Perfume escrita por Luiz Gustavo


Capítulo 18
Capítulo 18: Gravata




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/759555/chapter/18



O barulho da tempestade acorda Miguel Xavier de seus devaneios, que tenta retornar a dormir, mas fracassa. Ao lado esquerdo da cama, uma bela dama, dona de cabelos castanhos, uma garota de programa de pele morena e delicada, acorrentada na cabeceira de ferro provençal. Os trejeitos da mulher lembram os de Pamela, sua finada noiva. Ele não fez questão de desamarra-la, apenas esboça um sorriso no rosto, satisfeito depois de duas transas ardentes. Xavier é um homem dominador, gosta de manter no controle, o sadomasoquismo é o seu fado. Ele se enrola em um roupão vermelho de seda, pega o celular de cima do criado-mudo, que contém algumas chamadas perdidas de um dos seus funcionários, Jake Fremont, o ligando rapidamente. 

— Ainda está em Vale Verde?
— Estou na estrada a caminho de Arraial e consegui finalizar o serviço.
— Com êxito?
— Sim, matei aquele desgraçado e ainda arranjei uns cinco mil reais.
— Sabia que você era capaz disso. 
— Não tive nenhuma piedade, fiz da forma que o senhor ordenou. 

Jake e Xavier referem-se a um devedor de longa data do prostíbulo, que tinha fugido para um pequeno vilarejo vizinho intitulado de Vale Verde. Mas não tem como escapar da facção que comanda a cidade, a qualquer momento, pode estar na mira de uma arma com uma bala encravada no peito, o cadáver do homem está dentro do automóvel, para ser jogado na grande aérea no final de uma extensão florestal, um cemitério atônito. 

— Você é muito inteligente Jake. 
— Obrigado chefe. 
— Você e o Tyler, são os meus braços direito. 
— Eu posso te fazer uma pergunta? 
— A vontade, é um homem de confiança. 
— Posso ser um pouco indiscreto, mas sempre achei a morte da sua noiva, no mínimo estranha, esse atirador de elite transparecer dessa maneira. Não tem medo? 
— Medo do quê? 
— Do senhor ser o próximo alvo desse homem. 
— Ele jamais vai fazer algo contra a mim. 
— E por que não? 

Xavier gargalha de uma forma irônica, Jake deduziu a resposta, não precisava de mais nenhuma palavra. O rompimento da confiança, pode ter gerado o óbito da mulher, ninguém anseia em alimentar um lobo em pele de cordeiro, talvez ela não fosse boa o suficiente para segurar o cargo de mulher de um dos homens mais ricos da costa do descobrimento. Ele desligou o telefone e caminhou em torno do ambiente, abriu as longas cortinas observando a chuva alagando a área externa. 

— Pamela, você teve o que mereceu. 

Um grande barulho de trovão é escutado, nos segundos posteriores a energia do distrito some gradualmente, Miguel odeia essas situações, mesmo sendo duas horas da manhã. O homem desce as longas escadarias, indo para a cozinha, pegando uma caneca de café e alguns biscoitos, acomodando-se no sofá. Aprecia a bebida quente com as rosquinhas de chocolate, depois de se alimentar, ele se pega em um leve sono, seguido de um pesado, despertando de manhã com a visão embaçada, com um dos seus funcionários adiante, trata-se de Tyler. 

— Bom dia, doutor Miguel. 
— Porque me incomoda tão cedo? 
— São dez horas da manhã, fui ás sete no resort, mas infelizmente não te encontrei. 
— Aconteceu alguma coisa? 

O homem pisca algumas vezes os olhos, o cômodo estava devidamente arrumado sem nenhum vestígio de sujeira ou da guloseima que ingeriu na madrugada. A garota de programa com certeza, deve ter ido embora, ele não havia perguntado o nome daquela mulher, ela era só mais uma, descartável. 

— É a respeito do assassinato da Pamela. 
— Você e o Jake tiraram os últimos dias para me fazerem essas perguntas? 

Tyler engoliu algumas palavras e arrumou os seus óculos, um pouco sem jeito com o patrão. 

— Quem sou eu para me intrometer na vida do doutor? Presto serviços e nada mais, sou um mero vedor, cada coisa que acontece nessa cidade, devo te contar, não é mesmo? É por isso que paga muito bem o meu salário. Para fiscalizar os mínimos detalhes de Arraial. 
— E aonde entra a Pamela nisso? 
— O irmão dela. Ele quer a verdade, justiça. Anda perguntando a respeito de muitas coisas, quer saber da vida dos outros, incluindo a sua, creio que isso pode nos prejudicar. 
— Aos negócios. 
— O interesse é sempre nisso, nos negócios. 
— Obrigado, Tyler, desculpe-me se fui um pouco rude, acordei de mal humor. 

Tyler retirou-se do cômodo. Miguel Xavier, subiu para o quarto e vestiu o paletó, um pouco tarde para ir ao trabalho, escutou o barulho da campainha, a empregada subiu rapidamente para avisar que tinha uma visita, esperando ele na sala de estar, um homem. Ele retornou para o ambiente anterior, contemplando Levi Monteiro acomodado no estofado, as palavras de Tyler foram muito uteis. 

Xavier permanece em pé, acabando por arrumar a gravata no pescoço. 

— Porque me incomoda tão cedo?
— Estou investigando o homicídio da minha irmã.
— Excelente iniciativa, se depender da polícia...
— Nunca encontrarei o verdadeiro mentor. 
— Claro. 
— Acho estranhos os motivos que levaram a Pamela pisar no altar. Já que ela mantinha um caso com outro homem. Ou melhor dizendo, o Jonathan Sampaio.
— Do que você está falando?
— Que eu vou até o fim dessa caçada.

Levi se levanta do sofá, ficando frente a frente com Xavier. 

— Toma cuidado comigo. – Avisa o proprietário do resort. 
— Está me ameaçando? 
— De forma alguma, mas pise no meu calo, que eu dou muito mais que um recado, entendeu? Agora, por favor, se retire da minha residência, estou um pouco atrasado para o trabalho. 

O homem aponta o caminho da saída, eles não trocaram mais nenhuma palavra. Levi recolhe-se, sem ao menos se despedir. O ódio consome Miguel. Quem esse miserável pensa que é? Para chegar assim? O insultando dentro de sua própria casa? Vontade de estrangular aquele pescoço até os últimos momentos de vida. Ele pega uma pequena estatua de porcelana e joga contra a parede, que despedaça no assoalho, pondo em mente apenas ideias tétricas. 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Perfume" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.