. Ryo nunca sabe exatamente como agir perto de seu melhor amigo. Parece que tudo que ele faz é de alguma forma inadequado, e Akira nunca mediu palavras ou inibiu suas percepções e sentimentos quando o assunto é Ryo.

Eles têm cinco anos, e Ryo arranca a cabeça da boneca de uma colega de classe para substitui-la por um algo melhor, você não vê? Não há como ela continuar viva de outra maneira. Somente os mais fortes terão alguma chance de sobreviver.

 Eles têm cinco anos, e Ryo explica a Akira a teoria da câmara escura de orifício e física quântica e a lógica por trás de fenômenos naturais, e Akira ensina a Ryo empatia e paciência e tudo sobre o coelho na lua.

~x~

 Os dois deitam-se sobre a neve, rostos corados por causa da mordida dolorida do frio. A natureza é cruel e implacável; Ryo tem apenas cinco anos, mas isso é uma verdade imutável em sua mente, mesmo que ele não saiba exatamente de onde essa certeza surgiu.

 "Ryo, olha!" Akira ri, animado como sempre, um brilho dourado em meio a vastidão branca. Suas exclamações são desnecessárias; Ryo já estava olhando.

 Ryo sempre esteve olhando.

 Akira se joga no chão, e constrói iglus e bonecos de neve. Ryo observa, às vezes participa nas brincadeiras porque isso faria Akira feliz, e felicidade é a emoção que Akira veste melhor.

 (Akira sempre chorou de forma feia.)

 Ryo observa, e se pergunta qual é o propósito de se construir iglus, se no final das contas a primavera vai chegar e tudo vai desaparecer?

 (A existência humana é passageira,), uma voz sussurra em sua mente, (fragilizada pelo tempo e não menos propensa ao esquecimento.)

 Ryo observa, e se pergunta se alguma coisa fará sentido no final das contas.

~x~

 Ryo tem seis anos, e ele segura o guarda-chuva sobre a cabeça molhada de Akira.

 A chuva despenca indefinidamente dos céus, como se a própria natureza estivesse em prantos, e os pingos de água se misturam com as lágrimas de Akira.

 Ryo não chora.

 "Você sabia que ele iria morrer." O informa ao invés disso, e os soluços de Akira apenas aumentam. As roupas de Ryo estão encharcadas, e sua visão está turva e nebulosa, e Akira continua a chorar.

 "Não!" Akira grita, e Ryo sente compaixão. Pelo o quê, ele não sabe exatamente. Certamente não pelo pequeno gato, frágil e patético. Talvez por Akira, que toma as dores alheias para si e as amplifica em dez vezes. Talvez por si mesmo.

 (Estúpido e insensato Ryo, que possui conhecimentos que não sabe onde adquiriu e um egocentrismo capaz de trazer destruição por onde passa).

 A natureza é cruel e implacável, ele repete para si mesmo como um mantra, de novo e de novo e de novo. Apenas os mais fortes poderão sobreviver.

 "Você está chorando também, Ryo!"

 Que besteira, pensou. Ryo não chora. Ele é incapaz de tal coisa.

 Ele diz isso a Akira, e se pergunta o por quê de estar sentindo que cometia um pecado.

 Sua visão estava turva, e as lágrimas de Akira se misturavam às lágrimas do céu.

~x~

 Ryo tem seis anos, e ele se despede de Akira, mãos dadas com sua nova guardiã.

 Ele não sabe quem Jenny é, ou de onde ela veio, ou por que ela de repente possui a guarda de Ryo, mas ele não seria aquele a perguntar. Em silêncio, ele a acompanha.

 Jenny o leva até a América, e lá ensina a Ryo tudo o que ele não sabia sobre química e matemática e literatura e história. Ela, no entanto, não explica nada sobre emoções ou compaixão, e a natureza humana era um tópico do qual ela sempre se distanciava.

 Jenny não era uma má pessoa, mas ela não era Akira.

~x~

 Ryo tem dez anos quando ele entra na igreja pela primeira vez.

 Ele não sabia muito bem porque fizera isso, ou como viera para ali. Ele precisava sair um pouco da tutela constante de Jenny, então ele se esgueirou pelas ruas e ruelas da cidade até se deparar com a pequena igreja, magnifíca e aterrorizante.

 As pernas de Ryo tremem quando ele dá um passo em direção à entrada. Ele não entende o motivo.

 Ele se senta em um banco perto de uma senhora que lança a Ryo um sorriso que ele não consegue retribuir, e começa a assistir a missa. Ele considera toda a experiência muito maçante, honestamente. Ryo observa as pinturas que adornam o teto, e as estátuas de santos e anjos nas paredes, e o enorme crucifixo que está pregado atrás do altar, e tenta descobrir o motivo de milhões de pessoas dedicarem suas vidas a isso.

 O padre fala, e Ryo o escuta. Ele escuta e analisa e interpreta, e suas mãos começam a suar. Ele não consegue desviar os olhos do crucifixo.

 O padre prega sobre bondade e altruísmo, e Ryo se lembra de Akira. O padre prega sobre perdão e humildade, e Ryo se lembra de Akira. O padre prega sobre amor e generosidade, e Ryo se lembra de Akira. O padre prega sobre pecado e as tentações de Satã, e Ryo se lembra do gatinho fragilizado, morto em uma caixa de papelão, chuva caindo sobre sua forma imóvel.

 Ele se levanta no meio da fala do padre e vai embora.

 Jenny o espera do lado de fora. Ryo se pergunta como ela sabia onde encontrá-lo (como sempre), mas se mantém em silêncio (como sempre).

 A expressão de Jenny é ilegível, e Ryo toma sua mão nas suas.

 A partir de então, Ryo sempre deixa uma bíblia em seu apartamento, onde quer que ele vá.

~x~

 Ryo tem quinze anos, e sua existência não possui propósito.

 Ele dá palestras e ministra aulas. Ele escreve artigos mundialmente reconhecidos. Ele fuma e bebe e fode, mas nada possui significado. Ele lê a Bíblia, e suas mãos continuam a tremer.

 Ryo foca em seu trabalho e não consegue deixar de pensar que seus esforços são inúteis.

~x~

 Ryo tem dezesseis anos e demônios são reais.

 Ele deveria estar assustado com sua descoberta. Temeroso. Até mesmo aterrorizado.

 E ele está, até um certo ponto. As pernas de Ryo tremem, e medo é um grande fator, mas não é o único.

 Ryo está exultante.

 É claro, a morte do Professor Fikira foi uma ocorrência verdadeiramente trágica, porém necessária. Meios para um fim, pode-se dizer.

 Ryo sente que ele vai implodir a qualquer momento. Seu coração palpita e sua respiração está pesada. Essa pode ser a sua única chance de provar o seu propósito.

 Sua existência possui sim um significado, no final das contas.

~x~

 Ryo tem dezesseis anos quando se encontra com Akira mais uma vez.

 Sua entrada foi grandiosa e dramática, e Akira se joga em seus braços. Ryo toma cuidado para a sua arma nunca o atingir.

 Assim que descobrira que demônios são reais, Ryo sabia que sua única escolha era seu melhor amigo. Se havia alguém nesse mundo com o coração forte o suficiente para se tornar um Devilman, essa pessoa era Akira Fudo.

 Akira é o mesmo de sempre, e ele fita Ryo com inconfundível admiração. Ryo se sente leve ao guiá-lo para longe do píer e para dentro de seu carro.

 Adorável, inocente Akira.

 Isso pode destruí-lo. Ryo deixa todos os riscos e todas as possíveis implicações bem claras. E mesmo ciente de tudo, Akira sorri e diz que seguirá Ryo de bom grado, até o inferno, caso seja necessário.

 Sabbatah não é o inferno, mas é quase.

~x~

 Mesmo com suas mãos e boca cobertas de sangue, Akira é o ser mais puro que Ryo já conheceu.

~x~

 Ryo tem dezesseis anos quando ele mata uma pessoa pela primeira vez.

 Ele esperava sentir remorso. Ou receio. Ou qualquer coisa.

 Ao invés disso, ao encarar o cadáver de um homem que morreu por saber demais, Ryo não consegue sentir nada além de indiferença.

 Ele pondera sobre as implicações de sua falta de emoção. Isso o torna uma pessoa ruim?

 Provavelmente, fornece uma voz em sua mente. Ryo a ignora.

 Pecados e virtudes passam a se interligar em sua realidade, e Ryo encara seu reflexo no espelho do banheiro, observando o contraste entre sua pele pálida e as gotas carmim de sangue.

 Seus olhos azuis o encaram de volta, e por um momento Ryo pensa ter visto a sombra de algo muito mais sombrio atravessar seu olhar.

 Naquela hora, Ryo não reconhece a si mesmo.

~x~

 Ryo tem dezesseis anos quando Akira confessa que está apaixonado por ele.

 Ele está envergonhado, cabisbaixo e receoso, e Ryo não sabe o que dizer para confortá-lo.

 Amor não existe.


 A verdade quebrará o coração de Akira, Ryo sabe disso. Doce, empático, sentimental Akira.

Não existe nada disso.

 Ryo prometeu sempre proteger Akira. E Ryo nunca deixa de cumprir suas promessas. Mesmo que isso signifique a realização de alguns sacrifícios.

 Portanto, não existe tristeza.

 "Eu... Amo você também."

 Uma mentira nunca tivera um gosto tão agridoce em seus lábios.

~x~

 Quando parava para pensar no assunto, Ryo percebe que tinha a certeza que Akira transaria do mesmo jeito que lutava: violentamente, tomado por instintos, e rosnando durante todo o processo, se preocupando apenas em tomar e controlar e possuir.

 No entanto, Akira é gentil e cuidadoso. (É claro que ele é. É de Akira que estamos falando). Ele beija Ryo docemente durante todo o processo, e entrelaça os dedos dos dois em meio aos picos agudos de prazer, e o rosto de Ryo cora com o esforço de se impedir de gritar de frustração.

 Ele preferiria que o sexo fosse brutal e animalesco. Seus músculos estão tensos e seus dentes estão cerrados, e Ryo tem vontade de estapear Akira na esperança de que isso acabe com seu ritmo vagaroso e seus toques ternos. Os instintos de Ryo de rosnar e arranhar e morder e lutar estão indo à loucura.

 Contudo, Ryo apenas fecha seus olhos e atura em silêncio os carinhos inacabáveis de Akira.

~x~

 Ryo tem trilhões de éons, mais velho que o próprio tempo, e ele se senta à beira do abismo.

 Ele está sozinho no mundo.

 Ao seu lado, Akira dorme pacificamente. Eternamente.

 Ryo já havia se despedido de seu melhor amigo. Tudo o que lhe resta agora é desfrutar dos resultados de suas ações.

 Ryo se sente cansado.

 Ao longe, o barulho de sinos celestiais se aproxima. Ryo exala.

 "Akira..." A batalha está chegando. Ryo sabe disso. Ele pode sentir em seus ossos, em seu sangue, na palpitação do seu coração, na estática do ar, naquele tipo de eletricidade etérea que só se manifesta quando algo grandioso está prestes a acontecer. Uma última vez, Ryo se vira para seu melhor amigo. Ele acaracia seu rosto, coração pesado, língua amarrada, e gentilmente fecha os olhos de Akira. Logo em seguida, se levanta.

 Ao longe, ele pode ver a silhueta de Michael, coberta por sua característica armadura, brilhar. O exército de anjos se aproxima a uma velocidade desconcertante, e eles trazem junto de si a melodia dos sinos celestiais.

 "Lúcifer!" Michael esbrava, lança em mão, fogo divino em seus olhos. "Prepare-se para pagar pelos seus pecados!"

 O exército celestial se move como uma única entidade. As vibrações percorrem pelo ar e se infiltram no próprio centro da existência.

 Satã é forte, quase incompreensivelmente poderoso, mas ele está sozinho.

 O exército se aproxima ainda mais, e a expressão no rosto de Michael não deixa dúvidas.

 Ryo dará tudo de si, mas ele morrerá essa noite.

 Pelo menos tudo esterá acabado em breve.

 (Não estará, não).

~x~


 Isso é apenas o começo.

~x~

 Ryo caía, e caía, e caía.
 Indefinidamente. Ininterruptamente.
 E ele continuava a cair.

 


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Notas finais do capítulo

Novo jogo: beba uma dose pra cada vez que a palavra "Ryo" apareceu nessa história.
(Para quem está familiarizado apenas com a versão crybaby: na história original, Ryo/Satã está preso em um timeloop infinito onde ele está fadado a trazer o apocalipse para a terra e matar Akira de novo e de novo e de novo. O Deus nas obras de Go Nagai é meio que um babaca)
Eu me senti extremamente pretensiosa escrevendo essa fanfic ahauahua Mas acontece. Aceito críticas construtivas!



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