A viagem do tigre - Pov dos tigres escrita por Anaruaa


Capítulo 18
Lady Bicho-da-seda - Kishan




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Saí para procurar por Kelsey e a encontrei na casa do leme, conversando animadamente com o capitão Dixon. Eu ouvi a voz dos dois e parei no batente da porta.

—Você está aqui!—exclamei sorrindo.

—Oi!—Ela se levantou e me abraçou pela cintura.—Estava só escutando mais uma história.

—Que bom. Pode me contar mais tarde. O senhor se incomoda se eu roubar Kelsey pelo restante da noite, capitão?

—Claro que não. Só se assegure de fazer com que ela fique longe das águas hoje à noite. O mar tem ouvidos. Gosta de afogar jovens amantes.

Kelsey deu risada.

—Boa noite, Dix.

—Boa noite, Srta. Kelsey.

Kelsey e eu descemos as escadas e eu a puxei para um abraço. Ela colocou a cabeça embaixo do meu queixo. Eu fechei os olhos por um instante, feliz por ela estar comigo.

—Senti a sua falta — eu disse a ela.—Vamos caminhar um pouco.

A noite estava bonita e o céu repleto de estrelas. Nós dois ficamos na amurada, observando a água escura do mar refletindo o brilho da lua cheia. Kelsey tremeu de frio e eu a abracei. Ela se aconchegou em mim e murmurou:

—Isso é gostoso.

—Hummmm... é mesmo.

Eu esfreguei os braços dela, depois comecei a massagear seus ombros. Ela suspirou e relaxou, observando o mar. Eu me aproximei e comecei a beijar seu pescoço perfumado. Eu acariciava seu braço com uma das mãos, enquanto a outra estava ao redor de sua cintura. Fui dando beijos em seu ombro, depois subi meus lábios pelo pescoço, queixo e bochechas.

Era bom sentir sua pele macia e quente, poder acariciá-la sem culpa. Ela finalmente era minha, e eu não tinha que me justificar ou esconder meu desejo. Eu estiquei a mão para pegar seu braço e a virei de frente para mim. Eu conseguia ouvir seu coração batendo mais depressa. Ela parecia nervosa. Eu corri minhas mãos por seu braço, subi pelo rosto e enfiei os dedos entre os cabelos dela, sorrindo.

—Pronto. Está vendo? Ainda sobrou muito cabelo para enfiar as mãos.

Ela sorriu nervosa e eu me aproximei, dando beijos em seu pescoço. 

—Sabe quanto tempo faz que eu queria tocar em você assim?—murmurei baixinho.

Kelsey balançou a cabeça. Eu toquei meus lábios em sua clavícula e sorri.

—Parece que faz anos. Hummm... é melhor do que eu imaginava. Seu cheiro é delicioso. É tão bom tocar em você...

Continuei beijando do pescoço até sua testa, depositando beijos leves e suaves ao longo de seu rosto. Ela agarrou minha cintura e fechou os olhos. Meu peito roncou junto ao dela e eu continuei beijando sua face. Olhei para seu rosto e ela parecia estar feliz, gostando do meu toque, o que me deixou mais confiante.

Eu senti seu coração acelerar quando sussurrei seu nome. Ela se inclinou em minha direção, aproximando seu rosto do meu. Eu continuei beijando e acariciando sua pele, mas não toquei em seus lábios. Eu estava feliz. Mas então eu levantei meu rosto para olhar no dela e minha felicidade se desfez em surpresa e decepção. Kelsey estava chorando. 

Eu segurava seu rosto, vendo as lágrimas que escorriam por ele. Eu enxuguei uma lágrima que descia em sua bochecha e perguntei triste:

—É tão difícil assim me amar, Kelsey?

Ela fechou os olhos, baixando a cabeça. Eu dei um passo, afastando-me dela e me encostei na amurada, dando-lhe as costas. Eu estava frustrado e triste. Ela ainda não estava pronta.

Kelsey se aproximou, acariciou minhas costas e enlaçou o meu braço, deitando a cabeça em meu ombro.

—Desculpe. E, não... não é nem um pouco difícil amar você.

—Não, eu é que peço desculpa. Apressei as coisas.

Kelsey balançou a cabeça.

—Não, tudo bem. Não sei por que eu estava chorando.

Eu me virei para ela, um pouco mais tranquilo e segurei sua mão, brincando com seus dedos.

—Eu sei. E não quero que nosso primeiro beijo a faça chorar.

    Ela riu e disse brincando, que aquele não seria nosso primeiro beijo.

—Eu quis dizer o primeiro beijo que eu não roubei.

—Isso é verdade. Você é o melhor ladrão de beijos do mundo.

Ela bateu de leve os ombros em meu mim e apertou meu braço. Eu apertei as mãos na amurada, tentando acalmar minha frustração.

—Você ainda tem certeza sobre isso? Sobre mim?

Ela fez que sim com a cabeça.

—Você me faz feliz. Sim, tenho certeza sobre isso. Vai tentar de novo?

Ela aproximou seu corpo do meu. Eu a abracei e dei-lhe um beijo afetuoso na testa.

—Outro dia. Venha. Estou a fim de uma história.

Descemos a escada de mãos dadas.

Chegamos em Mahabalipuram, ou a Cidade dos Sete Pagodes uma semana depois. Durante a viagem, Kelsey e eu ficamos juntos, mas eu não voltei a tentar beijá-la. Às vezes ela se aproximava de mim e acho que esperava que eu a beijasse, mas eu não queria passar por aquela frustração novamente. Nós nos beijaríamos quando ela estivesse pronta.

Estávamos cansados de ficar no iate, então Kelsey e eu saímos para dar uma volta de moto. Passamos o dia visitando lojinhas. Em uma delas, encontrei uma pulseira enfeitada com diamantes agrupados em forma de flores de lótus. Quis presentear Kelsey com a pulseira, então a deslizei pelo braço dela.

—Sonhei que você usava um botão de lótus no cabelo. Esta pulseira me faz pensar em você.

Ela riu:

—Você provavelmente sonhou com lótus porque dormiu bem ao lado da mesa em que deixei a guirlanda de lótus de Durga.

—Talvez. Mas um sonho bom é um sonho bom. Por favor, use.

—Tudo bem. Mas só se deixar que eu compre algo para você também.

—Combinado.

Kelsey me deixou sozinho por algum tempo, depois voltou com uma sacola.

—Espere. Antes de eu lhe dar isto, prometa que vai me deixar explicar para que serve e que não vai se ofender.

Eu ri e estendi a mão:

—É muito difícil me ofender.

Ela me entregou a sacola e eu olhei, sem entender, para o que tinha lá dentro.

—O que é isso?

—É uma coleira para um cachorrinho pequeno.

Eu segurei o objeto entre os dedos, tentando compreender:

—Diz Kishan na lateral, em letras douradas— eu dei risada.—Você achou que isto ia servir em mim?

Kelsey se levantou e parou na minha frente, depois pegou a coleira da minha mão.

—Estenda o braço, por favor.

Eu fiquei observando enquanto ela prendia a coleira no meu pulso. Eu estava confuso, então ela começou a falar:

—Quando Ren se transformou em homem pela primeira vez, estava usando uma coleira. Ele a entregou para mim, para provar que era o tigre com quem eu estava viajando. Logo se livrou dela. Para ele, era um lembrete físico do cativeiro.

Franzi a testa, um pouco irritado.

—Você me dá um presente e começa a falar de Ren?

—Espere, deixe-me terminar. Quando o conheci, você era selvagem, uma verdadeira criatura da floresta. Havia ignorado seu lado humano durante muitos anos. Achei que uma coleira pudesse simbolizar algo diferente, como o fato de ter sido resgatado, de voltar a ser parte do mundo, de pertencer a um lugar. Simboliza sua volta para casa. Que você tem um lar... comigo.

Eu compreendi e me emocionei com o que ela disse. Agarrei sua mão e a puxei para o meu colo, beijando seus dedos.

—É um presente que sempre considerarei um tesouro. Sempre que olhar para ele, vou me lembrar de que sou seu.

Ela apertou a testa na minha e suspirou.

—Que bom. Eu estava preocupada, achando que fosse detestar. Agora que está tudo acertado, podemos voltar para o iate? O Sr. Kadam quer fazer uma reunião com todos nós uma hora antes do pôr do sol, para que possamos ir ao Templo da Praia juntos. A menos que você ache melhor eu voltar e lhe comprar uma guia. Para não fugir por aí....

Eu peguei sua mão e disse:

—Com coleira ou não, nunca vou sair do seu lado. Vá na frente, minha dona.— Eu ri e envolvi seus ombros com meus braços.

Quando chegamos, Kadam já estava esperando no cais. Ren logo desceu a rampa. Eu guardei a moto e nós quatro subimos na lancha. O vento soprava os cabelos de Kelsey em seu rosto, enquanto eu a observava satisfeito. Ela olhou para mim e sorriu. Depois olhou para Ren, que também a observava.

—Pulseira nova?— Ele perguntou.

Ela olhou para a pulseira e sorriu:

—É.

—É... bonita. Combina com você.

—Obrigada.

—Eu...— ele começou a falar, mas parou e se ajeitou no assento.

—O que foi?— Incentivou Kelsey

—Estou feliz por você. Parece... contente.

—Ah. Acho que estou mesmo.

Kelsey se virou e colocou a mão na água. Sua expressão mudou, parecia triste. Olhei para Ren e ele ainda a observava, igualmente triste.

Quando chegamos à praia, já havia anoitecido. Ren e eu puxamos e amarramos a lancha a uma árvore, depois pegamos nossas armas: o chakran e o tridente e saímos à frente, em direção ao templo.

Kadam e Kelsey seguiam atrás de nós, falando sobre o templo, que, segundo Kadam, era o único dentre os sete que ainda estava acima da água. Nós entramos. Estava escuro e eu acendi uma lanterna.

—Por aqui. — Disse Kadam —O santuário interno deve ficar exatamente embaixo do domo central.

Exploramos as duas estruturas menores primeiro e não encontramos nada fora do comum. Kadam apontou para uma pedra sem entalhes no meio do espaço.

—Este é o murti... o ídolo, ou ícone, do altar.

—Mas não tem entalhes com significados.— disse Kelsey

—Um ícone não entalhado pode representar algo da mesma maneira que um entalhado. Esta sala é o garbhagriha, ou o útero do templo.

—Dá para ver por que é chamado de útero. É escuro aqui—comentou Kelsey.

Todos nos aproximamos das paredes para examinar os entalhes, mas não encontramos nada significativo. Kadam disse que estava na hora de irmos para o próximo altar. Estávamos seguindo para lá quando ouvi Kelsey nos chamar:

—Kishan? Senhor Kadam?

—O que foi?—perguntei.

—Eu vi uma coisa. Uma mulher. Ela estava parada ali. Estava toda vestida de branco e parecia asiática. Ela meio que desapareceu quando entrou naquela amoreira.

Eu me inclinei para olhar o terreno, mas não vi nada.

—Não estou vendo nada agora, mas vamos ficar juntos.

—Certo.

Eu segurei a mão dela e seguimos para o altar. Kelsey estava perto de mim e começou a seguir um entalhe com o dedo. Eu continuei procurando, sem encontrar nada. Então olhei para o lado e Kelsey não estava mais lá. Procurei ao redor e não a vi. Chamei por ela, mas ela não me respondeu.

Em um segundo, Ren estava do meu lado, preocupado. Kadam também se aproximou. Começamos a procurar por Kelsey desesperadamente.


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