Pansy tirou os sapatos de salto agulha para adentrar a sala da Ministra da Magia de forma silenciosa. O relógio enfeitiçado na parede marcava 22h. A cena que encontrou lhe era familiar e previsível: Hermione dormia com a cabeça sobre os braços apoiados na mesa, o cabelo farto solto e tampando seu rosto.

A sonserina balançou a cabeça negativamente, deixando claro o quanto desaprovava aquele excesso de trabalho, mas aproximou-se da mulher mesmo assim e deixou as mãos pálidas percorrerem os cachos castanhos. Gostava da textura dos fios e de observar a cor chocolate contrastar com a pele pálida de sua mão.

— Hermione…

Apesar de ter praticamente sussurrado, a mulher ergueu a cabeça e lhe encarou, sonolenta. Os olhos tão escuros quanto os seus ainda pareciam meio alheios quando a ministra sorriu para Pansy.

— Eu já estava indo para casa.

Pansy revirou os olhos antes de jogar a cabeça para trás em uma gargalhada irônica e fingida, mas que arrancou uma risada mínima de Hermione. Ambas sabiam que ela não estava indo para casa e sabiam também que, se não fosse pela chegada da outra mulher, Hermione teria permanecido a noite toda adormecida sobre a mesa.

— Obrigada, Pansy.

A mulher assentiu, a feição normalmente irônica e fria dando espaço para uma doçura pouco comum.

— Você pode dormir em casa, se quiser. – E intimamente torcia para que a proposta fosse aceita novamente.

— Seria a terceira vez só essa semana, Pansy. Infelizmente não dá. Eu não posso fugir do Ronald todos os dias.

Dito isso, Hermione se levantou e aproximou-se da outra mulher, beijando-lhe o rosto com delicadeza. O cheiro típico que emanava de seus cabelos circundou Pansy, que sentiu uma súbita gratidão pela sala estar pouco iluminada e esconder o rubor que tomou sua face.

— Boa noite, Pansy.

— Boa noite, Hermione.

E assim ela observou a mulher sair da sala e seguir para sua casa, para seu marido. Para Pansy Parkinson restava o perfume peculiar, a lembrança da textura dos lábios carnudos em seu rosto e da maciez dos fios castanhos em seus dedos. Restava aceitar que Hermione ainda era uma Weasley, independentemente do quão ruim o seu casamento estava ou do sentimento que pulsava no coração da sonserina.

Restava aceitar que ela era uma amiga querida e, talvez, jamais passasse disso.

Ainda assim ela era grata, porque naqueles breves momentos, entre o emaranhado de cachos castanhos e pequenos instantes de cuidado e ternura, ela podia facilmente acreditar que Hermione era dela.

Ou sonhar que um dia seria.