Bowgarden: A manhã vermelha escrita por J P L Castilhos


Capítulo 3
III: A manhã vermelha


Notas iniciais do capítulo

Coloquei um esforço a mais nesse capítulo. Sei que ele acaba de forma um bocado estranha, mas vai fazer sentido no próximo. hehehe.



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Acordei ouvindo alguém gritar. Não, não foi uma pessoa só, com certeza foram várias. Isso não era comum. Sempre vivi em uma vizinhança tranquila, tumultos sempre foram muito raros por aqui. Resolvi levantar e ver o que estava acontecendo. Eu poderia ter olhado por minha janela, mas achei melhor descer e ir até o local para ver tudo de perto.

Quando desci as escadas fui direto para a cozinha pegar alguma coisa para comer. Acabei por comer uma maçã um pouco envelhecida. Estava na hora de ir ao mercado. Mas os gritos continuavam. Notei algo enquanto ia até a porta da frente, esses gritos, eram de puro medo. As pessoas estavam aterrorizadas com algo.

Meu pai me ensinou a não me surpreender muito, independente da situação. Então, nem acelerei tanto o passo. Provavelmente havia alguém morto ou gravemente ferido na frente da minha casa. Talvez uma multidão tivesse se juntado ali e visto esse alguém. Isso causaria uma boa quantidade de gritos e reações de espanto. Mas , pensando bem, será que uma situação dessa realmente provocaria medo nas pessoas?

Acelerei de fato agora. Três segundos depois e eu estava com minha porta aberta. Infelizmente, não pude deixar de me surpreender, independente do que meu pai tenha ensinado a mim.

O que vi foi horrível. Pessoas mortas pelo chão. Todas elas estavam terríveis. Alguns mutilados, outros degolados, esquartejados, ou simplesmente destroçados. Outras pessoas ainda estavam vivas, gritando enlouquecidamente. Algumas por ver aqueles corpos, e outras por ver aquilo que havia feito isso.

Um ser humanoide, parecia ser composto de... fumaça? Não, devia ser minha imaginação. Mas eu vi os olhos daquela coisa. Vermelhos como fogo. Eram bem maiores do que as pessoas, talvez uns dois metros e meio, para mais. O que vi naquele momento estava usando uma ombreira branca com detalhes em dourado e nada mais.

Mas o que era aquilo? Definitivamente não era humano, apesar de se parecer com um. Mas agora não era o momento de questionar a natureza disso. O que quer que seja, matou muita gente, e provavelmente irá matar mais se não for parado.

Corri para dentro da casa novamente e fui até o pedestal onde estava a espada da família. Empunhei-a sem pensar duas vezes e voltei correndo para a porta da casa. Ao abrí-la novamente, vi que a criatura estava matando aqueles que estavam gritando antes.

Porém vi mais do que isso. Outros dessa mesma espécie estranha estavam ali agora. Matando ainda mais. Em um momento de fúria, ataquei o que estava mais perto e lhe dei um grande corte nas costas. Bem a tempo de salvar uma senhora que estava prestes a ser atacada.

Uma das perguntas que fiz foi respondida nesse momento: Isso não é feito de fumaça. Pois senti a lâmina de minha espada cortá-lo e perfurar sua pele. Senti ainda mais a sua solidez quando ele me arremessou com um golpe das costas de sua mão.

Fui arremessado até o meio da casa. O golpe da criatura havia acertado meu peito. Doía muito, mas mesmo assim me levantei. Não pretendia descansar enquanto aquela coisa não estivesse morta. Me preparei para atacar a criatura novamente, coloquei toda a minha força, usando as dua mãos. Porém essa coisa era realmente rápida, e aparou meu ataque com a sua própria espada.

A espada desse monstro aparentava ser feita a partir do mesmo metal que constituia sua ombreira. Não sei exatamente que tipo de metal era, mas era forte. Enquanto contemplava a espada do monstro, ele me chutou para longe.

Bati com as costas na parede que dava para a cozinha. Os ataques dessa coisa eram letais. Mais um desses, e meu corpo não aguentaria. Minhas costas e peito estavam gritando de dor. Por pouco eu não estava fazendo o mesmo.

Levantei-me novamente. Ainda com a espada em punho. Ergui-a contra o monstro, mostrando que ainda aguentava lutar contra ele. Ele soltou um silvo repetidas vezes. Não demorei para entender que estava rindo de minha tolice. Aproveitei esse momento e desferi um golpe, porém, ataquei mal e acabei acertando a fivela que prendia a ombreira, que se soltou.

A criatura pareceu especialmente preocupada com isso. A ombreira caiu no chão e começou a brilhar, brilhou tanto que tive que desviar o olhar. Virei a cabeça para frente, onde vi a criatura agonizar até seu corpo começar a criar rachaduras tão brilhantes quanto a ombreira.

De súbito, a criatura explodiu. Virando nada mais que um pó negro no chão da minha casa. Ouvi algo cair não muito longe de mim. Olhei para o chão a minha esquerda e vi a ombreira que o monstro usava. Porém não estava mais branca e dourada como antes. Agora era negra como a pele do monstro, e seus detalhes tinham se tornado prateados. Por alguma razão, peguei aquela ombreira e a guardei.

Não entendi nada do que aconteceu. Primeiro, eu acordo ao som de gritos de terror. Depois, abro minha porta e me deparo com um monstro que exala fumaça. E após lutar com ele, acerto sua armadura e ele explode. Nada disso faz sentido algum.

Mas agora não era hora de procurar lógica. Eu precisava ir a outros locais da cidade e ver como as pessoas estavam. Saí correndo da minha casa e fui em direção ao quartel. É bem provável que alguém estivesse lá, lutando contra essas coisas.

Subindo a rua eu encontrei ainda mais pessoas mortas. Bem como o cheiro terrível que elas exalavam. Por sorte, não vi nenhum desses monstros até chegar ao quartel, que estava com suas portas fechadas.

Tentei abrir as portas quando cheguei lá. Porém estavam trancadas. O que significava que talvez houvesse alguém vivo ali. Resolvi bater e chamar por qualquer um que estivesse ali.
— Ei! – Bati na porta algumas vezes. – Tem alguém ai? Estou aqui fora, posso ajudar você.

Às minhas costas ouvi um barulho estranho. Como um sussurro longo e agudo. Virei a cabeça e vi uma fumaça negra surgindo. “É um deles.” Pensei.
— Ande logo! – Bati com força na porta. – Tem um deles aqui! Abra de uma vez!

Quando pensei em bater na porta mais uma vez, ela se abriu, revelando Ygor, que estava um um grande machado nas mãos. Ele me viu e, aos berros, mandou eu entrar. Obedeci sem questionar.

Quando entrei no quartel, porém, vi que os únicos que estavam vivos ali dentro eram Ygor, que fechava a porta nesse momento, e Louis, que estava montando guarda na porta que dava para o campo de treinamento onde eu havia testado a lâmina da espada. O resto estava bem visível no final do corredor dos dormitórios. O rastro de sangue no chão não ajudava a esconder os corpos.
— Edwünd! – Louis exclamou após me ver. Logo após, me deu u m grande abraço. – Estive preocupado. O que são essas coisas?
— Não tenho ideia. – Respondi fracamente, cansado devido aos ferimentos que tive na luta contra o monstro. – Simplesmente apareceram. Eu não sei de onde.
— Então somos três. – Ygor disse às minhas costas. – Eu e Louis estavamos aqui no quartel quando tudo começou. Essas coisas vieram do nada e começaram a matar todos aqui. Só sobrou eu, Louis e...
— Quem? – Perguntei, ansioso para saber de mais sobreviventes. – Quem mais está aqui?
— Bem, o velho que diz ter previsto tudo isso. Venha, ó sábio.

Uma das portas dos dormitórios se abriu. E dela saiu o sábio que havia dito que eu seria o homem da profecia da morte. Ele olhou para mim com os olhos enrugados. Usava o mesmo manto da última vez que o vi. Na verdade, não parecia ter mudado em nada desde aquele dia.

O velho abriu um sorriso e veio rapidamente em minha direção. Me segurando pelos ombros, ele disse:
— Sim. Aqui está você, garoto. – Ele falava como se todos nós estivessemos salvos instantaneamente. – Minhas suspeitas foram confirmadas. Estamos, sim, vivendo a manhã vermelha.
— Manhã vermelha? – Perguntei, muito confuso. – O que é essa manhã vermelha.
— É o momento que antecede o começo de sua jornada para acabar com o deus Morte, garoto. É agora que tudo se encaixa.
— Então... Tudo isso... – Falei essas palavras lentamente. Estava perplexo. – Tudo isso é por causa da profecia?
— Não, garoto. É por causa do Morte, não percebe? Ele está por trás dessas criaturas, os espectros.
— Espectros?
— Não há tempo para explicar agora. – O velho disse rapidamente. – Você precisa sair do país do norte. Deve ir o mais cedo possível.
— Mas, e as pessoas que foram mortas aqui? E Louis, Ygor, e até mesmo você? E todos os que podem ter sobrevivido além de nós?
— Garoto, entenda uma coisa. – Ele me olhou profundamente nos olhos. Desesperado para que eu cumprisse seu pedido. – Você é o importante aqui. Não eu, nem seus amigos, nem ninguém nesta cidade. Você deve ficar vivo custe o que custar!
— Mas...
— Edwünd, vá na frente. – Louis disse. Puxando uma espada. – Eu e Ygor vamos te dar cobertura até os portões da cidade.
— Espere, assim de repente? – Eu não podia me conformar com aquela situação. Eles estavam em um ponto seguro. Porque arriscar suas vidas e me levar até os portões da cidade? – Vocês não podem. Eu não quero que se sacrifiquem por mim.
— Acha que estamos fazendo isso por você? – Ygor disse subitamnte. – Isso não é por você, e sim pelo que você vai fazer por nós. Se você é realmente o salvador do mundo, então não só faremos isso, quanto acompanharemos você em sua jornada.
— Mas...
— Céus, não está vendo que não tem jeito? – Louis interrompeu. – Vamos cobrí-lo até os portões. Você querendo ou não. Então cale a boca e ande de uma vez.

Não acreditei que aquilo realmente estivesse acontecendo. Os dois estavam realmente convencidos de que iriam conseguir ficar vivos até me levarem aos portões da cidade. Eles serão mortos em alguns instantes por aquelas coisas. Mal sabem como matá-las.

“A não ser que você conte a eles.” Disse uma voz em minha cabeça. E é verdade. Se eu contar a eles como matar essas criaturas, ambos podem ter uma chance de sobreviver até os portões. Nenhum deles luta mal, o que é uma grande vantagem.
— Certo, vamos até os portões. – Falei. – Mas antes, eu preciso contar a vocês como matar uma coisa dessas.
— Pois muito bem. – Ygor abriu um sorriso no rosto barbudo. – Conte-nos.
— Bem, é mais ou menos assim...


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