Minha carta de suicídio escrita por Natalia Stryder


Capítulo 1
Capítulo Único




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Sequer sei como devo começar essa carta, deveria ser com um pedido de desculpas? Com um simples, porém caloroso, 'olá'? Ou de forma fúnebre... Realmente não tenho noção de qual jeito seria menos pretensioso e cruel para aqueles que forem lê-la. 

Talvez eu deva apenas pular as introduções, afinal, caso alguém chegue a lê-la, com toda certeza saberá bem demais quem sou e o que aconteceu comigo. Não sou inocente a ponto de deixar essa carta a vista de qualquer pessoa, ao menos não fora da hora. 

Escrevo e escrevo, porém na realidade não digo nada. 

Qual será o real motivo por trás dessa carta? O real motivo pelo qual eu considerei, e provavelmente, tirei minha vida? 

Essa, de fato, é uma questão complexa.  

O que é significante o suficiente ao ponto de me fazer desistir da longa vida que tinha pela frente, o que poderia ser tão incomodo que me fez ver a morte como única salvação? Ainda mais alguém como eu, cercado de amigos, uma família maravilhosa e uma vida – em tese – perfeita? 

Mas, eu lhes pergunto, o que vocês enxergam como perfeição?  

Nunca fui de expor meus sentimentos, e quando expunha, dificilmente eram os que realmente me incomodavam – sempre acreditei na teoria de que dos meus problemas, apenas eu sou capaz de resolver. Sorria para aqueles que me machucavam, pois fui ensinado que o sorriso é a maior arma contra aqueles que nos querem mal, sorria e sorria até minhas bochechas doerem. 

Em alguns momentos de minha vida me senti o próprio Coringa, eternamente preso num sorriso aberto e brilhante - porém, se realmente prestassem atenção enxergariam o que existia por trás de tamanho sorriso falso.  

Porém, aí se encontra o maior problema, ninguém nunca realmente parou para prestar atenção, cegos demais pelo brilho de meus sorrisos, acreditavam fielmente que eu era tão feliz quanto aparentava, tão despreocupado com a vida como eu tentava parecer que era. 

Me viam como um personagem, alguém sem real profundidade e problemas, alguém que vivia a vida que todos sonhavam e que por isso não existia porquê de eu ser infeliz com tudo que eu tinha, e caso eu aparentasse algum problema, caso soltasse algum pedido de ajuda – mesmo que discreto – , conseguiria ouvir ao fundo vozes baixas, quase sussurros, dizendo o quão ingrato eu era. 

Seria eu realmente tão ingrato assim? Gosto de acreditar que não, aliás, prefiro acreditar que não. 

Meus pedidos de ajuda foram poucos, consigo até mesmo contar nos dedos de uma única mão as vezes que tentei a todo custo chamar atenção das outras pessoas para o que realmente acontecia por detrás da máscara de felicidade que eu, o cara mais desejado e popular do terceiro ano, mostrava.  

Porém, ninguém percebeu, ou ninguém realmente se importou, não posso dizer com certeza qual das opções está correta.  

Vou contar um segredo: não são apenas nerds ou excluídos que sofrem. 

O mundo é repleto de estereótipos, no qual muitas pessoas levam como regra coisas que não deveriam, cada ser humano é uma galáxia, podendo se parecer em diversos fatores, mas nunca sendo completamente igual. Então, por que apenas pessoas visivelmente solitárias e tristes são diagnosticadas com depressão? O ser humano é tão mais complexo do que muitos julgam. 

Eu tenho depressão.  

E nunca fui diagnosticado. 

Não me contento com o que eu vejo nos espelhos todas as manhãs, me sinto solitário na parte mais profunda de meu ser, sinto um vazio enorme pressionando meu peito cada vez mais, e de uns tempos para cá vem sendo difícil levantar todas as manhãs de minha cama. 

Porém, não deixo transparecer. 

E isso me transforma em alguém perfeito aos olhos de terceiros. 

Eu sou um mar de cacos que tenta se mostrar inteiro, deixando as partes pontiagudas e afiadas viradas para o meu interior, me automutilando psicologicamente – pois, em minha mente, a mutilação psicológica era melhor que a física - cada vez mais.  

Mas, seria realmente melhor? 

Antigamente eu diria que sim, hoje em dia não tenho mais tanta certeza.  

Só que eu cansei, cansei de me machucar, cansei de fingir, cansei de ser quem todos gostariam de ser, e o principal, cansei dessa minha vida como um todo.  

Não quero que sintam pena de mim, que digam que eu poderia ter lutado mais, ou até mesmo que eu deveria ter sido mais forte... Fiz o meu melhor por todos esses longos anos, porém cheguei ao ponto de que não consigo sequer me olhar no espelho sem sentir nojo no que eu via refletido, e isso não é uma vida dignada de ser vivida.  

Eu quero que me desejem paz de espírito, e que torçam para que eu finalmente esteja de bem comigo mesmo, com quem sou e com tudo que eu vivi e deixei de viver.  

Não culpo ninguém pela minha morte, ninguém além de mim mesmo. 

E assim como eu não soube como começar essa carta, também não sei como termina-la. 

Creio que 'adeus' seria triste demais, então acho que a melhor forma seria com um bom e velho 'até logo', porque gosto de pensar que no final, todos nós nos encontraremos novamente. 

Então, com essa ideia em mente, até logo. 


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Notas finais do capítulo

Porque a depressão não tem aparência, humor ou idade.

Essa one é apenas uma forma de demonstrar que não importa o quão bem alguém possa parecer por fora, nunca saberemos cem por cento como esse alguém está por dentro.

Gostaria apenas que vocês refletissem sobre isso :)))

Mols de beijos,

Natalia



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