À Espreita escrita por EsterNW, Entusiasta


Capítulo 17
Fim da linha


Notas iniciais do capítulo

Ester:
Pega fogooooooo, cabaré, daqui eu não arredo o pé -q Bem, vocês já sabem, onde há fumaça... Tem treta xD
Boa leitura ;)



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Conforme subíamos mais o morro, o cheiro de fumaça se tornava cada vez mais forte, indicando-nos o caminho a seguir. Cada passo nos deixava mais próximos do paradeiro de Camila e Miguel, e nenhum de nós dois podia permitir-se perder tempo. As casas simples diminuíam cada vez mais em número e quase não se viam pessoas nas ruas agora lamacentas por causa da chuva. A coluna de fumaça se estendia bem à nossa frente e seu cheiro incomodava os poucos com quem cruzamos. Borracha queimada, alguém dissera alguém na rua.

Sem dar sinais de cansaço, o agora esperançoso Edgar seguia um pouco mais à minha frente, ansioso para encontrar o que quer que estivesse ali. E não demorou para que isso acontecesse.

Depois de uma curva na rua, ao lado de um casebre abandonado, estava um tonel de alumínio comumente usado para se colocar lixo. Qualquer que fosse o conteúdo dele, encontrava-se em chamas.

Edgar deixou-me sem qualquer chance para pensar numa solução para isso quando rapidamente chutou o tonel, derrubando ele e seu conteúdo flamejante no chão. Sem nada melhor para apagar o fogo, ele fez uso do que mais tinha no local: lama.

— Vai vir me ajudar ou não pode sujar as mãozinhas? — disse ele em seu tom irônico habitual.

Para a nossa alegria, a ideia de Edgar deu resultados. Conseguimos apagar o fogo antes que tudo fosse consumido, mesmo enlameando os objetos. Revirando as coisas, vi que os moradores daquele local estavam certos, havia um chinelo azul meio derretido lá dentro. Parecia ter o desenho de um pinguim. Backyardigans?

Roupas, sapatos, lixo e alguns papéis também faziam parte do conteúdo do tonel, mas não encontramos nada que pudesse nos dar uma pista da localização de Camila. Percebendo que nossa busca não deu em nada, Edgar chutou mais uma vez o tonel, que saiu rolando para longe.

— Tenha calma, deve haver algum jeito de…

— Que jeito, Heitor? Natalie sumiu outra vez. — Edgar suspirou. — Como ela consegue ser tão escorregadia? Estava a um passo de ter meu filho comigo e ela foge de novo.

— Ela não pode ter sumido assim sem deixar rastros. Se tem uma coisa que eu aprendi enquanto assistia e apresentava programas jornalísticos, é que em muitos dos casos alguém sempre tem uma informação. Espero que esse seja o nosso.

Fizemos o caminho de volta para a casa de Camila, ainda apressados. Havia me esforçado para dar uma pequena faísca de esperança para o pai desesperado que estava comigo, mas eu mesmo precisava ser convencido de que minhas palavras eram verdadeiras. Na rua, as crianças ainda brincavam despreocupadas. Entrei brevemente na casa para lavar as mãos na pia da cozinha e Edgar fez o mesmo. Ele olhava ao redor, procurando por algo que ainda não tivéssemos dado a devida atenção, mas nada de novo foi encontrado.

— Nada da Camila ainda? — a vizinha perguntou-nos de sua janela quando passamos mais uma vez pela porta da casa.

— Nada, senhora... — respondi, mostrando genuíno desapontamento e reparando que não sabia o nome da vizinha de Camila.

— Lourdes, encantada — ela falou com um sorriso, mas logo sua expressão ficou séria outra vez. — Pra onde será que ela foi? Eu fico preocupada mesmo é com o menino. Coitado, sempre tendo crises de bronquite. — Com o canto do olho, vi que Edgar passou a dar mais atenção ao que a mulher dizia. — Eu falei pra ela que essa cidade não é boa pra ele, que ele precisa ficar num lugar mais quente. Até falei do tempo que eu morava em Ipatinga dos Mares, uma cidade linda do litoral, conhecem? Passei dez anos lá e o clima era ótimo, sempre dava praia! Lá seria o lugar certo para…

— Senhora, muito obrigado pelas informações — Edgar a interrompeu. — Eu e Heitor precisamos ir agora.

— Mas se eu fui útil mesmo, não ganho nada? Uma foto com Heitor, talvez?

Edgar olhou para mim e entendi o recado. Como talvez pudéssemos precisar de alguns depoimentos dela futuramente, fui até sua janela e a foto foi tirada. Num instante fui liberado para ir até o carro com Edgar.

— Uma foto com Heitor Fragoso, preciso revelar! A Carmem vai morrer de inveja quando… — conseguimos ouvi-la dizer, enquanto nos distanciávamos.

— Ipatinga dos Mares! Tenho certeza que ela está indo pra lá, Heitor — ele disse assim que entramos no carro.

— Com certeza ou não, é a única pista que temos.

— Eu a conheço bem, Natalie faz de tudo pelo nosso filho. Não se esqueça que foi por ele que ela fugiu de casa.

— Você tem razão, eu não tinha pensado nisso. Então, para onde nós vamos agora? Não sabemos que meio de transporte ela escolheu para ir até lá.

— Eu vou ligar para a polícia. — Edgar respondeu depois de pensar um pouco, me deixando surpreso com sua atitude, já que ele nunca aparentou acreditar que a polícia poderia ajudá-lo em algum momento. Me segurei para não ir “na mesma onda” que ele e ironizar a situação. O caso era sério e urgente, não havia tempo para isso. Nem sei como Edgar se encontrava. — Vamos, dirija até a rodoviária enquanto eu telefono.

Concordei com a cabeça e comecei a conduzir o carro até o local que ele pediu, enquanto ouvia o que ele falava ao celular. Edgar deu rapidamente as informações que tínhamos sobre ela, incluindo as mudanças físicas que ela fez, que a deixavam diferente dos arquivos do processo.

Ao desligar o telefone, ele me avisou que os funcionários que faziam a segurança dos locais seriam orientados a deter qualquer pessoa que batesse com as descrições e estivesse com um menino. Era o que podia ser feito. Porém, no meio do trajeto, me dei conta de que esse plano não parecia muito certeiro.

— Edgar, acho que estamos tendo o raciocínio errado aqui. — Obtive sua atenção com minhas palavras, conseguindo fazer com que ele mostrasse uma expressão de estranhamento. — Se Camila…

— Natalie.

— Que seja. Se ela não quer ser encontrada por nós dois ou pela polícia, por que iria para um lugar que poderíamos achar facilmente e onde estão muitos daqueles que ela deseja evitar? Não seria mais sensato evitar aeroportos e rodoviárias?

— Ela poderia fazer ainda mais evitando qualquer tipo de transporte legalizado. Lá onde a gente morava existiam transportes alternativos. Qualquer tipo de veículo levando passageiros ilegalmente. Com certeza aqui também tem.

— E você está certo, mas eu não faço a mínima ideia de onde eles saem ou seus pontos de parada, se é que eles têm isso.— Edgar suspirou frustrado enquanto eu dirigia mais lentamente pelas ruas quase vazias. Não sabia para onde ir, mas qualquer movimento era melhor do que nada. Até que de repente me veio uma lembrança que foi providencial. — Eu não sei onde encontrá-los, mas tenho um amigo com muitos contatos.

Edgar devolveu-me um olhar surpreso — que eu via passar pelos seus olhos pela primeira vez — e ignorei-o, parando o carro no meio fio e pegando meu celular logo em seguida, discando o número de Tárcio.

— Vou colocar no viva voz para você também ouvir.

Durante os segundos que a ligação era feita, a tensão baixou dentro do carro, com nós dois ansiosos, sabendo que cada momento era crucial.

— Heitor?

— Tárcio, preciso da sua ajuda — assim que a voz dele perguntou pelo meu nome, logo o atropelei com o pedido.

— Você o conhece? — Edgar inquiriu em um sussurro, talvez reconhecendo a voz de Tárcio do telejornal. Ignorei sua pergunta.

— Você por acaso conhece algum lugar onde tenha algum tipo de transporte clandestino para outras cidades? — Batucava os dedos no volante enquanto segurava o celular distante de mim.

— Nós precisamos dessa informação o mais rápido possível. Natalie está fugindo com Miguel para outra cidade. Precisamos impedi-la antes que esse ônibus parta — Edgar interrompeu qualquer pedido meu, após passado a surpresa de que falava com Tárcio Marcos com o desespero transbordando em sua voz.

— O Edgar, aquele fã que me perseguia, está comigo, Tárcio. — O homem ao meu lado devolveu-me um olhar talvez ofendido por ser chamado de “fã”. — E ele disse a verdade, Natalie está fugindo.

Do outro lado da linha, silêncio, sendo audível apenas a respiração do meu amigo, provavelmente absorvendo tudo o que jogamos sobre ele em menos de dois minutos.

— Heitor, o que você pensa…

— Tárcio, por favor, é urgente — repreendendo-me, interrompi qualquer conselho que meu amigo planejara dar-me. — Onde podemos encontrar o transporte clandestino?

Pela ligação, apenas um suspiro de Tárcio e, ao meu lado, Edgar ficava cada vez mais apreensivo, prestes a arrancar os próprios cabelos em desespero. Ou socar algo, que eu esperava que não fosse o meu carro.

— Na estação de trem abandonada. Você sabe onde fica, não? — questionou-me e respondi afirmativamente, enquanto Edgar murmurava um “vai, vai”. — Heitor, tenha cuidado com o que você está fazendo, é tudo o que lhe peço. Você pode estar se colocando em perigo…

Quase pronto para finalizar a ligação, ri sem humor.

— Eu já estou envolvido nisso faz tempo, Tárcio. Mas não se preocupe, terei cuidado.

Agora temos que ir…

— Espere! — Tárcio exclamou do outro lado, antes que eu apertasse o botão vermelho. — Irei mandar um policial amigo meu para ajudá-los. Ele está de folga hoje e deverá chegar até lá o mais rápido possível.

— Obrigado, Tárcio. — Comovime-me com seu cuidado para comigo, enquanto Edgar falou um “vai” ainda mais alto. — Eu tenho que desligar.

Tárcio disse mais uma vez para que tomasse cuidado e finalizou a ligação. Joguei o celular no porta luvas e dei a partida no carro, indo na maior velocidade permitida ao nosso destino. Edgar soltou um suspiro e ligou o rádio do carro sem ao menos pedir.

— Essa tensão está me sufocando, preciso pensar — respondeu antes mesmo que eu questionasse algo, talvez sendo óbvia a minha pergunta.

Ficamos mais um pouco em silêncio enquanto algum rock do momento tocava e a paisagem passava rápido pelo lado de fora. A estação de trem era na parte mais antiga da cidade, do lado oposto ao bairro de Camila. Conforme os trens caíram em desuso em Campos dos Jucás, com a instalação do metrô, a estação foi desativada havia no mínimo dez anos. Ao que parecia, ainda havia passageiros por lá. De outros meios de transporte e ilegais.

— Você conhece o lugar? — A voz de Edgar voltou o meu foco do lado de fora para dentro do carro novamente. — Quão grande é essa estação? Preciso saber o quão difícil vai ser encontrá-la lá. — O outro olhava fixamente para frente, com o olhar concentrado no caminho que tínhamos a seguir.

— Eu nunca fui até lá. — Com essa resposta, Edgar suspirou frustrado, encostando a cabeça no vidro da porta do passageiro. — Apenas fui fazer uma reportagem nas proximidades uma vez, por isso sei onde fica — expliquei-me, porém o outro continuava impaciente. — Mas ao menos tenho certeza que não é tão grande quanto a rodoviária. Acho que não teremos tanta dificuldade em achá-la.

Observei-o rapidamente e vi que Edgar voltara para seus pensamentos, impaciente e preocupado. Paramos num semáforo, quase entrando na área mais antiga da cidade.

Permanecemos em silêncio, com a música tendo terminado e a voz do locutor sendo a única a falar algo naquele carro.

— Tome. — Tirei do meu paletó aquele brinquedo do pato Donald que encontrara na casa de Camila. Sem ver a reação de Edgar, acelerei quando o semáforo abriu. —  Provavelmente é do Miguel. Encontrei caído no chão no quarto dele, quando estávamos na casa de Camila.

Com o canto do olho, vi Edgar segurar o bichinho com cuidado e observar aquilo como se fosse algo extremamente valioso. Para ele, talvez fosse.

— Obrigado — disse baixo, ainda encarando o brinquedo. Pouco após, guardou-o em um dos bolsos do moletom de mangas dobradas.

O silêncio voltou, entretanto, não por muito tempo. Finalmente havíamos chegado ao nosso destino.

Ao ver aquela estação cinza à nossa frente, Edgar abriu a porta e saltou do veículo assim que o desliguei. Soltei o cinto e fui atrás dele o mais rápido que pude.

Enquanto o sol começava a se pôr naquele céu pós-tempestade, várias e várias pessoas estavam espalhadas naquele local em busca de passagem para outras cidades. Mais passageiros do que eu imaginava.

— Acha melhor nos dividirmos? — questionei assim que alcancei Edgar. Com os olhos, ele varria desde os passageiros até aqueles que berravam os destinos e os ônibus estacionados. Mais ao longe, observei a antiga plataforma de trem, no fundo da estação.

Antes que o outro dissesse qualquer resposta, ouvimos no meio dos gritos dos vários destinos um…

— Ipatinga dos Mares! Cinco minutos pra saída!

Edgar correu em disparada na direção daquela voz, não se importando em esbarrar em algumas pessoas pelo meio do caminho, que olhavam para nós com reprovação. Sem me preocupar com seus olhares, corri atrás dele em um rompante de adrenalina.

Havia no mínimo meia dúzia de ônibus parados na estação, cada um com uma fila de pessoas às portas. Atravessamos entre elas, em meio a reclamações, até chegarmos a um dos últimos veículos. Avistamos vários passageiros parados em fila, esperando para subir no ônibus, um deles sendo... Ela.

Camila/Natalie — que dessa vez encontrava-se com o cabelo loiro, talvez de uma pintura de emergência no banheiro da estação — olhou em nossa direção e gritou, alarmando os outros presentes. No meio daquela distração, pegou o filho nos braços, largando todas as bagagens que carregava, e correu na direção oposta à nossa. Nesse momento, Edgar pareceu impulsionar a velocidade ainda mais, vendo seu filho tão perto, e forcei minhas pernas e meus pulmões a trabalharem o máximo para alcançá-los.

Talvez sem direção, Camila correu para os fundos da estação, provavelmente esperando encontrar alguma saída pelos trilhos.

— Natalie! — Edgar urrou o nome dela com fúria.

A mulher olhou para trás, tendo chegado ao fim da linha: para frente, apenas a linha do trem cerca de um ou dois metros abaixo da plataforma em que estava, e, do outro lado, os dois homens enganados por ela. Um furioso e o outro magoado.

— Devolva o Miguel — Edgar ainda gritava, arfando após a corrida.

Parei logo atrás dele, com o peito subindo e descendo com minha respiração acelerada após tamanha ação.

Camila — ou deveria chamá-la de Natalie — segurava o menino o mais apertado que podia nos braços. A criança, provavelmente assustada com toda aquela confusão, agarrava-se à mãe e escondia o rosto em seu peito. E, na face daquela mulher problemática, apenas terror e desespero. Havia chegado o fim da linha para ela.


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Notas finais do capítulo

Ester:
É TRETA, É TRETA, É TRETA, VAI BRASIL-SIL-SIL — C. Ester, 2017 -q
Eita, será que Natalie vai entregar o Miguel ou vai rolar porrada? Saberemos em breve xD
Povo, como vocês já devem ter percebido, a história já está chegando ao final, então... Temos apenas mais um cap e um epílogo até o fim ~coro de aaaaaaa. Sim, infelizmente tá acabando D: Mas ainda temos muitas emoções até lá ♥
Aproveitando o momento, quero convidar vocês a lerem uma coletânea que eu estou participando com mais algumas meninas, para um dos desafios do grupo do Nyah do Face ♥ https://fanfiction.com.br/historia/765769/Agridoce/
Por hoje é só, povo! Até o cap decisivo na semana que vem o/

Entusiasta:
Sim, a gente realmente escreveu uma história tudo a ver com uma música que sempre tem nela por acaso kkkkkkk Nem reparamos! Acho que o Fresno devia ler nossa história -q
Ps: Gente, eu tô meio enrolada aqui, mas prometo que vou responder os comentários de vocês