Ruiseñor escrita por Diana


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Mais uma one para vocês!
Espero que gostem!

Beijos da tia Diana!



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Rouxinol

“Just have a drink and you'll feel better”

Conforme o rotineiro, o celular de Reyna despertou às cinco e meia. Sonolenta, sua mão tateou pela cama até encontrar o formato retangular do objeto. Como um caminho que se conhece de cor, seu indicador tocou a tela no ponto exato e calou o despertador. Preguiçosamente, a morena buscou seu caminho para fora dos lençóis e edredons. Aurum e Argentum já a esperavam ao pé da cama.

Eles seguiram-na abanando as caudas e arfando, contentes por sua dona finalmente ter acordado. Ela colocou a ração dos cachorros em vasilhas separadas e ligou a cafeteira. Sorrindo, ela se apercebeu da ironia. Sua vida era medida em xícaras de café, literalmente. Após um longo banho e uma dose gigante de café amargo, ela finalmente se encontrou disposta a sair de casa. Ao ligar o carro, ela notou que começava a nevar, contudo, o frio não a incomodava, pelo contrário.

Às seis, pontualmente, ela abrira a porta da pequena cafeteria de que era dona. Já fazia três anos agora. Três anos que ela largara a empresa de engenharia em que trabalhava e fora abrir a cafeteria numa cidade pequena, junto com seu amigo de faculdade, Nico di Angelo. O negócio prosperara, Nico conhecera outro empreendedor, Jason Grace, e felizes para sempre, eles se mudaram para a Itália, deixando Reyna tocando a Ruiseñor.

Cuidadosamente, ela acendeu as luzes. A porta de madeira e vidro rangendo ao ser aberta. Reyna ajeitou as mesas e guardou suas bolsas no fundo. Daqui uma hora, Rachel e Frank, seus ajudantes, chegariam. Ela ligou as máquinas, certificando-se de que havia os grãos certos em cada uma. Logo, seus clientes de sempre chegariam para um excelente café da manhã. Tudo devia estar na devida ordem.

Reyna colocou os cardápios em cada mesa e certificou-se de que cada uma tinha adoçantes e guardanapos suficiente. Após meia hora de inspeção meticulosa, ela sorriu triunfante. Ela se lembrava do quanto fora difícil no começo harmonizar o cardápio da cafeteria com o café, a busca por sócios, o fechamento de contrato com marcas de café. Tudo parecia tão distante e quase lúdico.

Ela olhou para fora. As janelas começavam a ser borradas com os transeuntes. Reyna reconhecia os casacos, as posturas rígidas, os casais. Logo, logo, eles começariam a entrar. Uma gota de ansiedade se apoderou dela: Nem Rachel, nem Frank haviam chegado ainda. Ela ligou o rádio e se dirigiu à cozinha. Uma música nova de um cantor acabara de debutar na mídia. Reyna se perdeu na letra enquanto preparava o bolo de laranja, especialidade da casa. 

— Olá! Olá! – A voz longínqua, vindo do balcão lhe tirou do seu transe.

Apressada, ela lavou as mãos e foi até o balcão, vestindo o avental de Rachel. Seus olhos se depararam com uma miríade de cores a encarando timidamente. Reyna sorriu, se lembrando do quanto fora difícil ela se acostumar a ser mais “amável” com os clientes. O relógio marcava 6:45 agora. A cafeteria ainda não estava aberta para clientes, mas ela não se importou.  

— Desculpe-me. – A garota começara. Reyna notara suas feições, provavelmente ela não tinha nem vinte e cinco ainda. Devia ser uma universitária. – Mas eu vi as luzes acesas e tenho uma audição daqui meia hora e preciso realmente de um café!

— Tudo bem. – Reyna sorriu novamente, tentando não parecer muito forçada. Ela realmente estava sendo gentil! A garota sorriu também. – Qual o pedido? – Reyna pegara o papel e a caneta.

— Um espresso, por favor! Ou a pobre Ofélia irá cair de sono antes de se deparar com Hamlet e fazer todos darem gargalhadas. – Reyna riu.

— Pensei que Hamlet era um drama. – A morena brincou.

— Eu também! – A garota abriu os braços.

— Qual seu nome? – Reyna perguntou para anotar o nome nos copos.

— Piper. – A outra sentou-se num dos bancos próximos ao balcão. Reyna serviu-a com um pedaço do bolo de laranja.

— Para te dar sorte na audição.  – Reyna respondeu ao olhar curioso antes da pergunta sair dos lábios de Piper.

— Obrigada! – Ela leu o nome de Reyna rapidamente no crachá e adicionou. – Reyna!

Pouco tempo depois, Reyna enchia o copo de isopor. Um rouxinol, símbolo da cafeteria, enfeitava a superfície branca. Reyna escreveu o nome de Piper ao lado do rouxinol e entregou-o à outra. A menina pagou-a e saiu depressa. Reyna ficou olhando-a enfrentar a neve que caía enquanto se dava conta de que o caixa estava aberto e ela não havia lhe devolvido o troco. Reyna deixou-o separado num canto e anotou o nome da garota, caso ela voltasse.

A porta da cafeteria se abriu pela segunda vez aquela manhã. Com uma esperança diferente, Reyna fitou-a apenas para encontrar a figura de Rachel entrando apressada. Reyna repassou o avental para a sua garçonete enquanto fingia estar com raiva pelo pequeno atraso. “Estava terminando uma pintura”, a garota disse e Reyna apenas assentiu, voltando-se para o caixa.

A terceira vez que a porta da cafeteria se abriu, fora Frank. O coração de Reyna palpitou no peito antes de perceber quem era. Seu cozinheiro a olhou com receio, mas ela murmurou um “tudo bem” que pareceu tirar o peso do mundo das costas do rapaz. Na quarta vez, era a garota, Piper. Desesperada, ela notara que esquecera o troco e que só dera falta dele no ponto de ônibus. Reyna embalou o pedaço de bolo que estava quase intocado e desejou-a boa sorte pela segunda vez.

Piper saiu de novo e Reyna se pegou atenta às costas da garota. A mochila a tira colo e o cachecol vermelho contrastando e destacando a beleza diferente da estudante.

— De quem é esse copo? – Rachel apontava para o copo onde estava o espresso de Piper. Reyna assustou-se, pensando se valia a pena ir até o ponto, mas se deu conta de que era seria um trabalho infrutífero, pois perto da cafeteria havia, no mínimo, uns quatro ou cinco pontos de ônibus.

Contudo, novamente, as silhuetas das pessoas na calçada lhe deram um aviso: Piper voltava. Reyna se dirigiu apressadamente à espresso, atraindo o olhar inquisidor de Rachel, o qual Reyna ignorou. Quando a porta de abriu, o olhar de Piper encontrou-a com o copo já na mão.

— Preparei um mais forte. – Reyna disse e Piper apenas sorriu para ela, antes de sair de novo pela porta da cafeteria.

O dia passara tranquilamente. A neve deixava as pessoas indispostas, Reyna notou, e mais propensas a fazerem uma parada na cafeteria. Era como se o café lhes lembrasse do aconchego de casa enquanto elas ainda estavam em seus expedientes. Rachel e Frank já tinham ido embora e o relógio marcava quase nove da noite. Reyna estava fechando o caixa.

E, pela incontável vez, a porta se abrira. A morena já estava prestes a dizer que eles estavam fechados e para o cliente voltar amanhã quando, pela terceira vez aquele dia, seus olhos foram calados pelos multicoloridos da desconhecida que cruzara seu caminho aquela manhã.

— Ei... – Piper disse, se aproximando timidamente.

— Olá. – Reyna sentiu suas bochechas arderem e se repreendeu pela sensação infantil. – Você quer outro espresso? – A morena receou ter cometido um erro na conversa, mas, felizmente, Piper consertou-o.

— A essa hora? Eu não conseguiria dormir o resto da noite. Eu só vim te agradecer pelo bolo. – A garota fez uma pausa, seus olhos estudando Reyna, como se ela fosse a plateia. – E pelo café mais forte.

— Espero que tenha te ajudado. – Reyna sussurrou. Sua voz saindo baixa, quase rouca.

Ela não se deu conta do quanto Piper estava perto, debruçada no balcão, os olhos multicoloridos focados em sua boca. Reyna não se deu conta de quando a garota havia se aproximado tanto ou do quanto ela também estava tão próxima à outra. Suas respirações se cortando.  Ela sentiu uma mão de Piper pousar em seu rosto, desenhando a linha do maxilar. Ela sentiu a respiração de Piper mais perto, mais forte; o perfume mais convidativo.

Até que a distância se tornou nula. A última coisa que Reyna se apercebeu antes de provar o gosto do próprio espresso esquecido nos lábios de Piper foi que a mesma canção que debutava fechava a programação do rádio aquela noite.


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Notas finais do capítulo

Por favor, comentem ^^

Beijos!



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