― Você é patético, Gajeel.

O grandalhão acenou a mão com impaciência para que Lily ficasse quieto e voltou a observar por trás das prateleiras de livros a pequena maga que lia concentrada. O gato revirou os olhos e cruzou os braços pequenos levitando com suas asas abertas.

Já estava acostumado com o jeito que Gajeel tentava ficar perto de Levy. O exceed vira quando ele se apaixonou, quando a menina não era mais vista como somente uma companheira de guilda, vira ela se apaixonar também e aceitar todas as formas de desculpas não ditas que Gajeel a oferecia por aquilo…

Os dois não se desgrudavam, todo mundo percebia. Levy talvez já tivesse aceito o sentimento que tinha por ele, mas Gajeel era um cabeça de lata que não tomava uma atitude e não abria espaço para que a garota o fizesse. Até que Gajeel visse a morte de perto e achasse que não tivesse nada a perder contando aquilo que havia guardado a sete chaves naquele coração de aço:

“Levy, eu realmente era um lixo inútil que não poderia ser salvo. Me encontrei com você… e graças a você… eu pude me tornar alguém melhor. Você me ensinou como amar alguém.”

Como a própria Levy diz “Gajeel estúpido”. Lily queria ter visto a cara dele quando se deu conta de que não havia morrido e que teria que encarar Levy depois daquela declaração toda.

Bom, a guerra havia acabado e todos sobrevivera. Lily pensou que pelo menos eles iriam se acertar já que os outros ainda estavam tentando entender o que sentiam, mas não…

― Ela é tão pequena…

Lily bateu na própria testa e bufou. Gajeel parecia um idiota murmurando aquele tipo de coisa escondido.

― Vai falar com ela!

― Fica quieto! ― Gajeel rosnou fazendo sinal com a mão.

Lily revirou os olhos mais uma vez. Gajeel achava mesmo que estava sendo discreto? Levy já havia movido os olhos para os dois e agora não escondia o sorrisinho no canto da boca, mas o tonto do Gajeel acreditava estar invisível ali.

― Natsu e Lucy já se acertaram. Gray e Juvia parecem cada vez mais perto de oficializarem o que quer que eles tenham… Vai mesmo perder para eles?

O exceed podia simplesmente deixar Gajeel ali como sempre fazia e ir atrás de alguém para treinar com ele, mas aquela maldita amizade entre eles não o deixava. Ele conseguia sentir a tristeza de Gajeel ao vê-la longe, e a felicidade dele quando ela estava perto. No entanto, ele também compreendia o porquê de Gajeel não dar aquele passo, apesar disso não querer dizer que ele concordava.

Gajeel não se sentia suficiente para aquela pequena mulher.

―  Argh, aqueles malditos… ―  Gajeel fechou a mão em punho e grunhiu insatisfeito. Mas não fez nada, continuou ali escondido a observando.

Lily não sabia mais o que fazer para ajudar o amigo a sair daquela fase e ir para a próxima. Já até havia falado com Levy, mas ela disse algo que fez sentido para o exceed:

― Ele precisa fazer isso sozinho, senão nunca dará certo. Eu vou esperar o tempo que ele precisar, Lily. Apesar dele ser um idiota, eu o amo.

Estava tudo nas mãos de Gajeel.

― Ooh…

Lily deixou suas reflexões de lado quando ouviu o som estranho de Gajeel. Olhou na direção do bobo dragonslayer e viu a maga pequena tentando alcançar um livro no alto. Era óbvio que ela fazia aquilo de caso pensado, era só escrever escada que apareceria uma com sua magia, mas Gajeel não pensou naquilo. Estufou o peito e saiu de seu esconderijo dando aquela risada debochada de macho alfa que ele fingia ser perto dela.

― Gehe. Muito baixinha para alcançar o livro? ― ele parou atrás dela com um sorriso maior que a cara e ela estufou as bochechas.

― Se veio só para tirar sarro com a minha altura…

― Deixa que eu te ajudo, camarãozinha. O que está lendo, hein? Não vai fritar a cabeça com tantas palavras… Gehe.

Lily bateu na própria testa mais uma vez. Gajeel era terrível naquilo. Porém, Levy escondeu o sorriso quando estava se virando para ficar de frente para Levy.

― Estou lendo um romance entre uma serpente e um passarinho. Só precisava desse dicionário para compreender algumas palavras e…

― Serpente e passarinho? ― Gajeel resmungou sem entender, sentando-se na cadeira que ela apontava sem perceber que o fazia.

Lily quis rir. A influência que aquela pequena garota tinha sobre o grandalhão era sem proporções. Ainda estava “escondido” atrás da estante quando Levy o olhou rapidamente e deu uma piscadinha.

― Oras, sim. Por que o espanto? ― ela se sentou e abriu um grande livro mostrando algo para Gajeel. O dragonslayer enrugou as sobrancelhas e estalou a língua.

― Porque isso não faz sentido nenhuma. Que droga de história, baixinha!

― Não diga isso.

― Pois deixa eu te falar mais. ― ele se inclinou sobre a mesa com um sorriso torto de quem gosta de atazanar a pobre menina, mas Lily sabia que Gajeel apenas tinha caído na armadilha que ela montou. Continuou assistindo com atenção. ― É impossível que haja um romance assim. ― E deu um peteleco na cabeça de Levy.

Levy fez uma careta, mas logo o encarou com aquela cara de sabichona que sempre usava quando ganhava uma discussão.

― Diz isso porque a serpente é maior que o passarinho? Porque eles são diferentes? Porque a serpente é conhecida por ser malvada enquanto o passarinho é dócil e delicado? Nah, Gajeel idiota, o amor não escolhe onde vai florescer. ― Virou uma página e colocou seus óculos de leitura. As bochechas estavam rosadas, mas Gajeel só conseguia prestar atenção nas próprias batidas do coração. Levy respirou fundo e terminou. ― Nesta história, no entanto, eles ainda não ficam juntos…

Olhou por sobre as lente para Gajeel tentando captar qualquer sinal de que ele entendesse o que ela queria dizer. Mas, Gajeel ajeitou-se na cadeira meio atordoado e mexeu os dedos da mão de forma patética.

― Bom… era de se esperar… ― resmungou baixo olhando os dedos se moverem um contra o outro. Lily quis rir mais uma vez, Gajeel parecia encolher quando Levy o encarava daquele jeito. ― … o passarinho é pequeno e a serpente pode machucar…

A fala foi interrompida pelo grosso livro sendo arremessado na cabeça do dragonslayer. Lily não esperava aquilo e ficou tão chocado quanto o amigo.

Levy se levantou irritada e puxou a gola da camisa do dragonslayer até que estivessem com o rosto quase colado.

― O passarinho deveria bicar os olhos da serpente até ela perceber que ele não é tão inofensivo assim! Gajeel, estúpido!

― Então… então… ― Gajeel se aproximou ainda mais ― A serpente deveria esquecer seu instinto assassino e fingir que pode ser uma pessoa normal?

Lily travou no lugar. Levy bufou.

― Você deveria me chamar logo para sair e parar de fingir que não falou que me amava apenas porque tem medo de me machucar.

Lily já nem sabia mais como se voava. Caiu de bunda no chão, seu queixo caiu junto.

Os narizes praticamente se tocavam, os rostos completamente vermelhos e por motivos diferentes. Levy parecia mais alta e Gajeel um nanico encurralado.

― Ge… he… Do que… Do que…

Lily não era o único que pensava que aquela história deveria logo acabar. Levy jogou os braços por cima dos ombros do dragonslayer e o beijou furiosamente. No susto, Gajeel se levantou e as pernas de Levy ficaram balançando no ar. Mas o beijo não foi desfeito. Ele a abraçou pela cintura e jogou-a por cima de uma das estantes sem delicadeza alguma. Lily arregalou os olhos e decidiu que era hora de partir antes que a coisa ficasse pior. Pelo menos um sorriso agora tinha em seu rosto e não precisaria mais se preocupar com Gajeel.

O dragonslayer só tinha tamanho e músculos, somente uma baixinha inteligente e cheia de atitude para poder cuidar dele.