Perfume escrita por Luiz Gustavo
O homem se acomoda na varanda do restaurante, localizado na Bróduei, enquanto o amigo permanece no banheiro. Nos minutos anteriores, tinha conversado com Jonathan, que nada aparenta com um assassino frio e calculista. Levi, no entanto, pensa na digna frase de Érico Veríssimo, “Ninguém é o que parece, nem Deus”, mas que criatura suprema é essa que idolatramos? Um ser superior com características humanas? Capaz de possuir ódio, vingança, orgulho e arrogância?
Ele continua calmo, mexendo o café expresso no recipiente. Existe algo nas frases compreensivas e atenuadas do estudante de administração, que o transforma em uma pessoa confiante ou um audacioso manipulador. Lembra-se do garotinho de 12 anos, que brincava com Pamela, mas os pensamentos começam a lutar com o presente, o deixando pouco estarrecido, sem grandes orientações.
Tony se senta na frente do campo visionar do amigo.
— O que acha do nosso suspeito? – Tony pergunta secando as mãos no guardanapo de papel.
— Minha intuição diz que devo analisar um pouco.
— A história dele foi um pouco convencedora.
— O Jonathan sabe a verdade sobre o Miguel.
— Sim.
— E a Pamela? Será que ela sabia?
— No dia do próprio casamento matar a noiva?
— As suspeitas não cairia para o noivo, não acha?
— Inteligente sua colocação.
Levi fita em contexto do estabelecimento Paraíso, que permanece vazio naquele início de tarde. Mal sabia que este era o local usado para os encontros e conversas entre Jonathan e Pamela.
— As vestimentas do Jonathan não podem ser levadas em conta, mesmo estando no calor da Bahia. Existe gente desatinada para tudo nessa vida.
Há uma história que não conhecemos. – Tony ingere a bebida quente da xicara branca de porcelana, enquanto o garçom coloca os dois pratos sobre a mesa. No de Levi, uma panqueca americana com recheio de mel junto de alguns morangos e Tony, aproveitando ao máximo a culinária baiana, provando uma deliciosa tapioca de coco com leite condensado. Com a boca cheia, retorna a falar: Temos que pesquisar profundamente.
Levi respirou profundamente.
— Evelyn, a melhor amiga da minha irmã deve saber algo.
— Sobre o namoro entre os dois?
— Exatamente.
— Para mim foi aquele tal de Jonathan, Levi. Com raiva dela, que o jogou por escanteio, acredita mesmo em promessas em falésias?
— Eles realmente se amavam.
— Mas esse amor era recíproco?
— Você devia escrever uma novela das nove, parece o Aguinaldo Silva.
— Estou sendo sincero.
— Matar assim? Não tem sentido.
— Ciúmes leva uma pessoa fazer coisas absurdas. Nunca leu Dom Casmurro?
— Nisso você tem razão, mas não podemos apontar o dedo para um único alvo.
Os dois finalizam o lanche.
— Não comia nada tão bom desde que fui preso. Vamos levantando e ir atrás da amiga de Pamela, quem sabe ela não entra na nossa lista de “possíveis assassinos”.
— Daqui a pouco até eu vou entrar nesse catálogo, Sherlock.
O aparelho de Levi começa a vibrar no bolso, fazendo ele ficar mais alguns minutos no ambiente agradável do restaurante.
— Barbara, tudo bem contigo?
— Sim, querido. Quero saber aonde você está nesse momento.
— Estou com o Tony, estamos fazendo uma análise de negócios.
— Certo, vai demorar muito?
— Um pouco, talvez.
— Vai chegar a tempo para a janta?
— Certamente, caso contrário, me espere, querida.
— Eu sempre vou te esperar, mas não demore.
— Tchau.
— Tchau, amor.
Ele desligou o telefone e divisou Tony um pouco sem graça por escutar a conversa.
— Ela não gosta de mim, não é? – Ele interpela.
— Isso não é importante, Tony.
— Eu nunca fiz nada para obter esse ódio gratuito.
— Ela não te odeia.
— Mas também não gosta.
— Um dia vocês serão amigos, eu espero estar vivo para ver isso.
— Eu acho que não.
Levi e Tony seguiram andando pela Bróduei. Deixando o automóvel estacionado em uma rua a poucos quilômetros. Chegam ao fundo da igreja, onde a jorrada de vento é forte, lá embaixo, um cenário belíssimo, feito uma extensa maquete, as grandes arvores se juntavam com as belas casas e na retaguarda, o oceano atlântico. Levi bate algumas vezes na porta de acesso acima da calçada, a dama atende, permanece apática, com os olhos escassos e os cabelos cacheados bagunçados, conduzindo os rapazes para sala de estar.
— Podem ficar à vontade.
Os dois sentam no estofado.
— Vou ser sincero contigo Evelyn, quero saber os segredos da minha irmã.
— Isso seria traição, Levi.
— E o que você está fazendo? – Tony assume o controle do diálogo. – Estamos querendo apenas encontrar o verdadeiro homicida e pode ser qualquer um, incluindo aquele Jonathan.
Os olhos da garota começaram a encher de lágrimas.
— Eu prometi segredo a ela, mas não posso continuar com essa mentira. A Pamela e o Jonathan nunca se separaram, sempre permaneceram juntos, a culpa disso tudo é da sua mãe Levi, aquela mulher fez da vida da minha amiga um inferno, para se casar com o Miguel Xavier, contemplei o fracasso de um império que o seu pai construiu nas mãos daquela mulher, por isso não consegui ficar direito no velório e seguir para o enterro, seria muita hipocrisia ficar de cara a cara, com uma pessoa que matou a própria filha. A Pamela se tornou uma máquina, não demonstrava nenhum sentimento, mudou completamente, se tornou uma outra pessoa, ela não era mais a Pamela, era qualquer pessoa, menos ela, sua mãe deve sentir muita culpa, não é mesmo?
As palavras da garota não machucaram o coração de Levi, ele conhecia perfeitamente a matriarca e sabe como a mulher, pode ser manipuladora e danificar os sentimentos alheios, Evelyn não é uma nova pessoa da lista de “possíveis assassinos” e sim uma grande amiga, que neste momento sofre mais que qualquer um.
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Quem matou Pamela?