Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 54
Nossos Antepassados


Notas iniciais do capítulo

Masumi com certeza seria tipo meu crush na adolescência uashuahsu



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Enquanto o navio atracava em um porto próximo de uma das instalações do Minus, Masumi meditava em suas acomodações. Algumas batidas na porta, foram suficientes para tirá-lo de seu treinamento.

— No que posso ajudar? — Masumi se dirigia a Blanc, que o aguardava do lado de fora.

— Gostaria de falar um pouco sobre as suas capacidades — Blanc dizia enquanto entrava no quarto.

— Já tão cedo? — Masumi fechou a porta e se sentou em uma poltrona próxima — O que posso lhe dizer? — O garoto levou a mão até o queixo pensativo — Diga-me, o que sabe sobre mim? Assim fica mais fácil selecionar informações relevantes.

A feição de Blanc permaneceu séria. Assim como Hiroshi, Masumi parecia astuto e difícil de lidar, mesmo com aquela expressão inocente em seu rosto.

— Sei que é um bruxo, membro de uma família antiga e que tem habilidades peculiares — Blanc o encarou — Você é o herdeiro escolhido para ser um dos defensores de Shima.

— Eu tenho afinidade com magias aquáticas e sei alguma coisa sobre cura — Masumi tinha tranquilidade em seu rosto — É o suficiente?

— A bruxa que vamos enfrentar tem magia de azar — Blanc informou — Tem algo que possa combater isso?

— Quando você veio atrás de mim, já tinha essa resposta — Masumi se levantou e mexeu em suas coisas — Há muitos séculos atrás, minha família veio de um lugar muito distante. Particularmente eu não faço a menor ideia de onde é esse lugar, o que eu sei é que… existiam outras bruxas como essa tal Catherine.

Blanc se recostou na cadeira, visivelmente interessado.

— Em alguns pergaminhos de mais de mil anos, que foram preservados pela minha família, havia uma magia que produzia selos que continham a magia dessas bruxas — Enquanto Masumi explicava, diversos papéis flutuavam no ar e brilhavam um dourado quase cegante — Blanc, eu estou aqui te ajudando, não somente pela memória de Yuki, mas pelo bem da humanidade. Se existe magias tão poderosas para combater bruxas como Catherine, para mim, não existe prova mais concreta que ela é um mal milenar.

— Entendo — Blanc se levantou da cadeira — Mas sabe, dentre as suas habilidades não consta justificativas para a fama que me fez chegar até você.

Masumi pôs em seu rosto um sorriso desconfiado.

— Quando meus ancestrais chegaram em Shima, foram bem recebidos e recompensaram os humanos compartilhando conhecimento e trazendo boa sorte, no entanto — O garoto retirou uma joia de seus bolsos — esse poder não veio de nós, mas sim desse tesouro.

Os olhos de Blanc pareciam brilhar tanto quanto aquela pedra exótica. O caçador ousou se aproximar do objeto, mas Masumi o retirou da sua vista antes que pudesse alcançá-lo.

— Sinto muito, senhor, mas o coração de Jinsei é o tesouro mais importante de Shima, só eu estou autorizado a tocá-lo.

— É um tesouro celestial? — Blanc se recompôs.

— Algo assim — O rapaz respondeu de forma simpática.

— Muito obrigada pelas informações — O general se retirou do quarto do bruxo.

Para Blanc, Masumi não era bom e gentil, ele era cínico e calculista.

O som do comunicador tocar, fez com que Blanc se desvencilhasse daqueles pensamentos.

— General Blanc! — Hoffman dizia do outro lado.

— Estou ouvindo.

— Está pronto — Hoffman tinha um tom aflito — As grades quase não foram capazes de contê-lo, mas eu consegui configurar uma coleira que o deixasse mais calmo.

— Perfeito — Blanc sorria.

— Senhor… Não sei se seria adequado levá-lo para uma missão tão cedo, não garanto que poderá mantê-lo controlado por tanto tempo.

— Parece ótimo para mim, afinal, só um monstro descontrolado, pode combater outro monstro descontrolado — Blanc dizia com entusiasmo.

Nas instalações do Minus, Ryan repousava em sua cama. Desde a morte de Yuki ele não havia conseguido muitas noites de sono, por isso, qualquer momento do dia parecia propício para tentar recuperar energia.

— Posso te ajudar a dormir se quiser — Safira havia assumido sua forma humana e se aproximado de Ryan — Existe uma magia que ajuda a acalmar seu sistema nervoso e...

— Não ouse tocar em mim — Ryan se virou para o canto, evitando olhar para a bruxa.

— Quando vai parar de me tratar assim? — Safira deu um suspiro — Eu sempre fiz tudo o que precisou, cuidei dos seus ferimentos e te ajudei nas batalhas, mas agora você me crucifica o tempo inteiro porque cometi um deslize!

— O seu deslize custou o braço do Benjamin e a vida Yuki! — Ryan tinha um tom alterado — Afinal, ao menos se lembra dele?

Safira permaneceu silenciosa por um tempo.

— O caçador? — A expressão dela estava confusa — Não lembro… mas… sinto que ele é importante para mim…

Ryan deu um longo suspiro e em seguida se virou para o canto novamente.

— Você sabe qual era a minha relação com ele, não sabe? — A bruxa estava receosa — Por favor… me diga! É tão triste não saber nada...

O garoto se manteve silencioso, dar a ela mais informações poderia ser ainda mais prejudicial para a missão. Bruxas que se tornavam tesouros celestiais naturalmente, mantinham a maior parte de suas memórias, mas as que vinham das experiências de Hoffman, se lembravam apenas de seus nomes e de alguns segundos antes da sua morte.

Desesperançosa, Safira caminhou até o outro lado do quarto, se sentou em uma poltrona e agarrou seus joelhos. Em sua cabeça a imagem do caçador estava tão clara, como se estivesse o vendo naquele momento.

Mas e se ela pudesse vê-lo agora mesmo? Safira tinha um sorriso travesso em seu rosto.

Aproveitando que seu portador havia caído no sono, a bruxa começou a se concentrar em uma magia de espionagem. Não demorou muito para que sua consciência fosse levada até as profundezas da floresta negra, no interior da mansão do lorde das trevas. Enquanto vagava pelos corredores da casa, esbarrou na imagem de Josh vigiando o companheiro desacordado.

Os olhos da garota se fixaram nele com muita atenção, em meio a batalha ela jamais teria oportunidade de fazer algo parecido, por isso aquela era a sua melhor oportunidade. Quem ele poderia ser? Safira sentiu seu coração palpitar. Aquilo era uma perfeita confirmação de que ele era importante. Ela poderia tê-lo amado. Mas de que maneira? Seriam eles amantes? Não seria algo muito difícil, já que ela o considerava bastante atraente. Safira sentia seu rosto esquentar diante daqueles pensamentos. Mas e se eles fossem irmãos? Uma súbita culpa a tomou. Ela também não sabia a própria idade… aquele garoto poderia ser até mesmo seu filho.

A bruxa caminhou para mais perto de Josh, posicionando-se bem próximo de seu rosto. Buscava por qualquer semelhança, mas eles pareciam não ter nada em comum. A cor dos olhos, a textura do cabelo ou tom de pele… eram completos opostos. No entanto, Safira entendia que a biologia poderia fazer milagres.

A bruxa deu um longo suspiro e em seguida se recostou em uma parede, permanecendo de frente para aquele estranho familiar.

Aos poucos os olhos perdidos de Josh se fixaram nos de Safira e ela sentiu um certo desespero. Poderia ele ser capaz de vê-la?

No momento em que o caçador, sorriu carinhosamente para ela, a bruxa teve a certeza de que nunca esteve, de fato, escondida. Tomada pelo pânico, ela desapareceu no mesmo instante.

— Está sorrindo para quem? — Trevor encarava Josh com estranheza.

— Uma velha amiga… — O caçador respondeu simpaticamente.

— Esquizofrênico — Trevor deu de ombros e se afastou.

— Lorde Trevor — Catherine o aguardava próximo às escadas.

— Achei que estivesse dormindo — O homem encarou a jovem bruxa.

— Gostaria de conversar com o senhor.

— Siga-me — Ele subiu as escadas e Catherine fez como pedido.

Depois de alguns segundos de caminhada, Trevor os levou até uma enorme biblioteca, que fez com que Catherine fosse incapaz de conter o deslumbre.

A bruxa acabou se esquecendo do que havia planejado fazer e correu em direção às estantes. Admirava as capas, folheava as páginas… Ela não sabia por onde começar e nem como poderia parar.

— A seção de relíquias fica naquela ala — Trevor dizia com um sorriso presunçoso no rosto.

Catherine não hesitou em ir averiguar o que havia sido dito e mais uma vez se viu encantada.

Havia jóias, pergaminhos, gemas, armaduras e até mesmo tesouros celestiais. Ela não conseguia entender como um único bruxo poderia ter tantas coisas em sua posse.

— É maravilhoso… — A bruxa não encontrava palavras para descrever — Eu imaginei que poderia haver algo assim no santuário… Mas nem imaginava algo tão grande como tudo isso aqui.

— Minha casa já foi uma espécie de santuário também — Trevor tinha um sorriso nostálgico — minha família juntou muitos pertences, no decorrer dos séculos.

— Deve ser incrível ser parte de algo tão grande assim — Catherine ainda continuava a admirar aquela extensa coleção — Não se acha livros de magia em qualquer lojinha de esquina. Eles normalmente são passados nas gerações de uma família… — A bruxa levou a mão ao queixo pensativa — Uma vez vi uns a venda na internet, mas custavam a minha casa e não pareciam realmente confiáveis.

— Sua família não te deu nenhum livro de magia como herança? — Trevor estava curioso.

— Nem haveria como — Catherine sorriu timidamente — Eu fui criada por um humano e ninguém tem ideia de qual é a minha linhagem sanguínea. Na verdade… — Catherine se deprimiu — Com o incêndio que destruiu Pacem, é provável que todos tenham morrido e se havia qualquer relíquia familiar, virou cinzas também.

— Eu sei bem como é perder a identidade — Trevor também havia se deprimido — Eu acumulo todas essas coisas, para que de alguma forma eu possa me sentir parte de algo.

— Mas você é! — Catherine estava em choque com aquela declaração — Olha para tudo isso aqui!

— Eu sou o último da minha linhagem Catherine — Trevor caminhou até uma poltrona e se jogou contra ela de forma relaxada — Quando eu me for… só vai restar esse precioso monte de lixo.

Diante daquelas declarações, Catherine não soube bem o que dizer. Ela nem ao menos sabia o que era ter uma linhagem, como poderia saber a dor de perder tudo? Mas aquilo não era uma competição de dores, ela não queria usar seus problemas para diminuir os dele.

— Acho que… Você deveria se importar menos com o que acontece depois que você morre e… mais com o que acontece enquanto você está vivo — A bruxa soltou — Você não precisa de outros iguais a você para fazer parte de algo. De alguma forma, cada pessoa com quem interagimos… acaba se tornando parte de nós e nós parte delas entende? Isso faz com que o seu legado exista de certa maneira, mas se por acaso não acontecer… você não vai estar aqui para ver mesmo, então, de que importa?

Trevor a encarou com firmeza. Catherine congelou. Pensou na besteira que havia dito, ele poderia odiá-la… aquilo parecia tão insensível…

Mas diferente do que a bruxa esperava, o bruxo sorriu para ela.

— Obrigada… — Trevor disse de forma terna — Essas palavras foram acolhedoras… Não ouço algo tão sábio e ao mesmo tempo tão inocente há muitos anos.

— Fico feliz de ter ajudado — Catherine estava aliviada e muito sem graça.

— Mas me diga — Trevor se ajeitou na poltrona — Sobre o que queria falar?

As palavras do homem foram a Catherine como um banho de água fria. Ela havia se perdido completamente do assunto.

— Bem… — A bruxa sentia sua garganta quase fechando — Você sabe como é o… desconhecido?

— Por que a pergunta? — Trevor a encarou desconfiado.

— Eu tenho pensado sobre algumas coisas e…

— É a decisão mais estúpida que você poderia pensar — O bruxo a interrompeu bruscamente.

— O que? — Catherine foi pega de surpresa.

— Não estou falando isso porque me preocupo com seu bem estar — Trevor mantinha um tom de voz firme — Mal nos conhecemos, não tivemos tempo para formar laços… Estou te avisando sobre isso, porque não desejo o desconhecido nem para o meu pior inimigo.

Catherine sentiu seu estômago revirar e um aperto no peito a fez incapaz de continuar aquela conversa.

— Obrigada pela informação — A bruxa se curvou educadamente e se preparou para sair.

— No entanto… — Trevor disse em alto e bom tom, fazendo com que a garota cessasse seus passos — Não vejo problemas em te ajudar de alguma maneira.

Catherine não sabia bem como reagir, mas acabou voltando até onde estava o dono da casa.

No laboratório secreto do Minus, Benjamin entrava a passos largos e pesados.

— Eu quero mais! — Sua voz era tão forte quanto um trovão.

— Veja bem como se comporta no meu laboratório, moleque! — Hoffman resmungou.

— Quero o dobro dessa vez! — O rapaz estava fora de si.

— Você já tomou duas doses — Hoffman falava com certo desinteresse — Não sabemos o que uma terceira pode causar.

— Não estou pedindo sua opinião,velhote — Benjamin agarrou o braço de Hoffman com brutalidade.

O velho cientista encarou o garoto por alguns segundos com uma expressão de surpresa, mas esta, logo foi substituída por um olhar de escárnio — Se é o que você quer.

Alguns metros acima daquelas instalações, Ryan bebia junto ao túmulo de Yuki. Ele havia comprado uma cerveja barata, do tipo que a garota se irritava com o cheiro. Ele não entendia porque estava ali, tentando irritar a falecida, talvez sentisse falta de ouvi-la reclamar… Talvez acreditasse que aquele cheiro a incomodasse tanto que ela encontraria uma maneira de chamá-lo de idiota fedorento.

— Ela odeia o cheiro dessa bebida — Um intruso havia se aproximado — É desrespeitoso incomodar os mortos.

— Ela também odeia cheiro de bruxa — Ryan se levantou rapidamente e pôs sua espada diante do rosto do inimigo.

Com a lâmina há poucos centímetros do seu rosto, Masumi não moveu um músculo e manteve uma expressão desinteressada.

— Masumi Koyama — O garoto se curvou educamente.

— O que um bruxo de Shima está fazendo em uma das instalações do Minus? — Apesar de não aprovar a presença de uma bruxa ali, Ryan estava ciente que atacar um tipo tão raro de bruxa sem uma boa justificativa seria algo que o levaria ao tribunal com toda a certeza.

— Vim a pedido do seu general para ajudar a capturar a assassina da minha noiva.

As palavras de Masumi trouxeram surpresa ao jovem caçador .

— Por que uma caçadora se comprometeria com um bruxo? — Ryan tinha asco em sua voz — Vocês nem sequer podem ter filhos!

— É uma boa pergunta — Masumi sorriu educadamente — Não fomos um casal se é o que você está pensando.

Ryan continuou encarando o rapaz com uma expressão curiosa em seu rosto.

— Nós de Shima temos uma ligação muito poderosa com as almas de nossos antepassados. Dessa forma, pedimos a eles que nos guie com bons conselhos para um futuro próspero. Isso serve para como governamos nosso povo, como cuidamos de nossos animais e também nos ajuda na escolha de nosso parceiro para a vida — A voz de Masumi era tão serena que causava irritação em Ryan — Eu e Yuki fomos prometidos em casamento muito antes de nascermos. Isso não quer dizer que somos obrigados a nos casar, como eu disse, nossos antepassados nos aconselham.

— O possível casamento de vocês vai contra tudo o que um caçador segue e acredita, e caso você não saiba, a Yuki era uma ótima caçadora — Ryan tinha um tom rancoroso — Seus antepassados não parecem ser muito espertos, já que além de todas as improbabilidades que impediam esse relacionamento, a Yuki está morta.

— Os casais que seguem os conselhos dos antepassados sempre vivem felizes e prósperos — Masumi parecia não se incomodar com as palavras rudes de Ryan — E nós acreditamos no além do hoje. Esperarei ansioso para encontrar Yuki em uma próxima vida.

Sem necessidade de prolongar aquela conversa, Masumi se retirou dali, deixando Ryan sozinho mais uma vez.

— “esperarei ansioso para encontrar Yuki em uma próxima vida” — Ryan imitou a fala de Masumi de forma caricata e em seguida bebeu um gole da sua cerveja barata — Bruxo estúpido!


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de dizer o que estão achando, principalmente dos novos personagens ♥



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