Quando nasce o amor escrita por ElaineBDQ


Capítulo 1
Onde tudo começou.




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Rio de Janeiro, Brasil, 2016

Evelyn olhou pela terceira vez para baixo e pensou: saltar de paraquedas daquele lugar, definitivamente, seria uma aventura e tanto! Por alguns minutos sentiu o corpo recuar. Seria apenas uma vez. Não podia desistir agora! Olhou para Melissa, sua amiga que estava sentado ao seu lado e sentiu compaixão por ela.

Melissa virou para amiga e não escondeu seu medo. Foi impossível para Evelyn não rir do jeito dela.

— Você tem certeza que isso vai dar certo?

Melissa verificava se o equipamento estava corretamente arrumado.

— É claro que sim! Você não precisa ter medo.

Evelyn passava uma segurança que na realidade não possuía! Fazia tempo que desejava saltar de paraquedas, mas várias vezes recuou devido à covardia. Agora iria até o fim!

Olhou para o instrutor e indicou que estava pronta.

— Nós vamos saltar!

Como era a primeira vez saltando, era necessário a ajuda de um instrutor. Isso passava mais segurança para elas. Melissa foi a primeira a soltar e logo depois Evelyn seguiu atrás. E lá foram elas, voando como um pássaro livre. Melissa estava extremamente feliz, seu sorriso era a demonstração disso. Há tempos desejava sair daquela bolha de proteção, que sempre teve durante toda a sua vida.

Do alto era possível ver parte da cidade e do belo mar. Definitivamente era uma linda visão! Melissa estava eufórica e a adrenalina foi liberada com gritos de alegria.

— É isso ai amiga! – Gritou Evelyn, que também estava eufórica. Logo que o paraquedas atingiu o chão, um riso se formou em seu rosto. Melissa também estava alegre, por isso saiu correndo ao encontro da amiga, que a abraçou e juntas começaram a pular como se fossem crianças.

— Você tinha razão, é muito bom! Eu nunca fiz algo assim!

Evelyn foi retirando os apetrechos de segurança com a ajuda do instrutor.

—Obrigada Evelyn, se não fosse por você eu jamais teria feito isso.

—Bobagem. Agora vem, eu quero te mostrar uma coisa.

Evelyn pretendia mostrar as filmagens que tinham sido feitas durante todo o voo, mas no momento em que elas seguiam para o local onde estava guardado os seus pertences um homem muito bem vestido veio em direção a elas.

O Olhar de Evelyn foi de encontro ao daquele homem. Ele era um contraste com aquele local, então ela riu, pois, toda aquela pose de elegância era bem característico dele.

Evelyn olhou para Melissa, que ainda não tinha notado a presença dele.

—Como ele descobriu que você estava aqui?

—Quem?

Evelyn indicou e Melissa olhou na direção do homem que vinha ao encontro delas.

—Não acredito! –disse Melissa com cara de pavor. – Ele vai me matar!

—Vai não!

Evelyn não tinha certeza daquilo, mas precisava passar confiança para sua amiga. Ela sabia muito bem o medo que Melissa tinha de seu irmão mais velho. De certa forma, até compreendia, pois ele possuía uma presença que emanava autoridade.

Lucas se aproximou de onde elas estavam. Seu olhar se mantinha na direção de Melissa, ignorando completamente a presença de Evelyn. Era como se ela não estivesse ali!

— Melissa, você está bem?

Com o olhar atento, ele procurava na irmã algum vestígio de machucado. Essa cena causou um riso cínico em Evelyn.

—É claro que ela está bem! Afinal de contas, tudo que ela fez, foi por livre e espontânea vontade.

Lucas nem se limitou a lhe responder. Com o olhar atento disse à Melissa:

— Por favor, vai para o carro!

—Mas Luc...

—Por favor, você sabe que precisa ir.

—Tudo bem.

Virando para a amiga, Melissa se despediu e seguiu para o local onde Lucas havia estacionado o veículo. Aquela situação causou uma ira em Evelyn, pois, se existia uma coisa que ela gostava, isso se chamava liberdade! Não conseguia admitir que, uma pessoa não tivesse a condição de fazer suas próprias escolhas.

Durante parte da sua adolescência, Evelyn começou a aprender o que era "andar com seus próprios pés". E desde então, desenvolveu maturidade suficiente. Estava na hora de Melissa desfrutar disso!

Evelyn foi de encontro a Lucas sem fazer questão de esconder o desagrado que aquilo causava a ela.

— Você não pode tratar a Melissa, como se ela fosse um bebê!

Com o olhar cínico, Lucas fitou-a de cima a baixo, e então riu com o canto da boca demonstrando sua indiferença. Ele fez um movimento para se afastar, mas Evelyn se interpôs em seu caminho.

—Você não vai sair assim!

Tomada pela emoção, ela o segurou com força, mas Lucas puxou a mão e fitou Evelyn , que em comparação a ele era muito menor em tamanho e força.

—Saia do meu caminho. Nós não temos nada para conversar!

—Você não pode achar que a Melissa é uma pessoa incapaz!

Ele riu.

—Quem você acha que é, para dizer como eu devo tratar a minha irmã?

—Eu sou a amiga dela e quero seu bem.

—Tanto que a trouxe para esse lugar, mesmo sabendo que ela é proibida de praticar esportes radicais? Se isso é cuidar, então nem quero saber como seria o contrário!

Era difícil ter uma conversa com aquele homem, pensou Evelyn analisando o modo como ele se portava. Era como se emanasse uma aura de superioridade. Isso lhe deixava totalmente furiosa.

—Fazia muito tempo que ela desejava isso...Eu apenas a ajudei a realizar, ao contrário de você!

Lucas não tinha tempo para "bater boca" com uma garota que, não conhecia limites.

—Quer saber menina? Poupe-me dessa conversa desnecessária! Eu apenas espero que isso não torne a acontecer.

—A Melissa precisa de um irmão e não de um tirano.

Evelyn estava furiosa! Isso era evidente só ao olhar para ela. Apesar de sua postura pouco feminina, ela possuía um encanto em seus belos olhos castanhos.

Lucas suspirou fundo afastando aquele pensamento e de maneira passiva continuou:

— Eu apenas não quero que nada aconteça com a minha irmã. Aliás, você sabe muito bem que não sou a favor da amizade entre vocês!

Ela sabia muito bem o porquê daquilo. Ser moradora de uma comunidade de classe baixa fazia com que ela fosse tachada de "marginal". Às vezes tentava não ligar para o que as pessoas diziam, mas sabia muito bem o que era ser discriminada pela classe social.

—Eu sinto muito, mas eu vou continuar sendo amiga da Melissa!

Lucas tinha que admirar a coragem daquela garota! Afinal, não era fácil desafiá-lo sem sofrer consequências e tê-lo como inimigo não seria uma boa escolha.

— Então eu terei que tomar minhas próprias medidas!

Evelyn sabia que Lucas Medeiros era um advogado de grande influência na alta sociedade. Tê-lo como inimigo seria perigoso e ao ouvi-lo dizer aquilo sentiu receio.

— O que você quer dizer com isso? Por acaso...Vai tentar algo contra mim?

Lucas riu demonstrando superioridade.

— Eu não precisaria de muito para isso, afinal, quem é você para eu perder meu tempo?

Evelyn ficou furiosa e não pôde se conter diante daquela ofensa! Ela partiu para cima dele atingindo-o com os punhos fechados em golpes. Mas Lucas foi mais rápido e a imobilizou segurando-a firmemente com as duas mãos, de modo que ela não poderia se mover para atingi-lo.

—Olha aqui...

Tentou uma reação, mas se sentiu tão pequena em comparação a Lucas e isso a intimidou.

—Olha aqui quem diz sou eu! Eu quero que você se afaste de minha irmã!

—Eu não vou fazer isso, ouviu? Eu não vou!

Lucas não era o tipo de homem agressivo, mas aquela menina fazia questão de provocá-lo! Antes que deixasse fluir tudo o que estava sentindo, decidiu que era melhor ignorar aquela situação. Sabia muito bem, que no momento em que quisesse poderia simplesmente fazer com que a própria Evelyn se afastasse de sua irmã.

Ele suspirou fundo olhando-a com desdém e depois soltou os braços dela e partiu deixando-a apenas com palavras na boca.

Evelyn era atrevida, mas sabia quando tinha que parar uma discussão. E sentiu medo naquele momento em que ficou imobilizada por Lucas. Quando ele finalmente se afastou, ela ficou aliviada!

Enquanto ele seguia em direção ao estacionamento ela o analisava de costa. Não conseguia encontrar semelhanças entre Lucas e Melissa, a não ser o fato de serem muito parecidos na fisionomia. Ele era alto e bonito, tinha uma presença marcante, tudo isso era acentuado com o conjunto de sua beleza. Seus belos olhos verdes eram bem marcantes! Desde a primeira vez que o viu, aquilo ficou gravado em sua memória

Do que adiantava ter toda aquela boniteza, se tudo ficava ofuscado por traz daquela personalidade tão ranzinza? Não conseguia entender como duas pessoas tão diferentes poderiam ser irmãos! Talvez não compreendesse isso pelo fato de ter irmãos.

"Afinal, como poderia ter irmãos, se nem ao menos teve tempo de conhecer a mãe?"

Recordar de sua mãe fez com que uma melancolia se apoderasse dela e sentiu um nó se formar em sua garganta, mas não era o tipo de garota boba e chorona por isso se conteve e afastou aquela lembrança!

Evelyn pegou a mochila no chão e saiu caminhando indo em direção ao ponto de ônibus já que não podia se dar ao luxo de tomar um taxi. Enquanto caminhava até a parada pôde sentiu o vento bater em seu rosto e chacoalhar os fios negros de um lado para o outro, então ela prendeu o longo cabelo num coque apertado.

Tinha conhecido Melissa numa das tardes em que veio passear na orla. Era uma das poucas coisas que podia fazer, já que não era sempre que podia se dar ao luxo que sair de sua "zona de pobreza" para se juntar aos ricos da zona mais avantajada da cidade. Afinal precisava se virar para ter seu sustento e o preço era pesado!

Recordava que naquele dia teve uma briga com a madrasta porque ela sempre a acusava de ser uma "vagabunda que não ajudava em nada!". A ironia era que depois de dois anos as palavras ainda eram as mesmas!

Naquele dia, Evelyn estava muito entristecida pelas palavras duras que ouviu. Ela viu uma garota sentada sozinha e com o olhar perdido no horizonte. Quando se aproximou mais um pouco, pôde perceber que ela chorava. Não era o tipo que se intrometia na vida alheia, mas não podia simplesmente deixá-la daquele jeito. Então perguntou:

— O que você tem?

No início, como era de se esperar, Melissa ficou relutante, mas aos poucos começou a relatar o que estava acontecendo e apesar de não se conhecerem elas conversaram como se fossem amigas há muito tempo.

Melissa teve um diagnóstico de uma doença e teria que fazer uma cirurgia de coração, caso não fizesse isso ela poderia morrer. Claro que uma cirurgia como aquela envolvia uma serie de riscos e se algo desse errado, seria fatal!

Uma semana após aquela conversa, Melissa fez a cirurgia e foi um sucesso. Ela tinha a sua disposição a melhor equipe de profissionais da área no Brasil. Não poderia esperar menos, já que a família dela possuía recurso suficiente para isso.

Após aquela tarde, elas viraram grandes amigas e passaram a se encontrar constantemente, apesar dos protestos do irmão mais velho que não era a favor daquela amizade. Para Lucas, sua irmã deveria se relacionar com as amigas da faculdade de artes.

Dois anos tinham se passaram e Melissa já não possuía mais aquele olhar triste e preocupado. Agora era uma garota alegre, feliz e bonita. Sim, sua amiga era muito linda. Ela tinha o cabelo loiro e ondulado, os olhos verdes e a pele muito branca. Quem a olhasse poderia imaginar que por sua aparência ela fosse uma garota frágil, mas ficaria enganado, pois Melissa era muito forte e obstinada quando queria algo!

A parte negativa, era que por causa do irmão que a protegia muito ela não conseguia viver direito. Lucas nunca ocultou seu desagrado com Evelyn, mas ela não ligava nenhum pouco porque também tinha desavenças com ele.

A apatia entre eles foi imediata! Logo no início as duas amigas viajaram sem avisá-lo. Claro que isso não terminou bem, pois ele muito autoritário reclamou por isso, e as palavras ainda ecoavam em sua mente:

—Você é outra desde que se meteu com a Evelyn! Não quero você de amizade com essa favelada!

Tinha levado a culpa, apesar de não ter sido a mentora daquela situação, mas decidiu não rebater e saiu sem responder. O que poderia dizer diante de tamanho insulto?


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