Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 74
A Batalha Final




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O grupo de soldados havia se separado, por isso Ryan se viu sozinho. Já havia matado 5 bruxas, era difícil saber se eram fracas ou fortes porque sempre pareciam desnorteadas, nem mesmo animais agiam de forma tão estúpida. 

— Limpamos o caminho até Ferrum, senhor — Um recruta havia se aproximado — Avisamos também as autoridades para que fiquem atentas, caso alguma bruxa tenha passado despercebido de nossos olhos. O Statera certamente cuidará das coisas a partir daqui.

Ryan acenou positivamente com a cabeça.

— Partiremos agora para Montis — Ryan instruiu — Nossos companheiros podem estar precisando de ajuda.

No meio do percurso, o pequeno jipe foi atingido por uma onda de energia que o fez derrapar, escapando por pouco, de cair penhasco abaixo.

Na origem da explosão, uma besta muito maior do que as outras rugia em sinal de ameaça.

Ela tinha um ferimento na parte do abdomém que se esforçava para esconder. A criatura o olhou com súplica, como se pedisse por ajuda.

“Isso deve estar doendo…” Ryan pensava. Talvez aquele fosse o motivo de ela os atacar sem motivo. Estava se sentindo ameaçada. Estava com dor e medo.

Um estrondo fez Ryan se assustar. Diante dos seus olhos, a besta ferida despencou do penhasco rumo ao que ele não conseguia mais enxergar.

— O que você fez? — Ryan se virou para seu subordinado.

— Atirei na criatura, senhor — O rapaz respondeu sem preocupações.

— Mas porque fez isso? — O comandante continuava a pressionar o garoto por respostas.

— Senhor, se esse monstro fosse para a cidade poderia machucar muitas pessoas — O rapaz explicou mesmo sem entender os motivos de seu superior — O senhor mesmo disse que precisávamos proteger as pessoas e eliminar as ameaças.

Uma onda de sanidade voltou a Ryan e ele foi incapaz de compreender porque estava agindo daquele jeito. Porque ver aquele monstro mergulhar para a morte o havia deixado tão transtornado ou muito menos porque aqueles olhos cheios de súplica estavam gravados em sua cabeça.

— Continue dirgindo até Montis — Ryan ordenou sem dar mais explicações.

Com a separação do trio, Catherine e Tommy seguiram sozinhos a toda velocidade. Apesar de assustada, ela mantinha na memória as recomendações de Ryu.

 — O Blanc não tem a menor intenção de te matar, por isso estar sozinha no campo de batalha não é algo desesperador — Ryu explicou — Ele carrega com ele uma pequena adaga que pretende usar em você, uma forma de conseguir retirar seus poderes, no entanto, ele precisa que você desperte um nível de magia muito alto. Enquanto estiver sob controle, você é apenas um alvo a ser capturado.

Ela precisava se manter em constante movimento, sempre em frente, em direção ao santuário. Concentrada em manter sua velocidade, Catherine nem ao menos percebeu a aproximação de um novo inimigo, até despencar com Tommy no chão.

O cavalo havia sido empurrado com extrema ferocidade por Benjamin. Sem interrupções ele  agarrou Catherine pelo braço e a arrastou pelo chão em direção aos caminhões do Minus. Um pouco aturdida, Catherine havia se chocado com a grotesca aparência de seu antigo inimigo. Por pouco não havia sequer o reconhecido.

Desesperada com a ideia de ser confinada em um local inacessível e se sentindo cada vez mais longe de seu objetivo, a bruxa usou sua mão livre para revirar seus bolsos e no momento que encontrou o presente que havia recebido de Trevor, ela o segurou com força e pensou em algo que a pudesse livrar daquela situação, nesse momento, uma descarga elétrica intensa saiu do corpo da bruxa e o caçador voou a metros de distância. Ela havia ficado um pouco assustada com a eficácia do seu plano, mas no momento que percebeu que o inimigo estava levantando, tratou de também sair do local.

  — Desgraçada! — Benjamin se levantou com dificuldades — Eu vou quebrar as suas duas pernas!

A impetuosa Kusarigama rasgou o caminho rumo a Catherine, mas foi parada quando suas corrente se embrenharam na lâmina de Marie. Sem nenhuma hesitação, Josh agarrou a corrente e a puxou com força em sua direção, Benjamin veio junto e estava prestes a ser recepcionado com um poderoso soco no rosto, no entanto diferente do esperado, ele defendeu o ataque de Josh com sua palma sem qualquer preocupação.

Com a mão do inimigo sob seu domínio, Benjamin a puxou para perto de si e em seguida acertou Josh com uma cabeçada forte o suficiente para atordoá-lo. Sem qualquer pausa, o corredor o atingiu com um soco no estômago e outro no rosto, que o fez cair.

Poucos metros distante dali, Catherine havia finalmente alcançado Tommy, entretanto não havia qualquer caminho a seguir. Havia soldados por todos os lados e em questão de segundos ela estava cercada por mais de 100 homens.

— JOGUEM O MANTO! — Um homem que parecia liderar aquele enorme pelotão ordenou.

Assim, em poucos segundos uma espécie de véu prateado se estendeu sob a bruxa e lentamente se deitou sobre ela. O que no início parecia delicado como uma pétala de rosa, se aderiu ao chão com tamanha intensidade que isolou Catherine e Tommy de qualquer espaço para se movimentar e ainda limitou consideravelmente o oxigênio em seu interior.

Tommy se debatia em desespero enquanto Catherine se esforçava para conseguir alcançá-lo.

Lembrou-se de Bastet e da forma como havia se transformado. Trevor havia lhe dito que 30 anos eram necessários para que ela conseguisse usar aquele tipo de magia, mas ela não tinha mais do que 30 segundos antes de perder a consciência.

— Vamos Tommy… — A bruxa sussurrava — Estamos juntos nessa…

Não muito longe dali, Ryu e o híbrido travavam uma batalha difícil. Ryu imaginava que aquele garoto tinha tanta força quanto Josh, no entanto ele parecia muito mais feroz do que o seu companheiro, no fim das contas. Ele era muito rápido e por isso não dava nenhuma abertura para que Ryu criasse uma estratégia, um mísero segundo para respirar havia resultado em uma enorme queimadura em seu braço, oriunda da explosão da pequena adaga.

— Sugiro um escudo completo — Eveline sugeria — Com a minha armadura ele será incapaz de te atingir.

“E eu de atingi-lo, já que a proteção me deixa mais lento, nem sempre a armadura é uma aliada…” Ryu pensava e aquele pensamento havia vindo a ele como uma luva.

— É realmente frustrante para o Blanc não ter conseguido fazer alguém tão poderoso quanto o Josh não é mesmo? — O guerreiro soltou — Eu jamais conseguiria suportar uma luta com ele por mais de 60 segundos!

A frase perturbadora de Ryu desestabilizou o jovem híbrido por alguns momentos, mas ele logo retomou sua incessante série de golpes, agora mais intensos e mais focados em finalizar aquela batalha. Uma pequena poça negra se formou a frente do rapaz, seu desvaneio havia feito com que ele fosse imprudente e por isso ele pisou em cheio naquela armadilha. A poça engoliu a perna do garoto com rapidez e mesmo com os esforços dele em se libertar, seu corpo foi completamente tomado.

— Destrua — Ryu deu o comando.

Quando Eveline voltou para sua mão ela estava completamente ensanguentada e do rapaz não havia restado nada que pudesse ser reconhecido.

Enquanto isso, ainda no chão, Josh não teve tempo de reagir devido a sequência de ataques direcionados a ele. Benjamin era como um monstro descontrolado, atacando sem pausa e sem direcionamento.

A sessão de golpes, foi interrompida no momento em que uma lâmina negra atravessou o peito de Benjamin, vinda de suas costas. Sem nem ter tido oportunidade de prever aquele movimento, ele caiu imóvel no chão.

— Onde está a Catherine?! — Ryu surgiu de trás do enorme corpo.

— Eu não tenho certeza! — Josh estava ainda estava confuso devido a pancada — Mas Não dá para ter certeza de nada nesse inferno em que estamos!

O ex-minus apontava para multidão que os cercavam.

— São todos híbridos… — Eveline tinha uma voz transtornada — Vocês precisam fugir… 

Um rugido aterrador fez com que todos no campo de batalha tremessem.

Debaixo do manto prateado, um amontoado foi crescendo, tomando quase o tamanho de uma montanha.

Não resistindo a pressão, o manto se rasgou e uma criatura gigantesca alcançou voou.

Todos os soldados do Minus estavam desnorteados, sem ação diante do inesperado.

O demônio alado, planou sobre o enxame de inimigos e agarrou Josh e Ryu com uma única bocada os lançando para o alto em seguida. Os dois garotos gritaram em total desespero enquanto despencavam no ar. No momento que pousaram nas costas da criatura, se depararam com a imagem sorridente de Catherine.

— O que seriam de vocês sem mim? — A bruxa piscou para os rapazes.

— Que porcaria é essa? — Ryu estava em pânico — Um dragão? Uma gárgula?

— É o Tommy! — Catherine se mostrava ofendida — Mais respeito com meu bebê!

— Mas… como? — Josh estava incrédulo e Ryu não muito diferente dele.

O intenso movimentar do animal, impediu que aquele diálogo prosseguisse. Tommy estava sendo alvejado por flechas e ganchos. No momento que um gancho atravessou a asa da criatura transformada, ela berrou e despencou rumo ao chão.

— Aguenta Tommy! — Catherine estava em pânico.

— Faça ele fazer alguma coisa! — Ryu gritava — Ele não solta fogo ou raios? Uma criatura tão grande não pode servir apenas para voar!

— Olha… Eu nem sei como eu fiz ele ficar tão grande e você ainda quer que eu faça ele soltar raios? — Catherine tinha em sua voz um misto de irritação e desespero.

Tommy conseguiu planar poucos metros antes de atingir o solos e se esforçava para fugir para longe dos inimigos, mas sua pata foi agarrada por uma corrente impedindo que ele continuasse. Na ponta oposta da corrente, Benjamin usava sua extraordinária força para arrastar a imensa criatura.

— Eu achei que você tivesse matado ele… — Josh estava surpreso — Você acertou o coração… como ele pode estar de pé? Eu nunca vi um híbrido tão forte!

— Dessa vez eu vou cortar a cabeça, para ter certeza! — Ryu saltou para fora das costas de Tommy. No entanto, antes que pudesse se dirigir em direção ao inimigo se deu conta de que um círculo de soldados se fechava ao redor dele e de seus amigos.

— Tem mais de 100 híbridos se aproximando de todas as direções! — Eveline informava.

Ryu voltou para perto do grupo. Tommy gritava a dor do corpo ferido. Catherine se agarrava a ele em completa aflição. Josh mantinha sua posição de batalha.

“O que eu faço? O que eu faço?” Ryu estava completamente desnorteado.

Tudo estava fora do controle, todos pareciam perdidos, mas ele sentia que precisava ter uma resposta. Precisava de uma solução.

— Entrada triunfal! — Uma voz familiar soou no meio da multidão.

“Mas como poderia?” Ryu estava perplexo.

— Fechem os olhos! — O guardião gritou.

Apesar de confusos, Josh e Catherine fizeram como o mandado. Sem que nenhum deles percebessem, de alguma forma ele havia se tornado o líder.

Na mesma hora, um intenso clarão tomou o campo de batalha e todos os desprevenidos, humanos ou híbridos, ficaram completamente cegos.

— Estão todos bem? — Ryu se aproximou dos amigos e notou que estranhamente, não havia mais uma enorme fera no meio deles — O que houve com o Tommy?

Um pequeno roedor pôs a cabeça para fora da roupa de Catherine, e foi logo empurrado para dentro novamente.

— Estamos bem! — A bruxa afirmou.

Uma nova explosão seguida de outras mais, fez com que o grupo se agachasse para se proteger.

— O que está acontecendo? — Josh estava nervoso.

— A minha cavalaria chegou! — Ryu sorriu enquanto observava ao longe Lya liquidar com os soldados num frenesi de fúria — Agora vamos, estamos quase lá!

Uma espécie de túnel luminoso se abriu e o trio caminhou rumo a eles.

— Por que devemos entrar aí? — Catherine parou no meio do caminho.

 As paredes transparentes mostravam os inimigos golpeando violentamente a estrutura.

— Porque eu estou convidando! — Kai sorriu de cima do túnel — E garanto que vocês estarão seguros aí!

— Se você está dizendo eu acredito! — Ryu sorriu mais uma vez, não sabia descrever o quanto amava aquele casal.

Catherine reconheceu o amigo de Ryu e resolveu entrar sem mais relutância. Era assustador andar no meio daquele exército sedento por sangue. Ela podia ver as expressões ansiosas e cheias de ódio se espremendo naquela superfície transparente. Tão próximos, mas tão impotentes.

No meio da multidão, a garota avistou a imagem de Benjamin. O homem vinha na direção da parede com uma velocidade e brutalidade impressionantes.

— Ele vai derrubar! — Catherine gritava — Isso não vai suportar!

Mal havia acabado sua frase, a bruxa viu o trajeto de Benjamin ser interrompido por um soco que o fez voar para longe dos demais soldados.

Ela não percebeu, mas Lya também notou a aproximação do poderoso inimigo. 

— Que tal um embate um contra um? — Lya vociferou.

— BRUXA MALDITA! — O caçador estava fora de si — EU SOU A EVOLUÇÃO DA SUA ESPÉCIE IMUNDA!

Enquanto avançava em direção a Lya, o corpo de Benjamin mudava. O que antes já beirava a bestialidade, agora se tornava cada vez mais asqueroso. Sua pele parecia estar se desfazendo, enquanto seus músculo cresciam desordenadamente. O rosto já não era humano, com dentes e ossos saltados, ele não se parecia com nada conhecido.

Lya tomou sua posição de batalha, estava bastante assustada, jamais havia visto algo como aquilo. Entretanto, o impensável aconteceu, ela viu uma intensa energia tomar o corpo da criatura e ela se desfez antes que pudesse alcançá-la.

A bruxa olhou com atenção para suas próprias mãos, como poderia ter feito aquilo? Poderia?

— É hora de você descansar… — Ryan, o autor daquele assassinato, caminhou lentamente até o que havia restado do corpo carbonizado da criatura, um amontoado de cinzas — Sua alma já havia partido há muito tempo, seu corpo deformado seguia em passos largos a manchar o seu nome — os olhos marejados do garoto logo transbordaram em lágrimas — E agora eu estou sozinho.

Lya ficou um pouco sensibilizada, apesar de não simpatizar com Ryan e saber que era muito recíproco. Sentiu seu luto. Sentiu seu sacrifício ao matar seu companheiro.

— Talvez devêssemos ir para casa — Safira sugeriu.

— Temos trabalho a fazer, Safira — Ryan enxugou o rosto — Tem pessoas precisando de nós.

O garoto entrou no carro que o aguardava e seguiu rumo a Montis.

— Eu realmente recomendo que vocês adiantem seus passos! — Kai gritou — Tem mais híbridos chegan…

Mal pôde terminar sua frase quando viu toda a sua estrutura de energia desabar e uma espada dourada atravessar seu abdômem. O bruxo voou muitos metros pelo campo de batalha e no momento que se chocou contra o chão, sentiu seu corpo inteiro ser pressionado por uma energia tão poderosa que foi incapaz de se mover.

— Aberrações da igreja são sempre problemáticas — Blanc observava ao longe seus feitos.

— Kai! — Lya correu em direção ao marido, mas poucos metros antes de conseguir alcançá-lo, foi repelido por uma energia muito poderosa.

— SAIA! — Kai estava com o rosto imobilizado — Essa relíquia é muito poderosa… Nenhum bruxo é capaz de retirá-la… Você pode morrer tentando.

Ele estava certo, nenhum bruxo poderia intervir, mas dezenas de soldados estavam muito interessados em decapitar aquele rank S indefeso.

Lya assumiu sua posição de batalha. Ela que havia vindo apenas para ajudar Ryu, agora precisa se focar em salvar a vida de Kai.

No meio da multidão de híbridos sedentos, Catherine estava escondida embaixo do escudo negro de Eveline, enquanto Josh e Ryu se esforçavam para manter longe os inimigos. 

Com as duas mãos segurando firme o presente que havia ganhado de Trevor, a bruxa do azar pensava em uma forma de ajudar seus companheiros. Aquele pequeno golpe em Benjamin havia sido tão cansativo, mas transformar Tommy tinha drenado todas as suas forças. Ela seria capaz de fazer alguma magia? Ela precisava.

— Me ajude por favor… — A bruxa levou a relíquia até o peito, enquanto pensava em seus companheiros sofrendo lá fora — Não importa quão poderoso seja… eu aguento…

— Não é assim que se entoa uma feitiço pirralha! — Uma voz familiar ecoou naquele pequeno espaço negro no qual estava confinada.

— Trevor? — Catherine sussurrou.

— É Lorde Trevor! — A imagem do bruxo surgiu de uma pequena sombra no chão e em seguida desapareceu.

Catherine estava um pouco confusa e isso só aumentou quando ouviu total silêncio do lado de fora de seu refúgio.

— É o Lorde das Trevas! — Um grito desesperado foi ouvido.

Quando as paredes de Eveline desapareceram, não houve nenhuma diferença, pois do lado de fora estava tão escuro quanto lá dentro.

Não houve caçador ou híbrido ao redor que não fugiu em total desespero no momento que uma tsunami negra se derramou sobre o campo de batalha.

— O que está fazendo Trevor? — Na mansão da floresta negra, Marcos batia na porta da biblioteca onde seu companheiro se isolava.

Alguns segundos de silêncio seguiram de uma abertura repentina.

— Olá? — Trevor tinha a expressão um tanto assustada em seu rosto — Estava lendo, algum problema?

— Leituras muito enérgicas estas suas, não é mesmo? — Marcos o encarou com desconfiança — A estrutura da mansão tremeu, como se você estivesse fazendo um feitiço de grande porte.

— O almoço está pronto? — Trevo tinha um tom cínico em sua voz.

 


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