Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 38
O Terrível Doutor Hoffmann


Notas iniciais do capítulo

Fazia tempo que não tinha um capítulo sem foco nos principais né?



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Os corredores da sede do Minus eram preenchidos pelos passos pesados de Yuki. Depois de informar a Blanc sobre a decisão impensada de Ryan, ela era incapaz de conter a sua frustração. Mesmo com todas as brigas e opiniões divergentes, Ryan era parte dela.

— É uma honra recebê-los. — Blanc se curvou em reverência.

— A honra é toda nossa senhor Lagunov. — O homem retribuiu o gesto.

Hiroshi Yamamoto, era o patriarca da família Yamamoto e avô de Yuki.

Naquele ano, no aniversário de 8 anos da pequena Yuki, ela foi entregue ao Minus para iniciar seus treinamentos. Era comum que as famílias que participavam da Aliança Centenária, quando fossem agraciados pelo nascimento de um caçador, os oferecessem ao Minus, mantendo assim o fiel exército da humanidade sempre poderoso.

— Você é da família dos Yamamoto, não é? — Um garoto pouco mais velho que Yuki se aproximou da garota, assim que a viu sozinha.

Ela apenas acenou positivamente com a cabeça.

— Yuki, nascida junto ao cair do primeiro floco de neve! — Ryan disse como quem declamava uma poesia.

— Como sabe? — A menina estava com os olhos arregalados.

— Fiz pesquisa… — O garoto riu um pouco sem graça enquanto coçava a cabeça — Queria que você se sentisse confortável e acho que a melhor forma de fazer isso é saber mais sobre você e a sua cultura.

— Vamos pirralho! — Um garoto que já estava no auge de sua adolescência deu um cascudo em Ryan.

— Já vou Benjamin! — Ryan esfregava o local da batida.

— Você vem?

— Sim… — Yuki sussurrou enquanto se desvencilhava de suas lembranças — Eu fui com você... mas agora você está me deixando… O que eu faço, Ryan? O que eu faço sem você?

Num momento de total fraqueza, Yuki se escondeu em um pequeno quarto, utilizado para guardar produtos de limpeza, e chorou tudo o que queria.

Deixou-se escorregar pela parede, sentou-se no chão e deixou transbordar todo o desespero que sentia. A terceira do pelotão de elite era forte e não poderia se deixar levar por emoções supérfluas, mas a Yuki era só uma garota assustada, chorando no depósito, para que ninguém a visse.

— O garoto realmente desistiu de ser um caçador?

Uma voz conhecida fez Yuki se atentar a conversa que passava lá fora.

— E daí? Podemos pegar a bruxa sem ele! — Aquela era a voz de Benjamin.

Yuki estava surpresa, pois até onde sabia, ele estava desacordado.

— O tesouro celestial que ele empunha só reconhece um guerreiro e sem a Safira não teremos a menor chance contra a bruxa do azar — Atentando-se um pouco mais a voz madura que conversava com Benjamin, Yuki reconheceu o doutor Hoffman.

— Maldição! — Um estrondo foi ouvido, era provável que Benjamin tivesse acertado alguma porta — Estamos com tudo em risco, porque aquele imbecil está com medo de lutar!

Yuki cerrou os dentes, Ryan era de fato um imbecil, mas não era o medo de lutar que o afastava dali e sim o medo de não ser capaz de proteger seus amigos. Pensar que Benjamin tinha um peso tão grande naquela decisão, a fazia sentir vontade de sair dali agora mesmo e o acertar no meio das pernas, mas não conseguia pensar em uma boa desculpa para estar escondida no depósito.

Juntando as informações que passeavam pela sua cabeça, Yuki se lembrou de algo muito importante: Benjamin estava em coma da última vez que ela o visitou, no estado em que se encontrava era inacreditável que ele estivesse em pé, quem dirá com tanta energia para reclamar.

— E se eu tomasse mais daquele soro? — A voz de Benjamin estava mais calma.

“Soro?” Agora, mais do que nunca, Yuki estava interessada naquela conversa.

— Não sei se seria seguro… — O médico estava hesitante — Estou surpreso que você tenha conseguido resistir aos dois primeiros testes, um terceiro é abusar da sorte!

Ainda escondida, a caçadora tentava encontrar uma lógica para aquilo que eles estavam falando. Há muito tempo ela havia ouvido uma história sobre uma pesquisa do doutor Hoffman, usando sangue de bruxas, que poderia despertar outras especialidades em caçadores, mas a taxa de erros havia gerado tantas mortes, que acabou por ser proibida na organização.

Será que aquilo havia sido retomado?

Ao notar o distanciamento das vozes, Yuki se deu conta de que estava novamente sozinha.

Ela pensou em reportar o que tinha ouvido para Ryan, mas não sabia o suficiente, não tinha nada concreto além de algumas suposições. Soldados não trabalham com suposições e mais que isso, Ryan não era mais o seu superior. Yuki estava sozinha, não sabia em que poderia confiar, mas sabia que precisava saber mais sobre aquilo, pelo bem do que ela mais amava, Minus, a sua casa.

Uma pequena verificação deu a ela a certeza de que o perímetro estava limpo. A caçadora então acelerou seus passos o mais silencioso que podia, certificando-se sempre de que estava a uma distância segura.

Se pesquisas como aquelas estavam sendo executadas dentro da própria Minus, era claro que não estava em uma sala qualquer por ali.

No momento em que os dois homens cessaram seus passos, Yuki se atentou aos movimentos do cientista.

O velho tocou um ponto específico na parede e um teclado surgiu, ele digitou alguns números e uma parte da parede se desintegrou, fazendo surgir uma porta.

“Uma passagem secreta, que previsível.”

Assim que os dois homens desapareceram na entrada, Yuki aguardou alguns segundos e logo em seguida repetiu os movimentos.

No momento em que o teclado surgiu, ela começou a digitar a tal senha. Para um humano comum seria impossível enxergar com exatidão o que havia sido inserido ali, mas como um bom duelista, Yuki tinha os melhores olhos de toda a Minus.

A porta se abriu e após confirmar que a entrada estava liberada, a garota entrou para o tal esconderijo.

Primeiro ela caminhou por um corredor completamente escuro, sendo guiada somente por uma luz vermelha piscando ao longe. Ela tinha passos cautelosos e sua adaga estava firme em sua mão, no momento em que se aproximou da entrada da sala, onde a luz estava predominante, ela se esgueirou para trás de uma enorme caixa de metal.

— Com o que temos aqui é difícil prever os resultados! — A voz do doutor Hoffman estava longe mas muito clara.

Yuki se arrastava para um local onde ela pudesse ter uma melhor visão do laboratório sem ter a chance de ser descoberta.

Foi quando um rugido a fez tremer por inteira, a caixa de metal chacoalhou de um lado para o outro e ao olhar com mais atenção, Yuki se deu conta de aquilo era uma jaula.

A besta que ali estava, muito provavelmente havia se incomodado com a presença dela e Yuki se viu prestes a ser descoberta.

— FAÇAM ESSE BICHO CALAR A BOCA! — Hoffman berrou irritado.

A garota se agachou e notou uma pequena abertura embaixo da jaula.Yuki era alta, mas também era muito magra, devido a suas habilidades acrobáticas, ela optou por uma dieta mais restritiva, facilitando muitos dos seus movimentos. A pequena abertura, foi suficiente para a garota se abrigar.

De lá ela viu os pés do homem que havia vindo para silenciar a besta. Um som de zumbido seguido de um berro desesperado, deu a entender que o recém chegado havia usado choques para repreender a criatura.

Assim que homem havia saído, Yuki também saiu de seu esconderijo. A besta a olhou mais uma vez, mas não gritou novamente, parecia ter compreendido que só receberia punição por aquele ato.

“Mas será que essas criaturas compreendem algo?”

Yuki retirou uma pequena caneta do bolso, no bocal do objeto havia uma lente e ela a usou para registrar a imagem do monstro encarcerado.

— Eu não sei o que você é… nem se algum dia foi algo… — Yuki sussurrava em um som quase inaudível — Mas saiba que vou arranjar uma maneira de corrigir isso.

Os olhos da criatura encaravam Yuki, não eram mais agressivos e irracionais, pareciam entender exatamente o que ela queria dizer.

Mais uma vez focada, a caçadora correu rumo a uma plataforma de metal e escalou até alcançar seu ponto mais alto. Lá em cima ela se camuflou junto ao maquinário. Aquele local era, de longe, o mais tecnologicamente sofisticado que ela já havia visto.

Uma série de fotos eram tiradas de cada canto do laboratório, o local favorecia as capturas e Yuki estava juntando provas para derrubar aquele lugar.

Foi então que um cheiro forte chamou a atenção da garota.

“Bruxas…” A caçadora notou a presença de dezenas delas enjauladas e sedadas.

— Benjamin! — Hoffman gritou — Traga a número 3!

Ao ouvir o comando do velho, Benjamin se dirigiu a umas das jaulas e arrastou uma bruxa sonolenta até o local indicado.

A mulher foi amarrada a uma maca e logo em seguida foi inserido algumas agulhas em seus dois braços.

Mesmo incomodada diante da situação que se passava, Yuki tratou de preparar a sua câmera para uma filmagem.

— Liguem os tubos com o concentrado de raiz de laranjeira! — Hoffman ordenou.

— Quanto será diluído, senhor? — Um de seus ajudantes perguntou.

— Considerando que se trata de uma rank A, coloque algo em torno de 30% — O médico respondeu.

Foi nesse momento que a máquina foi ligada. Um tubo conduzia um líquido verde claro em direção às veias da bruxa. A mulher berrou como um animal enfurecido. Cada vez mais alto e mais desesperado.

— Senhor, a mente já era! — O ajudante estava um pouco desesperado — Se injetarmos mais do concentrado nela o corpo entrará em colapso e então perderemos tudo!

O velho ficou em silêncio, sua expressão estava pensativa. Os gritos da bruxa estavam enfraquecendo a cada segundo passado.

— Senhor ela vai morrer! — O garoto tentava chamar a atenção do chefe a todo custo.

— Desligue… — Hoffman levou a mão ao rosto em total frustração.

— Preparando para extração…

— O que pretende extrair dessa bruxa? — O tom de voz do velho era de total revolta.

— O soro senhor…

— Não vai conseguir nada mais valioso do que água de dentro dela! — O velho esmurrou a maca — Precisamos de bruxas mais fortes! Com essa resistência ridícula ela nem chegou perto de despertar o nível máximo da alma!

Os olhos de Yuki estavam a ponto de saltarem de suas órbitas, aquilo era pior do que ela imaginava.

Agora não era apenas o sangue de bruxas que era usado e sim um soro capaz de sintetizar a alma de uma. Yuki sabia que “despertar o nível máximo da alma” era quando uma bruxa era submetida a um estresse tão grande que sua alma alcançava níveis além dos padrões comuns. Esse estresse poderia ser causado por fortes emoções , seja por medo, desespero ou raiva.

Mas Hoffman não lidava com emoções ali, ele estava levando o corpo das bruxas a um estado tão mortal que a alma se despertava como se fosse algum tipo de mecanismo final de defesa.

Enquanto refletia sobre o que havia descoberto, Yuki observava a bruxa sendo levada até um cômodo distante do laboratório. Ela então o seguiu e se deparou com outras bruxas encarceradas. Algumas rugiam como animais, outros andavam de um lado para outro como se estivessem em transe e outras só encaravam o vazio como se já estivessem mortas.

— É como em Vanitas… — Yuki sussurrou para si mesmo.

Agora tudo fazia sentido, aquele ataque a cidade. A informação privilegiada do Minus, o que permitiu que eles se posicionassem na fronteira no momento mais desesperador para os habitantes.

Hoffman era a resposta e aquelas bruxas eram obra dele.

“Ele disse que precisava de bruxas mais fortes…” Yuki tentava juntar as peças em sua cabeça.

— Se pudéssemos classificar essa bruxa em alguma categoria, certamente seria um SS.  Mas notem que eu disse “se pudéssemos”. As dimensões da capacidade daquela bruxa são inimagináveis!

As palavras de Blanc vieram a caçadora como a última peça daquele quebra-cabeças.

Catherine Gibran era o alvo! Mas não por ser uma bruxa perigosa e sim por ser altamente necessária para as experiências de Hoffman. Ao se lembrar da quantidade de vidas que haviam sido perdidas para que o médico louco tentasse alcançar o seu objetivo, o estômago da garota revirou.

— Isso precisa ser reportado ao Blanc! — A garota tentava deixar as emoções de lado para se concentrar em sua missão.

— Yuki! — A voz de Benjamin ecoou por todo o laboratório — É falta de educação espiar os outros!


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Notas finais do capítulo

Gostou? Que tal deixar um comentário falando da sua parte favorita?
Alguns leitores reclamam que eu paro em horas muito inapropriadas...
Se vocês ficam curiosos, eu acho que o capítulo acabou na hora certa não é? Hahahahah
Até sexta ❤



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