os soluços se calam. escrita por Mackernasey


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Dar um pouco de amor para esse shipp tão esquecido, mas bem shippável! ♥



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De novo. Ela estava chorando de novo. Na primeira noite, o choro havia sido silencioso, levantando apenas a suspeita de sua existência. Na segunda noite, já era inegável, e a outra menina resolveu dar-lhe espaço e privacidade, fingindo não escutar e tentando dormir. Agora, na terceira noite, Itsuka acreditava que ignorar já seria insensível demais e que deveria tomar uma atitude.

Sem saber como começar a falar, ela se levantou e, o mais silenciosamente possível, empurrou sua cama até encostar na outra, então se deitou novamente, aproximando-se de uma Yaoyorozu confusa, que encarava o pedaço de escuridão onde imaginava estar Kendo. Ao ter seus pulsos repentinamente agarrados, Momo soltou um pequeno ganido de susto.

— E-eu, desculpa… Não queria incomodar. Eu paro, fico quieta, eu… — Momo murmurava, ainda chorosa.

— Não, não. Não é isso, relaxa. Desculpa, eu não deveria ter feito tudo isso em silêncio. Eu só queria saber por que você está chorando, o que eu posso fazer ‘pra ajudar, essas coisas… — Itsuka cuspiu as palavras com nervosismo, não sabendo como mostrar apoio para quem não possuía intimidade.

Momo voltou a chorar e, chegando mais perto, segurou as mãos alheias, em busca de acolhimento. Itsuka conteve um suspiro de alívio, pois seu medo de estar sendo invasiva sumiu.

— Esse estágio, esse mundo, essa futilidade! Esse é o mundo que nos espera, Kendo-san! Só porque temos um rostinho bonito e um corpo dentro dos padrões, seremos reduzidas a apenas isso! O mais novo objeto sexual! — Momo soluçava. — Não é como se eu já não esperasse, até porque meu traje tem que mostrar muita pele, tem que ser decotado e, consequentemente, provocante; mas é por causa da minha individualidade, preciso de espaço para passar o que crio.

Kendo entendia muito bem o que a outra dizia, não estava sendo fácil lidar com aquele estágio. Foram chamadas pela beleza e apenas isso. Apenas isso. Foram usadas por sua aparência comercialmente agradável. Enquanto isso, seus colegas ganhavam experiência treinando e ajudando agências profissionais com problemas sérios. A mãe de Kendo lhe avisara sobre isso.

— Sabe, Momo-san… — Itsuka começou a falar, talvez sua história pudesse ajudar a outra como lhe ajudava. — Eu me lembro de ser uma criança, sonhando em ser heroína, e minha mãe tentar me convencer a mudar de ideia, me contando exatamente sobre esse mundo machista, fútil e desumano. Eu não acreditava nela, não até ela me mostrar como eram tratadas as heroínas profissionais e me contar alguns casos da época.

— Ela não apoia você querer ser uma heroína? — Yaoyorozu perguntou, preocupada.

— Ela apoia, só demorou um pouco ‘pra aceitar minha decisão. Meus pais me apoiam com essas coisas, ainda bem. O que eu ‘tava dizendo é- — Itsuka foi interrompida.

— Os meus não.

— Quê?

— Os meus pais não me apoiam. Bem, eles querem que eu seja uma heroína, até mais do que eu quero, e eu sei que eles me obrigariam se eu não quisesse. Mas eles não me apoiam em mais nada, ou melhor, eu não tenho abertura para procurar apoio e isso… — Momo fez uma pausa. — Desculpa, eu me empolguei um pouco aqui, não era por isso que eu estava chorando e nem era sobre isso que você estava falando, eu até te interrompi, desculpa…

— Não peça desculpas, não precisa. Se você falou tudo isso é porque precisava falar, além de que, se você realmente não tem essa abertura com seus pais, você deve ter muita coisa acumulada, não me surpreende que esteja chorando toda noite! Não importa o que seja, se estiver te incomodando, fala ‘pra mim, desabafa. — Itsuka sentou-se na cama e, usando sua individualidade para alcançar o interruptor, acendeu a luz.

— Se é para ser assim, eu não sei nem por onde começar, além de que… Por que está fazendo isso por mim? — Momo também sentou-se na cama e, ao olhar nos olhos de Itsuka, não precisou de nenhuma resposta. — Bem, então obrigada. Eu não tenho abertura ‘pra falar nada com os meus pais! Não posso falar como me senti inútil no Festival Esportivo, não posso falar como me sinto insegura, nem como ‘tô confusa em relação à minha… — Momo calou-se abruptamente.

— A sua o quê? — Nenhuma resposta. — Momo-san, sua o quê!? — Itsuka não conseguia conter a curiosidade.

Yaoyorozu mordeu os lábios, se odiando por ter levantado aquele assunto. Era íntimo demais, não sabia se poderia confiar em Itsuka para falar sobre aquilo, porém, se não fosse com ela, com quem mais falaria? Momo sofria com a indecisão, e Kendo, percebendo isso, a abraçou.

— Desculpa, não importa o que seja, você fala o que quiser. Eu não vou julgar nada e sei guardar segredo, mas também não vou insistir. — Momo retribuiu o abraço.

— Minha sexualidade. Eu não sei mais o que sou! — Yaoyorozu apertou o abraço, começando a chorar no ombro alheio. — Eu sempre gostei de meninos e pronto, mas agora eu acho que estou me apaixonando por uma garota e eu não sei como lidar. Ao mesmo tempo que estou realmente gostando dela, a ideia de beijar uma garota ainda parece tão estranho? Talvez por ser uma ideia nova, eu não sei! — Elas tiraram os rostos dos ombros, porém ainda mantendo o abraço, de forma que poderiam se olhar.

Kendo não respondeu nada, apenas a beijou. Já queria beijá-la desde o começo do estágio, mas agora tinha um real motivo para isso. Itsuka sabia que não passara por aquela confusão por ter sempre o apoio e compreensão da família, o que Yaoyorozu não tinha.

— Foi estranho? — Kendo perguntou, receosa.

— Não foi. — Momo respondeu, surpresa. — Foi muito bom…

Itsuka não teve a chance de responder, pois seus lábios foram tomados com urgência.

Yaoyorozu parou de chorar durante as noites.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, foi difícil encaixar tudo que planejei dentro do limite de palavras e a fic teve de sofrer alguns cortes aqui e ali...



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