Perfume escrita por Luiz Gustavo


Capítulo 14
Capítulo 14: A Lista de Assassinos




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O homem se acomoda na varanda do restaurante, localizado na Bróduei, enquanto o amigo permanece no banheiro. Nos minutos anteriores, tinha conversado com Jonathan, que nada aparenta com um assassino frio e calculista. Levi, no entanto, pensa na digna frase de Érico Veríssimo, “Ninguém é o que parece, nem Deus”, mas que criatura suprema é essa que idolatramos? Um ser superior com características humanas? Capaz de possuir ódio, vingança, orgulho e arrogância?

Ele continua calmo, mexendo o café expresso no recipiente. Existe algo nas frases compreensivas e atenuadas do estudante de administração, que o transforma em uma pessoa confiante ou um audacioso manipulador. Lembra-se do garotinho de 12 anos, que brincava com Pamela, mas os pensamentos começam a lutar com o presente, o deixando pouco estarrecido, sem grandes orientações. 

Tony se senta na frente do campo visionar do amigo. 

— O que acha do nosso suspeito? – Tony pergunta secando as mãos no guardanapo de papel.
— Minha intuição diz que devo analisar um pouco.
— A história dele foi um pouco convencedora. 
— O Jonathan sabe a verdade sobre o Miguel. 
— Sim. 
— E a Pamela? Será que ela sabia? 
— No dia do próprio casamento matar a noiva? 
— As suspeitas não cairia para o noivo, não acha? 
— Inteligente sua colocação.

Levi fita em contexto do estabelecimento Paraíso, que permanece vazio naquele início de tarde. Mal sabia que este era o local usado para os encontros e conversas entre Jonathan e Pamela.

— As vestimentas do Jonathan não podem ser levadas em conta, mesmo estando no calor da Bahia.  Existe gente desatinada para tudo nessa vida.
Há uma história que não conhecemos. – Tony ingere a bebida quente da xicara branca de porcelana, enquanto o garçom coloca os dois pratos sobre a mesa. No de Levi, uma panqueca americana com recheio de mel junto de alguns morangos e Tony, aproveitando ao máximo a culinária baiana, provando uma deliciosa tapioca de coco com leite condensado. Com a boca cheia, retorna a falar: Temos que pesquisar profundamente.

Levi respirou profundamente. 

— Evelyn, a melhor amiga da minha irmã deve saber algo.
— Sobre o namoro entre os dois?
— Exatamente. 
— Para mim foi aquele tal de Jonathan, Levi. Com raiva dela, que o jogou por escanteio, acredita mesmo em promessas em falésias? 
— Eles realmente se amavam. 
— Mas esse amor era recíproco? 
— Você devia escrever uma novela das nove, parece o Aguinaldo Silva. 
— Estou sendo sincero.
— Matar assim? Não tem sentido.
— Ciúmes leva uma pessoa fazer coisas absurdas. Nunca leu Dom Casmurro?
— Nisso você tem razão, mas não podemos apontar o dedo para um único alvo. 

Os dois finalizam o lanche. 

— Não comia nada tão bom desde que fui preso. Vamos levantando e ir atrás da amiga de Pamela, quem sabe ela não entra na nossa lista de “possíveis assassinos”.
— Daqui a pouco até eu vou entrar nesse catálogo, Sherlock.

O aparelho de Levi começa a vibrar no bolso, fazendo ele ficar mais alguns minutos no ambiente agradável do restaurante. 

— Barbara, tudo bem contigo? 
— Sim, querido. Quero saber aonde você está nesse momento. 
— Estou com o Tony, estamos fazendo uma análise de negócios. 
— Certo, vai demorar muito? 
— Um pouco, talvez. 
— Vai chegar a tempo para a janta? 
— Certamente, caso contrário, me espere, querida. 
— Eu sempre vou te esperar, mas não demore. 
— Tchau. 
— Tchau, amor. 

Ele desligou o telefone e divisou Tony um pouco sem graça por escutar a conversa. 

— Ela não gosta de mim, não é? – Ele interpela. 
— Isso não é importante, Tony. 
— Eu nunca fiz nada para obter esse ódio gratuito. 
— Ela não te odeia. 
— Mas também não gosta. 
— Um dia vocês serão amigos, eu espero estar vivo para ver isso. 
— Eu acho que não. 

Levi e Tony seguiram andando pela Bróduei. Deixando o automóvel estacionado em uma rua a poucos quilômetros. Chegam ao fundo da igreja, onde a jorrada de vento é forte, lá embaixo, um cenário belíssimo, feito uma extensa maquete, as grandes arvores se juntavam com as belas casas e na retaguarda, o oceano atlântico. Levi bate algumas vezes na porta de acesso acima da calçada, a dama atende, permanece apática, com os olhos escassos e os cabelos cacheados bagunçados, conduzindo os rapazes para sala de estar.

— Podem ficar à vontade. 

Os dois sentam no estofado. 

— Vou ser sincero contigo Evelyn, quero saber os segredos da minha irmã. 
— Isso seria traição, Levi. 
— E o que você está fazendo? – Tony assume o controle do diálogo. – Estamos querendo apenas encontrar o verdadeiro homicida e pode ser qualquer um, incluindo aquele Jonathan.

Os olhos da garota começaram a encher de lágrimas. 

— Eu prometi segredo a ela, mas não posso continuar com essa mentira. A Pamela e o Jonathan nunca se separaram, sempre permaneceram juntos, a culpa disso tudo é da sua mãe Levi, aquela mulher fez da vida da minha amiga um inferno, para se casar com o Miguel Xavier, contemplei o fracasso de um império que o seu pai construiu nas mãos daquela mulher, por isso não consegui ficar direito no velório e seguir para o enterro, seria muita hipocrisia ficar de cara a cara, com uma pessoa que matou a própria filha. A Pamela se tornou uma máquina, não demonstrava nenhum sentimento, mudou completamente, se tornou uma outra pessoa, ela não era mais a Pamela, era qualquer pessoa, menos ela, sua mãe deve sentir muita culpa, não é mesmo? 

As palavras da garota não machucaram o coração de Levi, ele conhecia perfeitamente a matriarca e sabe como a mulher, pode ser manipuladora e danificar os sentimentos alheios, Evelyn não é uma nova pessoa da lista de “possíveis assassinos” e sim uma grande amiga, que neste momento sofre mais que qualquer um.


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Notas finais do capítulo

Quem matou Pamela?



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