Akai Ito, o fio vermelho do destino. escrita por LethFersil


Capítulo 13
Eu falhei


Notas iniciais do capítulo

Olá! Este é o penúltimo capítulo da história e é narrado pelo Jin.
Boa leitura!



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Um quarto de hospital, talvez o momento mais tenso de minha vida, qualquer coisa que eu dissesse seria crucial para salvar a vida de Alice ou entregá-la nos braços da morte. Ela se sentou na minha cama, ao meu lado, seus olhos estavam inchados de tanto chorar e ela não parava. Aquilo me destruía por dentro, pois só me mostrava o quanto eu falhei em minha missão. Primeiro, porque não sabia mais qual eram os meus sentimentos em relação a minha protegida e segundo, permitir que ela morresse pelo Kei, decretaria a quebra da minha promessa máxima... Protegê-la a qualquer custo. Mergulhei em minhas lembranças para contar toda a verdade a ela, palavra por palavra, ela me ouvia narrar a situação em silêncio.

DIA DO CASAMENTO

A festa estava linda, exatamente igual a um dos desenhos da Saori, era o sonho da minha noiva se casar em um jardim como aquele, com a decoração feita com rosas brancas e orquídeas lilases. Cadeiras ornamentais brancas, e um altar moldado em galhos finos de flores, a noiva estava linda e ansiosa, sim, falo de Alice. A cada minuto que passava e Kei não chegava a deixava mais impaciente, então me senti na obrigação de abandonar a festa e ligar para o meu amigo, ele atendeu rápido:

— Jin, você está no casamento? 

— Sim, sua noiva está linda. Cadê você?

— Estou no seu quarto do hotel. Me encontra aqui.

— Você tem que vir casar, cara!

— A Pei está na cidade, preciso que me encontre rápido.

Desliguei o celular e sai do casamento disfarçadamente, precisava chegar rápido ao hotel. Peguei um táxi e consegui chegar ao meu destino em menos de uma hora, quando entrei no quarto, encontrei um Kei ansioso, com suas malas feitas e uma expressão de pavor. Minha presença ao invés de alívio expôs um Kei afoito:

— Como ela descobriu que o casamento era hoje?

— Não sei – respondi – Não disse a ninguém, mas pode ser que ela tenha mobilizado espiões aqui.

— Se ela mobilizou alguém, nós precisamos descobrir. A questão é como.

— Liga para a Ayana – disse Kei aflito.

— Por quê?

— Ela vai te dizer por que gosta de você.

Liguei a contragosto, odiava falar com Ayana e nem se quer sabia por que ainda tinha o número dela:

— A que devo a honra da sua ligação?

Aquela voz cheia de desdém invadiu minha mente e me fez respirar para evitar ser grosseiro:

— Sabe me dizer se a Pei mobilizou algum espião recentemente.

— Não é isso que quer saber.

— Então apenas diga o que eu quero saber, Ayana. Por favor. Não queremos uma Pei surtada em outro país, seria ruim para os negócios.

— Ela mobilizou uma equipe de executores para procurar o Kei e viajou para o Brasil para ir a um casamento. – Sua voz mudou de desdenhosa para aflita – A Pei vai fazer alguma besteira.

— Estou no Brasil, Ayana. Me diga o que ela vai fazer que eu posso impedir.

— Ela me disse que ia matar a vagabunda que tirou o Kei dela. E que ia trazer o Kei de volta. Estou com medo do Kei encontrar ela e fazer alguma coisa.

— Kei não vai fazer nada. – respondi – Eu vou encontrá-la e vou levar ela de volta a Xangai.

— Jin, por favor – disse aflita – traga minha irmã de volta.

— Eu vou tentar. Me passa o número de telefone da Pei que eu vou falar com ela.

— Vou te mandar por mensagem. Por favor, não deixa ela fazer besteira.

— Como eu disse antes, vou tentar.

Ayana desligou a ligação e me mandou o número, muito colaborativa, era incrível ver o quanto situações perigosas envolvendo a irmã a tornava uma mulher agradável e solicita.

Kei me olhou ansioso esperando uma notícia, mas eu apenas liguei para Pei e coloquei no viva voz esperando ela atender:

— Vou conversar com ela, qualquer coisa você se manifesta.

— Tudo bem – ele respondeu aflito e andando de um lado para o outro.

Pei demorou quatro toques para me atender e não pareceu muito feliz ao ouvir minha voz:

— Quem é?

— É o Jin, Pei. Onde você está?

— Vou matar a Ayana! Porque ela te deu meu número?

— Vamos nos encontrar, Pei. Não faça nada que vá se arrepender depois. Estou com Kei aqui, podemos conversar.

— Conversar? – gritou ela – Ele me trocou por uma ocidental metida a besta. Não quero conversar! Vou matar essa vagabunda!

Kei parou a frente do telefone e antes que eu falasse qualquer coisa ele gritou:

— Ela não faz ideia de que você existe! Se alguém aqui tem que morrer não é ela!

— Então é quem, Kei?-questionou com voz desafiadora- Você?

— Não sei talvez você! A única pessoa que está sobrando nessa história!

Os dois começaram a gritar ao mesmo tempo então tive que gritar mais alto:

— Calem a boca, os dois! Ninguém aqui tem que morrer. Pei, você tem que voltar para Xangai e aceitar que você e o Kei nunca vão ficar juntos e Kei pare de falar essas coisas cruéis para a Pei.

— Coisas cruéis? – gritou Kei me olhando com desprezo – Essa daí tira bebês recém nascidos do colo das mães. Eu já a vi fazendo isso! Ela puxou o bebê da pobre moça e quando a moça se recusou a entregar o bebê ela atirou nos pés dela e depois nas pernas. Isso quando ela não manda que os executores espancassem as mulheres! Você acha que eu iria me casar com uma mulher dessas? Você acha que eu conseguiria amar uma mulher dessas?

— Você matou várias pessoas Kei – eu disse assustado quando percebi que o silêncio tomou conta do quarto.

— Mas não as vendi como se fossem animais.

O silêncio novamente se instaurou no local e pude ouvir o som de um choro baixo ao telefone, Kei havia acertado o tendão de Aquiles de alguém:

— Eu volto para Xangai se Kei voltar comigo.

— Ah! Mas nem fodendo – gritou Kei enquanto fazia gestos violentos.

— Pei você precisa entender que não pode obrigar alguém a casar com você. – respondi pacientemente – Não torne isso difícil.

— Para alguém que tira bebês de suas mães e os vende sem nenhum remorso, matar deve ser bem fácil. Mandar atropelar pelo menos foi. – riu – Muito fácil.

— Do que você está falando? – questionei, porém pela expressão de pavor de Kei ao ouvir aquilo ele sabia muito bem sobre o que ela falava – Você sabe de algo Kei?

— Eu devia ter desconfiado – Kei disse pensativo – Uma van preta atropelou a Alice na porta faculdade uns meses atrás. O motorista fugiu sem prestar socorro e ninguém viu a placa. Então foi você, Pei.

— Sim – ela respondeu altiva – e posso mandar fazerem de novo e de novo e com gente que ela ama... Tipo, aquela amiga dela... É Lydia o nome? Ou com o pai o Raul? A avó Carmem. Não! O irmão, Christian! Ela ficaria arrasada. Os dois não tem uma tatuagem combinando?

— O que você quer, Pei? – Kei disse sério.

— Você. – respondeu fria – Comigo em Xangai. Com antes, juntos.

— Me encontra hoje às oito da noite no aeroporto internacional, vamos voltar para Xangai.

— Ok.

Pei desligou o telefone e furioso, Kei pegou o aparelho da minha mão e lançou em direção a parede. Ele estava cheio de ódio e eu o entendi perfeitamente. Quando o surto de fúria passou, Kei estava deitado no chão do quarto chorando e a mim, coube dar a ele o consolo que precisava:

— Se você falar com o Senhor Yamada, ele pode te proteger e impedir que a Pei possa te ferir ou ferir quem você ama. Você saiu da família Yamagoshe, não deve obediência.

— Mas preciso do meu computador e de coisas que ficaram na minha casa.

— Seu computador?

— Tem coisas lá que eu posso usar contra a Pei.

— Eu pego, só me dá a chave.

Kei retirou uma chave com um chaveiro peculiar, era como metade de um coração, provavelmente a outra metade do chaveiro estava com Alice, me entregou a chave e eu guardei em meu bolso. Kei se sentou no chão ao meu lado e secou seu rosto com a manga do terno que vestia. Aquela cena me atingiu de uma forma profunda, nunca havia visto meu amigo assim, nem quando Saori morreu. Ficamos em silêncio até que ele disse:

— Quero que você me prometa uma coisa.

— O que?

— Peça para o Hiroshi te permitir agir no Brasil e fica de olho na Alice pra mim. Ela é cheia de fazer besteira. Ela vai me procurar e do jeito que é doida é capaz de me achar. – sorriu entre novas lágrimas – Também tenho medo de que ela se machuque. Ela tem ansiedade e uma tendência depressiva. Cuida dela pra mim.

— Eu prometo.

— Você é a pessoa mais bondosa e justa que eu conheço Jin. Por isso permiti que noivasse com a minha irmã. Não existe homem melhor no mundo do que você.

— Não fala isso, Kei. – Kei me constrangia sempre que dizia isso.

— Estou dando meu coração nas suas mãos. Mantenha-o a salvo.

— Vou fazer o possível. – respondi o encarando – Eu prometo.

— Faça com que ela me odeie. Faça com que ela esqueça tudo de bom que nós vivemos, nossos planos, tudo. Se for preciso, fale sobre as atrocidades que eu fiz. Sobre como eu sou um monstro. Se ela me odiar, talvez me queira longe.

— Vou tentar, mas existem grandes possibilidades de que eu falhe miseravelmente. Você é o meu melhor amigo, não sei dizer coisas ruins de você.

Kei sorriu e então com um olhar totalmente descrente disse:

— O que me faz te considerar uma pessoa ainda melhor. Não sou uma boa pessoa e nem me esforço para ser, você sabe de muitas coisas ruins sobre mim, mas mesmo assim não diz. Só mostra o quanto somos diferentes e o quanto eu não mereço nada de bom das coisas que aconteceram nos últimos três anos.

— Ter se arrependido talvez seja um sinal de que você mereça.

E então, pude ver o antigo Kei novamente, com seu olhar repleto de ódio, um sorriso sarcástico, porém carregado de melancolia, levantou-se em um salto e arrumou sua gravata desalinhada enquanto dizia:

— Arrependimento? Minha vontade agora é matar a Pei com as minhas próprias mãos, sufocá-la até a morte, até ver o ultimo suspiro dela. Quem se arrepende de algo não cogita fazer novamente.

— Kei...- tentei amenizar – A Alice conseguiu te fazer alguém melhor. Controlar o monstro.

Aquela voz frígida e rude tomou conta do ambiente, apenas para confirmar os meus temores:

— O monstro ainda está aqui. E isso só prova que não importa quantas vezes ele adormeça uma hora ele vai acordar. Ele nunca vai desaparecer e você sabe por quê?

— Por quê?

— Porque o monstro sou eu.

Se eu ao menos pudesse ter impedido Kei de ir... Ele encontrou a Pei no aeroporto e os dois embarcaram para Xangai, ela sorria vitoriosa e ele mantinha sua expressão calculista. Naquele dia eu sabia que seria a última vez que veria a Pei com vida.

***

Um executor aprende diversas formas de desestabilizar sua vítima. Kei precisou de dois meses para levar a Pei ao extremo da loucura. Ele noivou com ela assim que chegaram em Xangai, e nos primeiros dias fez parecer que estava tudo bem ela ter arruinado o casamento dele. Foi gentil e aos poucos foi fazendo pequenas criticas a atitudes da Pei, um vestido que ele não gostava, um trejeito, algo que ela falava ou fazia para ele. Nada o agradava. Todas as criticas eram seguidas da frase “você poderia melhorar se fizesse diferente” e depois o diferente não o agradava. Pei nunca se rebelava, pois tinha medo de estragar o relacionamento que trabalhou arduamente para conseguir. Estava feito, Pei estava totalmente desestabilizada em menos de seis semanas. Ela chorava sempre que pensava que ele não estava vendo.

Kei a afastou de Ayana e do trabalho na máfia como uma exigência absurda para oficializar a união com o casamento, a Pei inocentemente aceitou e foi isso que a jogou nos braços da morte. Me recordo de quando ela me usou como seu ultimo recurso, eu estava olhando Alice dormir no hospital quando meu celular tocou e era Pei, atendi despretensiosamente, esperando apenas ser mais um convite de casamento, mas atendi uma mulher descontrolada pedindo ajuda:

— Jin?

— Sim, fale rápido, estou em um hospital.

— Ele te deixou cuidando dela, não é? Ele nunca se desvinculou dela!

— Dela quem Pei? – me fiz de desentendido – O que está havendo?

— Kei continua o mesmo sádico de sempre. Eu não sei o que fazer! Não sei o que fazer para sermos felizes novamente.

— Sai desse relacionamento Pei. A única forma de você conseguir ser feliz é terminando esse relacionamento.

— Não vou desistir se é isso que ele quer!

— É exatamente isso que ele quer. – respondi impaciente – Conversa com a Ayana, ela vai consegui tirar essa doença da sua cabeça.

— Você não me entende, ela não me entende, ninguém me entende. – Pei começou a soluçar de chorar – Eu só quero que ele me ame novamente.

— Para te amar de novo, ele tem que já ter te amado alguma vez.  Seja realista, você sempre foi uma pessoa racional. Kei está com você contra a vontade dele em que país das maravilhas você achou que isso poderia dar certo?

— País das maravilhas me lembra Alice e isso me sobe uma raiva.

— Você não tem que sentir raiva dela. Quem está tornando sua vida um inferno é o Kei. Por favor, Pei. Procura a Ayana.

— Obrigada por nada, Jin.

Pei desligou a ligação na minha cara e não atendeu as diversas vezes que o eu retornei. Ayana também não conseguia falar com ela e duas semanas depois de tudo isso recebi a notícia do suicídio.

Encontraram a Pei no jardim suspenso que ela cuidava, janelas e portas estavam vedadas e um verdadeiro fumacê de um herbicida a base de arsenical orgânico tomava conta do ambiente, Ayana ficou inconsolável e Hiroshi... Hiroshi me obrigou a ir a Xangai imediatamente... Esse imediatamente levou algumas semanas. Me atrasei por que Alice desvendou o mistério que eu plantei na casa dela justamente naquele dia. Uma coincidência terrível, porque Ayana havia me dito que queria ter uma conversa com Alice para poder me dar o computador. Só uma conversa foi o que ela disse e óbvio que ela não cumpriu com suas palavras.

***

Quando terminei minha narrativa, Alice parecia apática, apenas me olhava sem reação. Esperei que ela dissesse algo, mas ela não disse então perguntei:

— Você está bem?

— Você sabe que não. – ela respondeu com frieza – Ainda preciso saber por que a escolha não é minha. Porque eu não posso fazer nada?

Suspirei, havia uma parte da história que eu não tinha contado, talvez a parte mais cruel que preferi omitir, mas essa era a parte que ela queria e precisava ouvir e eu tinha certeza que ela não acreditaria se eu falasse.

— Tem um vídeo e uma gravação de áudio na nuvem do Kei. Feitos pela Pei. Onde ele diz e faz coisas que...

Não consegui terminar, Alice se levantou e saiu do quarto deixando a porta aberta, gritei para que ela voltasse, mas ela me ignorou, foram os dez minutos mais agonizantes da minha vida, agonia essa que se tornou alívio quando ela adentrou o quarto com o celular dela e o notebook nas mãos dizendo:

— Lydia recuperou o pendrive.

— Excelente – respondi aliviado por vê-la novamente – Ela te respondeu por mensagem?

— Sim e esse computador não é o mesmo que foi roubado de mim.

— Exatamente. Este computador é o foi encontrado com a Pei no Japão.

— Então seja lá o que eu tiver que ver e ouvir, vamos fazer isso logo.

Alice se sentou novamente na cama ao meu lado e colocou o áudio para tocar primeiro, ela parecia obstinada e eu estava aflito, ela iria desabar depois daquilo, eu tinha certeza. E então o áudio começou:

Pei: Fiz tudo que você gosta de comer hoje, espero ter feito tudo do jeito certo dessa vez.

Kei: Seu otimismo me anima, mas geralmente me decepciono com ele e... Nossa, mais uma decepção.

Pei: O que fiz de errado dessa vez?

Kei: A questão não é o que fez de errado, é o que você fez de certo.

Pei: O que eu fiz de certo?

Kei: O saquê... Oh... Isso já vem pronto.

[sons de choro]

Kei: Oh... Você não aguenta críticas? A Alice aguenta.

Pei: Será que ela já saiu do hospital?

Kei: Porque está preocupada com ela, pensei que você a odiasse.

Pei: Nós estamos juntos, não tenho motivos para querer que ela morra. Só você que deixou aquela porcaria de pendrive com ela. E a nuvem logada no computador? Não seria melhor trocar a senha? Mas não, um atentado para assustá-la surtiria um efeito melhor, não foi o que você disse?

Kei: Agora a culpa é só minha. Foi você quem contratou e ordenou os executores.

Pei: Mas eu não estava de casamento marcado com ela.

[risos seguidos de sons de cadeiras sendo arrastadas]

Kei: Repete isso.

Pei: Me desculpa, eu não disse por mal, só que eu não seria capaz de sugerir um atentado contra alguém que eu amo... Fica longe de mim!

Kei: Você precisa aguentar as consequências das coisas que diz.

[sons de tapas seguidos de gritos]

 

— Eles estavam juntos. – Alice disse transtornada – E ela não ia fazer nada, mas ele deu a ideia.

— Sim, mas o áudio ainda não acabou.

Kei: Fico imaginando [ofegante] como vai ser quando a Alice divulgar aqueles arquivos na mídia. Porque é claro que o Jin não vai conseguir impedir que ela faça isso. Todos vão te reconhecer como o monstro que rouba crianças.

Pei: Se eu falar para o meu pai o que acontece nessa casa, você vai ser um homem morto.

Kei: Seu pai? Conte ao seu pai e comece uma guerra lendária entre as famílias. Não seja ridícula, Pei. Você pediu por essa situação. E... Não consegui me controlar novamente, ficou roxo dessa vez, vou para algum lugar que não é da sua conta, enquanto isso limpe a bagunça.

[passos acelerados e som de uma porta batendo]

[som de respirações profundas e choro]

[fim da gravação]

 

— Ele a espancava – disse Alice procurando o vídeo nos arquivos da nuvem.

— O vídeo vai te fazer entender o ódio de Ayana. Um vídeo que Ayana não mostrou para o pai dela, apenas para mim.

— Uma coisa não se encaixa.

— O que?

— São arquivos da nuvem. Porque Kei fez upload desses arquivos se sabia que eu teria acesso.

— Não foi Kei que fez upload desses arquivos.

— Então quem foi?

— Assiste ao vídeo.

Alice parecia temorosa quando deu play no vídeo chamado “NÃO ME DELETE” e viu que quem estava filmando era Pei, ela iniciou a filmagem em uma área aberta cheia de plantas nas paredes, ela usava a câmera o notebook para gravar e sorrindo disse:

— Vídeo 1 de testes do herbicida à base de água. Bom, como é à base de água, não preciso da máscara de proteção. – Pei deixou a máscara de proteção perto da câmera – Vou começar a fazer a aplicação por fumacê.

Barulhos de máquinas começaram a atrapalhar o áudio do vídeo e então Pei fechou todo o lugar, fechou janelas e portas e então novamente vou para frente da câmera dizendo:

— Odeio o som dessas máquinas, mas enfim, se o herbicida não for nocivo para seres humanos como ele promete ser, não tem perigo usar em locais fechados. Assim espero.

Pei começou a usar o herbicida por alguns minutos até que começou a tossir e ficar vermelha. Então parou de usar a substância e andou até o notebook dizendo:

— Sabia que era bom demais para ser verdade, ainda é um herbicida, então nunca dispense a máscara de proteção.

Alice me interrompeu dizendo:

— Amava mais plantas do que gente?

— Sim, Pei era bióloga. Estava trabalhando em um herbicida a base de água que não fosse nocivo ao ser humano, plantas e animais.

— E a família?

— Pelo Kei, Pei saiu da máfia.

Alice voltou a olhar o vídeo e então chegou na parte que interessava, Pei terminou de fazer o teste e fez algumas considerações:

— Acho que a nova fórmula é promissora, então, encomendei suprimentos para uso nos próximos seis meses – sacudiu a máscara de proteção sorrindo - E máscaras de proteção, com certeza. É uma fórmula pouco toxica, mas ainda irrita as vias respiratórias e mucosas. Dispensei meu último frasco de herbicida à base de MSMA, acho que vale a pena usar essa nova fórmula com seriedade. Ai... Merda, minha nuvem está cheia, Aya não vai ficar chateada se eu salvar na dela, bom, vou caprichar no nome do arquivo.

O vídeo terminou e então Alice me encarou como se tivesse notado conexões em alguns fatos, e então eu disse:

— Ai você deve estar se perguntando. Como ela cometeu suicídio, se havia feito planos para os próximos seis meses? Ou como ela se suicidou por intoxicação de metano arseniato ácido monossódico...

— Se não estava usando produtos com a substância na composição.

— Exatamente.

— Ayana fez upload do vídeo – respondeu Alice aparentemente assustada com o que tinha constatado – Quem você acha que matou a Pei?

— Conheço a Pei há anos e sempre soube que ela nunca se suicidaria. O relacionamento com o Kei sempre foi uma grande partida de braço de ferro, uma competição para definir o mais forte. E Kei perdeu.

— Porque ele perdeu?

— Porque ele trapaceou. Quando te falei que conseguia rastrear os cartões de créditos do Kei, não estava mentindo. Uma noite antes a morte da Pei, ele gastou muito dinheiro em uma loja agrícola. Ele comprou herbicidas.

— Ele a matou.

 


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Notas finais do capítulo

*metano arseniato ácido monossódico (MSMA): arsenical orgânico pode ser altamente tóxico para humanos e animais.

Até o próximo capítulo :)



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