Estavam todos reunidos na sala, quando Leo, presidente do grupo de Associação de Vítimas em Tratamento (AVT), levantou-se e deu boas-vindas aos novos integrantes. 

— Sejam todos bem-vindos ao nosso grupo de apoio. Hoje, vocês se apresentarão aos demais e contarão suas histórias. Por favor, peço que se sintam a vontade para expôr o que quiserem. Podes começar? - apontou para um homem, alto, meio gordo, com cabelos pretos desgrenhados e a barba por fazer. 

— Claro. - respondeu o homem. - Meu nome é Daniel. Sou gay.  Desde pequeno, sempre gostei mais de brincar de boneca do que de carrinho. Preferia brincar de casinha com minha mãe do que jogar bola com meu pai. Ao longo do tempo, meu pai começou a notar meus gostos mais femininos. Ele e minha mãe brigavam quase sempre por causa disso. Ela me aceitava do jeito que eu era. Meu pai não.

Eu não ligava para nada disso. Nunca cheguei a pensar que fosse gay só porque gostava de brincar de boneca, mas quando virei adolescente e meus amigos começaram a ficar e namorar as meninas e eu não, comecei a suspeitar. Eles me contavam de suas transas e é claro, eu ficava excitado, mas não por causa delas, mas sim deles. Sim. Eu sentia tesão pelos meus amigos. Quando finalmente disse para mim mesmo que era gay, senti um alívio no meu corpo. Imediatamente cheguei para meus pais e contei. "Vocês estavam certos", eu disse a eles. No mesmo dia, meu pai me expulsou de casa, jogando até a mala pela janela, me xingando para toda a vizinhança escutar. Fui morar com meus amigos, que sabiam e me aceitavam. Anos depois criei um canal no YouTube e uma página no Facebook. Bem, agora sou meio famoso. Fiquei anos sem ver meus pais. Mas quando os vi novamente foi reconfortante. Meu pai, havia mudado muito nos últimos anos. Pediu-me desculpa pelo que fez no passado e é claro que eu o perdoei. Hoje estou aqui, para dizer que sou um homem muito feliz com minha opção de vida. Não me arrependo de nada. - declarou Daniel.

Todos automaticamente aplaudiram. Leo levantou-se  e falou:

— Fico muito feliz que você tenha encontrado a felicidade Daniel. Essa é uma bela história de vida. Então você poderia ser a próxima? - disse apontando para uma garota de cara meio fechada.

— Olá. Meu nome é Tereza. Tenho vinte e sete anos. Durante toda a minha vida, sempre achei que encontraria meu príncipe encantado. Desde pequena, gostava de ver filmes da Barbie e de princesas. Adorava o jeito como as histórias terminavam. O príncipe casando com a princesa. Meu sonho, sempre foi casar. Fazer uma grande festa depois, com direito a músicas, comidas, bebidas e muitos convidados. Isso quando criança. Mas na minha juventude, as coisas não ocorreram bem assim. Terminei o ensino médio e fui direto para a faculdade. Cursei cinco anos de Artes Visuais. Nesse tempo, várias pessoas me chamaram para sair. Mas eu recusei todos os pedidos. Simplesmente porque não me interessava por eles. Após alguns anos, mais e mais pedidos de namoro iam chegando, até daqueles que eram meus amigos. Novamente ia recusando, um por um. As pessoas diziam que eu era lésbica. Cheguei a pensar nisso por um momento. Mas não. Nao me excitava nem por homens, muito menos por mulheres. Fui em vários psicólogos e todos eles me disseram que eu era assexual. Nem sabia o que era isso. Quando fui pesquisar o que era, me identifiquei completamente. Realmente. Eu era assexual. Tive muitos problemas com meus pais quando contei isso, pois sempre sonharam em me ver casada. Alguns dos meus amigos e amigas, acharam estranho e vários deles se afastaram de mim, como se eu fosse doente. Mas sei que não sou. Sou normal, como todo mundo aqui. O que eu quero mesmo dizer pra vocês, é que eu sou muito feliz desse jeito. Quando você está de bem com você mesmo, automaticamente voce encontra a paz. E isso é uma das melhores sensações da vida e embora eu seja carrancuda, gostaria de fazer amigos aqui. - falou Tereza.

— Impressionante Tereza. Você é muito bem-vinda aqui e tenho certeza que fará muitos amigos em nosso grupo. Diana? Sua vez. - disse Leo.

— Oi. Meu nome verdadeiro é  Diana. Como vocês mesmos podem notar sou travesti. Não sei por onde começar.... - falou ela, com lágrimas nos olhos. No mesmo instante Tereza foi até ela e segurou sua mão, dando forças para Diana continuar. - Quando criança morei no sítio. Eu era uma criança muito rebelde, por isso acabei fugindo de casa aos onze anos. Noutro dia, estava andando pela rua a noite, quando um moço simpático apareceu oferecendo emprego. Apesar da minha idade, ele disse que eu poderia trabalhar e que o meu trabalho renderia muito lucro. Aceitei a oferta imediatamente, empolgada com meu novo emprego. Ele me levou a um lugar chamado Casa QR. Soube na hora que era uma zona. Tentei fugir, mas ele me disse que se eu fugisse mataria meus pais. Então não tive outra escolha. Comecei minha vida sexual muito cedo. Já tive várias doenças sexualmente transmitíveis. Aos quinze anos, fiquei grávida pela primeira vez, mas me fizeram abortar, assim como nas outras gravidez. Depois de mais ou menos vinte anos, soube que meus pais faleceram em um acidente de carro. Então, como ele não podia mais me ameaçar, eu poderia fugir pra um lugar bem longe dali. Quando fugi, acabei mudando de nome. De Diana passou a ser Myron. Sim me tornei um homem. Visto-me como um. Quando mudei de vida, decidi mudar minha identidade por completo. Hoje, as pessoas jogam lixo em mim e muitas vezes me xingam quando caminho na rua. Mas não me arrependo. Sou mais feliz sendo Myron do que sendo a Diana.  Hoje, trabalho numa cafeteria, dou graças a Deus que me aceitaram lá, e tenho um namorado que me ama do jeito que sou. E hoje vindo aqui no grupo, ganhei uma nova amiga, né Tereza?  - disse Diana/Myron sorrindo. 

Leo sorriu com a história, pegou a mão do garoto que estava ao seu lado e ficou de pé. 

— Muito obrigada pessoal por compartilhar suas histórias conosco. Espero que se sintam em casa, pois vocês são parte da nossa família agora. Pois bem, eu sou o Leo, como vocês já sabem, e esse é meu namorado Lukas. Gostaríamos de compartilhar a nossa história com vocês...