Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 62
Especial: As Crianças do Statera Parte 4


Notas iniciais do capítulo

Mano, esse era pra ser o último, mas rendeu demais gente. O próximo é o último juro!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759767/chapter/62

O som do gongo pôs início a batalha, Amélia avançou rumo a Blanc e o golpeou com um chute em direção ao seu rosto. No entanto, o movimento, apesar de ter muito da força da garota fez com que Blanc apenas virasse o rosto com leveza. O caçador tentou segurar a perna da adversária, mas com um bom reflexo, ela conseguiu escapar.

A plateia continuava torcendo com vigor, um barulho quase ensurdecedor. O que antes trazia forças para a garota, agora fazia a sua cabeça girar. Os olhos de Blanc a encaravam sem pausa, como se estivesse esperando um momento de fraqueza, um único deslize que fizesse dela um alvo fácil.

“Meu Deus eu estou muito assustada…” Amélia não conseguia se conter.

Diante da inércia do adversário, Blanc avançou em direção a ela. Amélia se desvencilhou daquele ataque sem dificuldades, mas o que ela não esperava é que o soco desferido por Blanc não era de fato seu ataque. Enquanto observava Amélia se afastando, o jovem duque pisou violentamente no chão da plataforma, fazendo com que um caminho de destruição se formasse na direção da garota.

Amélia não havia sido alcançada, mas Blanc também não havia cessado seus movimentos. Caminhando a passos rápidos em direção a inimiga, Blanc deixava um rastro de destruição para trás toda vez que ela escapava de seus ataques. No fim, Amélia estava ilhada em um pequeno pedaço ileso da plataforma.

“Desgraçado!” Amélia havia entendido o que Blanc havia feito, afinal, nada era pior para um corredor, do que um solo acidentado.

— Acha que isso vai ser suficiente para me deter? — A garota estufava o peito e fortalecia a voz — É agora que você inicia seu discurso pedindo para que eu desista?

Em silêncio Blanc estendeu sua mão em direção a Amélia e a convidou para atacá-lo.

— Ele vai massacra-la! — Kaito havia sentado ao lado de Ivan.

— Ele só está intimidando ela — Ivan dizia com tranquilidade aparente, apesar de estar extremamente nervoso — Ele sempre faz isso!

— Ele está irritado por ter que competir com ela — Kaito insistia — Não haja como se não o conhecesse.

As pernas de Ivan estavam inquietas. Ele sabia exatamente do que Kaito estava falando, mas estava se esforçando para cultivar bons pensamentos em relação aquela luta. No entanto os bons pensamentos do garoto foram interrompidos devido ao súbito silêncio da plateia. Imediatamente, o caçador voltou seus olhos para a arena e se deparou com a imagem de Amélia caída no chão enquanto Blanc a observava de cima com seu semblante tranquilo habitual.

— Vai ficar parado aí? — Amélia se esforçava para levantar — Tá perdendo uma ótima chance de finalizar com isso!

— Você também — Blanc tinha um sorriso cínico estampado em seu rosto enquanto apontava para a borda da plataforma.

Tomada pela provocação do adversário, Amélia avançou para cima de Blanc com um soco cego, que foi facilmente parado por ele.

— Esse é aquele momento crítico que precede a grande reviravolta, não é mesmo? — Blanc torceu o braço de Amélia e a imobilizou de costas para ele, de forma que pudesse sussurrar no seu ouvido — O público estarrecido se vê sem nenhuma esperança. O herói sente queimar em seu peito que precisa fazer mais. Que a sua luta é maior do que ele mesmo. E então BANG!

A onomatopéia de Blanc se fundiu com o som dos ossos do braço de Amélia se quebrando, seguido do seu grito de agonia.

— Não vai haver reviravolta, Amélia — Blanc a deixou cair no chão — Porque existe uma hierarquia no mundo. Existem aqueles que nascem para protagonizar as grandes façanhas da humanidade e aqueles que são apenas coadjuvantes, figurantes… ou não são nada.

Depois de alguns segundos em silêncio, Amélia riu baixinho, provocando curiosidade em Blanc.

— Quem te garante… — Amélia se virou para Blanc com uma expressão cínica em seu rosto — Que ainda não estamos no momento crítico?

— O que?

Blanc não teve tempo de processar antes de levar uma rasteira que o fez cair no chão. Sem dar espaço para um possível reação, a garota se lançou de joelhos em cima do caçador e o acertou diversas vezes no nariz, usando o seu braço que ainda estava em bom estado.

— Quem te garante que a grande reviravolta não está por vir? — Amélia continuava a socar ininterruptamente com toda a sua força.

No entanto, tal movimento não havia sido suficiente para atordoar o inimigo, por isso Blanc apenas usou a força das suas pernas para criar um impulso que desestabilizasse a inimiga. No momento que conseguiu o desejado, Blanc se lançou contra o corpo de Amélia a esmagando com seu peso duas vezes maior.

— Eu garanto! — O caçador dizia com vigor enquanto pressionava ainda mais forte o corpo da garota contra o solo. Enquanto assistia ela sendo asfixiada.

— BLANC, ISSO NÃO É UM COMBATE ATÉ A MORTE! — Ivan berrava da plateia.

Um pouco a contragosto, o caçador rolou para longe do corpo da garota e em seguida se pôs de pé.

Amélia se virou de bruços arfando desesperada por oxigênio e então começou a se arrastar para longe de Blanc.

— Rastejando como um verme — Blanc dizia com escárnio — Esse é seu lugar.

— VOCÊ ACHA QUE VAI TER ISSO DE MIM? — Amélia berrava enquanto cessava seus movimentos e se virava para Blanc.

No entanto antes que pudesse ter a visão clara de seu rosto, teve seus sentidos interrompidos pela dor excruciante de Blanc esmagando seu joelho direito. Com apenas um pisão ele havia destruído por completo qualquer chance de ela se pôr de pé naquela batalha e talvez em qualquer outro momento de sua vida.

— Alguém precisa tirar ela dali! — Ivan se levantou rapidamente da plateia e correu em direção a plataforma.

— Não faça isso… — Kaito o segurou — Ela jamais vai te perdoar por isso.

— Eu não me importo! — Ivan estava fora de si.

— Se tirar o direito de escolha dela, vai machucá-la mais do que o Blanc jamais conseguiria — Kaito tinha um tom de voz pesado.

— Vamos! — Blanc chutou as costelas de Amélia fazendo com que a garota voasse pela plataforma — Me mostre o grande momento de reviravolta!

Amélia sentia tanta dor que era incapaz de pensar em nada, por isso apenas continuava a se rastejar para longe de Blanc com toda força e desespero que possuía. Quando percebeu que seu inimigo estava caminhando ao seu lado, se esforçou para se afastar mais depressa, no entanto a única coisa que havia à sua frente era o fim da plataforma.

— Mostre para todos o que um Corredor deve fazer quando estiver diante de um Combatente — Blanc se manteve parado diante de Amélia.

Apesar de ter o seu corpo inteiro dolorido, a maior dor que Amélia possuía era em seu orgulho. Mas ela entendia que não podia apenas morrer ali, ela sabia que se não houvesse uma vitória, qualquer outro resultado seria em vão.

No entanto, quase que involuntariamente, mesmo com seu corpo quase se quebrando inteiro de dor, Amélia se pôs de pé.

— Ele deve encará-lo com força — Amélia dizia em alto e bom som — E mostrar para o maldito combatente que a classe não dá ao caçador sua honra e muito menos garantia de vitória.

Com apenas um soco, Blanc encerrou aquela batalha com Amélia desacordada e caída fora da plataforma.

— A honra não traz vitória, por isso você está sempre fadada ao fracasso — Blanc disse com desprezo antes de se retirar da arena.

Não houve palmas, não houve gritos ou comemoração. Estavam todos atônitos demais para esboçar qualquer reação a aquela batalha de corpos e valores.

— CHAMEM AS SACERDOTISAS! — Um grupo de paramédicos gritava enquanto carregavam o corpo inconsciente de Amélia em uma maca.

Ivan havia descido até a área onde tudo se passava, mas estava completamente desnorteado sobre o que fazer.

Ele e Kaito haviam acompanhado Amélia até a UTI, e observavam um membro da igreja examinar Amélia.

— Eu sinto muito, mas não podemos fazer muito por ela — O bruxo explicava — A perna dela está completamente destruída e…

O rapaz cessou suas explicações e se curvou de forma respeitosa no momento em que um desconhecido adentrou o quarto.

— Senhorita Safira, o que a trás a esse ambiente indigno de sua presença? — O homem parecia ter profundo apreço em sua voz.

— A terrível sessão de tortura patrocinada pela academia do Statera — A mulher respondeu com insatisfação.

— Quem é você? — Ivan estava confuso com aquela situação.

— Perdoe-me minha falta de cordialidade, me chamo Safira Neville — A garota se curvou educadamente.

— A filha da papisa — Kaito sussurrou para Blanc.

— Você pode ajudá-la? — Ivan estava apreensivo —  Se ela não for capaz de correr de novo… Eu não sei se poderá chamar isso de vida.

— Não se preocupe — Safira se sentou em uma cadeira que ficava ao lado da cama de Amélia — Eu não vou permitir que essa criança tenha seus sonhos destruídos.

— Retirem-se por favor — O bruxo acompanhou os dois caçadores para fora da sala — Ela precisa se concentrar para fazer uma magia desse patamar.

Ivan se sentou em um pequeno banco na sala de espera.

— Eu to muito animado — Kaito sorriu — A tal Neville é barra pesada. Se alguém pode deixar a Amélia novinha em folha, esse alguém é ela.

Ivan não estava muito atento ao que se passava, sua cabeça não conseguia parar de pensar naquela fatídica batalha. Quem estava ali, torturando e humilhando Amélia, era o Blanc que ele conhecia? Como ele poderia olhar para aquele monstro e acreditar que era seu estimado amigo?

— Se eu tivesse uma chance de ir para final com aquele desgraçado, eu iria amassar a cara dele na porrada — Kaito estava irritado — Eu iria bater tanto nele, que aquele nojento ia mijar nas calças.

Ivan nem percebeu a linha de raciocínio que levou o caçador a aquela revolta, mas não era capaz de culpá-lo. Dentro dele, havia um mix de sentimentos que não conseguia formar ideias concisas.

— Eu vou desistir da luta contra a Eleonor… — Ele sussurrou sem nem ao menos perceber quando saiu.

— O que? — Kaito estava assustado — E vai deixar aquele monstro ser a cabeça das missões a partir daqui? Eu espero que ela tenha sorte contra aquele psicopata, ou o Statera vai virar um cemitério! — O garoto soltou com raiva, antes de largar Ivan sozinho na sala.

— Sua amiga precisa descansar um pouco — Safira chegou ali assim que Kaito havia saído — Mas logo estará boa de novo. Se quiser pode ir falar com ela, ela já recuperou a consciência.

— Muito obrigado — Ivan se curvou educadamente — Muito obrigado mesmo.

— Não precisa agradecer, Deus me agraciou com o dom de curar as pessoas — Safira dizia com um sorriso em seu rosto —, se eu não o fizesse, estaria falhando com o plano Dele.

Assim que terminou suas palavras a bruxa saiu da ala médica.

Ivan caminhou rumo ao quarto onde se encontrava Amélia e a garota abriu os olhos assim que o ouviu entrar pela porta.

— Tinha tipo uma celebridade no meu quarto — Amélia dizia com um sorriso no rosto — Ela tava sentada bem aí nessa cadeira, devo conseguir uma grana vendendo ela na internet.

— Tipo uma cadeira abençoada? — Ivan também sorriu carinhosamente.

— Algo assim! — Amélia se ajeitou na cama — E aí, como você tá?

— Não era eu quem deveria estar fazendo essa pergunta? — O garoto tinha um sorriso triste em seu rosto.

— Ah, qual é? Não é nem a primeira vez que o Blanc me dá uma surra! — Amélia tinha uma postura extremamente despreocupada.

— Dessa vez você quase perdeu uma perna sabia? — Ivan se sentou na cadeira ao lado da garota.

— Mas acabei conhecendo uma celebridade! — Amélia tentava convencer o amigo de que estava tudo bem.

Ivan se limitou a encarar o rosto de Amélia com ternura, não mais como quem estava caidinho por ela, mas como alguém que não podia conter o alívio de vê-la ali, sã e salva.

— A Eleonor desistiu! — Kaito entrou abruptamente pela porta.

— O que? — Ivan estava assustado — Mas porque? Ela é uma lutadora excelente e…

— Depois do showzinho sádico que o Blanc deu, ninguém quer correr o risco de enfrentar ele na final — Kaito explicava — Inclusive, a Samara também deu no pé.

— Droga… — Amélia sussurrou — Agora só sobrou vocês dois.

— Não sobrou nada! — Kaito estava irritado — O Ivan vai amarelar, porque só sabe passar pano pro amiguinho dele!

— Cala a boca Kaito! — Amélia repreendeu o amigo, ciente que as palavras dele estavam machucando Ivan.

— Não enche o saco! — Kaito se incomodava com a repreensão — Ele é a única coisa que separa a gente de ter que receber ordem daquele maluco e ele não vai fazer nada.

Em silêncio, Ivan apoiou seus braços em seu colo e o os usou para cobrir o rosto. Sua mente estava a mil por hora. Ele não estava pronto para aquela luta, não estava pronto para enfrentar seu melhor amigo, não estava pronto para liderar uma equipe, muito menos liderar o Statera. No entanto as cenas da batalha de Blanc contra Amélia se repetiam em loop na sua cabeça. Ele sentia como se fosse sua responsabilidade subir naquela plataforma. Era sua responsabilidade, dar algum tipo de esperança para todos os caçadores que agora temiam a ideia de ser liderados por uma pessoa completamente desestabilizada.

— Vou juntar uns combatentes de confiança, daí a gente nocauteia ele antes da batalha e avisa que ele desistiu porque se sentiu muito culpado pela última batalha — Kaito estava extremamente focado enquanto explicava.

— Genial Kaito… Genial…  — Amélia revirava os olhos.

— Eu vou! — Ivan se levantou da cadeira com brutalidade — Deus me agraciou com o dom de bater nas pessoas, se eu não o fizer, estarei falhando com o plano dele!

— O que? — Amélia estava confusa.

Ivan saiu da sala a passos rápidos.

— Ele ta bem? — Kaito também estava perdido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Não esqueçam de comentar, vai me deixar muito feliz ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Questão de Sorte" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.