Questão de Sorte escrita por Hakiny


Capítulo 22
Fujam Para os Esgotos


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo é bem sombriozinho espero que gostem ♥



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Após chegarem em uma pequena instalação da Minus próxima a Vanitas, Ryan e seus companheiros foram forçados a encarar uma longa reunião que só se encerrou depois de 5 horas.

Cansado, faminto e sem nem ter tido a chance de cuidar de seus ferimentos, Ryan finalmente havia chegado ao seu quarto provisório.

Diante de um enorme espelho velho, o garoto retirou a camisa destruída e observou as queimaduras espalhadas pelo seu corpo.

— Bruxa maldita… — sussurrou ao pensar em Lya.

As lembranças do sonho de Catherine tomaram a sua mente. Ele olhou para a empunhadura vazia de sua espada que estava sobre o criado mudo e perguntou:

— De onde aquela garota te conhece Safira?

O silêncio absoluto no quarto fez o garoto se irritar. Ele segurou a arma em suas mãos e fechou os olhos.

— Precisamos conversar!

Mas nada aconteceu, nenhuma palavra ou manifestação por parte da espada mágica.

— Por que está me bloqueando? — Ryan sacudiu a empunhadura com brutalidade — O que está acontecendo?

O silêncio permaneceu.

Ryan encarou a arma por alguns segundos e sentiu uma calma tomando o seu corpo. Ao olhar novamente para o espelho, pode notar todos os ferimentos da sua pele desaparecendo.

— Como você pode ser tão boa comigo Safira? — O garoto tinha uma expressão desanimada em seu rosto — Eu sou um tolo.

Ainda eram por volta das 7 da noite quando Ryu resolveu se deitar. Apesar dos protesto de Catherine que esperava que ele a fizesse companhia até que ela sentisse sono, o guerreiro apenas fechou a porta do quarto e seguiu seu plano inicial.

“Tente conversar com a espada.”

Ryu pensava nas palavras de Ivan enquanto encarava a espada de lâmina negra.

— O-lá? — O guerreiro estava tímido — Eu quero conversar com você.

Sozinho em seu quarto, teve apenas o silêncio como resposta.

— Isso é tolice… — Ryu deu de ombros e se deitou para dormir.

— Ei!

Ryu foi acordado por uma voz de criança.

— Ei senhor! Eu preciso de ajuda…

O rapaz sentiu tocarem em seu ombro.

Ainda confuso, ele se levantou rapidamente e se deparou com a imagem de uma garotinha o encarando.

A menina deveria ter pouco mais de 10 anos e estava claramente assustada.

— Quem é você? — ele perguntou.

— Eu me chamo Maggie. — ela respondeu — Mas senhor, não temos tempo para conversa eles estão chegan…

Um estrondo tomou a voz da menina e ela correu para longe.

— Espere Maggie para onde você está indo? — O guardião a seguiu.

“Isso é um sonho?” Ryu se perguntou, sem cessar os seus passos. Ele  sabia onde havia dormido, mas agora acordou em uma espécie de esgoto escuro. Aquilo tinha que ser um sonho, mas porque ele sentia o cheiro característico? Por que suas pernas estavam cansadas? Tudo era real demais para ser apenas um sonho.

— Mais uma fugitiva capturada!

Uma voz desconhecida fez Ryu cessar os seus passos e se esconder atrás de uma pilastra.

— Você é um material precioso demais para ser desperdiçado assim! — Um homem vestido um macacão branco dizia com um sorriso enquanto apertava as bochechas da pequena Maggie, que a essa altura já estava presa e amordaçada.

Oito, era o número de homens que Ryu conseguiu contar. Mesmo desconhecendo a habilidade dos adversários, ele sentiu que poderia enfrentá-los, mas ao ouvir “mais uma fugitiva capturada” ele entendeu que Maggie não era a única vítima daqueles desconhecidos, por isso resolveu segui-los.

Depois de uma pequena caminhada pelos bueiros, os homens chegaram até uma escada que levava a superfície. Após se certificar de que o caminho estava limpo, Ryu percorreu pela mesma direção.

Depois de subir o pequeno lance de escadas, o guardião alcançou um cômodo tão escuro quanto os bueiros de onde havia saído e mais fedorentos que eles.

As paredes tinham pintura descascada e o cheiro de urina estava impregnado por todo o lugar.

— Como assim você não sabia que tinha uma saída para as linhas de esgoto nesse quarto?

Ryu se atentou a uma voz feminina e madura vinda do lado de fora.

— Senhora, existem muitas passagens no prédio e…

— Não quero ouvir suas desculpas! — A mulher gritou — Humanos são sempre tão decepcionantes…

Após terminar a sua frase, a mulher saiu de perto do subordinado. Ryu notou isso por conta do barulho do salto de seu sapato se afastando.

Do lado de dentro do quarto, Ryu pôde ouvir o homem murmurar ofensas em um tom quase inaudível.

O subordinado voltou para o quarto, talvez com intenção de cuidar da saída problemática, mas foi surpreendido por um golpe na nuca, desferido por Ryu que o aguardava na entrada.

Não precisou muito para que ele perdesse a consciência.

Nos corredores da instalação desconhecida, o guardião caminhava vestido o macacão e a máscara de gás que ele havia roubado do homem que estava agora amarrado nos esgotos.

— Khalil! — Chamaram ao longe.

Ryu continuou sua caminhada sem interrupção.

— Se você continuar ignorando ela assim vai acabar perdendo o emprego. — Uma voz feminina disse enquanto passava ao lado dele — Ou a cabeça.

— O que? — Ryu estava confuso.

Ele então teve a ideia de olhar para o crachá preso em seu peito, e lá estava o nome chamado.

Em silêncio ele se dirigiu até a sala de onde a voz havia saído. Ryu estava com o rosto coberto com uma máscara de gás, ele não sabia o motivo da maioria dos funcionários usar isso, mas agora era útil para ocultar sua identidade.

— Soube que três das crianças fugiram das instalações. — Uma mulher bonita e elegante, trajando um jaleco branco, caminhava de um lado para o outro em um pequeno escritório particular  — Você é o líder da equipe de buscas?

— Eu…

— Não sei se sua equipe de incompetentes sabe, mas o Minus está nas redondezas. — Ela interrompeu a fala do subordinado sem dar importância a sua resposta. — Se essas crianças conseguirem se comunicar com esses caçadores, teremos sérios problemas.

A mulher estalou os dedos e uma máscara surgiu em suas mãos. Assustado, Ryu levou a mão ao rosto e reparou que estava completamente descoberto.

— Odeio essas malditas máscaras, nunca se sabe a expressão de quem está aí atrás. — A mulher disse de forma séria.

Os olhos do guerreiro buscavam desesperadamente por algo que poderia ser usado como arma, já que não havia nenhuma com o tal Khalil e ele acordou naquele esgoto vestindo apenas o seu pijama. Ryu estava diante de uma bruxa, e a batalha não seria fácil.

— O que está procurando? — A bruxa disse com desdém.

Os olhos de Ryu agora estavam fixos na mulher, ela realmente não havia reparado na sua identidade. Khalil ou qualquer outro dos subordinados era completamente irrelevante para ela. Isso causou em Ryu profundo fastio, mas ele estava aliviado de não precisar enfrentá-la naquele momento de desvantagem.

— As novas ordens são para que você e seu grupo vistam roupas de civis e procurem as cobaias na cidade! — Ela o encarou — Ajam com cautela.

Ryu acenou positivamente com a cabeça e se preparou para sair do cômodo quando foi mais uma vez interrompido.

— Leve essa porcaria com você. — A bruxa arremessou a máscara novamente para o subordinado.

Ryu agarrou o objeto e saiu da sala.

Assim que pôs os pés no corredor foi surpreendido por uma explosão e um som ensurdecedor de alarme.

— MINUS! — Um guarda gritou desesperado.

Logo em seguida vários funcionários armados correram em passos apressados até a saída.

Aproveitando a deixa, o guerreiro correu em direção aos quartos, abrindo porta por porta em busca das tais cobaias.

— Khalil! — Um dos funcionários parou Ryu no caminho — Precisamos nos livrar das cobaias!

Catherine não estava presente naquele momento, mas a sorte havia sorrido para ele.

Sem dizer nenhuma palavra, o guerreiro assentiu e seguiu o homem.

Não demorou muito para que chegassem ao quarto onde estavam presas as crianças.

Assim que a porta foi aberta, todas as crianças se escolheram na parede assustadas.

O homem sacou uma espada e caminhou na direção de sua pequena primeira vítima, mas antes que ele pudesse dar o seu terceiro passo, foi rendido, desarmado e morto por Ryu.

Todas as crianças começaram a gritar desesperadas.

— Acalmem-se! — Ryu dizia pacientemente — Eu vou tirar vocês daqui.

As crianças não estavam calmas, mas se calaram.

O guardião analisou cada um dos doze rostos confinados ali, mas não encontrou o da garota que ele conheceu nos esgotos.

— Vocês conhecem a Maggie?

— Ela é do outro setor. — Um garoto respondeu.

— Outro setor? — Ryu estava confuso.

— São 9 setores senhor. — Uma outra criança explicou.

— 9… — Ryu levou a mão ao rosto preocupado.

— Ok. — O guerreiro se recompôs — Algum de vocês sabe onde fica esses outros setores?

— Esse é o primeiro setor — Um garoto que parecia mais velho que os demais se manifestou —, tem mais dois em fila até o fim do corredor e eu não tenho certeza, mas acredito que todos os corredores sigam o mesmo padrão de organização.

— Vocês sabem onde fica o quarto onde a Maggie estava? — Ryu perguntou as crianças.

Todos responderam positivamente com a cabeça.

— Ok, eu preciso libertar o resto de vocês. Por isso preciso que sigam até lá e fujam. — Ryu explicava pacientemente — Tem uma abertura que leva aos esgotos e é por lá que vocês precisam sair. Não parem, não hesitem… Apenas corram!

Ao ouvir as instruções do adulto, todos os presentes na sala saíram apressados para os corredores.

Ryu também saiu de lá, em busca de outras vítimas.

Sala por sala, o guerreiro evacuava as crianças e as enviava para o ponto de fuga. Mas no seu último destino, ele foi recepcionado por uma poça de sangue que escorria pelo corredor. Desesperado, ele abriu a porta com brutalidade, na tentativa de salvar alguma criança dos malditos funcionários daquele inferno, mas a situação era diferente do que ele esperava. Não havia crianças feridas e sim os restos de dois guardas espalhados pelo cômodo.

No meio Maggie estava parada, com uma expressão de medo em seu rosto. As outras crianças presentes ali, correram desesperadas no momento em que Ryu deixou a saída livre.

— Corram para o quarto onde estavam antes e voltem para os esgotos. — Ryu instruiu as pressas.

Foi então que ele voltou sua atenção novamente para a menina apavorada.

— Ei… — O guerreiro se aproximou da garota — Está tudo bem.

Ryu não teve tempo de sequer tocar na menina, pois logo a sala foi invadida por caçadores da Minus.

— Eu acho que ela estava só se defendendo e…

— Olá. — O líder do grupo, major Blanc Lagunov, ignorou Ryu e se agachou na altura da menina — Você fez isso?

— Eles queriam me machucar… — A criança estava com o rosto molhado de lágrimas.

— E você se defendeu deles certo? — Blanc tinha uma voz terna enquanto acariciava o rosto da menina — Não precisa ter medo de admitir isso. É natural.

Sem ter coragem de olhar nos olhos do estranho, Maggie apenas acenou positivamente com a cabeça.

Uma calma tomou o coração de Ryu, do que ele estava com medo afinal? Mesmo com os problemas envolvendo Catherine, era natural que os Minus ajudassem pessoas, era essa a função deles no fim das contas.

A cavalaria chegou e as crianças estavam a salvo. Um sorriso esperançoso brotou nos lábios do rapaz.

Um som oco de impacto fez Ryu voltar sua atenção novamente para Blanc. Ao lado do homem, o corpo imóvel de Maggie jazia no chão, ele havia quebrado o pescoço da menina.

— É isso o que as bruxas fazem… — A voz do major preencheu a sala — matam quando se sentem ameaçadas. Seja uma ameaça a sua própria vida ou apenas ao seu conforto.O mal precisa ser destruído, mesmo que ele se apresente nas embalagens mais inocentes.

Diante da cena, Ryu sentiu seu corpo paralisado. Sua garganta parecia ter fechado e ele foi incapaz de engolir a própria saliva. Maggie estava morta, morta no chão daquela sala de onde ela queria tanto escapar.

— ASSASSINO! — Ryu correu na direção de Blanc, com uma espada curta em punho. Mas assim que o alcançou sentiu sua lâmina passar pelo corpo de Blanc sem lhe causar nenhum ferimento.

Ele desferiu inúmeros golpes, socou, chutou, berrou, mas era como se tudo ali fosse real, menos ele mesmo.

— Ele não pode te ouvir. — De uma pequena sombra no fundo da sala, emergiu uma mulher, que caminhou na direção de Ryu — Ninguém além de mim pode.

No momento em que a mulher surgiu, tudo ao redor se paralisou e assumiu um tom cinzento.

— Quem é você? — O guardião agora apontava sua arma para a estranha.

— Antes de dormir, você disse que queria ter uma conversa comigo. — A mulher sorriu — Aqui estou.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de deixar um comentário! Estamos na reta final dessa temporada ♥



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