—Bella? – Edward chamou abrindo devagar a porta do quarto dela, não queria correr o risco dos animais estarem soltos e atacá-lo. – É seguro entrar? – ele abriu mais um pouco a porta e viu que ela estava usando o notebook e com fones de ouvido. Sentiu algo encostando em sua perna e deu um grito que acabou assustando Bella.

—Que gritaria é essa? – perguntou largando o notebook e os fones. – Você assustou o Pernalonga. – pegou o coelho que tremia no colo dela.

—Achei que fosse aquele monstro verde. – ele levou as mãos ao coração enquanto se acalmava.

—O que faz aqui? – devolveu Pernalonga para o cercadinho que ela havia feito para ele. Edward assobiou ao ver como o quarto havia mudado.

—Você pichou o quarto?

—Eu grafitei. O que é bem diferente. Precisava de um pouco de cor. Estava muito branco e sem personalidade.

Edward admirou o trabalho dela. Era uma confusão de cores, mas que combinava muito com ela.

—Não sabia que tinha talento. – sorriu para ela. – Será que um desses talentos é cozinhar?

—Infelizmente não. Você viu a quantidade de embalagens no meu apartamento. Sempre peço comida. Conheço uns restaurantes excelentes. – foi até a bolsa e retirou vários panfletos de lá.

—Bem, para a sua grande sorte, eu sei cozinhar muito bem. – Bella o encarou espantada.

—É sério? Quando aprendeu a cozinhar? Você não sabia nem ligar o fogão.

—Querida, tem 10 anos que não nos vemos, muita coisa mudou nesse tempo. Você come peixe? – perguntou sorrindo maliciosamente, ele gostaria de cozinhar outro tipo peixe, mas alguém precisaria cuidar dos demais preparativos.

—Sim. Quer ajuda? – ele a dispensou com um aceno de mão.

—Pode ficar ajeitando as suas coisas. O jantar estará pronto dentro de uma hora. – avisou fechando a porta.

[...]

—Olha, achei que estava brincando comigo, mas o cheiro está maravilhoso. – Bella elogiou levantando as tampas das panelas.

—Eu não costumo mentir, Swan. Por favor, não atrapalhe. – ele a empurrou delicadamente até a bancada da cozinha.

—Quando aprendeu a cozinhar? – perguntou interessada.

—Quando estava na faculdade. Morava sozinho e não aguentava a comida do campus, então me inscrevi num curso de gastronomia. Foi bom para me manter focado.

—Focado? – Bella começou a mordiscar um pedaço de pão.

—O curso de gastronomia me afastava da farra e se eu fosse para a farra, não me concentraria nos estudos, então além de me tornar um grande chef. – apontou para o avental que dizia “melhor chef do mundo” – Fui o melhor da minha turma, ao contrário de Emmett que passou raspando e advinha só quem meu pai vai colocar na presidência? O incompetente.

—A menos que seu pai tenha ficado maluco, não consigo acreditar que ele vá colocar alguém despreparado a frente dos negócios. Emmett pode não ser o melhor, mas ele não deve ser tão ruim assim. – Bella revirou os olhos, ela achava que Edward estava sendo muito dramático.

—Pois acredite que ele pirou de vez. Até você seria mais competente do que ele.

—Se você acha que Emmett passou raspando, é porque ainda não viu as minhas notas. Odiei cada minuto do curso de Administração.

—Então por que fez? – colocou a travessa de salada na bancada.

—Pelo mesmo motivo que iria casar com Mike Newton. – Charlie queria que Bella assumisse os negócios da família, mas ela nunca mostrou interesse e nem vocação para tal função, fato que não impediu o pai de obriga-la a formar. Mesmo contrariada, ela fez o curso e após uma semana de trabalho na empresa, Charlie viu que ela realmente não levava o menor jeito para aquilo e a livrou do fardo. Bella sabia que se tivesse esforçado um pouco mais, poderia ter obtido um melhor resultado, mas fora melhor assim, ela estava livre para fazer o que realmente queria. Ciências Biológicas.

—Você não é mais uma criança, Bella. Não deveria deixar que o seu pai te tratasse como uma.

—Acha que não sei disso? Mas tente lutar contra o meu pai... – ergueu as mãos irritada. – E falhe miseravelmente.

—Ainda bem que não está mais sozinha nessa luta. Você me tem agora. – fez uma pose de super- herói e Bella caiu na gargalhada.

—Era para me fazer sentir melhor? – perguntou secando as lágrimas.

—Fiquei ofendido agora. Somos parceiros Bella. Unidos contra as nossas famílias.

—Isso merece um brinde. – Bella levantou procurando por taças.

—O vinho está na adega ali no canto. – Edward apontou e Bella correu para pegar uma garrafa. Ela serviu as duas taças e entregou uma para o marido.

—Um brinde a nós. As ovelhas negras da família.

—Brindemos a isso. –Bella tomou todo o vinho em um gole só. – Vamos com calma aí, mulher. – ele pegou a taça da mão dela e colocou em cima da pia. – Quero você sã. Precisamos definir o nosso plano.

—Me alimente primeiro. – pediu sentando na banqueta de frente para ele.

—Estou começando a me arrepender desse casamento. – murmurou finalizando o jantar.

—Eu me arrependi no momento em que você abriu a boca. – sorriu para ele e como resposta, Edward mostrou a língua para ela. – Nossa, muito maduro da sua parte.

—Só come e fique calada.

—Sim senhor. Ou prefere que te chame de meu amo? – retrucou irônica.

—Amanhã, prefiro que use os termos mais fofos e melosos que conseguir pensar, quero ver meus pais soltando fogos. – gargalhou enchendo o prato.

—Isso daqui está delicioso. Pelo menos uma vantagem vou ter.

—Oh querida, essa é apenas uma delas. A melhor de todas você ainda vai ver qual é. – piscou para ela.

—Desiste, Edward. Não vou dormir com você.

—Somos marido e mulher agora, você deve dormir comigo. Precisamos consumar o nosso casamento.

—Você disse que não me forçaria. – o lembrou erguendo os olhos para encara-lo.

—E não vou. Mas, posso e vou persuadi-la. Não sei o porquê de estar tão reticente assim. Não era com isso que sonhava quando éramos adolescentes? Pois veja só, seus sonhos se realizaram.

—Pela última vez, era só uma paixonite besta que já passou. – ela estava vermelha feito um tomate.

—Fica aí falando que não quer usar o meu sobrenome quando eu sei muito bem que escrevia ele no seu diário. – Bella engasgou com a comida e Edward teve que correr para socorrê-la. – Não morra Swan. – suplicou enquanto aplicava a manobra de Heimlich nela. Respirou aliviado ao vê-la voltar à cor normal. – Aqui, beba um pouco de água. – Bella aceitou a oferta com as mãos trêmulas.

—Como sabe disso? – gaguejou sem encara-lo.

—Você vivia com aquele diário na mão. Emmett e eu estávamos curiosos para saber o que tinha nele. Então naquela viagem que fizemos para Aspen, nós roubamos e tiramos uma cópia.

—Seu cretino! – Bella jogou um pedaço de pão nele.

—Ei, a ideia foi do Emmett. Se quiser, pode brigar com ele amanhã. – tentou se defender.

—Pode apostar que vou. Seus pais não te ensinaram que não se deve mexer nas coisas dos outros não? – gritou com ele. – Esqueci com quem estou falando. – deu um sorriso de deboche e voltou a sentar.

—O que quis dizer com isso? – vendo que era seguro, Edward sentou também.

—Seu pai espionava o meu, foi assim que ele conseguiu as informações necessárias para tirá-lo da empresa.

—Ele só fez isso porque tinha provas de que o seu pai estava ciente dosabusos que estavam sendo cometidos na empresa, fora que ele mesmo era suspeito de fazer o mesmo. – retrucou bebendo vinho.

—Isso é mentira. O meu pai jamais faria uma coisa dessas, ele foi acusado injustamente. Armaram para ele.

—Isso é o que ele diz. – os dois se encararam e faíscas podiam ser vistas saindo dos olhos deles.

—Seu pai nunca apresentou as provas e não deixou que uma investigação fosse conduzida. Bem suspeito, não?

—Meu pai ama a minha mãe e ele jamais se sujeitaria a algo tão baixo e nojento.

—E o meu sim? – Bella não colocaria a mão no fogo pelo pai, mas duvidava muito que ele fosse capaz de cometer assédio sexual. Embora, depois de saber que os pais não se casaram por amor, ela duvidasse muito da fidelidade deles.

—Não sei. Nunca vi os arquivos, mas confio no meu pai e se ele disse que tinha provas, é porque ele tinha. Se fosse mentira, Charlie não teria saído tão facilmente assim.

Bella pensou por alguns instantes. Ela só sabia um lado da história e diante dos últimos acontecimentos, não sabia se podia confiar plenamente no pai, mas também não poderia viver com aquela dúvida para sempre.

—Assim que você assumir a empresa. Quero que investigue isso a fundo. – falou por fim e voltou à atenção para a comida que já tinha esfriado.

—Pode ter a certeza que investigarei e se for mentira, seu pai terá um pedido público de desculpas. – prometeu recolhendo os pratos.

—Obrigada. – sussurrou largando os talheres. – Você cozinhou, eu lavo. – ofereceu se aproximando da pia.

—Pode deixar. – Edward virou de repente quase derrubando a louça que ela carregava, o clima entre eles estava tenso.

—Podemos conversar depois. Não acho que agora seja o melhor momento para definirmos o que vamos fazer.

—Estou completamente de acordo. – ele pegou a louça da mão dela e colocou dentro da pia. – Só apareça na mansão Cullen amanhã e improvisaremos.

—Tudo bem. – respondeu num sussurro. Edward esperou que ela saísse correndo de lá, mas ela ficou lá parada. – Pode me dar só mais um pouco de tempo?

—Como? – perguntou sem entender o que ela queria dizer. – Não quer contar para os nossos pais que casamos?

—Não é isso. – Edward esperou que ela se explicasse. - Preciso de um pouco mais de tempo para me envolver fisicamente com você. Eu tinha sim uma queda por você na adolescência e o acho muito atraente. – ele abriu um largo sorriso. – Não se ache tanto Cullen. – o repreendeu corando. – O fato é que não estou preparada para me envolver com ninguém nesse momento.

—Algo que deva saber? – ela negou e ele colocou a mão no queixo dela o erguendo. – Bella, você tem a minha proteção, pode me contar tudo. Sinceridade. Lembra?

—Não é nada de mais. - ela se afastou dele. – Eu gostava de um cara e ele partiu o meu coração. Ainda estou juntando os cacos. - fungou se afastando ainda mais dele.

—Eu jamais partiria o seu coração, Bella. – tentou se aproximar, mas ela ergueu as mãos o impedindo.

—Aqui vai uma novidade. – o encarou com tristeza. – Você já partiu uma vez. – saiu o deixando perplexo.